23.2.07

Pensamento da Semana

“D'us coloca alimento á disposição de todos os pássaros,
mas eles necessitam de o ir buscar!”

Porção Semanal da Torá: Terumá


Shemót (Êxodus) 25:01-27:19


A parashá Terumá inicia uma série de quatro das cinco porções que discutem em detalhes a construção do Mishcan, o Tabernáculo móvel que servia de "local de repouso" para a presença de D'us entre o povo judeu.
A porção completa da semana relata a descrição de D'us a Moshê sobre como construir o Mishcan, começando com uma lista dos vários materiais preciosos a serem colectados pelo povo judeu para este projeto monumental.
D'us descreve a magnífica Arca de madeira e ouro que abrigaria as tábuas com os Dez Mandamentos, completa com sua cobertura deslumbrante representando dois querubins (anjos com rosto de crianças) um de frente para o outro. Em seguida, D'us entrega a Moshê as plantas do Shulchan (mesa sagrada) sobre a qual os Lechem Hapanim (Pães da Proposição) serão colocados a cada semana.
Seguindo-se à descrição da Menorá de ouro puro que deveria ser feita de um único pedaço grande de ouro, D'us descreve a estrutura do próprio Mishcan, detalhando a cobertura esplendidamente tecida e bordada, as cortinas, as divisões e as paredes externas móveis. A Porção da Torá conclui com as instruções para o altar de cobre e o grande pátio externo do Mishcan.


Mensagem da Parashá
A Porção da Torá desta semana nos introduz ao sagrado Mishcan. A maior parte desta Porção contém descrições detalhadas dos muitos utensílios usados. Dessa maneira, D'us dedica vários versículos a cada componente, descrevendo as suas medidas exactas e o aspecto, para que Moshê entendesse exactamente como construir cada utensílio. Tal Porção da Torá, que parece conter apenas uma lista dos diversos objectos, poderia ter uma aparência um tanto monótona. Entretanto, logo no início nos defrontamos com uma estranha discrepância.
No início da explicação da Arca Sagrada, D'us ordena a Moshê: "Eles construirão a Arca" (Shemot 25:10), usando a forma plural, como se falando a um grupo de pessoas que participarão na construção das várias partes do Mishcan. Certamente poder-se-ia esperar que a descrição de cada um dos numerosos itens seguisse uma estrutura gramatical semelhante. Entretanto, este não é o caso. Na verdade, a Arca é a única vez onde encontramos o uso da forma plural; todos os outros itens da descrição são precedidos pela ordem no singular "Tu construirás," parecendo indicar que uma única pessoa estaria envolvida na edificação do Mishcan. Como resolver esta contradição? Quem era de facto responsável pela sua real construção?
Antes que tentemos resolver o nosso problema, primeiro devemos preceder as nossas observações com um importante princípio. Os comentaristas explicam que os muitos utensílios e as vestimentas dos Cohanim do Mishcan não eram escolhidos ao acaso. Ao contrário, cada um dos vários componentes representava uma faceta do Judaísmo e do povo judeu. Dessa maneira, cada utensílio e a sua descrição continham numerosas mensagens e temas subjacentes para a nação judaica. A Arca Sagrada, explicaram os comentaristas mais tarde, corresponde à Torá e o seu estudo; isso não é surpresa, pois a Arca continha o verdadeiro Rolo da Torá e as Tábuas dos Dez Mandamentos entregues directamente a Moshê por D'us. Portanto, a descrição da Arca deveria fornecer-nos alguma percepção sobre a natureza da Torá e o seu estudo.
Neste estilo, o Ramban procura esclarecer a discrepância gramatical acima apresentada. A respeito de qualquer projecto ou empreendimento meritórios assumidos em nome do Judaísmo, a pessoa pode-se considerar um parceiro simplesmente por contribuir com dinheiro e outros recursos para ajudar outras pessoas a completarem o projecto. Por este motivo, a respeito de todos os outros utensílios do Mishcan, a Torá dirige a sua ordem somente a Moshê, pois o povo judeu já fizera a sua parte ao contribuir com a matéria-prima para o fundo de construção. Agora Moshê deve continuar o trabalho realmente construindo os utensílios.
Entretanto, este não é o caso quando se trata do estudo de Torá. Portanto, a ordem de construir a Arca, que como já foi mencionado antes representa a Torá e o seu estudo, é dirigida não apenas a Moshê, mas a todo o povo judeu. D'us deseja indicar que embora o povo tenha contribuído com prata e ouro, deve apesar disso participar da real construção da Arca Sagrada - e, por extensão, do estudo de Torá.
É claro que quem doou os recursos pelo mérito do estudo da Torá deve ser grandemente louvado e relembrado. Entretanto, ao mesmo tempo, deve entender que não pode simplesmente sentar-se de lado e permitir que outros sozinhos estudem a Torá. Todos devemos participar neste empreendimento. Também não devemos pensar que a Torá é um livro fechado, reservado para eruditos e mentes brilhantes. A Torá pode ser estudada em muitos níveis diferentes e de vários ângulos, de forma que cada indivíduo pode abordá-la segundo o seu próprio nível. Do amador ao grande erudito, a pessoa só tem a ganhar estudando-a.
A Torá é eterna e lá está para que a estudemos a qualquer tempo - e agora é o tempo de abri-la e vermos os tesouros que contém.
http://www.chabad.org.br

21.2.07

Costumes brasileiros "importados" do judaísmo


Por Nelson Menda


É um privilégio poder viver em um país sem furacões, terremotos ou vulcões. Em uma nação gigantesca e extremamente fértil, considerada o verdadeiro celeiro da humanidade. Que consegue agregar à maior floresta tropical do mundo suas imensas reservas submarinas de petróleo, fato que a torna auto-suficiente em uma época de escassez dessa preciosa e limitada fonte de energia. Que possui incomensuráveis mananciais de água doce, o petróleo do amanhã, tanto na superfície quanto no subsolo. Que apresenta um extenso litoral, com 8.000 quilômetros de praias, algumas delas de cair o queixo. Um país que se orgulha em ostentar o título de maior nação cristã do mundo, desde o seu descobrimento pelos portugueses, católicos apostólicos romanos, há cinco séculos. Êpa, eu disse católicos apostólicos romanos? Peço desculpas aos leitores e à imensa legião de cristãos do país, mas acho que me equivoquei nesse último tópico. E já explico o porquê.


A ERA DOS DESCOBRIMENTOS

Apenas três anos antes do descobrimento do Brasil o número de judeus em Portugal ultrapassava a casa dos 10% da população. Cem mil judeus expulsos da Espanha em 1492 tinham procurado refúgio no país vizinho, pela própria proximidade geográfica, vindo se somar à já existente e próspera coletividade israelita do país. Portugal, à época, tinha uma população estimada em um milhão de habitantes. Por volta de 1496, quatro anos após a chegada dessa numerosa e qualificada leva migratória à terrinha, D. Manuel, o Venturoso, tido como "muy amigo" dos judeus, pediu a mão da filha dos Reis de Espanha, Isabel e Fernando, cujos nomes provocam, até hoje, arrepios em muitos sefaradis. A princesa, que não era esbelta nem esperta, foi buscar orientação com seu confessor, o temível Torquemada, que proibiu terminantemente sua entrada em solo português enquanto existissem judeus no país. D. Manuel estava em uma sinuca de bico. Por um lado, precisava dos judeus, alfabetizados, cultos, poliglotas, em cujo seio era possível encontrar médicos, astrônomos, tradutores e artesãos experientes no manejo do couro e dos metais, em umaépoca em que Portugal se lançava aos grandes descobrimentos marítimos e precisava dessa mão de obra altamente qualificada. Por outro, o soberano português temia, com justa razão, a presença ao seu lado de uma Espanha militarizada e agressiva que acabara de conquistar a Andaluzia aos árabes e expulsar os judeus do país. Espanha essa que possuía população e território muitas vezes superior ao de Portugal, um pequeno país espremido entre o mar e seu nada amistoso vizinho.


BAPTISMO EM PÉ

Com esse casamento, D. Manuel esperava matar dois coelhos de uma só vez. Além de constituir família e garantir a continuidade da sua dinastia, afastava, pelo menos momentaneamente, a ameaça de uma anexação de Portugal pela Espanha. Todavia, como resolver a delicada questão dos judeus, de que ele tanto precisava? No domingo de Ramos de 1497 D. Manuel convidou osisraelitas da capital portuguesa para um grande encontro na Praça do Comércio, bem em frente ao Tejo, com a promessa de que embarcariam em navios que os levariam à Terra Santa, sonho da imensa maioria dos judeus ibéricos. Ao mesmo tempo, em segredo, convocou o maior número possível de padres, a quem foi distribuída uma grande quantidade da assim chamada água benta, no episódio conhecido como "batismo em pé". Enquanto os religiosos católicos aspergiam a água dita santa sobre a multidão que se acotovelava no cais, D. Manuel, feliz da vida, enviava seu emissário à corte espanhola para avisar que não havia mais judeus em Portugal, só cristãos. E os judeus, olhos fixos no horizonte, "ficaram a ver navios", pois além de ludibriados com a falsa promessa da viagem à Terra Prometida, ainda tinham sido convertidos, contra a vontade, em cristãos. Cristãos de segunda classe, diga-se de passagem, pois estavam proibidos de ocupar cargos no governo, no clero e na oficialidade militar. Esse lamentável episódio se, por um lado, evidenciou uma atitude de total desrespeito à liberdade religiosa em relação a uma parcela ponderável da população, por outro serviu para deixar uma marca indelével e inequívoca da presença judaica na formação do inconsciente coletivo de portugueses e brasileiros, o que pode ser constatado ao se analisar certos hábitos, muitos provérbios e até mesmo algumas estranhas superstições que se incorporaram à nossa maneira de ser. A própria expressão "ficar a ver navios", para citar um exemplo, acabou sendo agregada ao vocabulário popular, servindo para designar uma situação de promessa não cumprida, de enganação, de desejo frustrado. Teria sido esse "ficar a ver navios" a única evidência da presença judaica no dia-a-dia da população luso-brasileira, de suposta maioria cristã? Claro que não e o objetivo deste artigo é exatamente o de utilizar artifícios freudianos para resgatar, dos profundos e nebulosos meandros do inconsciente para o estado de consciência plena, uma série de fatos que evidenciam, de forma cabal e inequívoca, a forte presença judaica nos hábitos da população brasileira.


"PÃO-DURISMO MINEIRO": MITO OU REALIDADE?

Os judeus participaram de todos os ciclos da economia brasileira, inclusive o do ouro e pedras preciosas das Minas Gerais. Obrigados a se manter no anonimato, para não serem denunciados à Inquisição e ao mesmo tempo preocupados em seguir as regras dietéticas da kashrut (1), desenvolveram um mobiliário que permitia agradar a gregos e troianos, que é a famosa "mesacom gavetas" dos mineiros. Em que consistia? Muito simples: as mesas das cozinhas e copas onde eram realizadas as refeições dispunham de gavetas estrategicamente dispostas no lugar onde os comensais deveriam sentar. A cada refeição, eram preparados dois pratos para cada pessoa. Um, taref (2), para inglês ver, no caso de chegar alguma visita inesperada, composto pelos alimentos habituais da cozinha mineira, como lingüiça, torresmo, leitão e outros quitutes que, além de seu elevado teor calórico, eram proibidos aos judeus. O outro prato continha os alimentos preparados segundo a tradição judaica de não misturar carne com leite e derivados, de evitar a ingestão de crustáceos e peixes sem escamas e uma série de outras recomendações, especialmente a de não consumir carne ou gordura de porco. E era um tal de bota e tira os pratos nas tais gavetas a cada aproximação de um estranho que o zé povinho acabou forjando a lenda de que os mineiros eram pão-duros, pois preparavam dois tipos de comida. Uma, de melhor qualidade e sabor, para o pessoal da casa e outra, mais simples, para o caso de chegar uma visita inesperada.


