17.12.06

Uma história sobre HANUKA'


BOM DIA! Feliz Hanucá!
Ouvi a seguinte história, verídica, alguns anos atrás, quando morava em Israel. Antes de a União Soviética permitir a saída de Judeus para Israel, os Judeus costumavam contratar um guia para ‘contrabandeá-los’ para fora da Rússia. Certo ano, em Hanucá, um grupo de Judeus estava ‘a brincar de gato e rato’ com uma patrulha do exército soviético quando se aproximaram da fronteira. O guia, achando que já tinham despistado a patrulha, anunciou uma pausa de meia-hora antes de continuarem a sua jornada. Um dos fugitivos, ouvindo o número mágico de meia-hora, o tempo mínimo que as velas de Hanucá devem permanecer acesas para se cumprir a mitsvá, pegou na sua menorá, colocou as velas, fez as bênçãos e começou a acender os pavios. Imediatamente os outros
fugitivos pularam sobre ele e a menorá para apagar as velas, quando a patrulha soviética apareceu e os cercou.
O comandante da patrulha falou: “Nós já estávamos para abrir fogo e matar-vos quando vi este homem a acender as velas de Hanucá. Fui dominado por uma tremenda emoção. Lembrei-me do meu zeide (avô) acendendo as velas de Hanucá ... Decidi deixá-los ir embora em paz.”
Os meus filhos trouxeram da Yeshivá onde estudam (em Miami Beach) um folheto com uma história sobre Kidush Hashém (Santificar o Nome de D’us) para lermos no Shabat. Fiquei tão impressionado com o conteúdo que resolvi compartilhá-lo com vocês e também falar sobre este assunto.
Quando a maioria das pessoas ouve a palavra Kidush, pensa logo na refeição que é servida depois das preces nas manhãs de Sábado. A palavra Kidush significa santificar. No Shabat de manhã (bem como às sextas-feiras à noite, antes da refeição) santificamos o Shabat com palavras que relembram que D’us criou o mundo e nos tirou do Egipto e, então, proferimos uma bênção sobre um copo de vinho. O que
significa santificar o nome de D’us?
A origem desta mitsvá está no livro Vaikrá (O terceiro da Bíblia) 22:32. O trecho é o seguinte: “E Eu serei louvado entre os Filhos de Israel.” Existem dois tipos de Kidush Hashém. O primeiro é quando é exigido que uma pessoa entregue a sua vida por um Kidush Hashém (por exemplo, quando alguém morre por ser Judeu). Já em casos de saúde, o critério é outro: D’us deu-nos as suas mitsvót (mandamentos) para
“vivermos e praticá-las, não para morrermos através delas”. Portanto, para salvar uma vida podemos violar todos os mandamentos EXCEPTO três:
1) Não assassinar;
2) Não participar de relacionamentos sexuais ilícitos e
3) Não praticar idolatria.
O segundo tipo de Kidush Hashém está no nosso dia-a-dia. A pessoa deve viver a sua vida de uma maneira tal que os demais desejarão louvar e abençoar os seus pais que a colocaram no mundo, a Torá que ela segue e também o Criador.
O Rambam, Rabino Moshe Maimônides, detalha no seu livro Mishnê Torá (Fundamentos da Torá), no quinto capítulo, que se uma pessoa fala num tom agradável com os demais, demonstra respeito e preocupação com os outros e é honesto nos seus negócios, esta pessoa estará a fazer um grande Kidush
Hashém. Eis a linguagem do livro: “Então será digno de elogios e benquisto pelos demais. E as pessoas desejarão imitá-lo. Esta pessoa terá santificado o nome do Todo-Poderoso”. Este é o jeito que um Judeu deve viver no seu dia-a-dia! A seguinte história ilustra a grandeza de nosso Povo e como a Torá nos
ensina a criar os nossos filhos:
Muitas crianças em Jerusalém vão para a escola ou para a Yeshivá de autocarro. Muitas delas levam uma cartissiá (um talão de passagens pré-pagas, válidas para um determinado número de viagens), que é validada pelo motorista do autocarro a cada viagem. Certa vez, Haim Sholom Kupfer, de Los Angeles, testemunhou um tocante exemplo de Kidush Hashém no autocarro da linha número 3.
Havia uma fila muito extensa e fora do comum de pessoas a espera para entrar no autocarro. O motorista abriu a porta da frente e a do fundo e falou bem alto: “Entrem todos e aqueles que estiverem no fundo passem para frente o dinheiro ou a cartissiá.” Enquanto as pessoas continuavam a entrar no autocarro, um garoto de 8 anos subiu pela frente e deu a sua cartissiá para o motorista validar. “Já validei o seu cartão”, falou o motorista. “Não, ainda não”, disse o garoto em voz baixa.
Era um dia quente. O motorista já havia perdido o seu bom-humor algumas paradas antes e não estava com paciência para discussões. “Entre logo”, ordenou. “Você está a bloquear a entrada dos outros passageiros”. O garotinho olhou para o motorista de cara zangada e disse baixinho: “Não posso. Isto seria um roubo.” “Já lhe falei, já furei o seu cartão”, repetiu o motorista. “Entre logo”. O garoto foi para o fundo do autocarro, de cabeça baixa.
O motorista olhou pelo espelho retrovisor e percebeu que o garoto estava encostado num canto, a chorar.
Parou o autocarro e chamou o garoto para frente. “Qual o seu problema, meu jovem? Por que está a chorar?”
O garoto veio para frente e repetiu baixinho: “Não posso. Isto seria um roubo”.
O motorista pegou no seu perfurador, pegou a cartissiá do menino, picotou-a e a devolveu. Afagou, então, a cabeça do garoto e disse com satisfação e orgulho: “Bela atitude!”
(Adaptado do livro “Along the Maggid’s Journey”, com permissão do Rabino Pessach Krohn, editora Messorah Publications).