31.12.06

A auto-estima












BOM DIA! Há um antigo ditado que diz: “Se alguém o(a) chamar de burro(a), ignore-o. Se duas pessoas o(a) chamarem de burro(a)... compre uma sela”. Para o bem ou para o mal, frequentemente somos influenciados pelo que achamos que os outros pensam de nós ou pelo que eles nos dizem sobre o que pensam de nós. Como podemos reforçar a nossa auto imagem de forma a levarmos uma vida feliz e produtiva?

O meu querido amigo, o Rabino Zelig Pliskin, escreveu um novo e impressionante livro: Building Your Self-Image and the Self-Image of Others (Construindo a sua Auto Imagem e a dos Demais), disponível em www.artscroll.com/Books/bysh.html.
Todas as pessoas funcionam com um pequeno ‘leitor de MP3’ a tocar nas suas mentes. O aparelho pode estar a repetir o tempo todo: “Não sou bom. Os meus pais não me aprovam. Nunca serei nada. E ainda por cima, sou feio(a)!” Porém, temos o poder de trocar esta gravação e colocar a seguinte mensagem no seu lugar: “Sou um ser humano capaz e valioso. Sou capaz de conseguir tudo aquilo a que me propuser fazer”.
A auto imagem não é algo que precisa de anos para ser construída ou reparada. Ela pode ser adquirida através de uma reflexão momentânea. Pense no seguinte: Se D'us criou o mundo e os seres humanos, então que autorização ou ‘alvará’ melhor é necessário para existirmos? Na década de 60 ficou famoso o poster com a foto de uma criança e o título: ‘D'us não faz nada inútil’.
A auto imagem não é importante apenas em como tratamos a nós mesmos, mas também em relação a como tratamos os demais.
Por décadas o Rabino Pliskin tem motivado pessoas a acreditarem em si mesmas e a aproveitarem todo o seu potencial. Como orientador, ele transformou a vida de centenas de pessoas. Através dos seus livros e palestras, inspirou e motivou outros milhares em todo o mundo. Neste livro o Rabino explica a dinâmica emocional do sucesso, compartilha pontos de vista e histórias e, o mais importante, dá dicas práticas de como acreditarmos em nós mesmos e como ajudar os demais a acreditarem em si próprios.
Reconhecendo as nossas capacidades e considerando positivamente os nossos talentos para lidar com falhas e frustrações, o livro apresenta um programa bem elaborado para o fortalecimento da auto estima de cada um.
Ele também pode ajudar a si e aqueles ao seu redor a terem mais prazer na vida e um sentimento mais profundo de auto-realização.

Perguntei ao Rabino Pliskin qual o seu capítulo favorito para compartilhar com vocês, queridos leitores. O trecho abaixo é do Capítulo Um, intitulado: ‘Os seus melhores momentos e os seus melhores mestres’:
Todos temos momentos especiais nas nossas vidas, momentos em que transcendemos aquilo que normalmente estamos acostumados a fazer, momentos em que nos sentimos especialmente espiritualizados e elevados, auto-confiantes e corajosos, felizes e alegres, bons e com compaixão, calmos e serenos, persuasivos e com influência, criteriosos e intuitivos, compreensivos e perdoando os demais, criativos e inovadores.
Nos nossos melhores momentos, conseguimos chegar mais longe e das maneiras mais incríveis. Cada momento espectacular das nossas vidas espalha luz sobre o que podemos possivelmente fazer e sobre quem podemos possivelmente ser. Os nossos melhores momentos elevam a nossa auto imagem a um patamar que os momentos comuns nunca conseguiriam. Há muitas histórias de como, em situações de emergência, algumas pessoas exibiram qualidades que normalmente estavam ocultas até de si mesmas. Mães ergueram carros para salvar crianças e indivíduos apressaram-se para salvar-se ou a outros de enormes prejuízos ou perigos.
Recorde-se de alguns momentos excepcionais que viveu. Já que estes momentos foram algo fora dos padrões comuns, pode ser que você ainda não somou o seu significado à sua actual auto imagem. Façamos com que estes grandes momentos tornem-se parte da nossa identidade. Olhemos para trás, para a história das
nossas vidas: Que grandes momentos podemos agora acrescentar à nossa auto imagem? Diga a si mesmo(a):
‘Sou uma pessoa que certa vez...’ Isto nos ajudará a perceber que seremos capazes de fazer coisas ainda mais especiais no futuro.
Pensemos em coisas grandes que poderíamos fazer agora ou num futuro próximo, impulsionando para a frente e para cima a nossa auto imagem. E mesmo que tenha apenas um grande momento na sua vida, saiba que ele já é uma grande conquista a ser incorporada à sua personalidade: ‘Sou a pessoa que conseguiu fazer esta difícil façanha!’
Este é um livro de que todos podem beneficiar. Creio que seria especialmente excelente se estivesse sobre uma mesa onde um adolescente poderia vê-lo e apanhá-lo...

29.12.06

Pensamento da Semana

“Pensamento Negativo = Negligência Mental!”

Porção Semanal da Torá: Vaigash


Bereshit (Gênesis) 44:18-47:27

Encerramos a porção da semana passada com Yossêf afirmando que iria manter Benjamim preso como escravo, por ter roubado uma taça de vinho. Yehuda desafia esta decisão e oferece-se para ficar como escravo no lugar de Benjamim. Yossêf é tomado pela emoção, manda os egípcios saírem do salão e revela a sua verdadeira identidade aos seus irmãos. Os irmãos ficam chocados!
Suspeitam que talvez Yossêf fosse vingar-se pelo que lhe fizeram no passado, mas aceitam a sua oferta de trazer toda a família para morar no Egipto. Yaácov, a princípio, fica estarrecido e não acredita nas novidades que seus filhos lhe contam, mas fica muito ansioso para rever o seu filho.
A Torá recorda as 70 almas Judias que desceram ao Egipto. Yaácov reencontra-se com Yossêf, reúne-se com o Faraó e estabelece-se, com toda a sua família, no distrito de Goshem. Como a fome continuava, Yossêf supre todo o povo egípcio com a comida armazenada durante os 7 anos de fartura.

Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin

A Torá declara: “E o Faraó disse a Yaácov: ‘Quantos são os anos da sua vida?’ E Yaácov respondeu ao Faraó: ‘Eu vivi 130 anos. Os dias da minha vida foram poucos e ruins e não chegaram aos anos dos meus antepassados’ (Bereshít, 47:8-9)”. O comentarista da Torá Daát Zekenim cita um
midrásh (colectânea de explicações sobre o Tanách) que conta que Yaácov foi punido por dizer que os seus dias de vida foram poucos e ruins. Devido à sua falta de valorização da vida expressa nas suas palavras, Yaácov viveu 33 anos menos que o seu pai, Ytschák, correspondendo às 33 palavras dos
versículos 8 e 9. Por que Yaácov perdeu 33 anos de vida? O que a pergunta do Faraó sobre a idade de Yaácov tem haver com a resposta dev que os seus dias foram poucos e ruins?
O Rabino Haim Shmulevitz (Polónia e Israel, 1902-1978), antigo director da Yeshivá de Mir, explicou que Yaácov aparentava ser muito mais velho do que a sua idade, o que levou o Faraó a lhe perguntar quantos anos tinha. Por faltar a Yaácov alegria na vida, o sofrimento fez com que o seu processo de envelhecimento se acelerasse. Portanto, Yaácov foi responsabilizado por deixar que as dificuldades da sua vida lhe causassem tanto stress, o que o envelheceu prematuramente. A quantidade de stress que cada pessoa tem numa determinada situação depende da atitude que toma em relação a ela. Quanto maior a nossa alegria com a vida, menos stress iremos experimentar durante a Jornada da Vida.
O midrásh do livro Eichá (Lamentações), escrito pelo Rei Salomão, declara que a vida por si só é satisfatória e que não devemos ter reclamações neste mundo. Se alguém ganhasse na lotaria, logo se esqueceria das muitas irritações e perdas que já teve na vida. Se olharmos a cada momento da vida como se tivéssemos ganhado na lotaria, teremos muita alegria em viver.

27.12.06

Um dia muito especial



Esta exposição refere-se ao aniversário de acordo com a data judaica e não do calendário gregoriano. O nascimento de uma criança, apesar de ser um acontecimento maravilhoso, é visto como ocorrência normal, parte do ciclo da vida. Estamos acostumados ao facto de, dia após dia, novos bebés virem ao mundo.


O homem foi criado à imagem de D'us; isto significa que ele tem a faculdade de emular o seu Criador. Sobretudo, na capacidade de criar vida, gerando filhos. Para trazer uma criança ao mundo não é preciso ser um grande sábio, nem ser universitário; tão pouco requer muita preparação ou grandes investimentos. Mesmo os animais conseguem reproduzir-se sem aprendizagem, seguindo apenas os seus instintos.
Mas, para o homem, o facto de procriar é muito mais do que uma simples questão biológica de reprodução das espécies; é algo muito mais sério. Quando o embrião é fecundado, os pais atraem das Alturas uma alma pura - uma Centelha Divina - que irá insuflar o seu espírito e animar o corpo daquele ser cuja concepção foi iniciada. A definição de como será o futuro dessa criança irá depender do grau de santidade que os pais investirão na sua concepção. Por isso, é de extrema importância a consciência dos pais na hora da procriação.
Na maioria das vezes, a criança trazida ao mundo foi muito desejada. Porém, quando infelizmente este não é o caso, o seu nascimento não causa a alegria e a felicidade que se deve experimentar em tal ocasião. De qualquer modo, a pequena criatura vem ao mundo e encontra-se diante de nós. Chora e exige toda a nossa atenção, reclamando com ênfase desesperada os seus direitos e os cuidados que lhe são devidos. Assim é a vida!
Paremos um pouco para pensar. É verdade que, no decorrer dos séculos, centenas de milhões de pessoas nasceram e morreram, este é o nosso mundo e assim funciona a nossa existência terrena. Mas será que é tudo tão simples quanto parece? Por favor, pare e medite antes de continuar a sua leitura!
Tendo, agora, reflectido sobre o surgimento da vida, concentremo-nos no dia do nascimento. Ao vir ao mundo a criança é pequena, frágil, indefesa. Uma criatura inocente, com órgãos minúsculos, mas que funcionam em perfeita harmonia. Realmente fantástico, surpreendente e, ao mesmo tempo, encantador. Eu, também, já fui este ser pequenino, assim como o foram cada um de vocês, leitores, e toda a humanidade, também.
O mais importante, porém, é que cada um de nós é único e muito especial. Sim, cada um de nós é insubstituível; eu, você, todos nós - porque cada alma é única e cada uma tem a sua missão singular. O que realiza neste mundo, apenas você - e mais ninguém - poderá realizar. Homem algum poderá cumprir o papel que lhe foi determinado e é seu.
Imagino, caro leitor, que esteja a duvidar destas afirmações. É bem verdade, o mundo continua existindo e funcionando com ou sem determinados indivíduos. As empresas vivem trocando de funcionários, de directores, e nem por isso interrompem suas actividades. Sempre há alguém para substituir. É por isso mesmo que você chegou à conclusão de que, de facto, todos somos dispensáveis. O seu raciocínio também está certo, mas apenas no plano colectivo e social. Pois, no plano individual e ainda mais no espiritual tudo é muito diferente.
O ser humano é exclusivo. Cada pessoa nasce sob a influência de um signo do zodíaco e tem inclinações para actuar de acordo com seu próprio Mazal- a sua sorte, o seu destino. Cada um de nós tem um destino completamente diferente e uma missão única e peculiar na vida. Cada um de nós foi presenteado com uma energia excepcional que nos cabe ampliar e accionar.
Os nossos sábios ensinam-nos, que a Torá foi-nos entregue para sabermos como canalizar estas forças de maneira positiva. Assim, poderemos tirar o máximo proveito delas para o cumprimento da nossa missão na Terra. Usando a força da Torá, temos capacidade de modificar o nosso destino e de transformar e melhorar os Decretos Celestiais.
A cada ano, no dia do aniversário judaico de um indivíduo, o seu Mazal atinge o auge, favorecendo a pessoa com as benesses que contém. Toda a energia e a vitalidade que lhe foram concedidas no dia em que nasceu repetem-se no seu aniversário, ano após ano, com intensidade maior e força redobrada. Isto é muito semelhante com o conceito de Rosh Hashaná, quando começamos o ano novo com intensas orações e com o toque de Shofar. Por outras palavras, o dia do aniversário nada mais é do que o Rosh Hashaná individual de cada ser humano.
Consta no livro Tanya, de autoria de um dos grandes mestres chassídicos, que todos os anos, em Rosh Hashaná, existe uma nova vitalidade que D'us manda ao mundo, totalmente diferente da enviada no ano findo. O êxito em recebermos esta energia depende do fervor e da seriedade das orações do povo de Israel nos dias de Rosh Hashaná e da sua maior aproximação ao Todo Poderoso. Nenhum ano é igual ao outro, assim como não há um ser idêntico a outro. Certa vez, um grande sábio disse aos seus discípulos: "Vou-lhes mostrar algo totalmente novo, que nunca esteve no mundo e jamais voltará a existir. Assim, mostrando uma maçã, disse: 'Esta maçã nunca esteve no mundo e, após ser consumida, nunca mais voltará a existir' ".
Se isto é verdade para qualquer criatura, mais válido ainda o é em relação ao homem. Não só cada ser humano é distinto do outro, mas também para cada indivíduo cada um dos anos é diferente. Esta diferença é mais perceptível em certas datas específicas da nossa vida. Eis aqui um exemplo clássico, a partir do qual, poderemos aplicar a regra a muitos outros casos.
Os dias do Bar e Bat-Mitzvá são, sem sombra de dúvida, datas muito especiais. Os pais têm que se alegrar nesses dias como o fizeram no dia do nascimento dos seus filhos e como irão fazê-lo no dia do seu casamento. O significado desta alegria está ligado directamente com o que foi explicado acima, a respeito do dia do aniversário.
Pois estas datas, além de serem o dia do nascimento dos jovens, possuem uma dupla dose de energia por serem datas muito significativas e de grande elevação espiritual. Nelas, os jovens atingem a sua maioridade religiosa e tornam-se independentes e responsáveis pelos seus actos. E o mesmo acontece no dia do casamento. Pois, de acordo com a nossa tradição, os jovens, em dia tão solene, começam uma nova página na sua vida e são considerados como recém nascidos, sem falhas, isentos de qualquer erro.
É bem comum comemorar a data de aniversário com uma reunião familiar e na proximidade de amigos; com bolo e velas. Além de muito bonito, é motivo para fortalecer a união e fazer, assim, pairar uma atmosfera amiga e de paz entre os presentes. Mas não é o bastante, muito menos o mais importante. Precisamos transformar o dia do nosso aniversário num dia muito especial. Devemos, acima de tudo, tomar decisões positivas no que diz respeito ao nosso comportamento e procurar acrescentar algo a mais de judaísmo na nossa vida e no nosso dia-a-dia. Somente assim alcançaremos os verdadeiros objectivos para os quais cada um de nós foi criado.