O FESTIVAL DA ALHEIRA

Quem freqüenta, no Rio, as sinagogas Shel Guemilut ou ARI, já teve a oportunidade de passar pela frente de um tradicional restaurante português localizado nas proximidades. Esse estabelecimento costuma realizar, todos os anos, um "Festival da Alheira", ansiosamente aguardado pelos apreciadores da boa mesa. Mas afinal, o que vem a ser a alheira? Uma das evidências para um judeu ser denunciado à Inquisição era o fato de não comer carne suína, especialmente os embutidos com ela preparados, como o presunto, os salames e as lingüiças. Uma casa portuguesa genuinamente cristã deveria exibir, penduradas e à vista de todos, fieiras de embutidos de porco preparados com essa carne considerada impura pelas leis dietéticas judaicas. Os israelitas portugueses, especialmente das regiões da Beira Alta e Trás os Montes, logo se deram conta do risco que corriam ao não exibir essa tradicional – e proibida – iguaria no entorno de suas casas. Criaram uma falsa lingüiça que, ao invés do porco utilizava carne de gado. No lugar do toucinho, de cor branca, colocavam nacos de pão e, para mascarar o cheiro, folhas de um arbusto da região de nome alheira que possuía um forte odor, semelhante ao do alho. Além de afastada a razão para uma possível denúncia, estava criado um novo e delicioso prato, que até hoje faz a festa em muitas casas e estabelecimentos especializados em culinária regional portuguesa. Mas atenção, antes de pedir uma alheira em um restaurante de comida portuguesa, bata um papo com o maitre a respeito do seu conteúdo, pois muitos fabricantes do produto, desinformados sobre a origem e o valor histórico da iguaria, acabaram substituindo a carne bovina por... adivinhe... nada mais nada menos do que... porco.


PASSAR A MÃO NA CABEÇA

Quem já não ouviu ou pronunciou a expressão "passar a mão na cabeça", que significa proteger ou mesmo fazer vista grossa para um determinado fato?. Se o leitor suspeita que essa frase esteja relacionada ao ato judaico de abençoar alguém colocando as duas mãos sobre sua cabeça ao mesmo tempo em que se pronuncia uma breve oração em hebraico, está redondamente acertado. É mais uma prova da influência judaica na cultura popular brasileira.


VESTIR A CARAPUÇA

É uma expressão com origem trágica, pois remonta ao obscuro período da Inquisição em que os condenados eram obrigados a vestir trajes ridículos ao comparecer aos julgamentos e Autos de Fé. Além do sambenito, túnica com o formato de um poncho, precisavam colocar sobre a cabeça um longo e ponteagudo chapéu, conhecido como carapuça. A frase "vestir a carapuça" acabou sendo incorporada ao português escrito e falado com o sentido de "assumir a culpa".


NÃO APONTAR PARA AS ESTRELAS

Apontar para uma estrela, segundo o conceito popular, poderia causar o surgimento de uma verruga na extremidade do dedo infrator. Qual a origem dessa crendice? É fácil de entender. O calendário judaico é regido pela lua e o despontar da primeira estrela marca o início de um novo dia, especialmente se esse dia for o Shabat (3). Antes da expulsão da Espanha de 1492 e da conversão forçada de Portugal de 1497 era comum que as crianças judias, ao entardecer das sextas-feiras, ficassem procurando no firmamento o brilho da primeira estrela, indicativa da chegada de um dia muito especial. Era a Estrela D'Alva, também conhecida como Vésper, mas que, na realidade, não é exatamente uma estrela, mas sim o Planeta Vênus, que por brilhar com mais intensidade se destaca dos outros corpos celestes. Quem apontasse primeiro provavelmente ganharia a admiração dos mais velhos e, quem sabe até, algum presente. De uma hora para outra esse gesto simples passou a ser denunciador da condição judaica e a primeira coisa que as precavidas mamães fizeram foi assustar seus filhos com a possibilidade do surgimento de uma baita verruga na ponta do dedo. A Inquisição, felizmente, já acabou há bastante tempo, mas a crendice ainda persiste em muitas regiões desse imenso país. Por isso, não se preocupe quando vir uma criança ou adulto apontando para o céu. Mesmo porque já se sabe que as verrugas são causadas por vírus e os dermatologistas dispõem de eficazes tratamentos para erradicá-las.


OFERECER A BEBIDA AO SANTO

É comum em muitos bares e botequins de norte a sul do Brasil despejar no chão o primeiro gole de aguardente, em sinal de respeito "ao santo". Qual o santo? Nada mais nada menos do que o nosso conhecido Eliyahu Hanavi (4), o Profeta Elias da tradição judaica. Nas mesas do Seder (5) de Pessach (6) é costume reservar um lugar para o Profeta, colocando-se um prato, talheres e um cálice com o delicioso vinho adocicado especialmente preparado para a ocasião. Ninguém toca nesse cálice, reservado para Elias. Diz-se que, a cada ano, ele faz uma visita a todos os lares judaicos durante o Pessach e não ficaria bem encontrar seu cálice sem o precioso líquido. Com as perseguições aos judeus, começou a ficar perigoso mencionar o nome deElias, que passou a ser chamado de "santo". De profeta para santo e de vinho para pinga foi um pulo.


COVA DE SETE PALMOS DE FUNDURAO

grande escritor e poeta João Cabral de Melo Neto imortalizou nos versos de "Morte e Vida Severina" a estrofe que fala de uma cova com sete palmos de fundura. É uma tradição 100% nordestina envolver as pessoas falecidas em uma mortalha de linho, sepultando-a em cova preparada em terra virgem com a profundidade de sete palmos. Também fazia parte da tradição judaica ibérica, por ocasião da morte de um ente querido, ao invés de sepultá-lo em um caixão, revestir seu corpo em uma mortalha confeccionada com algodão ou linho e enterrá-lo em uma cova escavada igualmente em terra virgem e com os mesmíssimos sete palmos de profundidade. Os homens costumavam ser sepultados envoltos no seu talit (7), manto com franjas utilizado duranteas cerimônias religiosas. Coincidência? Nada disso. O Nordeste foi colonizado por judeus, gente!


ACENDER VELAS PARA AS ALMAS

A cerimônia doméstica do Shabat tem início logo após a dona da casa ter acendido as duas velas do candelabro ritual e pronunciado a benção própria para a ocasião. Quando isso acontece? Um pouco antes do pôr do sol das sextas-feiras. Como driblar os olheiros da Inquisição? Acendendo velas "para as almas", além das sextas, também às segundas-feiras. Pronto, estavaresolvido o problema. O acendimento das segundas-feiras era só para despistar e o das sextas para valer. A moda de acender velas duas vezes na semana pegou. Para felicidade das almas e dos fabricantes de velas.


DIA NACIONAL DA FAXINA

Em que dia da semana os brasileiros costumam fazer a faxina e trocar a roupa de cama e banho de suas casas? Pense bem antes de responder: às segundas, terças, quartas ou quintas-feiras? Não acertou? Isso mesmo, pois todos sabem que o dia nacional consagrado à faxina é às sextas-feiras. Você já questionou o porquê desse dia? Será que não tem algo a ver com apreparação para o Shabat, que, por uma estranha coincidência, também acontece ao entardecer das sextas-feiras? Mais uma coincidência? Não, tudo a ver com um país que foi descoberto e colonizado por israelitas, que precisaram esconder essa condição durante muitos séculos para não serem denunciados, perseguidos, torturados e mortos pela Inquisição, mas que conseguiram transmitir para o restante da população uma série de costumes, provérbios e princípios que hoje em dia estão intimamente ligados ao próprio estilo de vida do povo brasileiro, ao qual os judeus, juntamente com os católicos, protestantes, muçulmanos, evangélicos, espíritas, budistas, umbandistas e agnósticos fazem questão, com muita honra, de pertencer.

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(1)- Kashrut – Lei dietética judaica

(2)- Taref – Alimento impróprio para consumo pela lei dietética judaica

(3)- Shabat – Dia sagrado dos judeus, que vai do entardecer das sextas-feiras ao mesmo período do dia seguinte

(4)- Eliyahu Hanavi – Nome hebraico do Profeta Elias

(5)- Seder – Mesa cerimonial para a celebração do Pessach, a Páscoa Judaica

(6)- Pessach – Celebração festiva da libertação dos Judeus do jugo egípcio

(7)- Talit – Manto cerimonial utilizado pelos homens no Shabat e datas festivas

20.2.07

Alguma vez se tatuou?


A Torá declara explicitamente que "não farás tatuagem no teu corpo."

Se é do tipo inovador que gosta de realizar trocas na sua vida mudando o seu guarda roupa, a marca do seu carro ou o destino das suas férias no próximo verão, tudo bem. Mas se as mudanças que você busca na sua vida são daquelas radicais, que talvez tornem-se quase irreversíveis, pesquise em exaustivas consultas ver se realmente vale a pena a aventura...e o risco!
A moda "Tatoo" espalhou-se. E hoje vemos as mais assombrosas ou discretas, discrepantes ou ocultas formas de tatuagem nos mais estranhos, ou normais, tipos de pessoas. Mas antes de se entusiasmar com a idéia: consulte a sua fonte.


Qual a posição do judaísmo sobre isto?
A Lei Judaica proíbe a tatuagem. A Torá declara explicitamente que "não farás tatuagem no teu corpo." (Vayicrá 19:27).
Esta é uma prática judaica aceita, por estar escrita no Código da lei Judaica - Yoreh Deah 180:1.
"D'us fez o homem à Sua imagem" (Bereshit 1:26). Evidentemente, isso não significa que D'us Se parece connosco, mas sim que o nosso corpo é uma expressão finita da infinita sabedoria de D'us. Um Midrash diz até que Avraham entendeu todas as mitsvot ao olhar para as partes diferentes do seu corpo! E como disse Job: "Na minha carne, eu vejo D'us" (Job 19:26).
Imagine que possui uma casa com uma enorme janela de vidro com vista para um lindo lago. Pode ver claramente as árvores, os cisnes e garças e ao longe o contorno das montanhas. Agora imagine uma criança pequena suja de chocolate passando as mãos meladas por todo o vidro. Quando olha pela janela, o que vê?
Nada! Nada além de uma camada de suja com chocolate, e um esboço de uma paisagem desmantelada, borrada ao fundo.
O corpo é uma janela da alma, que por sua vez é uma centelha do Infinito. Vai querer sujar a sua janela e cobri-la com marcas de mãos e borrões?



19.2.07

Arábia Saudita quer aliança com Israel contra Irão

A Arábia Saudita e outros Estados árabes fazem tentativas públicas de aproximação de judeus israelitas e americanos numa mobilização para enfraquecer a crescente influência do Irão, deter a violência no Iraque e no Líbano e pressionar para uma solução do conflito israelita-palestino, afirmou nesta segunda-feira o jornal USA Today.
O jornal ressaltou que a intensificação dos gestos de aproximação coincide com o papel decisivo que a Arábia Saudita teve na semana passada nas negociações para a formação de um governo palestino de coesão.
No mês passado, o príncipe Turki al-Faisal, embaixador da Arábia Saudita nos Estados Unidos, assistiu a uma recepção organizada por associações de judeus americanos, relatou a publicação.
O evento era para homenagear um diplomata designado para lutar contra o anti-semitismo.
A presença do diplomata saudita não tem precedentes, teria dito, segundo o jornal, William Daroff, diretor, em Washington, da União de Comunidades Judias, que organizou a recepção.
A Arábia Saudita, Qatar e os Emiratos Árabes Unidos intensificaram contactos com Israel e com grupos judeus pró-Israel nos EUA, informou o USA Today.
A iniciativa tem a bênção do governo americano: a secretária de Estado, Condoleezza Rice, afirmou que seis Estados do Golfo Pérsico e o Egipto, a Jordânia e Israel constituem um novo alinhamento de moderados para se oporem aos extremistas apoiados pelo Irão e pela Síria.
Entre outras iniciativas, o assessor saudita para a segurança nacional, Bandar bin Sultan, reuniu-se a portas fechadas em Setembro com o primeiro-ministro israelita Ehud Olmert, na Jordânia, informou Daniel Ayalon, ex-embaixador israelita em Washington.
Os Emiratos Árabes Unidos convidaram uma delegação da Conferência de Presidentes de Organizações Judias Americanas, segundo USA Today.
A Conferência apoia solidamente Israel.
O vice-primeiro ministro israelita, Shimon Peres, reuniu-se com o emir do Qatar no final de Janeiro para pedir que participasse num debate com estudantes árabes, acrescentou o jornal.



------------ ------Comentário mIsrael----------------------
Para países árabes se aproximarem de Israel é porque a ameaça iraniana é realmente séria e não "mania de perseguição" norte americana.

18.2.07

Grandeza versus dificuldades

BOM DIA! Em algum momento da vida, quase todos fazem a velha pergunta:“Por que coisas desagradáveis acontecem a pessoas boas?” Recentemente recebi uma cópia de um incrível e surpreendente livro, repleto de sabedoria, intitulado ‘Finding Light in the Darkness -The Toughest Challenges and How to Grow from Them (Encontrando Luz na Escuridão – Os Mais Duros Desafios e Como Crescer a partir Deles)’, escrito pelo Rabino Shaul Rosenblatt.
Quais as credenciais do Rabino Rosenblatt para escrever sobre este tópico? Aos 27 anos de idade, Elana, a sua esposa e mãe de seus 4 filhos, descobriu que tinha câncer. Após 3 anos a lutar pela vida, Elana devolveu a sua alma ao Criador e Shaul, viúvo, ficou para cuidar das crianças.
O livro narra os seus esforços para entender e, no final das contas, conseguir crescer a partir de toda a situação. Entretanto, comprei mais 10 cópias para distribuir a várias pessoas que pensei que poderiam se beneficiar dele. Eis alguns excertos do livro:
“Como início para isto – e para a maioria das questões da vida – precisamos primeiramente definir os termos sobre os quais falaremos. Isto é ainda mais importante aqui, pois ao tratarmos sobre o porquê de coisas ruins acontecerem neste mundo, precisamos começar definindo o que é ‘ruim’.”
“Acredito que muito da nossa dificuldade em lidar com as coisas desagradáveis que nos acontecem provêem de uma definição de ‘ruim’ que é totalmente inconsistente com o Judaísmo”.
“Talvez para a maioria das pessoas a definição de ‘ruim’ seja ‘dor’.A ‘dor’ e o ‘ruim’ são praticamente sinónimos. Seja a dor que alguém sofre ao morrer de uma terrível doença, a dor de alguém como Elana, sabendo que nunca dançaria no casamento de seus filhos, ou a dor de crianças morrendo de fome na África ou no Gueto de Varsóvia. É a dor envolvida nestas situações que as tornam ‘ruins’. Se ninguém no Holocausto sofresse nenhum tipo de dor – se fossem gentilmente ‘colocados para dormir’ sem ter a menor ideia do que lhes estava acontecendo – também seria algo horrível, mas talvez não nos incomodasse da maneira que nos incomoda. Tomemos alguns momentos para reflectir sobre isto, pois é importante entender exactamente aquilo que está nos incomodando para podermos seguir em frente”.
“Se a dor estiver de alguma forma conectada à nossa definição de ‘ruim’ – seja emocional, física ou uma dor espiritual – então a questão do por que coisas ruins acontecem a pessoas boas é claramente irrespondível, uma vez que a dor ocorre a todos os seres humanos durante a maior parte de suas vidas, sem distinguir se são bons ou ruins. Se a dor, por si só, é manifestamente ruim, então D'us nitidamente criou um mundo que está repleto de ruindade.”
“No entanto, não há nada, absolutamente nada, que aconteça connosco neste mundo que seja bom ou ruim. Tudo é completamente neutro. Porém, todas as coisas que acontecem têm o potencial de nos elevar a um nível maior de bondade – ou nos arrastar para bem longe de D'us. Tudo tem o potencial para ser ‘bom’ e tudo tem o potencial para ser ‘ruim’. Coisas ‘ruins’ não acontecem a pessoas boas e nem coisas ‘boas’, também. Coisas acontecem que são ou mais ou menos dolorosas, mas não são inerentemente ‘boas’ ou ‘ruins’. Nós, seres humanos, somos os únicos árbitros a decidir se aquilo que ocorre em nossas vidas será, no final, bom ou ruim. A escolha está inteiramente em nossas mãos”.
“Elana e eu tomamos uma decisão quando soubemos que ela estava doente. Não tivemos a chance de escolher se ela teria câncer ou não, mas tínhamos agora a chance de escolher como reagir ao câncer. Sabíamos que poderíamos desesperar, que poderíamos nos esconder do mundo e aceitar o nosso ‘destino’, ou poderíamos decidir ser felizes com todas as coisas boas que tínhamos. Decidimos aproveitar bem o tempo de convívio entre nós e com as nossas crianças, desfrutando a vida em geral. Sabíamos também que poderíamos nos aproximar mais de D'us ou nos afastar Dele – as escolhas estavam inteiramente em nossas mãos”.
“Então, para ser brutalmente honesto, peço a vocês que se perguntem: para que estamos neste mundo? Pelo conforto? Para evitar a dor? Para viver setenta ou oitenta anos de vida com o mínimo de desafios possível? Se esta é a nossa meta, então certamente muitas coisas ‘ruins’ acontecerão ao longo do caminho – porque este é um mundo de dor, e a dor é contrária a tudo que vivemos. Se, entretanto, acreditarmos, como eu acredito, que estamos aqui para nos elevarmos em santidade, para crescermos e tentarmos chegar a uma auto perfeição, então tudo o que nos acontece são oportunidades de ouro. E quanto mais desafiadora, maior é a oportunidade. A Mishná nos ensina que ‘De acordo com a dor será a recompensa (Pirkei Avót 5:23)’. Não está escrito ‘conforme o esforço’, mas ‘conforme a dor’. O nível de dor
define o nível de potencial para a elevação espiritual. É lógico, não procuramos por dores, mas quando ela vier, devemos ‘abraçá-la’ como uma oportunidade de lutarmos por nosso aperfeiçoamento e crescimento espiritual e de carácter”.
“Como regra, será que a dor e as dificuldades na vida tornam mais fácil ou mais difícil a elevação espiritual? Se formos honestos, teremos de reconhecer que os desafios nos ajudam a chegar à grandeza. A grandeza, habitualmente, não é encontrada entre aqueles que passam seus dias deitados na praia ou velejando pelo mundo em iates de milhões de dólares. A grandeza é muito mais frequentemente encontrada entre os que encaram as adversidades da vida e as superam. Aqueles que atingem seu verdadeiro potencial são os que lutam em situações difíceis e constroem o seu carácter neste processo”.

16.2.07

Pensamento da Semana:

“A dor existe durante a nossa vida, mas o sofrimento é uma opção!”

Porção Semanal da Torá: Mishpatim

Shemót (Êxodus) 21:01 -24:18


Esta porção semanal contém 23 mandamentos positivos (Faça ! ) e 30 negativos (Não Faça ! ). Estão incluídas aí as leis referentes a escravos e escravas, assassinato, ferir o pai ou a mãe, seqüestro, amaldiçoar os pais, prejuízos pessoais, ferimentos pessoais, tipos de prejuízos e as suas indenizações, sedução, idolatria, mal trato de crianças, órfãos e viúvas.
A porção continua com as leis sobre empréstimo de dinheiro, não amaldiçoar juizes ou líderes, dízimo, primogênitos, devolução de animais perdidos, ajudar a descarregar um animal, o ano Sabático, o Shabat e as Três Grandes Festas (Pessach, Shavuót e Sucót).
Mishpatim conclui com a promessa do Criador de nos guiar na Terra de Israel, proteger a nossa jornada, garantir o fim dos nossos inimigos e a nossa segurança na Terra de Israel – ao cumprirmos a Torá e as suas Mitsvót. Moshe conclui os seus preparativos e os do Povo, e sobe ao Monte Sinai para receber os Dez Mandamentos.


Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin
A Torá declara:“Se uma pessoa abrir ou cavar um buraco e não cobri-lo, e um boi ou burro cair dentro, o dono do buraco deve pagar o prejuízo. (Shemót 21:33-34)”.
A Torá relata-nos nesta Porção Semanal as leis relacionadas aos prejuízos causados pelo animal de uma pessoa e as leis sobre os danos causados por se abrir um buraco no chão. O Rabino Yeruhem Levovitz (Polônia, 1874-1936) costumava dizer que é muito fácil olhar para estas leis em termos de obrigações financeiras: em algumas instâncias, a pessoa é legalmente obrigada a pagar pelos prejuízos e em outras, está livre de qualquer pagamento.
Entretanto, o caminho correcto de encararmos as leis sobre prejuízos é através da perspectiva que o livro Sefer HaChinuch (um livro que elucida todas as Mitsvót da Torá) trouxe no Mandamento no. 243:“O fundamento e a base das leis relacionadas a perdas e danos é a Mitsvá (o mandamento) de se amar o próximo. Quando realmente nos importamos com os demais, tomaremos cuidados em não fazer nada que lhes cause prejuízos ou sofrimentos”.
Quando pessoas boas e que manifestam compaixão estudam estas leis, elas não pensam em termos de quanto dinheiro terão que pagar, mas sim no que podem fazer para evitar causar danos ou dor ao próximo. Estudar esta parte da Torá é o caminho apropriado para aumentarmos a nossa sensibilidade às possibilidades de prejudicar ou ofender os demais, bem como de beneficiá-los.

13.2.07

Conversão com Responsabilidade


Se o Judaísmo se importasse com o poder dos números, poderia ter-se tornado uma fé proselitista como o Cristianismo ou Islamismo. Por uma questão de princípio e história, escolheu de outra maneira. Concentrou-se na força espiritual, não demográfica.


A aceitação dos comandos, mitsvot, é constitutiva da conversão. Sem ela, não se pode dizer que a conversão ocorreu.


Não há atalhos para as bênçãos da fé, assim como não os há para a saúde física. Sem exercício, sono e uma dieta balanceada, o corpo perece. Sem o Shabat e as Festas, cashrut e leis da família, o espírito judeu atrofia e termina por morrer.