Avraham Cohen é rabino da Sinagoga Beit Yaacov, São Paulo

Tradição Judaica


Apesar do relato histórico da vida do povo judeu apresentar um sentido tão cósmico, sua continuidade cultural-religiosa de três a quatro mil anos talvez seja a mais extensa que qualquer grupo étnico-religioso tenha alcançado.

Para o judeu devoto e consciente de sua história, o passado parece tão real quanto o presente, porque ele os concebe como intrinsecamente ligados um ao outro, dotados que são do mesmo propósito moral.No sentido espiritual, o tempo se conservou intemporal! Depois de as doutrinas sobre o Messias, Ressurreição, Juízo Final, terem firmado raízes no solo parcialmente místico da crença judaica durante o período pós-bíblico, também o futuro se ligou ao passado e ao presente, sintetizados que ficaram numa certeza histórica indivisível. Agora, para o povo de Israel, a vida tinha assumido um objectivo grandioso bem delineado, como a planta de um projecto arquitetônico. Poder-se-ia, em conseqüência, concluir apressadamente que, ao aprender “verdades absolutas”, a religião judaica estivesse condenada a um esta- do de permanente imobilidade e estagnação. Mas na verdade, enquanto o povo se agarrava tenazmente às principais doutrinas, princípios, atitudes e práticas tradicionais, sua evolução histórica era contínua, ajustando-se aos novos conjuntos de circunstâncias e às influências culturais do ambiente em geral e do espírito da época; em fase alguma da história judaica sua religião permaneceu estática. Costuma-se estudar e analisar o judaísmo e o povo judeu sob vários pontos de vista: histórico, sociocultural, antropológico, étnico-filosófico, literário etc. Nosso propósito, neste estudo, é destacar o papel dos marcadores temporais como elementos característicos na formação e na permanência da tradição judaica, desde os primórdios da história universal até a história contemporânea, bem como sua ligação com a natureza e sua perspectiva ecológica.

Marcadores temporais universais: o calendário
Ano lunar x ano solar

Desde épocas bíblicas, os meses e os anos do calendário judaico foram determinados pelos ciclos da lua e do sol. Pela lei tradicional os meses seguem o ciclo lunar, desde o Molad (nascimento, conjunção) até o novilúnio seguinte. A tradição judaica reconhece numerosas afinidades entre a lua e Israel. Assim como o Sol representa a potência material reconhecida aos olhos de todos – é o apanágio das nações – a lua, brilho tênue no reino da noite, representa Israel, humilhada entre as nações na noite do exílio. A influência discreta da lua simboliza o lento caminhar das idéias do judaísmo. Mais um exemplo: o desaparecimento e depois a reaparição da lua representam a eternidade de Israel, apesar das vicissitudes.Voltando ao calendário, os meses lunares têm que corresponder com as estações do ano, que são determinadas pelo ciclo solar, devido às festividades judaicas. Pessach, por exemplo, tem que cair sempre no mês de Nissan e coincidir com o princípio da primavera e Sucot, a festa da colheita, celebrada em Tishrei, tem que coincidir com o outono (em ambos os casos, no hemisfério norte). Pode-se então definir o calendário judaico como luni-solar, em contraste com o calendário civil ou gregoriano, que é puramente solar e no qual os meses perderam toda a correspondência com o ciclo lunar. Da mesma forma, o calendário judaico é muito diferente do maometano, o qual é puramente lunar, e no qual cada mês “migra” pelas quatro estações até completar o ciclo lunar de 33 anos.Em contraste com os dois sistemas citados, o gregoriano e o maometano, o calendário judaico tem que atender dois requisitos – ser solar e lunar. Esta é a razão de sua relativamente complexa estrutura. Como o ano solar de 365 dias é aproximadamente 11 dias maior que 12 meses lunares, o calendário judaico tem que resolver o problema de balancear o ano solar com o lunar.
Um ano somente lunar causaria um deslocamento das festas, que acabariam, pouco a pouco, por cair em estações diferentes daquelas para as quais foram prescritas. É para remediar este inconveniente que se agrega, em certos anos, um mês suplementar. Têm-se pois anos comuns de doze meses (353, 354 e 355 dias) e anos embolísmicos, quer dizer, de treze meses (de 383, 384 e 385 dias).

O calendário judaico
Em épocas remotas da história judaica, encontrou-se a seguinte solução prática: os começos de meses eram determinados por observação direta da lua. Os novos meses eram santificados e seus inícios anunciados pelo Sinédrio (Sanhedrin), a corte suprema de Jerusalém, depois que certos observadores testemunhavam haver visto o novo crescente e, logo que esses testemunhos eram examinados rigorosamente, eram confirmados por cálculos e inteiramente aceitos. As comunidades judaicas da antigüidade eram notificadas sobre os começos dos meses (Rosh Chodesh) pelo acendimento de fogueiras noturnas em cima das montanhas e, mais tarde, por mensageiros.Um comitê especial do Sanhedrin, com o seu presidente atuando como seu diretor, tinha como missão balancear o ano lunar com o ano solar. Este comitê, chamado Sod Ha-Ibur (conselho do calendário) calculava o princípio das estações (tekufot) com base em dados astronômicos transmitidos por tradição oral desde tempos remotos. Quando, depois de dois ou três anos, o excesso anual de 11 dias se acumulava até contar aproximadamente 30 dias, intercalava-se um décimo-terceiro mês (Adar II) antes do mês de Nissan, para assegurar que Nissan e Pessach ocorressem na primavera e não começassem a retroceder até o inverno (verão no hemisfério sul). Não obstante, o cálculo astronômico não era a única base para a inserção do décimo-terceiro mês. A demora na chegada da primavera era outro fator decisivo.O Talmud conta que o Conselho do Calendário intercalava 1 mês quando o trigo nos campos não se havia aberto ainda, quando o fruto das árvores não havia crescido totalmente, quando as chuvas de inverno não haviam cessado, quando os caminhos usados pelos peregrinos que chegavam para oferecer as oferendas de Pessach em Jerusalém não haviam secado. Ou, ainda, quando as andorinhas não haviam crescido para poder voar. O Conselho baseava seus cálculos em dados astronômicos combinados com as necessidades religiosas de Pessach e as condições naturais da Terra de Israel.Este método de observação e intercalação de meses foi usado durante todo o período do Segundo Templo (516 a.e.C. – 70 d.e.C.) e por um tempo após a sua destruição, durante todo o tempo em que existiu um Sanhedrin independente. No século IV, quando a opressão e a perseguição ameaçaram a existência dos judeus, o patriarca Hilel II tomou uma decisão extraordinária para preservar a unidade do povo de Israel. Para evitar que os judeus dispersos por toda a face da terra festejassem os novilúnios e as festividades em dias diferentes, tornou-se público o sistema de cálculo do calendário que, até então era guardado em extremo segredo.De acordo com esse sistema, Hilel II santificou todos os meses, de antemão, e intercalou todos os meses dos futuros anos bissextos, até o dia em que um novo Sanhedrin for reconhecido pelo povo de Israel. Este é o calendário permanente de acordo com o qual todos os Roshei Chodashim (novilúnios) e festividades são calculados e celebrados por todos os judeus do mundo.Da mesma forma que o antigo sistema, baseado na observação, o calendário fixo está baseado no princípio luni-solar. Também aplica certas regras nas quais dados astronômicos são combinados com os requerimentos religiosos. O dia começa ao aparecer das primeiras estrelas e não a partir da meia-noite: eis por que o Shabat começa na sexta-feira à noite e acaba no pôr-do-sol. As festas são determinadas pelas fases da lua. Muitas das festas caem no dia 14 ou 15 do mês lunar, isto é, na lua cheia. Sucot cai no dia 15 de Tishrei; Rosh Hashaná la-Ilanot a 15 de Shevat; Pessach a 15 de Nissan etc. Os meses do ano judaico, como a economia da sociedade judaica primitiva era agrícola, os primeiros calendários refletiam claramente os interesses especiais e as ocupações ligadas ao solo. Um dos calendários hebraicos mais antigos, rudimentar na forma, foi descoberto por arqueólogos há muitas décadas, numa elevação perto do local da antiga cidade de Gezer, na Palestina. Se bem que parte da inscrição na pedra fosse indecifrável, o que podia ser lido fazia referência clara a oito meses, à maneira de almanaque de fazendeiros: um mês da colheita das frutas; um mês de plantio; um mês de pós-grama; um mês de colheita do linho; um mês da colheita da cevada; um mês de tudo o mais; um mês de podar as vinhas; um mês da colheita dos figos. Conhecem-se hoje apenas alguns nomes bíblicos dos meses: Aviv e Ziv na primavera; Bul e Etanim no outono. Os nomes dos meses lunares são de origem babilônica e a cada um corresponde uma constelação do zodíaco. Seus nomes são: Nissan, Iyar, Siván, Tamuz, Av, Elul, Tishrei, Cheshván, Kislêv, Tevet, Shvat, Adar. A Cada dois ou três anos, intercala-se após o mês de Adar, um 13º mês, o Ve-Adár ou Adár Sheni. Cada ciclo lunar dura aproximadamente 29 dias e meio. Como é impossível estabelecer meses compreendendo uma fração, eles têm alternadamente 29 ou 30 dias (salvo Cheshván e Kislêv, que têm às vezes 30 dias).

As festas judaicas e sua ligação com a natureza
As festas judaicas têm, em geral, um triplo sentido: além de comemorar um fato histórico e metafísico, marcam uma efeméride agrícola ou natural. Por exemplo, Pessach (Páscoa) comemora a saída do Egipto, tem o significado da passagem e da libertação e é a festa da primavera. Sucot, a festa das Cabanas, lembra os 40 anos em que os hebreus moraram acampados durante a travessia do deserto, mas tem também o propósito de fazer lembrar (como toda festa judaica) não apenas um período histórico, mas atualizá-lo com um objetivo ético profundo. Da mesma forma como em Pessach lemos na Hagadá que devemos sentir-nos como se tivéssemos acabado de sair do Egito (o que representa o redimensionamento temporal responsável pela manutenção milenar do judaísmo) e também de nos questionar acerca do sentido da liberdade humana (somos livres hoje? ), em Sucot é o momento de se refletir sobre o nosso semelhante desfavorecido, o sem-teto: devemos sair de casa e habitar, durante uma semana, numa cabana totalmente exposta à ação da natureza – seu teto deve ter aberturas pelas quais seja possível ver o céu. Se por um lado o judeu assim manifesta seu desejo de colocar-se diretamente sob a proteção Divina, por outro, Sucot serve como exemplo de como o judaísmo pede mais que pensamentos ou verbalizações – requer ação. E a experiência física da Sucá deve levar a uma conscientização social, base ética de solidariedade, geradora de uma ação pela justiça social.Um outro exemplo interessante se refere ao Ano Novo. Na verdade, no Talmud (Mishná, que abre o tratado de Rosh Hashaná), existem 4 datas que têm o significado de um Ano Novo: 1) 1º de Nissan – por comemorar o período dos Reis, a organização dos festivais e a contagem dos meses (que tem um significado interessante: por ser o mês de Pessach, só tem sentido para o homem a contagem do tempo a partir de sua libertação); 2) 1º de Tishrei – Ano Novo agrícola, com referência à observância do ano sabático e do jubileu; 3) 1º de Elul, para o dízimo do gado; e 4) 15 de Shvat, o Ano Novo das Árvores.A Mishná (Rosh Hashaná 1.1) se refere a Tu Bi-Shvat como o Ano Novo das Árvores porque nesse dia termina o inverno, cessam as precipitações pluviais e surgem os novos brotos. Assim como as pessoas são julgadas em Rosh Hashaná, as árvores o são em Tu Bi-Shvat. A Torá especificamente proíbe cortar ou danificar uma árvore que dá frutos (Deut. 10:19). Também é proibido cruzar árvores em crescimento para produzir uma nova classe de frutos. O 10º dia do mês de Shvat se chama Tu Bi-Shvat dado que as letras “tet vav”, que formam a palavra “tu”, têm o valor numérico quinze. Um antigo costume era plantar um cedro por cada filho varão que nascia e um cipreste para cada menina. Com o passar dos anos, quando esses jovens se casavam, os ramos das árvores plantadas em sua homenagem eram usados para decorar a “chupá” (dossel sob o qual se realiza o casamento). Dessa maneira, a árvore era associada com o ciclo da vida de um judeu. Hoje em dia, em Israel, é costume plantar árvores porque, à margem das razões tradicionais, este ato é uma forma de inspirar as pessoas a se sentirem mais próximas de sua terra. Tem também a finalidade de melhorar a paisagem por meio do reflorestamento.Tu Bi-Shvat se celebra preparando uma mesa com variedades de frutos, especialmente as sete espécies enumeradas na Torá como produtos especiais de Israel: trigo, cevada, uvas, figos, romãs, azeitonas e mel. Outro costume é ter 15 frutas diferentes na mesa para simbolizar o 15º dia do mês de Shvat. Além destes frutos, busca-se uma fruta da estação, que não se tenha ainda comido durante o ano para recitar a bênção de “Shecheianu”.

© Jane Bichmacher de Glasman
Professora da UERJ e do ISTARJ

25.12.06

Educação judaica que funciona.

Mostrando como o Judaísmo é a coisa mais espectacular do mundo.
Rabino Shraga Simmons

Pergunte a uma típica criança judia na América quem era a mãe de Jesus e ela seguramente saberá a resposta. Agora tente perguntar: Quem era a mãe de Moisés ?Olhar vazio. Levando-se em conta que as comunidades judaicas ao longo do mundo se lamentam diminuindo a afiliação judaica enfraquecendo o apoio judaico a Israel, e também, os altos índices de assimilação, um factor se distingue como a causa mais provável:
A juventude judaica não está mais sendo educada com fundamentos do Judaísmo. Por exemplo: - Uma pessoa racional acredita que D'us falou em Monte Sinai? - Como o Judaísmo explica a idade do universo levando em conta os seis dias da criação? - Onde D'us estava durante o Holocausto? -E ainda mais básico, como eu sei que D'us existe?
"As crianças freqüentemente se afastam do Judaísmo não porque este não tenha as respostas para estas perguntas, mas, antes disso, pois falsamente presumem que o Judaísmo não tenha as respostas e não procuram tempo para encontrá-las," diz o Rabino Daniel Mechanic, director do Projeto Chazon. "As crianças são incapazes de explicar a observância judaica tanto para si mesmas quanto para os outros quando desafiadas. E esta insegurança pode contaminá-las para o resto das suas vidas." O Projecto Chazon (o nome significa "visão") é uma organização educacional baseada em Nova Iorque que confronta a origem do problema. O projecto Chazon visita centenas de escolas judaicas todo o ano, ensinando os princípios do pensamento judaico num idioma e estilo que a adolescência do hoje em dia pode apreciar e absorver.
"Há uma guerra nuclear acontecendo nas almas das nossas crianças," diz Mechanic. "A sociedade mudou dramaticamente. Não é mais da mesma forma do meu tempo de criança, em que cresci assistindo My Three Sons , The Brady Bunch e Gilligan's Island. Hoje o mundo está cheio de perigos espirituais que são facilmente acessíveis. Se não dermos às crianças judias a munição para que possam confrontar de forma inteligente com estas ameaças, não devemos ficar surpresos se elas se virarem para o secularismo, as religiões orientais ou simplesmente manifestarem apatia."Continua Mechanic: "Sempre que alguém afirma ser um ateu, eu chamo isso de blefe. Aí pergunto a eles: "'Você já leu Aristóteles, Sócrates, Platão, Maiomânides ou Spinoza? Não? Bem neste caso você não é um ateu; simplesmente não fez a pesquisa!'"A solução, evidentemente, é suprir respostas atrativas para a pergunta: Por que ser judeu? E para o Projeto Chazon, que atualmente ministra seminários em 188 escolas secundárias judaicas pela América do Norte, a abordagem é dupla:"Primeiros, nós proporcionamos evidência da Torat Emet, que é a Torá verdadeira, baseados em vários argumentos históricos e intelectuais," Mechanic explica. "No mundo de hoje, para que as pessoas escutem até os assuntos de espiritualidade devem ser moldados em termos científicos racionais."

Instruções de vida
Mas isto é só o começo. Uma pessoa pode entender algo por ser uma verdade compreensiva, mas se esta verdade não avivar em sua alma, então ela permanecerá como estava, um pensamento intelectual esgotado em si mesmo, antiquado. O que nos traz para o segundo aspecto de Projeto Chazon. "Além de mostrar a fundação racional do Judaísmo," diz Mechanic, "nós também demonstramos o poder da Torat Chaim, ou seja, literalmente "Instruções de Vida", que a Torá contém sabedoria concreta e é o meio mais efetivo e prazeroso de viver a vida mesmo que a pessoa não seja totalmente observante." Por exemplo, abster-se de fofocas (lashon hara) promove a harmonia no local de trabalho e a observância do Shabat cria um vínculo semanal para pais e crianças. "É fundamentam quebrar a concepção errada de que a vida judaica se resume em restrições e miséria, como, por exemplo, você não pode comer no Mc Donald's, tem que rezar três vezes por dia, não pode se casar com cristãos ..." Mechanic explica. "Na verdade o Todo-poderoso nos deu o manual de instrução básico para saber como navegar pelas águas inquietas e construir uma vida significativa."

A Coisa Mais Espectacular do Mundo
A mensagem do projeto Chazon é que todos os judeus podem se beneficiar, do mais assimilado ao mais observante. De fato, o Rabino Mechanic e seu companheiro, Rabino Yerachmiel Milstein primeiramente visitam escolas Ortodoxas cujos alunos embora tenham qualificação nos aspectos técnicos e legítimos do Judaísmo, muitas vezes lhes falta uma compreensão mais plena de suas bases filosóficas. "No século 19, o típico judeu europeu de um Shetl não tinha perguntas," diz Mechanic. "Todos eram observantes, e tinham uma convicção forte e profunda da Torá. Mas aqueles dias não existem mais. Com o atual bombardeio de idéias muitas crianças, até as Ortodoxas, têm uma insegurança sobre sua religião, sua história, e o que esperar do futuro. Temos que encorajar perguntas, e responder a todas com respeito e reconhecimento não importando o quanto remotas possam parecer."
Confrontando o fato de por que existem tantas crianças judias rejeitando sua religião, o Projeto Chazon opera com o princípio de prevenção.Mechanic utiliza uma analogia: Homer's Odyssey, onde bonitas vozes vindas de uma ilha atraiam marinheiros quando estes passavam com seus barcos fazendo com que seus navios se quebrassem nas pedras. Como solução, alguns sugeriram pôr cera de abelha nas orelhas dos marinheiros; outros sugeriram que prendessem o piloto que guiava o navio. Até que uma terceira pessoa disse: "Não, nada disso funcionará. Temos que colocar uma música em nosso navio mais bonita do que aquela que vem da ilha." "Acredito que a mesma abordagem deva ser usada em relação ao ensino do Judaísmo," diz Mechanic. " Temos que mostrar como o Judaísmo pode ser muito mais vibrante e vivo do que a MTV ou a NBA." Para complementar os seminários das escolas secundárias, o Projeto Chazon inclui aulas aos pais. Não são aulas que discutem as técnicas de disciplina na educação aos filhos ou a comunicação entre pais e filhos. Melhor que isso, o Projeto Chazon ensina aos pais como mostrar a beleza e relevância do Judaísmo para seus filhos.
"Há muita coisa que pode ser alcançada na escola," diz Mechanic. "A essência é a atmosfera dentro de casa como a alegria do Shabat e o significado que tem um Seder de Pessach. Para transmitir o Judaísmo do modo eficaz, os pais precisam estar firmemente seguros de que o Judaísmo é a coisa mais espetacular do mundo."

10 Perguntas principais do Projeto Chazon
1) Qual é o propósito de vida? D'us criou os seres humanos para lhes dar prazer. O truque é saber quais são os prazeres mais importantes.
2) Como sabemos que D'us existe? A presença de um projeto na natureza indica que há um projetista.
3) Como sabemos que a Torá é verdadeira? O Judaísmo afirma que nossa nação inteira: 3 milhões de homens, mulheres e crianças que saíram do Egito ouviram D'us falar em Monte Sinai. Logicamente, tal afirmação não poderia ser fabricada.
4) Se eu não posso cumprir todo o Judaísmo, então por que eu deveria me preocupar com qualquer coisa? O Judaísmo é um processo, uma jornada, onde todos os passos contam. Toda mitzvá é uma mina de ouro e enriquece sua vida para sempre.
5) E o "Povo Escolhido"? Não se trata de um conceito divisório? Quando Avraham "escolheu D'us," ou seja, se tornou o primeiro monoteísta, D'us simplesmente escolheu Avraham e seus descendentes para serem os transmissores desta mensagem monoteísta.
6) Como o Judaísmo explica a idéia de evolução? A teoria da evolução não contradiz a Torá desde que seja entendida de forma que D'us criou e guiou o mundo por um processo evolucionário, culminando quando Adão recebeu uma alma divina.
7) Dados os seis dias da criação, como o Judaísmo explica a idade do universo? Os seis dias não eram como nosso padrão de 24 horas por dia (afinal, o sol não tinha sido criado até o quarto dia), e sim mais precisamente seis épocas, talvez durasse bilhões de anos.
8) Por que coisas ruins acontecem com boas pessoas? Tudo o que acontece com a gente é, no final das contas, para nosso próprio bem. Não temos a perspectiva de tempo certa para ver o retrato inteiro.
9) O que define a moralidade? Por que todo mundo não pode fazer o que acha certo? Se usássemos este argumento o incesto ou o canibalismo deveria ser permitido por mútuo consentimento. Porém temos a intuição do certo e do errado.
10) E quanto a Lei Oral? Foi transmitida com precisão?Depois de milhões de anos de separação, tanto imigrantes até pessoas que moram em Israel compartilham as mesmas tradições básicas. Enquanto a Torá menciona o tefillin, mas não dá nenhum detalhe, todo mundo ao longo da história tinha as mesmas caixas pretas, as correias de couro e os pergaminhos idênticos do lado de dentro. O "telefone sem fio" nunca aconteceu.

http://www.aishbrasil.com.br

O Shemá, é a nossa declaração de fé (2)


Segundo parágrafo - Deuteronómio (11:13-21).
No segundo parágrafo, D'us fala a Israel como um todo, por isso é escrito na segunda pessoa do plural. E D'us ordena: "obedecer aos Meus preceitos" e servi-Lo "com todo o vosso coração e a vossa alma". Neste trecho está contida a promessa Divina de que se Israel O obedecer, não cometer idolatria e não se afastar da crença em um único D'us, será um povo feliz na terra que lhe fora prometida. Contém também o aviso das tristes consequências - adversidade e exílio - que se abaterão sobre o povo se este abandonasse os Mandamentos Divinos. Segundo o Zohar, tanto amor como justiça são os elementos fundamentais na nossa relação com D'us. No primeiro parágrafo do Shemá a ênfase é dada ao amor, enquanto no segundo, à Justiça Divina, especialmente no que diz respeito a Israel como um todo.Neste parágrafo vemos que Israel como um todo é responsável pela manutenção e guarda da nossa herança, por isso a educação judaica não é apenas uma responsabilidade individual, mas também colectiva. É reiterada a obrigação do uso de tefilin e da mezuzá por serem símbolos da observância dos preceitos divinos.