Por Rabino Chefe da Inglaterra, Professor Jonathan Sacks

A Torá manda-nos amar o guer. A palavra geralmente é traduzida como "estrangeiro", mas segundo a tradição oral, com freqüência significa tsedec, o 'prosélito justo'. Somos ordenados a demonstrar sensibilidade especial ao convertido. Na amidá diária, fazemos menção especial aos "justos convertidos", rezando para que o nosso quinhão seja dividido com eles. Os convertidos trazem méritos especiais ao nosso povo.
Numa resposta, Moses Maimônides foi indagado por um prosélito, Ovadiah, se como convertido tinha permissão de dizer nas suas preces: "Nosso D'us e D'us de nossos pais", uma vez que os pais dele não eram judeus. Maimônides respondeu afirmativamente. Um judeu pode ser o filho físico de Avraham, porém o convertido é um dos seus filhos espirituais. "Como você veio para debaixo das asas da Divina Presença e confessou o Senhor", continua Maimônides, "não há qualquer diferença entre você e nós… Não considere a sua origem como inferior."
Se o Judaísmo se importasse com o poder dos números, poderia ter- se tornado uma fé proselitista como o Cristianismo ou Islamismo. Por uma questão de princípio e história, escolheu de outra maneira. Concentrou-se na força espiritual, não demográfica.
O que é conversão? As pessoas freqüentemente referem-sed ao caso de Ruth, a Moabita, cuja história é narrada com tanta beleza no livro que leva o seu nome. É da resposta de Ruth à sogra Naomi, que são derivados os princípios básicos da conversão, Ela disse: "Aonde tu fores, eu irei. Onde ficares, eu ficarei. O teu povo será o meu povo, e o teu D'us o meu D'us."A última frase – apenas quatro palavras em hebraico – define a natureza dual da conversão até hoje. O primeiro elemento é uma identificação com o povo judeu e o seu destino (O teu povo será o meu povo). O segundo é a aceitação de um destino religioso, o pacto entre Israel e D'us e as suas ordens (O teu D'us será o meu D'us). Ambos os elementos são necessários. Isso é o que distingue a conversão ao Judaísmo da cidadania israelita. Há cidadãos de Israel que são cristãos, muçulmanos, drusos, beduínos, budistas ou brâmanes. Você não precisa de er judeu para ser cidadão israelita, assim como não precisa ser cristão para ser cidadão britânico (para assegurar, há diferenças em relação à Lei de Retorno de Israel, mas aqui isso não vem ao caso). A cidadania nas democracias liberais é um conceito secular. A conversão, ao contrário, é irredutivelmente religiosa. É isso que Boaz quer dizer quando fala para Ruth: "Que você seja ricamente recompensada pelo Eterno, o D'us de Israel, sob cujas asas você buscou o refúgio." Isso envolve a adopção de um estilo de vida religioso. A conversão secular a uma identidade religiosa é logicamente, impossível.
A natureza dessa dimensão religiosa pode ser resumida em duas palavras hebraicas: cabalat hamitsvot, aceitação dos comandos. Isso pode ser feito de maneira estrita ou leniente. A conversão é um caso inusual no qual o rigor da lei é deixado à decisão do tribunal. Porém a condição existe, embora inferida. A conversão deve envolver a aceitação dos comandos. Se um convertido, em virtude do seu comportamento, demonstra um genuíno comprometimento com a prática e a Lei Judaica na época da conversão, isso permanece, mesmo se depois ele a abandona. Um convertido faltoso é um judeu em falta, não um gentio em falta. Se, no entanto, não havia observância religiosa na época, a conversão não tem valor. A aceitação dos comandos é constitutiva da conversão. Sem ela, não se pode dizer que a conversão ocorreu. A conversão ao Judaísmo é um empreendimento sério, porque o Judaísmo não é um mero credo. Envolve um estilo de vida distinto e detalhado. Quando as pessoas perguntam-me porque a conversão ao Judaísmo demora tanto, peço-lhes que considerem outros casos de mudança de identidade. Quanto tempo demora para um britânico se tornar italiano, não apenas legalmente, mas lingüística, cultural e socialmente? Leva tempo. A analogia é imperfeita, mas ajuda a explicar o aspecto mais intrigante da conversão hoje: os padrões às vezes diferentes entre as cortes rabínicas em Israel e na Grã-Bretanha. Há algumas décadas, um Rabino Chefe israelita argumentou que os tribunais rabínicos israelitas deveriam ser mais lenientes que os seus pares na Diáspora. Os seus motivos eram técnicos, mas faziam sentido. É mais fácil aprender italiano se estiver a morar em Itália. Em Israel, muitos aspectos da identidade judaica são reforçados pela cultura circundante. A sua linguagem é a linguagem da Bíblia. A sua paisagem está saturada pela História Judaica. O Shabat é o dia de descanso. O calendário é judaico.
No caso da conversão, os códigos concedem explicitamente a cada Bet Din o direito e o dever de exercer a discrição tendo em vista a circunstância local. Durante séculos, isso não criou problemas. O que mudou foi a nossa mobilidade geográfica, bastante aumentada. As pessoas mudam-se. Um casal pode se conhecer num país, casar-se num segundo e morar num terceiro. A conversão é algo muito sério. Ninguém pode tratá-la levianamente, muito menos um tribunal religioso. Já houve tempos em que a identidade judaica foi uma questão de vida ou morte – não apenas durante o Holocausto. O Talmud afirma: 'É dito ao convertido em perspectiva: ‘Está consciente de que os Filhos de Israel na era actual são perseguidos e oprimidos, desprezados, molestados e dominados por aflições?' Isso não é tanto para desencorajar o candidato, mas para ser perfeitamente sincero sobre o que esta opção envolve. A conversão também não é afectada por considerações demográficas. Os judeus sempre foram um povo muito pequeno. No Século XVII estima-se que houvesse apenas dois milhões de judeus na terra. Hoje há 100 muçulmanos para cada judeu, e quase 200 cristãos. Se o Judaísmo se importasse com o poder dos números, poderia ter se tornado uma fé proselitista como o Cristianismo ou Islamismo. Por uma questão de princípio e história, escolheu de outra maneira. Concentrou-se na força espiritual, não demográfica.O Judaísmo não busca pessoas para as converter. Não porque seja exclusivo, mas pelo motivo oposto; não acredita que é preciso ser judeu para ter uma porção no céu. As pessoas muitas vezes perguntam-me como consigo ser tolerante com outras crenças, enquanto ao mesmo tempo insisto em padrões haláchicos para a conversão. Não apenas não há contradição entre estas opiniões, como elas são dois lados da mesma moeda. O Judaísmo é tolerante com outras fés exactamente porque acredita, nas palavras dos sábios, que 'os gentios justos têm uma porção no Mundo Vindouro'. Não há necessidade de conversão. Portanto, isso deve ser feito apenas se a pessoa entende sinceramente, de maneira séria e total, a natureza do compromisso envolvido.
O Judaísmo é uma fé exigente. Há beleza e força. Muitos não-judeus já me disseram o quanto admiram a comunidade pelo seu amor à família, a sua dedicação à caridade e justiça, a sua paixão pela educação e desenvolvimento do intelecto. Posso entender por que alguém desejaria fazer parte deste estilo de vida.O que é difícil de entender é por que alguém desejaria adquirir um carro mas nunca usá-lo; um fato para jamais vesti-lo; uma casa para não morar nela; uma religião para não praticá-la. Não há atalhos para as bênçãos da fé, assim como não os há para a saúde física. Sem exercício, sono e uma dieta balanceada, o corpo perece. Sem o Shabat e as Festas, cashrut e leis da família, o espírito judeu atrofia e termina por morrer. Um médico, quando atende um paciente que está com a saúde abalada, seria irresponsável em não dizer-lhe que precisa mudar o seu estilo de vida. Da mesma forma, seria irresponsável um rabino que não dissesse o mesmo a um convertido em potencial. Para um não-judeu que deseja converter-se, eu diria: 'Nós o recebemos de braços abertos. Porém você deve entender o que isso envolve. Significa manter as leis que constituem o nosso pacto com D'us. Significa uma mudança de identidade e estilo de vida. Ser-se judeu não é apenas um privilégio, mas também, muito mais, uma grande responsabilidade. Assim, vamos ajudar os proponentes a' conversão e integra-los na nossa comunidade, para que a mudança de vida possa ser gradual e responsavel.

12.2.07

Espanha inaugura Centro Sefaradita




Feb 08, '07 / 20 Shevat 5767
( IsraelNN.com )

A Espanha abriu um novo centro em honra do Legado Judaico Sefaradita, na Quinta-feira, na cidade de Madrid. O Ministro dos Negócios Estrangeiros Tzipi Livni estava presente na abertura, bem como muitos embaixadores internacionais. O centro ira’ comemorar os cerca de 1000 anos de história Judaica em Espanha, que terminou com a expulsão das comunidades, no ano de 1492.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros Espanhol Angel Moratinos comentou, que “com este acto pagamos um velho debito a’ Sefarade”. Os Conservadores estimam o numero de judeus expulsos em centenas de milhares, acrescentando dezenas de milhares, que morreram ou foram mortos na condição de refugiados e ainda centenas de milhares, que optaram por serem baptizados para continuarem em Espanha, isto e', convertidos ao cristianismo.

11.2.07

‘Mitsvá’ = mandamento

BOM DIA! Já se encontrou alguma vez numa situação em que tentavam convencer-lhe a fazer algo, dizendo: “É uma grande Mitsvá!”? A maioria das pessoas, ao usarem a palavra ‘Mitsvá’, estão a querer dizer ‘uma boa atitude’. Na verdade, a palavra ‘Mitsvá’ quer dizer ‘um mandamento’.
Por que a "Mitsvá" é considerada como sendo uma "boa atitude"? Geralmente a ‘Mitsvá’ que alguém quer que façamos é um acto de bondade e, portanto, é fácil relacionar um acto de bondade como uma atitude boa. No entanto, existem três categorias de mandamentos:
1 - Entre a pessoa e D'us
2 - Entre as pessoas
3 - Entre a pessoa e ela mesma
Na Torá (Os Cinco Livros de Moisés), o Todo-Poderoso ordenou o Povo Judeu a cumprir 613 categorias de Mitsvót (mandamentos): 248 mandamentos positivos (obrigações) e 365 mandamentos negativos (proibições). Embora muitos tenham ouvido apenas sobre os Dez Mandamentos, na verdade eles são 613. Os Dez foram entregues no Monte Sinai e os restantes foram dados durante os 40 anos de viagem pelo deserto, após o Povo Judeu sair do Egipto. Eis alguns exemplos de mandamentos:
- Entre a pessoa e D'us: acreditar em D'us, confiar em D'us.
- Entre as pessoas: fazer negócios com honestidade, dar caridade, fazer actos de bondade.
- Entre a pessoa e ela mesma: cuidar da própria saúde
As Mitsvót (plural de Mitsvá) são os meios para nos aproximarmos do Todo-Poderoso, crescermos espiritualmente e nos aperfeiçoarmos como indivíduos. Também são os meios para conquistarmos a nossa porção no Mundo Vindouro. O Rabino Moshe Haim Luzzato (Itália, 1707-1746), um famoso Sábio e cabalista, escreveu no seu livro ‘O Caminho dos Justos’ (disponível em www.feldheim.com o seguinte:
“As pessoas foram criadas com o propósito único de se alegrarem em D'us e terem o prazer do esplendor da Sua presença, pois esta é a verdadeira alegria e o maior de todos os prazeres possíveis. O local onde este prazer poderá ser verdadeiramente desfrutado é o Mundo Vindouro, que foi criado exactamente para nos prover todo este prazer. O veículo que conduz as pessoas a esta meta é as Mitsvót. O local para se praticar estas Mitsvót é unicamente neste mundo em que vivemos”.
Embora não saibamos a recompensa específica de cada Mitsvá, cabe a nós fazê-las o melhor possível, tanto em qualidade como em quantidade. Na verdade, deveria ser um prazer cumprir as vontades do Criador.
Muitas vezes as pessoas dizem: "Não sou religioso", querendo dizer: “Não sou observante dos mandamentos”. Porém, se a pessoa acredita em D'us, isto já a torna religiosa. Nenhuma pessoa cumpre todas as Mitsvót, mas tentamos o melhor que podemos. Todos estão numa ‘escala de Mitsvót’, que varia de ‘poucas Mitsvót’ até ‘muitas Mitsvót’.
Quanto mais Mitsvót fizermos, melhores seres humanos poderemos ser e melhores como Judeus poderemos ser. Em Miami, EUA, há uma sinagoga que iniciou uma campanha intitulada ‘Um Milhão de Mitsvót’. A ideia é que cada um de nós possa escolher uma ou mais Mitsvót e acrescentar àquelas que já faz. Qualquer um pode juntar-se a esta campanha, analisar as várias Mitsvót e escolher. Entre as Mitsvót listadas estão: Orações, Mezuzá, Caridade, Actos de Bondade, Hospitalidade, Visitar os Doentes, Amar o Próximo, Não Fofocar, Honrar o Pai e a Mãe, Levantar-se perante uma Pessoa Idosa, Honrar os Mestres, Teshuvá (arrependimento dos maus actos), Recato, Leis da Dieta Casher, Tefilin, etc. Clique em www.MillionMitzvahs.org para aprender mais e participar. Já há mais de 602.546 Mitsvót!
E, logicamente, que pode visitar-nos em www.aish.com e aprender mais sobre as Mitsvót, as festividades Judaicas e tudo que é Judaico!