Terceiro parágrafo - Números (15:37-41).
No Talmud, Rabi Shimon bar Yochai afirma que na oração do Shemá, o primeiro parágrafo estabelece a obrigação de estudar os mandamentos divinos, ensiná-los e cumpri-los; o segundo aponta a nossa obrigação de ensinar e cumprir; e o terceiro limita-se à obrigação de cumprir as mitzvot (Berachot 14b), para que nos tornemos "um povo santo".Sempre no Talmud, o Rabi Yehuda Ben-Shiva aponta factores que tornam esta terceira passagem muitíssimo importante. Nele está o mandamento do tsitsit, franjas brancas colocadas nos cantos de peças do vestuário masculino que tenham quatro pontas. Segundo o Zohar, isto simboliza o facto de D'us ser o Senhor dos quatro cantos do universo. O tsitsit pode ser usado todos os dias, inclusive no Shabat, e, ao vê-lo, o judeu lembra de todos os outros Mandamentos Divinos. Quando o judeu se envolve num talit, é potencialmente tão sagrado aos olhos de D'us como se fosse um anjo (Targum Yonathan). Um Midrash compara o uso do tefilin e tsitsit a uma corda que o capitão do barco atira para alguém que está a afogar-se no mar.Em segundo lugar, neste parágrafo D'us reafirma que foi Ele quem nos tirou do Egipto, tornando-nos o Seu povo, e que Ele é o nosso Único D'us. E esta é a verdade que deve guiar as nossas vidas.

Conclusão
O rabino Norman Lamm encerra o seu livro The Shemá Spirituality and Law in Judaism com uma passagem extraída do Tzeror ha-mor, do Rabi Abram Seba, que resume toda a importância desta oração. As palavras do Rabi Seba se tornam ainda mais pungentes se vistas como pano de fundo dos terríveis acontecimentos que os judeus tiveram que enfrentar após a expulsão da Península Ibérica, em 1492."A Torá considerou o futuro - o sofrimento e o mal que seriam decretados contra Israel, forçando o povo judeu a abandonar a sua religião e afastar-se do estudo da Torá. Foi isto o que aconteceu com a Expulsão de Portugal, quando era proibido orar em público e ensinar aos filhos as leis da Torá. Todos os livros e sinagogas foram destruídos, de modo que não fosse possível orar ou transmitir osnossos ensinamentos aos nossos filhos. Consequentemente, presumia-se que a Torá seria esquecida pelos judeus - como poderíamos ensinar os nossos filhos sem livros nem professores? Não nos deixaram nada para que lhes ensinássemos que o Senhor é Único, e que cada ser humano deve amá-Lo e estar pronto a morrer por Ele. Mas D'us deu a Israel, para estes tempos difíceis, este pequeno trecho do Shemá - o primeiro parágrafo - que contém a essência de toda a Torá. E se não pudessem conhecer o trecho inteiro (ou seja, os três parágrafos que compõem o Shemá), saberiam pelo menos o verso Shemá Israel... que contém a afirmação de fé na Unidade de D'us.
Assim, poderão ensinar este verso aos seus filhos para que saibam que Ele é único e que Ele é o Todo-Poderoso. E se o inimigo vier para forçá-los a abandonarem o seu D'us, aprenderão a oferecer as suas vidas por D'us e a morrer por Ele. Este é o significado de amá-Lo `com todo o seu coração, toda a sua alma e toda a sua força'."Ouve, Israel, A-do-nai é nosso D'us, A-do-nai é Um. Bendito seja o nome da glória do Seu reino para toda a eternidade. (Em voz baixa) Amarás a A-do-nai, teu D'us, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu poder (tuas posses). Estas palavras que hoje Eu te ordeno ficarão sobre o teu coração. Transmiti-las-ás diligentemente aos teus filhos e falarás a respeito delas, estando na tua casa e andando pelo teu caminho, e ao te deitares e ao te levantares. Atá-las-ás como sinal sobre a tua mão e serão por filactérios entre os teus olhos. Escrever-las-ás nos umbrais da tua casa e nos teus portões.
Acontecerá, se obedecerdes diligentemente aos Meus preceitos, que Eu vos ordeno neste dia, de amar a A-do-nai, vosso D'us, e servi-Lo com todo o vosso coração e com toda a vossa alma; então darei a chuva para a vossa terra a seu tempo, a chuva precoce e a chuva tardia; colherás o teu grão, o teu mosto e o teu azeite. Darei erva no teu campo para o teu gado, e comerás e te saciarás. Guardai-vos para que o vosso coração não seja seduzido e desvieis e sirvais outros deuses e vos prostreis diante deles. Pois então se inflamará contra vós a ira de A-do-nai, e Ele fechará os céus e não haverá chuva, e a terra não dará o seu produto. Então perecereis rapidamente da boa Terra que A-do-nai vos dá. Portanto, colocai estas Minhas palavras sobre o vosso coração e sobre a vossa alma, e atá-las-eis como sinal sobre a vossa mão e serão por filactérios entre os vossos olhos. Ensiná-las-eis aos vossos filhos, falem a respeito delas, estando na tua casa e andando pelo teu caminho, e ao te deitares e ao te levantares. Escrevê-las-ás nos umbrais da tua casa e nos teus portões. A fim de que se multipliquem os vossos dias e os dias dos vossos filhos na Terra que jurou A-do-nai aos vossos antepassados dar-lhes por todo o tempo em que os Céus estiverem sobre a Terra.
Disse A-do-nai a Moshé o seguinte: "Fala aos filhos de Israel e diz-lhes que façam para si franjas nos cantos das suas vestimentas, por todas as suas gerações. Prenderão na franja de cada borda um cordão azul-celeste. Serão para vós por tsitsit e os olhareis e recordareis todos os preceitos de A-do-nai, e os cumprireis; e não seguireis atrás do vosso coração e atrás dos vossos olhos, por meio dos quais vos desviareis. Para que vos lembreis e possam cumprir todos os Meus mandamentos e sejais santos para o vosso D'us. Eu sou A-do-nai, vosso D'us, que vos tirou da terra do Egipto para ser o vosso D'us. Eu, A-do-nai, sou o vosso D'us. Eu, A-do-nai, sou o vosso D'us. É verdade.

Extraído do livro Manual de Bênçãos. Editora Beit Chabad
Bibilografia:
Norman Lamm, The Shema, Spirituality and Law in JudaismRabbi Elie Munk, The Call of the TorahNissan Mindel, Minha PreceBenjamin Blech, Understanding Judaism
_____________________________________
Fonte: Revista Morashá - Edição 25 http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=24&p=0

23.12.06

Espírito de Hanucá = não a' assimilação

BOM DIA! A primeira vela foi acesa na sexta-feira passada, dia 15, lantes do pôr-do-sol. A cada dia acendemos uma vela a mais: no sábado à noite, 2 velas, no domingo, 3 velas, e assim por diante, até chegarmos a 8 velas nesta sexta-feira ao entardecer, dia 22 de Dezembro. Na sexta-feira, dia 22, acendemos as 8 velas de Hanucá antes do pôr-do-sol (e antes das velas de Shabat).
Eu pensei que vocês, queridos leitores, poderiam desfrutar de um artigo sobre o Espírito de Hanucá, escrito pelo meu amigo e colega, o Rabino Nahum Braverman, director educacional do Aish HaTorá em Los Angeles, Califórnia:


Pelo que Lutavam os Macabeus?
É irónico que Hanucá seja tão largamente observada e cumprida nos Estados Unidos, já que não está claro se os Judeus de hoje se posicionariam ao lado dos Macabeus. Os Judeus não lutaram contra os gregos por independência política, e Hanucá não pode ser entendida como uma versão antiga da guerra entre Israel e os árabes. Hanucá comemora uma batalha religiosa.
Os gregos eram governantes benevolentes, trazendo a civilização e o progresso a todos os lugares que conquistavam. Eram ecuménicos e tolerantes e até criaram um panteão de deuses, no qual aceitavam incluir os deuses dos seus conquistados. A sua única exigência era a assimilação dos conquistados dentro do caldeirão da cultura, civilização e religião gregas.
A comunidade Judaica estava dividida em relação a esta proposta. Alguns acreditavam ser a assimilação positiva, uma influência modernizante, e deram as boas-vindas à sua liberação do paroquialismo Judaico. Opondo-se a isto e liderados por Yehuda, o Macabeu, havia um pequeno grupo preparado para lutar e morrer para preservar o verdadeiro Judaísmo (o nome “Macabeu” é um acrônimo, em hebraico, do versículo bíblico “Quem é como o Senhor entre os outros deuses, ó Todo-Poderoso?”).
Não foi uma guerra por princípios abstractos de tolerância religiosa. Foi uma batalha contra a assimilação, travada por pessoas para quem a Torá era a sua vida e a sua inspiração. Estaríamos nós com os Macabeus ou iríamos, também, ter pensado que a assimilação era o caminho para o futuro? Será que lutaríamos hoje pelo Judaísmo, prontos para morrer pelo estudo da Torá e pelo cumprimento do Shabat?
Enfrentamos hoje uma crise de identidade tão séria como aquela confrontada há 2.500 anos atrás. Será que atravessaremos este século como uma comunidade religiosa ou meramente como um ‘tempero’ no grande Caldeirão Americano? Hanucá chama-nos ao combate contra a assimilação e à luta pela nossa herança e valores.
Lembram-se do fim da história? Finalmente triunfantes, os Judeus capturaram Jerusalém e voltaram a consagrar o Templo (um dos significados da palavra Hanucá é consagrar, tornar algo sagrado, e se refere a este acontecimento). Eles encontraram somente um frasco de azeite, suficiente para acender a Menorá por um dia, mas o azeite ardeu por oito dias, testemunhando que à nossa determinação foi acrescida uma força que não se consegue explicar com palavras, que difundiu os nossos esforços com um ardor e poder transcendentais. “Acendam as velas”, diz a festividade para nós. Hajam vigorosamente, ensinem, desejem, corajosamente e com determinação, e D’us irá acrescentar aos nossos esforços uma força, uma estabilidade e um brilho muito além das nossas capacidades de compreensão!

21.12.06

Pensamento da Semana

“Se não escolher um caminho para a vida, a vida escolherá um caminho para si!”

Porção Semanal da Torá

Mikets Bereshit (Gênesis) 41:01 -44:17

O Faraó sonha com vacas e com espigas e exige que alguém interprete os seus sonhos. O encarregado dos vinhos do palácio relembra da habilidade de Yossêf (José) de interpretar os sonhos. Daí o trazem da prisão. O Faraó reconhece a verdade na interpretação feita por Yossêf (de que haveria sete anos de fartura, seguidos por sete anos de fome) e o promove ao posto de segundo-homem no comando de todo o país, com a missão e a permissão de preparar o país para enfrentar o período de fome. Dez dos irmãos de Yossêf vêm ao Egipto comprar comida. Ele os reconhece, mas não é reconhecido. Yossêf os acusa de serem espiões e os coloca numa série de situações para que trouxessem o seu irmão mais novo, Benjamim, ao Egipto. Porém, quando Benjamim chega, Yossêf acusa-o de ter roubado a sua taça de vinho mais especial. Quer saber o por quê? Na semana que vem tem o grande desfecho!


Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin

O Faraó gostou da interpretação que Yossêf deu ao seu sonho e o aponta como o encarregado de toda a economia do Egipto. A Torá declara: “E o Faraó falou para Yossêf: ‘Depois que o Todo-Poderoso lhe informou de tudo isto (o sonho), não existe mais ninguém tão entendido e sábio como você’ (Bereshit 41,39)”. Como pôde o Faraó confiar em Yossêf, dono de um ‘prontuário’ de ex-condenado e escravo?
O Rabino Haim Shmuelevitz (Israel, falecido em 1979), director anterior da Yeshivá de Mir em Jerusalém, explicou:“O Faraó percebeu a extrema honestidade de Yossêf quando este iniciou a sua fala dizendo que não tinha nenhum poder de interpretar sonhos, e que tudo o que falasse seria proveniente directamente do Todo-Poderoso. Yossêf não quis levar a ‘fama’ nem apenas por um momento. Esta total honestidade foi um pequeno ponto que demonstrou ser Yossêf merecedor da mais absoluta confiança”.
Percebamos que o Faraó viu um pequeno ponto positivo no carácter de Yossêf e o extrapolou para uma escala maior.
Muitos têm a tendência de notar as pequenas falhas e fraquezas nos demais e, então, extrapolam e presumem que estas pessoas têm problemas de carácter maiores. Na verdade, quando desejamos auxiliar alguém, muito mais pode ser obtido ao focarmos os seus pontos positivos do que ampliando os negativos. Especialmente se estas pessoas têm baixa estima.
Este deve ser o nosso comportamento ao olharmos para as pessoas: Preste atenção aos pequenos pontos fortes e dê à pessoa um retorno positivo. Isto a ajudará a criar uma boa auto-imagem. Quanto mais uma pessoa denuncia os bons atributos, mais motivada estará para utilizar estas forças para o seu crescimento futuro.

O Shemá, é a nossa declaração de fé (1)


A historiadora Yaffa Eliach conta que, após a Segunda Guerra Mundial, um judeu americano de nome Liberman decidiu resgatar o maior número de crianças judias que haviam sido escondidas em mosteiros e orfanatos durante o conflito. Foi à Europa, visitando mosteiro a mosteiro, orfanato a orfanato e, ao entrar em cada instituição, recitava o Shemá Israel. As crianças que reconheciam as palavras, eram judias.
________________________

Shemá Israel A-do-nai Elokenu A-do-nai Ehad.

Ouve Israel, A-do-nai é o nosso D'us, A-do-nai é Um. Ouve, atentamente, ó Israel, preste atenção, abre totalmente a tua percepção, silenciando completamente a mente, medita sobre o que estiveres a pronunciar, interioriza e absorve a mensagem de tal forma que se torne parte da tua própria essência... D'us é Um e é Único, e Ele é o nosso D'us.Este versículo que inicia uma das mais antigas e importantes orações do judaísmo, o Shemá, é a nossa declaração de fé. Nela é proclamada a própria essência do judaísmo, o que sempre diferenciou os judeus de outros povos: a crença na Unidade e Unicidade de D'us e a lealdade eterna de Israel para com o seu D'us. Shemá Israel foi o que o patriarca Jacob ouviu dos filhos no seu leito de morte. Foram as palavras usadas por Moisés para se dirigir aos judeus no seu último discurso, no deserto.O versículo resume o primeiro e o segundo mandamento do Decálogo; é a primeira oração que a mãe ensina ao seu filho; são as últimas palavras pronunciadas por um judeu antes da morte. Presenciar durante a Neilá, ao término do Yom Kipur, um judeu recitar em voz alta, em uníssono com a sua comunidade, o Shemá Israel, é uma experiência espiritual inigualável. Com as palavras do Shemá nos lábios, muitos judeus enfrentaram as fogueiras da Inquisição e as câmaras de gás durante a Segunda Guerra Mundial. Foram as últimas palavras do Rabi Akiva que, preso pelos romanos após a revolta de Bar Kochba, na Judéia, foi cruelmente torturado e executado na praça pública. Segundo o Talmud, ao pronunciar a palavra Ehad, Único, a alma de Rabi Akiva deixou o seu corpo.A força desse versículo é tamanha que, mesmo se um judeu estiver isolado e todos os traços de identidade judaica forem apagados, o Shemá não o abandonará, permanecendo na memória e o mantendo ciente da sua identidade como judeu. Ao ser evocado, uma "mágica" ocorre no subconsciente e o indivíduo se reaproxima do seu povo e da sua fé ancestral. O Midrash ensina-nos que no Sinai, além dos dois milhões de hebreus que haviam saído do Egipto, todas as almas judias, incluindo as futuras gerações, ouviram a Voz Divina declarar "Eu sou A-do-nai, o seu D'us". Todas fizeram parte da aliança eterna entre D'us e Israel. Estes acontecimentos extraordinários estão gravados nas almas de Israel para a eternidade.Apesar de o primeiro versículo (do primeiro parágrafo) ser o mais conhecido, aos referirmos à oração do Shemá falamos também dos dois parágrafos seguintes, também trechos da Torá. Os níveis de análise e entendimento do Shemá são difíceis de enumerar. Cada palavra, cada letra foram alvo de estudo e de reflexão, há milénios, e assim continua sendo. Mas considerando o seu objectivo mais simples, a oração implica afirmações fundamentais para o judaísmo: D'us existe, é Um e Único, não tem corpo, está além do tempo, e devemos dirigir as nossas preces exclusivamente a Ele.O Shemá ensina-nos que devemos amar a D'us, reconhecer e aceitar o Seu reino, a Sua Suprema autoridade e a Sua vontade. Exorta-nos, também, a estudar a Sua palavra, a Torá, e a ensiná-la às futuras gerações. A oração revela-nos que o judaísmo não é simplesmente uma visão conceitual do mundo, nem uma filosofia abstracta, mas implica obrigações éticas e morais, mandamentos que D'us nos ordena e, portanto, devem ser seguidos. A mezuzá, o tefilin - que contêm as palavras do Shemá - e os tsitsit são "sinais" físicos que servem como lembrete da nossa Aliança e das nossas responsabilidades.A leitura do Shemá marca o início e o fim de cada dia. Quando perguntaram ao rabi Levi por que o Shemá deve ser lido todos os dias, respondeu: "Porque os Dez Mandamentos nele estão contidos". A importância da leitura do Shemá pode ser avaliada pelo facto de rabi Yehuda Ha-Nassi iniciar o Talmud com as leis referentes ao Shemá. Ele mesmo, quando preocupado com os seus estudos, cobria os olhos com a mão e, em silêncio, recitava o primeiro versículo (Berachot 13b).A Torá ordena que o Shemá seja recitado duas vezes por dia e a tradição adicionou mais duas - uma antes do Shacharit (reza matinal), a outra à noite, antes de dormir. Segundo o Talmud, o Shemá tem o poder de afastar o mal. Os nossos sábios recomendam que o Shemá seja lido "em qualquer língua que a pessoa entenda", pois é essencial que a mensagem seja compreendida. Para ajudar na concentração, ao recitar o primeiro versículo, cobrem-se os olhos com a mão, pois é a oração na qual existe a obrigatoriedade de kavaná - concentração, devoção interna.

O primeiro parágrafo - (Deuteronómio: 6:4-9):
Shemá Israel A-do-nai Elokenu A-do-nai Ehad.
Ouve ó Israel, A-do-nai é nosso D'us, A-do-nai é Um. (Deut. 6:4)

A nossa profissão de fé não se inicia com as palavras acredite ou veja, mas sim Shemá! Ouve e entenda Israel! "Israel" está dentro de cada um de nós; é a parte que almeja aproximar-se do Divino transcendendo os limites das suas necessidades físicas. E é através desta oração que Israel se conecta com o Divino.Ouve atentamente Israel, D'us é Um e é Único. Às vezes, frente a uma variedade infinita de fenómenos naturais, os homens passam a acreditar em divindades múltiplas. Porém, no judaísmo, a diversidade reflecte os actos de um único D'us cujas manifestações se dão de forma distinta, no mundo. Na Torá, os diferentes nomes Divinos servem para revelar os Seus atributos, os Seus actos e a Sua relação com o homem.O rabino Adin Steinsaltz escreveu sobre os nomes de D'us no seu livro A Rosa de Treze Pétalas: "O Sagrado tem muitos nomes, todos, no entanto, designam apenas diversos aspectos da manifestação Divina no mundo e em especial como são revelados aos seres humanos ". A Unidade Divina, revelada e proclamada no Sinai por todo o Israel, é reafirmada a cada dia no Shemá. E é esta Unidade que une toda a criação. Ensina-nos que amor e justiça, vida e morte, alegria e tristeza, matéria e espírito, finito e infinito, tudo tem uma Única fonte - Yihud Hashem - a Unidade Divina.Segundo o Zohar (1:18), neste primeiro versículo são mencionados três Nomes Divinos, que representam a unidade dos três poderes Divinos: amor misericordioso, justiça e beleza."Shemá Israel Y-H-V-H Elokenu". No texto da Torá, o primeiro Nome que aparece é o tetragrama à cuja pronúncia perdemos o direito após a queda do Segundo Templo. Na época do Templo, só era pronunciado pelo Cohen Gadol (Sumo Sacerdote), em Yom Kipur. Actualmente, é lido como se fosse escrito A-do-nai, quando usado liturgicamente. Noutras situações usa-se o termo HaShem (que significa literalmente O Nome). Na Torá, A-do-nai é o Nome de D'us utilizado quando os Seus actos revelam o amor, a compaixão e a misericórdia que Ele mostra para com Suas criaturas. É o Nome usado na sua relação com os Filhos de Israel. Elokim (D'us), também usado, revela o Seu aspecto de Justiça e Lei. Na invocação final, declaramos Y-H-V-H Ehad, ou seja, D'us é Único.

Israel como testemunha
No primeiro versículo do Shemá declaramos não somente em que acreditamos, mas por que acreditamos. No Sinai, Moisés convocou todo o Israel para ouvir a proclamação da Unidade Divina. Após presenciar os eventos milagrosos do Êxodo e da Revelação do Sinai, não existia lugar para dúvidas entre os judeus, no deserto. As gerações vindouras passaram a depender do testemunho transmitido de pai para filho para que o legado fosse mantido vivo. Por isto, a afirmação da Unidade Divina não é individual. Cada judeu é visto como um elo na corrente da eternidade. Ao recitar o Shemá, passa a integrar Israel, torna-se parte da corrente milenar de fé e lealdade judaica em relação ao D'us dos nossos pais. Testemunha perante todo o Israel que D'us é Um, é o D'us de toda a humanidade e que ele é a testemunha viva desta verdade absoluta.Este conceito de que o povo judeu é testemunha é tradicionalmente transmitido pelos escribas de forma especial: o ain na palavra Shemá e o dalet da palavra ehad tem um tamanho maior de que as outras letras que compõem o versículo e ao serem combinadas formam em hebraico a palavra hebraica ed, testemunha.

Servir a D'us
O primeiro parágrafo do Shemá expressa a submissão de Israel à soberania Divina e revela-nos as formas pelas quais devemos servir a D'us. Segundo o Zohar, este primeiro parágrafo reflecte inteiramente o nosso amor a D'us. Como este amor envolve cada judeu individualmente, está escrito numa linguagem pessoal e só contém mandamentos positivos.Devemos primeiramente amar a D'us com todo o nosso coração, toda a nossa alma e todas as nossas posses. Segundo o Maharal de Praga, o amor a D'us exige que nos devotemos a Ele totalmente, com cada parte de nosso ser e com toda a riqueza de nossa existência. Pois tudo aquilo que somos e temos devemos exclusivamente a Ele e à Sua Infinita bondade. Devemos estudar a Sua palavra como se nos fosse dada "neste dia", para que "fique no nosso coração". É obrigação de todo o judeu - pobre, rico, jovem ou velho - estudar a Torá para melhor aprender a conhecer D'us. E para que a nossa herança não se perca, temos o dever de ensiná-la "diligentemente" aos nossos filhos.O primeiro parágrafo termina com D'us dando a nós, judeus, um "lembrete" da palavra Divina: o tefilin e a mezuzá. O tefilin, colocado todos os dias, com excepção do Shabat e dias de festa, consiste de duas partes - uma para a mão e a outra para a cabeça. No seu interior, há rolos de pergaminho onde estão inscritas as palavras do Shemá. Segundo o rabino Raphael Hirsch, o tefilin é o símbolo da uma renovação diária do "pacto de amor " entre D'us e Israel, pois está escrito que tanto a cabeça como a mão, o corpo e a alma - tudo deve ser dedicado a este amor. A mezuzá, considerada a guardiã do lar judaico, tem o mesmo significado em relação à casa, à família e, por extensão, à comunidade.