9.2.07

Pensamento da Semana:

Por uma pergunta feita, talvez seja considerado tolo por alguns minutos,
Mas se nunca perguntar pode permanecer tolo por toda a vida.

Porção Semanal da Torá: Yitró

Esta é a porção semanal que relata a outorga dos Dez Mandamentos. Sabe que há diferenças entre os Dez Mandamentos enunciados aqui (Shemót 20:1-14) e os relatados no livro Devarim (5:6-18), o quinto livro da Torá? (Sugestão: peça às suas crianças para descobrir as diferenças, como um jogo à mesa de Shabat: há aproximadamente 30 diferenças).
Antes de dar os Dez Mandamentos, o Todo-Poderoso disse a Moshe para informar o Povo Judeu: “E agora, se Me ouvirem com atenção e observarem o Meu pacto, serão para Mim o mais amado tesouro dentre todos os povos, pois Meu é o mundo. Vocês deverão ser para Mim um reino de Cohanim (sacerdotes - um modelo de conduta para o resto do mundo) e uma nação santa” (Shemót 19:5-6).
O sogro de Moshe, Yitró, junta-se ao Povo Judeu no deserto, aconselha Moshe sobre a melhor forma de servir e julgar o Povo -- apontando uma hierarquia de tribunais e juízes intermediários -- e retorna a Midián, a sua terra natal. Os Dez Mandamentos são dados, sendo que os dois primeiros foram ouvidos directa e pessoalmente de D’us, por cada Judeu. O Povo, então, pede a Moshe para ser o intermediário na transmissão dos oito Mandamentos restantes, pois toda aquela experiência estava a ser muito intensa para eles.
A porção conclui com o Todo-Poderoso dizendo a Moshe para instruir o Povo Judeu a não fazer imagens de D’us. São ordenados, então, a construir um altar de pedra, mas sem utilizar nenhum instrumento metálico na sua construção.

Dvar Torá: Baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin
A Torá declara: “Quando fizerem um altar de pedras para Mim, não devem fazê-lo com pedras talhadas, pois se levantarem a sua lâmina sobre elas, terão profanado estas pedras. (Shemót 20:22)”.
Porque talhar as pedras com uma lâmina de metal seria uma profanação das pedras? Que lição pode aprender disto?
As pedras utilizadas para o altar do Beit HaMikdásh (o grande Templo Sagrado de Jerusalém) seriam consideradas desqualificadas se fossem cortadas ou preparadas com qualquer implemento metálico (Rambam, Hilchot Beit HaMikdásh 1:15). Rashi, o Rabino Shlomo ben Ytschák (França, 1040-1104), um dos maiores comentaristas da Torá e do Talmud, cita uma Mehilta (um Midrásh) que explica que já que o altar tinha a função de estabelecer a paz entre o Povo de Israel e o seu Pai nos Céus, era proibida a utilização, na sua construção, de um instrumento que também pudesse ser utilizado em actos de violência.
A Mehilta traz então um kal vachomer (uma inferência de algo menor para outro maior): “As pedras do altar, que não enxergam, não falam e nem ouvem, mas que estabeleciam a paz dentro do Povo, sobre elas a Torá disse que não poderíamos bater nelas com nenhum instrumento metálico. Por conseguinte, alguém que promove a paz entre marido e esposa, entre uma família e outra ou entre uma pessoa e outra, com certeza terá o mérito de que nada de ruim recaia sobre ele/a”.

8.2.07

Judeus na Península Ibérica


Judeus, presença milenar na Península Ibérica. Já na década de 70, porém, alguns indícios mostravam o processo de mudança no país. Em 1974, após a Revolução dos Cravos, que substituiu o regime totalitário pela democracia, foram feitas modificações nos compêndios de história, trazendo novas abordagens sobre o período da Inquisição.



Foram necessários 500 anos para que Portugal tomasse a decisão de revogar publicamente o decreto de expulsão dos judeus, vigente quando o país vivia à sombra da Inquisição. Com a votação no Parlamento, em dezembro de 1996, abre-se um novo capítulo na história portuguesa.Já na década de 70, porém, alguns indícios mostravam o processo de mudança no país. Em 1974, após a Revolução dos Cravos, que substituiu o regime totalitário pela democracia, foram feitas modificações nos compêndios de história, trazendo novas abordagens sobre o período da Inquisição. Em 1987, o então presidente Mário Soares apresentou ao Estado de Israel um pedido formal de desculpas, em nome do país, pelos eventos do passado. A Inquisição foi oficialmente abolida de Portugal em 1821.Logo após a votação no Parlamento português, foi inaugurada a primeira sinagoga na cidade de Belmonte, onde durante séculos os judeus esconderam sua fé por trás da sua identidade de cristãos-novos ou marranos. Tal fato demonstra que, apesar do decreto e das perseguições, as páginas da história de Portugal, nos últimos cinco séculos, foram permeadas por costumes e tradições de origem judaica, mantidos, às escondidas, por indivíduos que geralmente sequer sabiam o seu real significado.A Inquisição em Portugal sofreu influência direta da sua atuação na Espanha, onde, por insistência dos reis católicos espanhóis, Fernando e Isabel, o papa Sixtus IV apoiou a criação de uma Inquisição Espanhola Independente, em 1483, presidida por um Conselho e um inquisidor. Entre os mais famosos, está Tomás de Torquemada, um símbolo de crueldade, intolerância e fanatismo religioso, que ajudou a escrever um capítulo especial do Santo Ofício na Península Ibérica e em suas colônias, cujo alvo principal foram os judeus e, em seguida, os cristãos-novos, ou os judeus convertidos à força ao cristianismo.Passados os séculos, a instituição e seus excessos têm sido motivo de embaraço para muitos cristãos. Durante o Iluminismo, a Inquisição chegou a ser citada como um dos maiores exemplos de barbárie durante a Idade Média. Mas em sua época, despertava a simpatia de muito setores, que a consideravam um instrumento político, econômico e necessário para a defesa das crenças religiosas.Pesquisas históricas indicam que a presença judaica em Portugal remonta ao século VI antes da era cristã, sendo anterior à formação do reino de Portugal. No século XII, sob o comando de Afonso Henriques, Portugal torna-se uma nação e surgem as primeiras comunidades judaicas em Lisboa, Oporto (atual Porto), Santarém e Beja.Durante o reinado de Afonso Henriques, os judeus vivem momentos de tranqüilidade e prosperidade, possuindo também um sistema comunitário autônomo no qual o grão-rabino era indicado pelo rei. Neste período, o grão-rabino Yahia Ben Yahia foi escolhido ministro das Finanças, sendo também responsável pela coleta de impostos no reino. A tradição implantada por Afonso Henriques, de escolher judeus para a área financeira e de manter um bom relacionamento com as comunidades judaicas, é seguida por seus sucessores.No entanto, para os judeus, a era de prosperidade e de participação na vida política e econômica do reino termina no início do século XV, com o aparecimento de um anti-judaísmo local e com a influência cada vez maior da Inquisição espanhola. Por trás da deterioração da situação das comunidades judaicas estão as pressões da Igreja, o surgimento da burguesia e, por último, a aliança da Espanha com Portugal, fortalecida através do casamento de Manuel I com Isabel, filha dos reis católicos Fernando e Isabel. Como na Espanha, a prosperidade dos judeus despertou a inveja dos seus vizinhos, impondo-lhes, entre outras punições, maiores impostos.Para a Igreja, a conversão dos judeus e o fim do judaísmo são as únicas maneiras de afirmar definitivamente a identidade messiânica de Jesus. Para a burguesia, o fim dos judeus significa a possibilidade de conquistar uma posição privilegiada na vida econômica da nação. Para os reis católicos, representa a extensão da Inquisição espanhola em solo português, perseguindo aqueles que conseguiram fugir do decreto de 1492, que determinou a expulsão de todos os judeus da Espanha.

Durante o reinado do rei João, pela primeira vez os judeus são obrigados a usar em suas roupas símbolos que indicam sua crença religiosa. Em 1435, sob o comando de Afonso V, o Rabino Isaac Abravanel, judeu, médico, talmudista e filósofo desempenha as funções de conselheiro e tesoureiro do rei. Ao mesmo tempo, é criada uma lei que proíbe os judeus de terem empregados cristãos.A 30 de maio de 1492 é assinado o decreto que expulsa os judeus da Espanha, levando cerca de 80 mil a buscarem abrigo em Portugal, apesar das medidas restritivas que vêm sendo adotadas no país. Mesmo com a perseguição, Portugal ainda se apresenta como uma alternativa de salvação para os judeus. Para acolhê-los, o rei João II exige o pagamento de uma taxa que lhes permite ficar no país apenas oito meses, prometendo-lhes que, ao final desse período, poderão partir em navios cedidos pelo governo. Além de não cumprir a promessa, são vendidos como escravos para a nobreza portuguesa. Neste mesmo período, cerca de 700 crianças judias foram separadas de suas famílias e enviadas para colonizar a ilha africana de St. Thomas, onde a maioria morreu. O próximo passo dessa tendência de perseguição é dado a 5 de dezembro de 1496, quando Manuel I, sucessor de João II, e às vésperas do casamento com Isabel da Espanha, assina o decreto que prevê, em dez meses, a expulsão dos judeus de Portugal. A única alternativa para evitá-la seria a conversão ao cristianismo.A maioria dos judeus, que fugira da Espanha justamente para evitar a conversão, decide então, sair de Portugal. O rei, no entanto, diante da possibilidade de evasão do capital financeiro do país, juntamente com a população judaica, publica um novo decreto, que proíbe a partida de Portugal e força os judeus a se converterem.Segundo o relato de Cecil Roth, em seu livro "Uma História dos Marranos", crianças foram arrancadas do colo de seus pais e entregues a famílias cristãs, para viverem em locais muito distantes de seus familiares. Para alguns judeus era preferível a morte do que o batismo dos filhos.Diante desses medidas, não restaram muitas opções aos judeus portugueses. Enquanto uma parcela das comunidades judaicas locais aceita seu destino e assume totalmente sua nova religião, outra segue os novos preceitos apenas aparentemente, mantendo secretamente seus rituais e tradições. São justamente os descendentes dessas gerações que hoje, 500 anos após o decreto de expulsão e a conversão forçada, começam gradativamente a buscar e a assumir sua herança judaica.

7.2.07

O aborto na lei judaica

Por Daniel Eisenberg

A visão judaica tradicional sobre o aborto não se ajusta convenientemente a nenhuma das posições defendidas no actual debate relacionado ao tema.