Bendito seja... eternidade
Após o primeiro versículo, há uma frase inexistente no texto original da Torá, que é recitada desde a época talmúdica em voz baixa. A nossa tradição oral a atribui ao patriarca Jacob ou Israel, como passou a ser chamado. Ao ouvir os seus filhos declarar o "Shemá Israel... Ehad", assegurando-lhe, no seu leito de morte, que a crença em um Único D'us não seria esquecida, ele respondeu: "Bendito seja o nome da glória... eternidade".Segundo outra tradição, Moisés ouviu esta bênção dos anjos, no Monte Sinai, no momento em que recebeu a Torá e a trouxe para o povo de Israel. Porém, por ser uma oração dos anjos, é recitada em voz baixa, o ano inteiro. Apenas em Yom Kipur, quando Israel se assemelha a um anjo, esta frase é dita em voz alta.

19.12.06

Ainda sobre o Chanucá


A palavra hebraica "chanucá" tem três significados: início, educação e dedicação.Quando os macabeus libertaram o Templo do domínio dos gregos, descobriram que o local mais sagrado do Judaísmo tinha sido violado e profanado. O Templo necessitava muito mais do que uma limpeza e consertos; precisava de ser novamente consagrado. Esta consagração marcou um novo início para o Templo e para o povo judeu, e é a origem do nome do dia festivo.Chanucá trata de duas forças sempre presentes: trevas e luz. Um conflito entre duas ideologias: o helenismo e o judaísmo. O poder de uma pequena chama capaz de banir as trevas, de ver uma batalha impossível, ser vencida pelos mais fracos em número, mas cuja centelha permitiu ir muito além das limitações.

Decreto anti-milá
Os gregos tinham uma antipatia especial pela práctica judaica de Brit Milá, a circuncisão de um bebê do sexo masculino no oitavo dia após o nascimento. Na verdade, eles baniram a práctica de Brit Milá. Qual o motivo de uma oposição tão forte?Primeiramente, a circuncisão ofendia o ideal grego da perfeição do corpo humano. A nudez pública era aceite na sociedade grega porque todo o "corpo" era uma obra de arte. Os atletas olímpicos competiam nus. Para os gregos, a circuncisão representava a mutilação de uma obra de arte, como pintar um Renoir com spray.Para os judeus, Brit Milá é uma das mais essenciais expressões da identidade judaica. Um ser humano apenas consegue atingir o máximo de beleza quando afectado por um relacionamento com D'us. O ser humano perfeitamente esculpido reconhece e abraça a realidade da sua alma transcendente. Durante o período da opressão grega, Brit Milá era intolerável; tornou-se um crime capital.

Princípios da educação
O segredo da paternidade é entender as nuances da natureza dos seus filhos e educá-los segundo esta natureza. O Rei Salomão diz em Provérbios:"Eduque (chanoch) um filho segundo a sua natureza: quando ele crescer não a abandonará."Embora não existam dois filhos iguais, todos os filhos devem aprender que roubar é errado. As personalidades e temperamentos podem variar, mas a necessidade de ser bom, compassivo e ético é universal. Uma criança pode ser tímida, a outra criativa, e outra ainda ser impaciente. Todas, porém, precisam de aprender o que significa ser um mensch.Os pais judeus são exortados a não apenas ensinar aos filhos as habilidades necessárias para a vida – como comer com garfo e faca ou usar o computador – mas também a ensinar-lhes valores e ideais que trarão um significado à vida dos seus filhos.A essência da paternidade judaica é ensinar aos filhos a que se dedicarem. Diz o Talmud: assim que a criança aprenda a falar, os pais devem ensiná-la Torá e o Shemá.Assim como não os deixamos crescer para decidirem se desejam ou não ler ou escrever, também não devemos suspender o ensinamento de valores e carácter até que estejam com idade suficiente para decidir por si mesmos quais os princípios, que exigem sacrifícios; quais os princípios, que são moralmente negociáveis e quais não o são. E este é o verdadeiro espírito de Chanucá: a alma de um judeu jamais pode ser extinta, mas depende de nós, da educação que transmitimos aos nossos filhos o quanto ela irá brilhar ou permanecer apenas como uma faísca à espera de uma chama que aumente o seu potencial de "combustão"… eterna!
AMEN

17.12.06

Você sabia?



# A revolta dos Macabeus abriu um precedente na história da humanidade: nunca antes uma nação morreu pelo seu D’us. Esta foi a primeira guerra religiosa e ideológica da história da civilização.

# Tudo o que sabemos sobre a história de Chanucá é retirado dos dois Livros dos Macabeus, encontrados numa colectânea chamada de Sêfer Hachitsonim, que inclui outros livros que ficaram de fora da Bíblia, mas são mencionados no Talmud.

# O nome "Macabeu", apelido usado pelos cinco filhos de Matityáhu e aqueles que lutaram com eles para defender o Judaísmo, deriva do acrónimo "Mi camocha bae-lim Hashem", ou seja, "quem é como Tu dentre os fortes, Ó D'us". Este era o seu lema!

# Não sabemos ao certo o tamanho do exército macabeu, mas mesmo os mais optimistas estimam que contasse com doze mil homens. Este punhado de pessoas lutou contra uma potência militar de quarenta mil soldados, equipados com armamentos e elefantes, os tanques da época, e... os fracos venceram os fortes.

# A maioria das batalhas entre macabeus e gregos ocorreu na região entre as actuais cidades de Jerusalém e Tel Aviv, inclusive num local chamado Modiin, situado a oeste de Jerusalém, que pode ser visitado pela estrada Jerusalém-Tel Aviv.

# Da maneira como conhecemos a história, pensamos que a batalha contra os gregos foi resolvida dentro de algumas semanas. No entanto, ela durou vinte e cinco anos! No ano 167 AC o exército grego invadiu a cidade de Modiin, e foi apenas no ano 142 AC que a paz foi restabelecida.

# No terceiro ano da batalha, os judeus reconquistaram a cidade de Jerusalém, e então procuraram óleo para acender a Menorá do Templo Sagrado, profanado pelos gregos. Foi então que ocorreu o conhecido milagre de Chanucá

Uma história sobre HANUKA'


BOM DIA! Feliz Hanucá!
Ouvi a seguinte história, verídica, alguns anos atrás, quando morava em Israel. Antes de a União Soviética permitir a saída de Judeus para Israel, os Judeus costumavam contratar um guia para ‘contrabandeá-los’ para fora da Rússia. Certo ano, em Hanucá, um grupo de Judeus estava ‘a brincar de gato e rato’ com uma patrulha do exército soviético quando se aproximaram da fronteira. O guia, achando que já tinham despistado a patrulha, anunciou uma pausa de meia-hora antes de continuarem a sua jornada. Um dos fugitivos, ouvindo o número mágico de meia-hora, o tempo mínimo que as velas de Hanucá devem permanecer acesas para se cumprir a mitsvá, pegou na sua menorá, colocou as velas, fez as bênçãos e começou a acender os pavios. Imediatamente os outros
fugitivos pularam sobre ele e a menorá para apagar as velas, quando a patrulha soviética apareceu e os cercou.
O comandante da patrulha falou: “Nós já estávamos para abrir fogo e matar-vos quando vi este homem a acender as velas de Hanucá. Fui dominado por uma tremenda emoção. Lembrei-me do meu zeide (avô) acendendo as velas de Hanucá ... Decidi deixá-los ir embora em paz.”
Os meus filhos trouxeram da Yeshivá onde estudam (em Miami Beach) um folheto com uma história sobre Kidush Hashém (Santificar o Nome de D’us) para lermos no Shabat. Fiquei tão impressionado com o conteúdo que resolvi compartilhá-lo com vocês e também falar sobre este assunto.
Quando a maioria das pessoas ouve a palavra Kidush, pensa logo na refeição que é servida depois das preces nas manhãs de Sábado. A palavra Kidush significa santificar. No Shabat de manhã (bem como às sextas-feiras à noite, antes da refeição) santificamos o Shabat com palavras que relembram que D’us criou o mundo e nos tirou do Egipto e, então, proferimos uma bênção sobre um copo de vinho. O que
significa santificar o nome de D’us?
A origem desta mitsvá está no livro Vaikrá (O terceiro da Bíblia) 22:32. O trecho é o seguinte: “E Eu serei louvado entre os Filhos de Israel.” Existem dois tipos de Kidush Hashém. O primeiro é quando é exigido que uma pessoa entregue a sua vida por um Kidush Hashém (por exemplo, quando alguém morre por ser Judeu). Já em casos de saúde, o critério é outro: D’us deu-nos as suas mitsvót (mandamentos) para
“vivermos e praticá-las, não para morrermos através delas”. Portanto, para salvar uma vida podemos violar todos os mandamentos EXCEPTO três:
1) Não assassinar;
2) Não participar de relacionamentos sexuais ilícitos e
3) Não praticar idolatria.
O segundo tipo de Kidush Hashém está no nosso dia-a-dia. A pessoa deve viver a sua vida de uma maneira tal que os demais desejarão louvar e abençoar os seus pais que a colocaram no mundo, a Torá que ela segue e também o Criador.
O Rambam, Rabino Moshe Maimônides, detalha no seu livro Mishnê Torá (Fundamentos da Torá), no quinto capítulo, que se uma pessoa fala num tom agradável com os demais, demonstra respeito e preocupação com os outros e é honesto nos seus negócios, esta pessoa estará a fazer um grande Kidush
Hashém. Eis a linguagem do livro: “Então será digno de elogios e benquisto pelos demais. E as pessoas desejarão imitá-lo. Esta pessoa terá santificado o nome do Todo-Poderoso”. Este é o jeito que um Judeu deve viver no seu dia-a-dia! A seguinte história ilustra a grandeza de nosso Povo e como a Torá nos
ensina a criar os nossos filhos:
Muitas crianças em Jerusalém vão para a escola ou para a Yeshivá de autocarro. Muitas delas levam uma cartissiá (um talão de passagens pré-pagas, válidas para um determinado número de viagens), que é validada pelo motorista do autocarro a cada viagem. Certa vez, Haim Sholom Kupfer, de Los Angeles, testemunhou um tocante exemplo de Kidush Hashém no autocarro da linha número 3.
Havia uma fila muito extensa e fora do comum de pessoas a espera para entrar no autocarro. O motorista abriu a porta da frente e a do fundo e falou bem alto: “Entrem todos e aqueles que estiverem no fundo passem para frente o dinheiro ou a cartissiá.” Enquanto as pessoas continuavam a entrar no autocarro, um garoto de 8 anos subiu pela frente e deu a sua cartissiá para o motorista validar. “Já validei o seu cartão”, falou o motorista. “Não, ainda não”, disse o garoto em voz baixa.
Era um dia quente. O motorista já havia perdido o seu bom-humor algumas paradas antes e não estava com paciência para discussões. “Entre logo”, ordenou. “Você está a bloquear a entrada dos outros passageiros”. O garotinho olhou para o motorista de cara zangada e disse baixinho: “Não posso. Isto seria um roubo.” “Já lhe falei, já furei o seu cartão”, repetiu o motorista. “Entre logo”. O garoto foi para o fundo do autocarro, de cabeça baixa.
O motorista olhou pelo espelho retrovisor e percebeu que o garoto estava encostado num canto, a chorar.
Parou o autocarro e chamou o garoto para frente. “Qual o seu problema, meu jovem? Por que está a chorar?”
O garoto veio para frente e repetiu baixinho: “Não posso. Isto seria um roubo”.
O motorista pegou no seu perfurador, pegou a cartissiá do menino, picotou-a e a devolveu. Afagou, então, a cabeça do garoto e disse com satisfação e orgulho: “Bela atitude!”
(Adaptado do livro “Along the Maggid’s Journey”, com permissão do Rabino Pessach Krohn, editora Messorah Publications).