Já que o aborto volta novamente como uma questão política, é de suma importância entender o enfoque judaico desta questão. A visão judaica tradicional sobre o aborto não se ajusta convenientemente a nenhuma das posições defendidas no actual relacionado ao tema. Nós não proibimos por completo o aborto, mas também não permitimos o aborto indiscriminado. Uma mulher pode sentir que até o feto nascer ele é parte de seu corpo, mantendo, portanto, o direito de abortar uma gravidez não desejada. O Judaísmo reconhece o direito de escolher o aborto como uma opção? Em que situações a lei judaica aprova o aborto?
Para uma clara compreensão de quando o aborto é permitido (ou até exigido) e quando é proibido, deve haver uma avaliação de certas nuances da halachá (Lei judaica) que determinam a condição do feto(1).O caminho mais fácil para formar um conceito acerca de um feto pela halachá é imaginando o feto como um ser humano crescido - mas não o bastante(2). Na maioria das situações, o feto é tratado como qualquer outra "pessoa". Geralmente, não é permitido prejudicar um feto deliberadamente. Entretanto, enquanto parece óbvio que o Judaísmo apoia o aborto justificável, existem certas sanções também para aquele que tenha atingido uma mulher grávida, causando-lhe um aborto, sem ter tido essa intenção(3). Isto quer dizer que nem todas as citações rabínicas consideram o aborto um assassinato. O facto da Torá exigir um pagamento monetário daquele que provocou um aborto é interpretado por alguns Rabinos como indicando que o aborto não é um crime mortal(4) e por outros indicando meramente que a pessoa que o fez não será executada, embora se trate de um tipo de assassinato(5). Existe também discordância em relação à proibição do aborto ser Bíblica ou Rabínica. Não obstante, há concordância unânime de que o feto se tornaria um ser humano crescido e que, portanto, deverá haver um motivo muito forte para permitir o aborto.
Como uma lei geral, o aborto no Judaísmo só é permitido se existe alguma ameaça direta para a vida da mãe durante a gravidez ou no ato de dar à luz. Em tal circunstância, o bebê é considerado um rodef, perseguidor(6) da mãe, com o intento de matá-la. Não obstante, como explicado na Mishná,(7) se fosse possível salvar a mãe deformando o feto, por exemplo amputando-lhe um membro, o aborto estaria proibido. A despeito da classificação do feto como um perseguidor, uma vez que a cabeça do bebê ou a maior parte de seu corpo já tenha nascido, a vida do bebê tem o mesmo valor que a da mãe, não sendo permitido escolher uma vida entre as duas, pois se considera como se estivessem perseguindo um ao outro.É importante enfatizar que a razão da vida do feto estar subordinada à da mãe é ser ele a causa do que ameaça a vida da mãe, seja direta (por exemplo: devido a toxemia, placenta previa, ou posição de abertura) ou indiretamente (por exemplo: diabete exacerbada, doença de rim, ou hipertensão)(8). Um feto não pode ser abortado para salvar a vida de qualquer outra pessoa que não esteja diretamente ameaçada por ele, como no caso do uso de órgãos fetais para transplante.
O Judaísmo reconhece também fatores psiquiátricos e físicos ao avaliar a ameaça que o feto causa à mãe. Porém, o perigo físico ou emocional deve ser provável e sólido para justificar o aborto(9). O grau de doença mental que deve estar presente para justificar o fim de uma gravidez tem sido muito debatido por eruditos rabínicos(10), não havendo um consenso claro de opinião relativa aos critérios exatos para permitir um aborto em tais instâncias(11). Não obstante, todos concordam que, havendo probabilidade da gravidez fazer com que uma mulher se torne suicida, existem graus para permitir o aborto(12). Entretanto, vários peritos rabínicos modernos determinaram que, já que a gravidez induzida e as depressões pós-parto podem ser tratadas, o aborto não é autorizado(13).Como uma regra, a lei judaica não atribui valores relativos para diferentes vidas. Portanto, a maioria dos poskim (Rabinos qualificados para decidir assuntos da lei judaica) proíbe o aborto em casos de anormalidades ou deformidades encontradas num feto. O Rabino Moshe Feinstein, um dos maiores poskim do século passado, determina que até a amniocentese é proibida se for utilizada somente para avaliar defeitos de nascimento para permitir aos pais solicitarem um aborto. Todavia, um teste pode ser feito se uma atitude permitida resultar dele, como a amniocentese ou o exame dos níveis das proteínas-alfa do feto para uma melhor administração médica antes e depois do parto.
Enquanto a maioria dos poskim proíbe o aborto de "fetos defeituosos", o Rabino Eliezar Yehuda Waldenberg é uma notável exceção. O rabino Waldenberg permite o aborto de um feto, no primeiro trimestre, que nasceria com uma deformidade que o faria sofrer, bem como o aborto de um feto com um defeito letal, como o Tay-Sachs, até o sétimo mês de gestação(14). Os peritos rabínicos também discutem se o aborto é permitido para mães com rubéola e bebês com pré-natal que confirmam a Síndrome de Down.Há diferença de opinião relativa ao aborto por adultério ou em outros casos de fecundação por relação sexual com alguém proibido pela Bíblia. Em casos de estupro e incesto, a questão essencial seria o estado emocional exato da mãe para levar o feto a termo. Em casos de estupro, o Rabino Shlomo Zalman Aurbach permite à mulher usar métodos que previnam a gravidez depois da relação(15). A mesma análise usada em outros casos de danos emocionais poderia ser aplicada aqui. Já os casos de adultério exigem considerações adicionais no debate, com decisões judiciais variando entre proibição de abortar até a mitzvá de fazê-lo.(16)
Tratei de expor aqui a essência da abordagem judaica tradicional para o aborto. Contudo, cada caso é único e especial e os parâmetros que determinam a permissão do aborto dentro da halachá são sutis e complexos. É crucial lembrar que, em face de um paciente real, uma competente autoridade haláchica deve ser consultada em todos os casos.


Referências:
1 Embora exista discussão entre os Rabinos sobre o aborto ser uma proibição Bíblica ou Rabínica, todos concordam no conceito fundamental de que ele só é permitido para proteger a vida da mãe, ou em outras situações extraordinárias. A lei judaica não sanciona um aborto sem uma razão justificável.
2 Igros Moshe, Choshen Mishpat II: 69B.
3 Shulchan Aruch, Choshen Mishpat, 423:1
4 Ashkenazi, Rabbi Yehuda, Be'er Hetiv, Choshen Mishpat 425:2
5 Igros Moshe, ibid
6 Maimonides, Mishneh Torah, Laws of Murder 1:9; Talmud Sanhedrin 72B
7 Oholos 7:6
8 Vide Steinberg, Dr. Abraham; Encyclopedia of Jewish Medical Ethics, "Abortion and Miscarriage," para uma maior discussão sobre as indicações do aborto relativas à mãe.
9 Igros Moshe, ibid
10 Vide Encyclopedia of Jewish Medical Ethics, p. 10, para referências.
11 Vide Spero, Moshe, Judaism and Psychology, pp. 168-180.
12 Zilberstein, Rab. Yitzchak, Emek Halacha, Assia, Vol. 1, 1986, pp. 205-209.
13 Rab. Shlomo Zalman Aurbach e Rab. Yehoshua Neuwirth citados em English Nishmat Avraham, Choshen Mishpat, 425:11, p. 288.
14 Tzitz Eliezer, Volume 13:102.
15 Rab. Shlomo Zalman Aurbach e Rab. Yehoshua Neuwirth citados em English Nishmat Avraham, Choshen Mishpat, 425:23, p. 294.
16 Vide excelente capítulo em English Nishmat Avraham, Choshen Mishpat, 425 de Dr. Abraham Abraham, especialmente p. 293.

6.2.07

Inteligente e Correcto

Por Eliezer Cohen

Ser inteligente e correcto são dois conceitos com os quais convivemos diariamente. Cada um de nós, à nossa própria maneira, tenta viver de modo tal que reflicta tanto profundidade intelectual quanto comportamento virtuoso. Muitos acreditam que habilidade intelectual produz a acção correcta, e de facto, o indivíduo inteligente tem a oportunidade de avaliar suas acções para assegurar-se que o resultado será correcto.
Porém é possível que habilidade intelectual seja a base da acção correcta? E quanto àqueles que não foram abençoados com uma mente rápida? As pessoas mais lentas estão fadadas a ser "os perversos" da nossa geração?
Sobre este tópico, há uma famosa parábola judaica que ilustra claramente o relacionamento entre inteligência e integridade.
Certa vez, dois eruditos estavam sentados a discutir vários tópicos da Torá. O anfitrião trouxe uma chávena de chá a cada um dos distintos sábios. Em seguida, voltou com um prato contendo dois deliciosos biscoitos, um para cada visitante.
Um dos biscoitos era obviamente maior que o outro, e o menor deles estava um tanto esmigalhado. Cada um dos eruditos olhou para o prato e constatou a desigualdade. As regras da etiqueta exigem que a pessoa que se serve primeiro, como prova de educação, deve pegar no menor, demonstrando assim consideração e estima pelo amigo. Não somente isso, como também era costume que o erudito mais notável se servisse em primeiro lugar. No entanto, não seria de bom tom declarar-se um erudito mais importante, pois isso trairia a fachada de humildade que cada sábio mantém sobre si mesmo.
Cada um deles queria o biscoito maior, e portanto nenhum ousava servir-se primeiro.
Ambos os eruditos esperaram pacientemente que o outro pegasse o biscoito, Porém nenhum esticou a mão para apanhá-lo.
"Rabi Yankel, por gentileza, o senhor é um reconhecido erudito, queira servir-se primeiro."
"Não, meu caro Rabi Schmendel, sou como o pó de suas botas. Deve servir-se antes de mim."
E assim foi, cada qual tentando convencer o outro a servir-se em primeiro lugar.
Sentaram-se então em silêncio por alguns instantes. Finalmente, um dos sábios esticou a mão e agarrou o biscoito grande.
Enquanto o levava até a boca, o outro exclamou: "Não acredito que o senhor cometeu um acto tão inconveniente! O senhor, um verdadeiro erudito de Torá, de família tão distinta, como pôde comportar-se de maneira degradante, pegando o biscoito maior?!?"
"Ora, caro amigo, o que teria feito no meu lugar?"
" Se eu tivesse servido primeiro, obviamente teria pegado o biscoito menor" - explicou o amigo.
"Hummm" retorquiu o primeiro - "neste caso, do que reclama? Não recebeu o biscoito menor?"
A moral:
Vivemos segundo diversas regras e costumes. A diferença entre pessoas simples e homens inteligentes é que o simplório não tem os argumentos para justificar a sua transgressão. Uma pessoa inteligente pode fazer com que o seu erro não pareça ser um erro, e um indivíduo extremamente sagaz pode nos convencer que, não somente aquilo não foi uma transgressão, como na verdade foi um acto correcto. E uma pessoa excepcionalmente inteligente pode fazer-nos acreditar que, não somente nenhum erro foi cometido, e ele, não apenas é um homem íntegro, como na verdade aquilo foi feito única e exclusivamente para o nosso próprio benefício.
Durante a Inquisição Espanhola, muitos dos eruditos converteram-se ao Cristianismo, ao passo que as pessoas simples deram a vida para santificar o Sagrado Nome de D'us, sofrendo mortes horríveis e proclamando Shemá Yisrael enquanto a alma abandonava o seu corpo sofrido. Aquelas pessoas inteligentes convenceram a si mesmas que era melhor converter-se que morrer, que a sua conversão era apenas uma fachada. Os indivíduos mais simples não puderam convencer-se disso - a conversão era estritamente proibida.
Obviamente, D'us criou os homens com capacidades intelectuais variadas. Ele espera que nós, não importa se intelectualmente aguçados ou vagarosos, nos comportemos de maneira íntegra.
A nossa tarefa é não sermos levados por pessoas habilidosas que tentam fazer-nos acreditar que as suas acções são correctas. E mais ainda, cabe às pessoas realmente inteligentes não se deixarem convencer pela sua própria inteligência de que estão sempre correctas. Uma pá é uma pá, e um erro é um erro.
http://www.chabad.org.br/novidades/2006/dezembro/04_12_2006-02.htm

5.2.07

Deguel Israel - A Bandeira de Israel




Em 1948, depois de quase 2000 de exílio, o Estado de Israel foi reestabelecido como o Lar Nacional Judaico. A nova bandeira foi apresentada na ONU em 1949. A bandeira é símbolo do orgulho do retorno da Nação Judaica ao seu lar.Como a bandeira israelense foi escolhida? David Wolffsohn, que participou do Primeiro Congresso Sionista, em 1897, conta a história do nascimento da bandeira israelense:"A convite de nosso líder, Herzl, vim para a Basiléia para os preparativos para o Congresso. Entre muitos outros problemas que me ocupavam, havia um que continha algo da essência do problema judaico. Que bandeira seria pendurada no Salão do Congresso?

Então tive uma idéia. Temos uma bandeira, e é azul e branca. O talit (manto de orações), com o qual nos cobrimos quando rezamos: este é nosso símbolo.Vamos tirar o talit de sua sacola e vamos desenrolá-lo perante os olhos de Israel e os de todas as nações. Então encomendei uma bandeira azul e branca com a Estrela de David pintada.Foi assim que a bandeira nacional de Israel, que esteve no Salão do Congresso, surgiu."As faixas azuis acima e abaixo da Maguen David nos lembram o talit. Quando vemos a bandeira de Israel, nos lembramos da fé e das orações de muitas gerações de Judeus que esperaram o retorno ao seu Lar.

A Maguen David é um tradicional símbolo judaico. A estrela é composta por dois triângulos, um com a ponta para cima, outro para baixo. Um deles aponta para tudo que é espiritual e santo. O outro aponta para baixo, para tudo que é terreno e secular. Ao levar uma vida de Torá e mitzvot, o Judeu luta para unir o mundo espiritual ao terreno, o sagrado e o secular.A lenda nos diz que David, rei de Israel, enfeitava seu escudo com a estrela de seis pontas, por isso a estrela é chamada Maguen David.

4.2.07

O que é Tu B’Shevát

BOM DIA! Quando é o ano novo? Ficaria surpreso em saber que há 4 dias de Ano Novo no calendário Judaico? Este Shabat, sábado, (3 de Fevereiro) foi Tu B’Shevát (o décimo quinto dia do mês hebreu de Shevát) e o dia de Ano Novo para as árvores!

O que é Tu B’Shevát e Como é Celebrado?
O Talmud, no Tratado Rosh Hashaná, nos explica sobre os quatro Rosh HaShanás (Anos Novos) no calendário Judaico:
1) O primeiro dia do mês Hebreu de Nissán é o Ano Novo em relação à contagem dos anos no reinado dos Reis de Israel
2) O primeiro dia de Elul é o Ano Novo em relação à retirada do dízimo dos animais (Um em cada dez animais nascidos entre Elul do ano anterior e o início deste Elul eram doados ao Templo Sagrado)
3) O primeiro dia de Tishrei é o Ano Novo para o julgamento dos seres humanos: para a vida ou a morte, riqueza ou pobreza, doenças ou saúde, bem como para a contagem do Ano Sabático (Shemitá) e do Ano do Jubileu (Yovêl) para a Terra de Israel. Também a partir deste dia conta-se o período de 3 anos, a partir do plantio de uma árvore frutífera, nos quais não se pode comer os seus frutos (Orlá), bem como para
o cálculo dos dízimos que devem ser retirados das colheitas de grãos e vegetais
4) O dia 15 de Shevát é o Ano Novo para as árvores, com referência ao cálculo do dízimo que seria retirado de suas frutas, em prática na época do Templo Sagrado.

Tu B’Shevát é um dia festivo porque a Torá louva a Terra de Israel com referência às frutas das suas árvores, bem como às colheitas do seu solo: “Uma terra de trigo, cevada e uvas, e árvores de figo e romãs; uma terra de oliveiras e mel (de tâmaras)” (Devarim 8:8). E também: “... e deverão comer e se satisfazer e abençoar ao Todo-Poderoso, o seu D’us, pela boa terra que Ele lhes deu” (Devarim 8:10). O Povo Judeu alegra-se com as frutas, com a Terra e com o Todo-Poderoso que nos deu vida.

O dia de Tu B’Shevát é celebrado comendo-se as diversas espécies de frutos com as quais a Terra de Israel foi abençoada: tâmaras, romãs, figos, uvas e azeitonas.
Os cabalistas da cidade de Tsefat (Safed), em Israel, compilaram no século 16 um ‘Seder’ de Tu B’Shevát algo parecido com o Seder de Pessach, com meditações e explicações sobre as dimensões espirituais das frutas, junto com as suas bênçãos, músicas e os seus significados mais profundos.

O homem é comparado a uma árvore. No livro Pirkêi Avót (Ética dos Nossos Antepassados) está escrito o seguinte: “Uma pessoa cuja sabedoria excede os seus bons actos é comparada a uma árvore cujos galhos são numerosos, porém com poucas raízes. Um vento forte bate e acaba por arrancar a árvore do seu lugar. Entretanto, uma pessoa cujos bons actos excedem a sua sabedoria é comparada a uma árvore com poucos galhos, mas cujas raízes são numerosas. Mesmo se todos os ventos do mundo a açoitarem, não conseguirão movê-la do seu lugar (Pirkei Avót, capítulo 3, mishná 22)”.

Da mesma maneira que uma árvore necessita de solo, água, ar e luz solar, assim as pessoas precisam estar espiritualmente enraizadas e conectadas a uma fonte de nutrição. Água para as árvores, sabedoria da Torá para nós, como Moisés proclamou: “Possam os meus ensinamentos gotejar como o orvalho” (Devarim 32:2). Ar para as árvores e espiritualidade para nós, como declara a Torá: “D’us soprou a vida nas narinas do Homem” (Bereshit 2:7). Luz solar para as árvores e o calor da amizade e da comunidade para os seres humanos.
Feliz Ano Novo das Árvores a todos!

2.2.07

Pensamento da Semana

“Pode reclamar, porque as rosas têm espinhos, ou alegrar-se, porque os espinhos têm rosas!”

Porção Semanal da Torá: Beshalách

Shemót (Êxodus) 13:17 - 17:16

O Povo Judeu parte do Egipto. O Faraó arrepende-se de tê-los deixado partir, persegue-os, liderando a sua cavalaria de elite e um grande exército. Os Judeus rebelam-se e gritam com Moshe: “Não foi suficiente o que sofremos no Egipto? Por que nos trouxe aqui, para morrermos no deserto?” O Yám Suf, o Mar Vermelho,
abriu-se, os Judeus o atravessaram, os egípcios os perseguiram, o mar fechou-se e afogou todos os egípcios.
Moshe e os homens, Miriam e as mulheres, em separado, cantaram louvores de agradecimento ao Todo-Poderoso.
Eles chegam a Mará e rebelam-se por causa da água amarga que lá havia para se beber. Moshe atira uma determinada árvore para dentro da água, transformando-a em água potável. O Todo-Poderoso, então, fala aos Israelitas: “Se vocês obedecerem ao Todo-Poderoso, seu D’us, e fizerem o que é correcto aos Seus olhos, cuidadosamente observando os Seus mandamentos e cumprindo todos os Seus decretos, então não os afligirei com todas as doenças que trouxe ao Egipto. Eu sou D’us, Aquele que os cura”. (É por isto que a Hagadá de Pessach tenta provar que houve mais de 10 pragas no Egipto -- quanto maior o número de aflições que lá ocorreram, maior o número de doenças das quais estamos protegidos).
Depois os Israelitas rebelam-se novamente, alegando falta de comida; D’us envia-lhes codornizes e o maná (Uma porção dupla era dada às sextas-feiras para ser comida também no Shabat. No Shabat usamos duas halót para comemorarmos as duas porções de maná que D’us nos mandava naquela época). Moshe os instrui sobre as leis do Shabat. Na localidade de Refidim rebelam-se novamente, exigindo água. D’us ordena Moshe a bater numa pedra, que então jorra água para saciar a sede do povo. Finalmente, a porção conclui com a guerra contra Amalêk e o mandamento de “exterminar a lembrança de Amalêk da face da Terra”.

Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin
A Torá declara: “E quando o Faraó expulsou o Povo Judeu, o Todo-Poderoso não os guiou pelo caminho das terras dos Filisteus, que era o mais curto, pois disse o Todo-Poderoso:
‘Quero evitar que não se arrependa o Povo (de ter saído do Egipto) ao ver guerra e queiram retornar ao Egipto’. (Shemót 13:17)”. A grande pergunta que se faz sobre este versículo é: Como é possível que após terem sofrido tanto no Egipto e após todos os milagres que D’us fez para eles, o Povo Judeu ainda pudessem considerar a hipótese de voltar ao Egipto?
O Rabino Yehuda Leib Chasman (Lituânia, 1869-1935) explica, baseando-se neste versículo, que o homem é constituído de um corpo e de uma alma. Mesmo a pessoa estando num nível espiritual muito elevado, ela pode cair. Portanto, para manter-se no seu patamar, precisa estar sempre vigilante.
Num determinado momento, a pessoa pode estar muito elevada. Entretanto, se entra em pânico, pode se comportar de uma maneira bastante imatura e pôr tudo a perder. Era isto o que poderia ter acontecido naqueles momentos pós-saída do Egipto: mesmo tendo uma consciência muito grande da bondade Divina, o Povo Judeu poderia pôr tudo a perder muito rapidamente por causa do medo de uma
guerra com os Filisteus.
Este mesmo conceito sobre a instabilidade espiritual de uma pessoa também nos dá uma grande esperança, conclui o Rabino Yehuda Leib. Se tivermos a possibilidade de cair rapidamente, podemos nos erguer rapidamente, também. Nunca nos desesperemos quando sentirmos que estamos num nível baixo.
Se estivermos sinceramente decididos a empreender uma ‘escalada’ espiritual, temos a capacidade de nos colocarmos instantaneamente de volta no caminho da vida. Não perca tempo com auto-piedade se sentir que não está no nível que gostaria de estar. Tenha consciência, que pode conseguir atingir grandes alturas a qualquer momento - logicamente, se tiver a vontade e a determinação de fazê-lo! Mãos à obra!
SHABAT SHALOM

1.2.07

Europa em perigo de extinção


Adeus Europa
Num recente artigo do Jerusalem Post em tom gritante mas factualmente negro, o colunista Michael Freund apresentou factos que representam muito possivelmente o maior problema na Europa actual: o perigo de extinção. Essa extinção não é a de uma qualquer espécie animal rara, mas da própria Europa, da sua identidade tal como a conhecemos actualmente. E que tradicionalmente tomamos como a “moderna identidade europeia” forjada nos últimos séculos, desde talvez a Revolução Francesa.
O primeiro dos problemas apresentados por Freund é a evidente diminuição da fertilidade na população europeia. Um estudo da Rand Corporation revelou que as taxas de fertilidade estão em queda e os tamanhos das famílias a encolherem de década para década. Em todos os estados-membros da União Europeia, as taxas de fertilidade estão abaixo do valor de 2,1 filhos por mulher, o limiar absoluto de manutenção populacional. E este desastre silencioso alastrou por toda a Europa em apenas 20 anos.
No fundo da escala estão a Espanha, a Itália e a Grécia, países que há 30 anos tinham mesmo algumas das mais altas taxas de fertilidade do Velho Continente. Hoje, apresentam um valor a rondar os 1,3 filhos por mulher. Só no caso de Itália, a manter-se esta situação, a população descerá em mais de 1/3 nos próximos 25 anos. Na Alemanha, 30% das mulheres simplesmente não têm filhos. Nenhum.
Em 15 dos 27 estados da EU o número total de mortes anuais já excede o número de nascimentos. Na Europa, em termos absolutos, em 2004, morreram mais pessoas do que as que nasceram. Os cemitérios enchem enquanto as maternidades e os infantários têm cada vez menos demanda.