15.12.06

CHANUKÁ 5767

















Inicia-se hoje, sexta-feira, dia 15 de Dezembro, ao anoitecer (assegure-se de acender as velas antes do pôr do sol). Para mim, é a minha tradição favorita. A seguir ao acender das velas, cantamos a canção ‘Maóz Tsur’, comemos deliciosos ‘sonhos’, contamos histórias, fazemos perguntas sobre CHanucá – tudo à luz das velas de Hanucá. As nossas memórias são criadas a partir de uma colectânea de momentos preciosos. Um bom tempo em familia.

14.12.06

Pensamento da Semana

Matar o tempo não é assassinato. É suicídio !

Porção Semanal da Torá: Vaieshev

Bereshit (Gênesis) 37:01 - 40:23

Esta porção semanal inclui quatro histórias:
1) A venda de Yossêf (José) pelo seus irmãos, que no final levou Yossêf a tornar-se o segundo na hierarquia egípcia, salvando toda a população daquela época da fome;
2) A indiscrição de Yehuda com Tamar;
3) A tentativa de sedução de Yossêf pela esposa de Potifár, que acabou por causar a prisão de Yossêf;
4) Yossêf interpreta os sonhos dos seus companheiros de cela, um responsável pelos vinhos e o outro pela padaria do palácio real.

Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin
A Torá declara: “E Yossêf foi trazido para o Egipto (Bereshit 39:1)”. Qualquer um vendo a cena de Yossêf , sendo este levado para o Egipto como escravo consideraria o facto como uma enorme tragédia. Ele foi vendido pelos seus irmãos e levado para longe do seu pai e da sua terra natal. Entretanto, na realidade, este foi o primeiro passo para a sua ascensão definitiva como o segundo na cadeia de comando do Faraó, com completo controle da economia egípcia.
Qualquer um vendo a cena de Yaácov, o pai de Yossêf, indo para o Egipto, consideraria o facto como algo muito positivo: Yaácov vai reunir-se com o seu filho favorito que agora é um poderoso mandatário, depois de anos de separação. Ele tinha todas as expectativas de que seria tratado com todas as honrarias da realeza.
Qual foi a realidade? A ida de Yaácov para o Egipto foi o primeiro estágio do exílio e da escravidão dos Filhos de Israel.
Nenhum ser humano tem omnisciência para saber as consequências finais de qualquer situação. Portanto, quando as coisas parecem estar extremamente bem, não nos tornemos complacentes e arrogantes.

13.12.06

SOFRUT, A DIFÍCIL ARTE DE ESCRITA NOS TEXTOS SAGRADOS


Uma narrativa do Talmud, no tratado Eruvin-13, sobre uma conversa entre Rabi Meir e Rabi Yishmael revela a importância que os sábios judeus davam a um sofer, o escriba dos pergaminhos sagrados.Shmuel contou ao Rabi Yehuda o que ouvira do próprio Rabi Meir: "...E quando cheguei junto a Rabi Yishmael, este perguntou qual era minha profissão. Respondi-lhe que era um escriba, alguém que escreve Sefer Torá, Tefilin e Mezuzot". Logo, com mais seriedade, disse-me: "Filho, seja cauteloso no seu serviço, pois sua profissão é uma profissão Divina. Talvez você esteja acrescentando ou omitindo uma letra. Você poderia estar destruindo o mundo inteiro..."

Segundo os livros de Cabalá, D’us criou as letras do alfabeto hebraico, que se inicia com a letra Alef e termina com a letra Tav, para depois criar os Céus e a Terra. Foi por intermédio destas letras que D’us criou o mundo; e, após o êxodo do Egito, no Monte Sinai, foi através das mesmas letras que Ele se pronunciou e entregou as tábuas a Moisés.Pode-se concluir, portanto, que as letras hebraicas anteciparam a criação do mundo, pois D’us as criou para com elas criar o mundo; e também que possuem santidade, pois D’us pronunciou-Se através das mesmas.O Ramban escreve, em seu livro Mishnaiot Yadai, (no capítulo 2 da Mishná 5), que as letras hebraicas com as quais escreve-se a Torá constituem a escrita Ashuri, que é a mesma utilizada pelo Todo-Poderoso na Torá. O radical da palavra ashuri, "meushar", significa em hebraico realizado, correto ou direto. A escrita recebe, pois, o nome de Ashuri por sua importância e grandeza.As letras são distintas e destacadas entre si. Cada uma tem um espaçamento próprio, não havendo possibilidade de serem unidas. Cada letra, além de ter nome e significado próprios, tem valor numérico e significado de acordo com a maneira como é escrita.Alef , por exemplo, a primeira letra do alfabeto, cujo valor numérico é 1, faz alusão ao Único, Bendito Seja, e significa Líder. Alef também quer dizer ensinar. A letra é traçada da seguinte forma: a letra Yud por cima (cujo valor numérico é 10), e a letra Vav, formando o corpo (com valor de 6) e outra Yud por baixo (10). Esta soma eqüivale a 26, valor numérico do nome de D’us, formando o Tetragrama.É como se estivéssemos recebendo a seguinte mensagem: o verdadeiro líder (Aluf) que nos ensina o comportamento correto (Alef), é o líder número 1, o Primeiro.Esta letra Alef, que representa o Todo-Poderoso da maneira como Ele se manifesta no mundo, se for lida de trás para frente forma a palavra Péle. Esta palavra significa oculto, maravilhoso. De fato, D’us é tão maravilhoso quanto oculto neste nosso mundo.Assim como o Alef, todas as outras letras têm uma interpretação singular. Ao juntarmos letras, formamos palavras e, ao juntarmos palavras, frases. A complexidade do significado que surge diante de nossos olhos cresce de forma espantosa. As letras hebraicas têm origem no Trono Divino, o que significa que além da forma física há uma forma espiritual para cada uma, o que influencia profundamente a criação.Daí, então, a enorme responsabilidade de um sofer ao transcrever tais letras.Ao detalhar a escrita, desenhando-a com todos os seus pormenores, o sofer atrai a santidade para as palavras. Mas isto só ocorre se transmitir pureza a suas intenções e a seus pensamentos no ato de escrever.
Com base nessas idéias, podemos responder a uma pergunta ouvida com certa freqüência. Estamos no século XXI e a tecnologia gráfica evolui cada vez mais. Não seria, portanto, mais fácil, seguro e eficaz se textos tão sagrados fossem impressos, ao invés de escritos à mão? Assim estaríamos evitando eventuais erros humanos e, sem dúvida, as letras sairiam perfeitamente uniformes e talvez mais bonitas do que as letras feitas manualmente. Pode ser. Mas estaria faltando o principal: sua espiritualidade, sua conexão com o Divino e a Vida do texto.Ao escrever, o sofer injeta um sopro de vida em cada letra e, assim, atrai santidade para as palavras. Uma Mezuzá ou um Sefer Torá tornam-se assim um "texto animado", dotado de vida. Pois assim como D’us nos soprou a vida, um sofer "sopra" a vida nas letras através de concentração e atenção únicas no momento de seu trabalho.O escriba tem que manter seu pensamento completamente direcionado para o texto e, antes de escrever, deve pronunciar em voz alta todas as palavras, assim como o nome de D’us, a cada vez que Este aparece. Além disto, deve pedir também que o Nome de D’us se manifeste no mundo através do Tefilin, da Mezuzá ou do Sefer Torá. Esta transmissão de santidade e vida às letras só pode ser introduzida por um ser humano. Nenhuma máquina ou impressora tem este poder.Rabi Yossef Caro, autor do Shulchan Aruch (código de leis judaicas), contou a Rabi Chaim Vital, o cabalista, em nome do Maguid, que a metade do mundo sobrevive graças ao pai de Rabi Chaim, que escrevia os pergaminhos do Tefilin com os pensamentos adequados para a tarefa.Deve ser esta a razão pela qual Rabi Yishmael, como dizíamos no início deste artigo, advertiu Rabi Meir em relação aos cuidados com a escrita. Caso contrário, se não estivesse destruindo este mundo, a que mundo estaria se referindo Rabi Yishmael?Supostamente "a todos os mundos", respondeu ele. Do mundo material ao mais elevado dos mundos espirituais, pois ao combinar as letras de forma errada, omitindo ou acrescentando algumas, estaria evocando e atraindo a manifestação Divina de forma inadequada.Vamos prosseguir nossa análise. No Talmud Menachot consta o seguinte trecho: "Quando Moshe Rabenu subiu às alturas para receber a Torá, encontrou D’us sentado, como um sofer, desenhando algumas coroas (taguin) nas letras da Torá. Então disse Moshe:– ‘Mestre do Universo, o que ainda impede a outorga da Torá ao povo?’E D’us respondeu:– ‘Um dia surgirá um homem, daqui a algumas gerações, e seu nome será Akiva Ben Yossef. Cada uma dessas coroas dará origem a que ele interprete milhares e milhares de leis’".Afinal, o que significa este diálogo entre D’us e Moisés? Aquele que recebeu a Torá não entendeu para que serviam estes ornamentos sobre as letras. Por que D’us ainda respondeu que seria rabi Akiva quem lhes daria o devido uso?A explicação é a seguinte: cada letra possui, como já vimos, vários significados, interpretações e leis. Para extrair seu verdadeiro sentido, é preciso que haja a afinidade exata. Através dos taguin, as coroas desenhadas por D’us, é possível revelar e esclarecer o sentido do texto. É como se ajustássemos as antenas de um aparelho receptor para obter uma imagem melhor ou um som mais nítido.Moisés não entendia a necessidade de agregar coroas às letras, pois ele era capaz de entender todas as formas de interpretação, das mais simples às mais complexas. Ele extraía daí o ensinamento e a lei sem precisar de "uma antena".Por ter uma visão direta, pura e cristalina, Moshe não compreendeu a necessidade da inclusão de coroas e, consequentemente, o atraso na entrega da Torá, já que ela estava toda escrita. Por outro lado, Rabi Akiva só conseguia enxergar com mais nitidez a vontade de D’us usando as coroas como "antena".Consta no Tikunei Zohar que as letras são comparadas ao corpo; a pontuação à néfesh, alma vital; os taguin ao rúach, espírito; e a melodia da Torá, à neshamá, alma.Rabi Isaac Luria, o grande cabalista, escreveu que na época que antecede a vinda do Mashiach, na qual a compreensão e a captação da Palavra e Vontade Divina serão muito mais complicadas, o trabalho do sofer deverá ser ainda mais cauteloso. Será necessária muita precisão nos taguin para facilitar o fluxo da Vontade Divina para as palavras.

As leis do Sefer Torá, Tefilin e Mezuzá
Se entrarmos no corpo haláchico referente a estas leis, encontraremos também conceitos muito interessantes.Uma das leis refere-se à tinta utilizada pelo sofer. Ela deve ser proveniente de produtos minerais ou vegetais. Porém, a melhor tinta é aquela completamente extraída da madeira das árvores. A Cabalá (Zohar Parashat Teruma) explica a importância de se tirar proveito total da madeira, por dentro e por fora. A arca onde se coloca a Torá, é revestida de madeira. A tinta com a qual se escreve o pergaminho, também é proveniente de madeira. Esta analogia nos remete ao ser humano, que pode florescer como as árvores ou apodrecer como a madeira mal tratada.Outra lei interessante presente nestes textos refere-se ao Sirtut: o traçado das linhas antes de escrever as letras, deixando uma marca para alinhar as palavras. Esta lei parece estranha, pois afirma que mesmo as palavras estando retas e na posição correta, se as linhas não foram previamente traçadas, a escrita não é válida. A lei ainda frisa a impossibilidade de traçá-las após a escrita.A principal razão para isto está no livro Kedushat Levi. Este conceito sobre as linhas é encontrado também no rosto de um ser humano e em suas mãos. Estes trazem consigo a identidade do ser humano, diferenciando cada um de nós. O mesmo acontece nas Escrituras Divinas, cujos traços revelam a essência do Todo-Poderoso, o Seu íntimo.Ao beijar uma Mezuzá ou um Sefer Torá, apoiamos a mão no objeto sagrado e logo a aproximamos de nosso rosto para beijá-la. Este gesto conecta, intimamente, a nossa identidade, que é revelada pelos traços de nossas mãos e rosto, com a identidade Divina. Assim, podemos assumir nosso jugo Divino.Por esta e inúmeras outras razões é necessário cuidar de uma série de detalhes referentes a objetos sagrados. Sua manutenção deve ser constante e uma supervisão rabínica periódica é necessária sempre que possível, para mantê-los sagrados. Fatores externos como umidade ou calor excessivos podem eventualmente danificar um pergaminho, por isso é recomendável verificar as Mezuzot em intervalos de no máximo três anos e meio, porém, o ideal seria verificá-las todos os anos.Tendo em vista todos os conceitos acima, ressaltamos também a parte prática que estes objetos trazem a nossas vidas, funcionando como guardiões de nossas identidades. Por isso, não há dúvidas de que devemos estar seguros sobre sua procedência e ter certeza que o lugar onde foram comprados merecem total confiança.Tentamos demonstrar nesse artigo, apenas de modo geral, o denominador comum entre Sefer Torá, Tefilin e Mezuzot – a sua escrita, Sofrut. Não há dúvida de que caberiam vários outros artigos para cada um destes objetos sagrados, a fim de podermos entender e conhecer um pouco mais suas importantes peculiaridades.

http://www.morasha.com.br/
Rabino Victor Cohen

O JUDAÍSMO E A NATUREZA










Mas não é apenas através do calendário e das festividades e suas simbologias que o judaísmo expressa a sua relação com a natureza. Na verdade, a atitude para com a natureza expressa, hoje mais que nunca, É um critério pelo qual a sociedade deve ser julgada.

Para ilustrar a verdade de que o homem não peca só para o mal, Rabi Shimon Bar-Iochai contava: “Estavam alguns homens sentados numa embarcação e um deles, interpretando um presságio, pôs-se a abrir um furo debaixo do seu lugar. Seus companheiros exclamaram:– Que estás fazendo? Replicou ele: – É acaso da tua conta? Não estou abrindo um buraco debaixo do meu banco? – Naturalmente é da nossa conta – retrucaram os outros – pois a água virará o bote e nós, com ele”. (Vaicrá Rabá 4:6)O judaísmo ensina o respeito à natureza como criação de D’us:“A terra é do Senhor e tudo o que há nela; o mundo e todos os que nela habitam”(Salmos 24:1). O homem, por causa do grande poder que é capaz de exercer sobre o meio-ambiente, tem a responsabilidade de tratá-lo com respeito. Ele é o procurador de D’us na terra, disse Rashi, comentando o verso do salmo 115:16: “Os céus são os céus do Senhor, mas a terra, Ele a deu para os filhos dos homens”.Há ênfase especial na tradição judaica para que não se inflija qualquer sofrimento desnecessário aos animais, apesar de ser permitido o abate dos animais para a alimentação, desde que feito por um método que atenda a esse requisito. (Apesar de existirem judeus vegetarianos, o judaísmo não exige o vegetarianismo).Para ilustrar, duas versões talmúdicas (do Talmud da Babilônia e do Talmud de Jerusalém):O patriarca Rabi Iehudá I sofreu longos anos de dor de dentes. Por que fora castigado assim? Porque certa vez vira um bezerro levado ao matadouro; o bezerro balava, pedindo socorro, mas o Rabi disse:“– Vai, que para isso foste criado.”E como se curou o patriarca? Um dia, vendo uma ninhada de ratos que iam ser afogados no rio, disse:“– Deixai-os livres, pois está escrito: ‘A misericórdia de Deus paira sobre todas as suas obras’”. (T.I. Quilaim, cap. 9). Certa vez Rabi Iehudá, o Príncipe, explicava a Lei perante uma assembléia de judeus babilônicos, em Seforis, quando viu passar um bezerro que procurava esconder-se e mugia com um som melancólico, como se dissesse: “Salva-me! “Disse Rabi Iehudá:– “Que posso fazer por ti? Para essa sorte (isto é: para seres abatido) foste criado”.Em conseqüência, Rabi Iehudá sofreu dor-de-dentes treze anos...No fim desse tempo, sucedeu que uma doninha desatou a correr atrás da filha dele e ela quis matar o animal. Disse-lhe então o pai:– “Deixa-a ir, pois está escrito: “A misericórdia de D’us paira sobre todas as suas obras”.Decretou-se então no Céu:“Desde que Rabi Iehudá teve piedade, compadeçamo-nos dele”.E passou-lhe a dor-de-dentes”. (Raba Metzia, 85a). Já na Bíblia, há muita legislação humanitária a respeito dos animais, englobadas no princípio de Tsaer Baalei Haim (compaixão pelos seres vivos). Incluem-se proibições do afastamento da ave mãe de sua cria (Deutero-nômio 22:6s), de se juntar numa parelha o boi e o asno (Deu-teronômio 22:10) e de se amordaçar um boi quando estiver debulhando o milho (Deuteronômio 22:10). No 4º mandamento, há a estipulação de que animais domésticos devem participar, com seus donos humanos, do respeito pelo descanso no Shabat sagrado.Outras leis foram criadas pelos rabis; por exemplo, a que proíbe comprar um animal se não se tem condições de cuidar dele adequadamente (Talmud de Jerusalém, Iebamor 15:3) ou a que determina alimentar os animais antes de se fazer a própria refeição (Berachot 40a).Os sábios também contavam uma lenda fascinante sobre Moisés. Certa vez, ele percorreu grandes distâncias para resgatar uma pequena ovelha que se tinha afastado de seu rebanho e, por esse ato de compaixão, mostrou-se aos olhos de D’us como competente para transformar-se no pastor de seu povo, Israel (Êxodo, Rabá 2:2).Tal tradição não veria com bons olhos a caça como esporte. Isto era firmemente condenado pelo eminente Rabino Ezequiel Landau, do século XVIII, em uma de suas responsas. “Não é para o feitio dos filhos de Abraão, Isaac e Jacob”, escreveu.Mas o respeito pela natureza vai além do respeito aos animais. A indicação de que não pode ser utilizada sem algumas restrições consta da lei bíblica que exige do fazendeiro que não cultive a terra a cada 7 anos (Levítico 25:3); e de outra lei que proíbe aos exércitos cortar as árvores frutíferas ao sitiarem uma cidade (Deuteronômio 20:29). Este mandamento foi generalizado, por uma interpretação judaica posterior, para uma proibição contra qualquer destruição injustificada (Maimônides, Sefer Ha-Mitzvot, proibição 57). Assim entendido, este mandamento, um dos 613 de nossa religião, tornou-se particularmente relevante em tempos recentes, quando a humanidade se deu conta do perigo potencial que ameaça a sua própria sobrevivência – a espoliação negligente dos recursos naturais do meio ambiente. Isto também é uma mitzvá “do homem para com seu próximo”, mas no sentido especial de que se relaciona à responsabilidade que cada geração de seres humanos tem para com a posteridade.A cosmovisão judaica é orientada basicamente pela Torá. Aliás, este é o significado da palavra Torá – orientação.E, quando fazemos uma leitura do texto bíblico procurando aprender todo o seu simbolismo, podemos encará-lo como um compêndio ecológico metafórico.Começando com a criação do homem: D’us o cria para ser seu parceiro na criação. Depois a mantendo: a ação do homem sobre a natureza representa o exercício de seu livre-arbítrio, sua própria opção pela vida ou pela morte.Interpretando de outra forma a passagem que o cristianismo viria a considerar como o pecado original, podemos identificar na transgressão de Adão o primeiro crime ecológico – o homem, incapaz de respeitar seus limites em prol do equilíbrio da natureza, provoca a perda do paraíso terrestre (arquétipo da harmonia ecológica), devido à ação predadora do próprio homem.O Talmud, através de suas agadot (lendas), ressalta o profundo alcance do simbolismo de ter sido criado somente um homem:“Um só homem foi criado no tempo da criação para que mais tarde ninguém tivesse o direito de dizer a outrem: Meu pai valia mais do que o teu” (T.I., Sanhedrin, 4:5).“Por que se criou um só homem, sem companheiro? Para que não se dissesse que certas raças são melhores do que outras” (Sanhedrin, 37a).Um homem foi produzido no tempo da criação, para atestar a grandeza de D’us. Quando os humanos se servem de uma forma para cunhar muitas moedas, elas saem todas iguais. D’us cunhou todos os homens com o molde de Adão, mas todos diferentes entre si. Logo, o homem tem direito de dizer: O mundo foi criado para mim... Também foi feito para ensinar que quem destruir uma simples vida é tão culpado como se tivesse arrasado o mundo todo e quem resgatar uma única vida grangeia tanto mérito como se houvesse salvo o mundo inteiro” (T.I.,4:5).“D’us criou primeiro o mundo e as outras criaturas, deixando o homem para o fim, ou melhor, para a véspera do Shabat, pois assim poderia dizer-lhe em qualquer ocasião: Até a mosca, um minúsculo inseto, foi criada antes de ti”.Sobre a responsabilidade do homem diante da natureza, conta o Talmud:“Criado o primeiro homem, levou-o D’us a passear entre as árvores e lhe disse: Observa as obras que criei, vê como são belas! Procura não pecar e não destruir o mundo que fiz. Pois se vieres a estragar algo, não haverá quem o conserte”.Outra conhecida passagem talmúdica, ressalta a responsabilidade do homem em relação às futuras gerações:“Certa vez, nas suas viagens, Honi Hameaguel viu um velho plantando uma alfarrobeira, e perguntou-lhe quando presumia que a árvore desse frutos. – Dentro de setenta anos – respondeu-lhe o velho.– Esperas viver setenta anos e comer os frutos do teu trabalho?– Quando vim ao mundo, não encontrei um deserto – replicou o ancião.– Os meus antepassados plantaram para mim antes que eu nascesse. Assim, eu planto para os que vierem depois de mim”. (Taanit, 23a).Para encerrar, pensemos sobre outra versão anedótica de história semelhante, narrada também no próprio Talmud e que bem representa como a perspectiva ecológica deve ser vista como um bem em si mesmo, não visando outras “recompensas”:“O Imperador Adriano, a caminho dos campos de batalha, passou por um jardim e viu um velho plantando uma figueira. Freando o cavalo, perguntou:– Por que trabalhas tão assiduamente nesta idade? Esperas comer os frutos da árvore que estás plantando?Respondeu o velho:– Se for a vontade de D’us, eu os comerei; do contrário, os desfrutarão meus filhos.Três anos depois o imperador passou pelo mesmo lugar. O mesmo velho adiantou-se e apresentou-lhe um cesto de figos, dizendo:– Meu Senhor, dignai-vos a receber esta dádiva. Eu sou o homem a quem falaste há três anos.Comovido, o imperador mandou encher o cesto com peças de ouro e devolvê-lo ao velho laborioso.Sucedeu estar a mulher de um vizinho em casa do ancião quando este voltou com o ouro. Ouvindo o relato, ela ordenou imediatamente ao marido que enchesse um cesto de frutos de todos os tipos e o levasse ao imperador.– Ele gosta da fruta da terra e, em recompensa, pode encher-te o cesto de moedas de ouro.O homem seguiu o conselho e apresentou a oferenda ao soberano, dizendo:– Majestade, ouvi dizer que gostais de frutos e trouxe-vos estes, para que os saboreeis.Sabendo do caso e indignado pela audácia do homem, o imperador ordenou aos soldados que atirassem os frutos à cara do atrevido. Arranhado, quase cego, o astucioso chegou à casa.– Como te foste? – perguntou ansiosamente a mulher.– Muito bem – respondeu. Se fosse limões, eu não estaria vivo”. (Vaicrá Rabá, 25).

© Jane Bichmacher de GlasmanProfessora da UERJ e do ISTARJBibliografia:Bíblia Hebraica (Kassuto)Browne, Lewis. A Sabedoria de Israel, V. II. RJ, Ed. Biblos, 1963
Enciclopédia Judaica, Ed. Cecil Roth, RJ,ED Tradição, 1967
Glasman, Jane B. de. À luz da Menorá, RJ, UERJ/ed. Aut., 1987
Goldberg, David; Os judeus e o judaísmo. RJ, Xenon Ed. 1989
Judaica. RJ, A. Koogan Ed, 1990
Levi, Leo; Beit Israel, Jerusalém, Israel, Departamento de Publicações da Agência Judaica, 1966