A par desta tragédia, um outro facto acontece paralelo e que significa só por si uma extrema alteração no panorama global da Europa: ao mesmo tempo que os Europeus caminham em direcção ao declínio, a população muçulmana na Europa Ocidental está em larga expansão.
Como refere Mark Steyn no seu recente livro América Alone, “Qual é a população muçulmana de Roterdão, Holanda? Quarenta por cento. Qual é o nome de bebé mais popular na Bélgica? Mohammed. Em Amsterdão? Mohammed. Em Malmoe, na Suécia? Mohammed.” Em Inglaterra e Gales há hoje mais bebés chamados Mohammed do que George. Referindo-se a este facto com a tradicional ironia britânica o Daily Telegraph, disse que ele reflecte a diversidade étnica da população.
Se é verdade que com estes dados, a diversidade é a verdade mais evidente e até colorida, por outro lado também representa já a curto e inexoravelmente a longo prazo, uma mudança profunda em toda a paisagem humana do Continente.
E essa mudança cada vez mais veloz pode não ser – e não creio que realmente seja – a favor da Europa que conhecemos hoje. O Islão é, sem dúvida, a religião que mais cresce na Europa (e, já agora refira-se que também nos EUA). Projecções de um departamento federal dos EUA indicam que os 20 milhões de muçulmanos na UE, irão duplicar até 2025.
Como notou o autor Bruce Bawer em While Europe Slept (Enquanto a Europa Dormia, muito a propósito), em várias regiões da Europa Ocidental, 16 a 20% das crianças são hoje muçulmanas. Ou seja, num par de gerações vários estados europeus terão maiorias islâmicas.
Que implicações têm todas estas realidades no futuro da Europa? A tendência, numa sociedade onde desponta uma nova minoria em rápido crescimento, é o consequente crescimento das reclamações políticas e sociais dessa minoria. Aos poucos haverá mais e mais parlamentares representantes da minoria nos parlamentos da Europa (actualmente já existem em países como a França, Reino Unido ou Alemanha).
Mesmo num quadro em que os governos europeus decidam agir em favor da reversão da situação actual, e o consigam realizar, o que parece altamente improvável, os seus primeiros e discretos resultados aparecerão várias décadas antes de os seus efeitos sejam realmente sentidos.
E no entretanto, por força da sua influência crescente, a lei nacional tenderá por um lado a considerar acomodar costumes e regras da lei islâmica, actualmente não muito bem vistos pela sociedade europeia, como sejam o papel da mulher e da família. Por outro, os líderes políticos serão forçados pela opinião pública tradicional a ignorar a demanda dos seus cidadãos muçulmanos em reconhecer esses novos costumes como lei.
Inevitavelmente, o crescimento de uma cultura tomada na maior parte do Continente como “externa” e em parte “hostil” ou até “contrária” à cultura europeia irá causar reacções de oposição da população tradicional dos países. E como a evolução da situação é, inexoravelmente, para o crescimento da população muçulmana e decréscimo acentuado da população original, o panorama será certamente um conflito aberto. Num termo: guerra civil.
Para Israel, isso significa apenas o consumar de um processo já actualmente em curso: a tendência do alinhamento da Europa com o Mundo Árabe e a oposição a Israel. Até já há franjas da classe política na Europa que discutem (mesmo que discretamente) a legitimidade da existência de Israel.
Todo o panorama externo da Europa irá mudar. Já vemos isso hoje. O tradicional alinhamento Europa-EUA em muitas questões internacionais já não é hoje um facto seguro. A tendência será um desvio cada vez maior nos pontos de vista dos dois lados do Atlântico.
Imaginemos o que aconteceu aos índios na América, os africanos ou os indianos, com a chegada repentina dos brancos há alguns séculos atrás. Toda as culturas foram eternamente e drasticamente alteradas. Secções importantes desses povos pura e simplesmente desapareceram. Agora imaginemos um panorama idêntico mas em que é a cultura europeia a que está sob um implacável e imparável ataque. Toda a História é, sem dúvida uma eterna transformação. Nada é estático. Chegou a hora da Europa passar para a parte decrescente do gráfico.
Como concluiu sarcasticamente Michael Freund a sua crónica: se nunca viu a Torre Eiffel ao vivo, é melhor não adiar muito. É que, antes que dê por isso, ela pode bem virar um minarete.


http://claramente.blogs.sapo.pt/

TU BISHVAT


Porque a nossa tradição judaica conservou no nosso calendário a festa de Tu Bishvat, também designada por “Rosh Hashaná das árvores”? Os nossos mestres respondem-nos que o que faz a importância desta data é sobretudo o exemplo que a árvore nos inspira.


Três partes compõem uma árvore: raízes, tronco e frutos.

E assim também é o homem.


Raízes

Ninguém as vê. Estão escondidas sob a terra, mas paradoxo estranho, é destas que a árvore tirará toda a sua força e vitalidade. Quanto mais fortes forem, mais forte será a árvore, sem que nenhum vento poderá arrancá-la da terra. Para um judeu, a existência baseia-se no mesmo princípio. As raízes são a fé que o liga a D’us e lhe dá forças para viver. Esta fé não é dominada pelo intelecto. Como as raízes, está embutida na consciência judaica e é a expressão mais sublime da sua união com D’us. É o que explica e ensina o Tanya (livro de base da tradição chassídica, escrito pelo Rabi Shneor Zalman de Liady): mesmo os judeus que praticamente nunca estudaram, estão prontos para oferecer a sua vida em sacrifício, em vez de se converter. Nenhum estudo justifica o seu gesto. Só a fé os leva a agir assim. E, como a árvore de raízes sólidas, a nossa história está sempre viva, porque a fé dos nossos pais está viva.


Tronco

É o que simboliza, para um judeu, a Torá e a prática das mitzvot, que devem ocupar a maior parte de sua existência. É através destas, como um tronco que é parte evidente da árvore, que o judeu pode se impor e se definir.


Frutos

No entanto, a plenitude de uma árvore só será atingida quando começar a dar frutos. Para que serviriam as raízes profundas e um tronco imponente, se nada vivo saísse dos mesmos? É pelos frutos que vemos se a árvore está realmente viva. A nossa vida judaica também deve seguir este exemplo. Não podemos contentar-nos com um judaísmo cuja mera preocupação seja a nossa própria pessoa. Como a árvore, devemos produzir frutos, isto é, influenciar as pessoas a nossa volta, quer estejam distantes ou próximas, para que o judaísmo que as compõe também se transforme em árvores sólidas, com futuro promissor.


O legado de Simon Wiesenthal

por Jaime Spitzcovsky*

Um homem dedicado a décadas de luta e responsável por uma herança indelével na história. Simon Wiesenthal, morreu em Setembro passado, aos 96 anos, dedicou a sua vida à busca por justiça e à defesa dos direitos e da dignidade humana. A sua fama de "caçador de nazistas" percorreu o planeta, assim como a sua mensagem universal para o futuro, sobre a importância de preservar a memória do Holocausto, combater o ódio e evitar novos genocídios no mundo.

Com o falecimento de Wiesenthal, um sobrevivente do Holocausto, foi-se um símbolo e um porta-voz da batalha por não esquecer horrores do passado e por impedir a sua repetição no futuro.
"Eu lembro-me intensamente de quando conheci Simon Wiesenthal em Maio de 1997, em Viena, bem no começo do meu primeiro mandato como secretário-geral", relatou Kofi Annan no seu discurso, numa homenagem em Nova York, dias depois da morte do "caçador de nazistas". "Embora ele tivesse uma idade bastante avançada, fiquei marcado pela tremenda energia com que levava adiante o seu trabalho. Impressionou-me também a sua capacidade de manter na sua mente, ao mesmo tempo, memórias de um passado terrível e esperanças por um futuro melhor".
As palavras de Kofi Annan soaram-me muito familiares. Também me lembro claramente do momento em que ouvi, pela primeira vez, a voz de Wiesenthal. Falávamos ao telefone, quando ele me perguntou: "Você consegue chegar a Viena na quinta-feira?". Respondi sim, de imediato. Corria o ano de 1992 e eu morava em Moscovo, onde trabalhava como correspondente da Folha. Obtive o telefone do Centro de Documentação Judaica, quartel-general da luta de Wiesenthal na capital austríaca, e disquei o número. Uma secretária atenciosa, depois de eu me apresentar, passou o telefone ao "caçador de nazistas". A sua proposta de nos reunirmos na Áustria, dentro de poucos dias, soou como música para mim. Mal desliguei, passei a arrumar a mala e a preparar a logística da viagem.
Em meio à intensa cobertura da desintegração do império soviético, decidi tentar entrevistar Wiesenthal. Fui guiado não apenas pela sensibilidade jornalística. Não tinha dúvidas sobre o interesse que a conversa despertaria e sobre o espaço que esta obteria no jornal. Ganhou uma página inteira na nobre edição dominical. Queria conversar com Wiesenthal para ter a sua orientação e, sobretudo, inspiração para como lidar pessoalmente com uma sensação inédita para mim: a proximidade, muito intensa e concreta, de lembranças do Holocausto e da II Guerra Mundial, por conta de minha vivência em Moscovo e em regiões da Europa oriental. Claro que tinha uma forte noção dessa tragédia histórica, por meio de relatos familiares e de estudos, mas era diferente entrar em contacto mais directo com as marcas do passado naquele cenário europeu.
Pude, por exemplo, ter acesso e manusear os livros de registro de prisioneiros de Auschwitz, que estavam em arquivos soviéticos recém-abertos. Era impressionante e horripilante ver a maneira metódica como os nazistas tratavam as suas vítimas. Numa outra reportagem, acabei por conhecer - e tornando-me amigo pessoal - do general Vassily Petrenko, um dos comandantes do Exército vermelho que libertaram o campo de extermínio de Auschwitz. Visitei também Babi Yar, uma ravina em Kiev, capital da Ucrânia, onde os nazistas assassinaram milhares de judeus.
Conviver com os russos de idade mais avançada significava ouvir as experiências trágicas impostas pela II Guerra Mundial. Também fui envolto por reminiscências daquele período quando realizei uma viagem por ex-repúblicas soviéticas, em busca de informações sobre os meus antepassados, e para conhecer terras de onde vieram os meus avós. Em solo bielorusso, mais precisamente na região de Pinsk, localizei a casa onde, durante a guerra, havia morado um primo de meu avô, que se instalou posteriormente em Israel. Naquela construção humilde, vivem hoje camponeses cristãos que, de início, receberam a mim e a meus pais com muita desconfiança. Quebrado o gelo inicial, demonstraram hospitalidade. Um dos meus anfitriões levou-me para dar uma volta pelo vilarejo e, quando passávamos por um terreno bastante irregular, ele avisou-me: "Caminhe com mais cuidado, estamos sobre uma vala comum onde os nazistas enterravam as suas vítimas".
Todas essas experiências intensificaram em mim a já existente sensação de comprometimento com os esforços para preservar a memória do Holocausto e de comprometimento, também, com as iniciativas por justiça e por combate ao ódio e a genocídios. Conhecer Wiesenthal tornou-se imperioso. Entrei no acanhado Centro de Documentação Judaica de Viena e logo fiquei impressionado com as pilhas de livros e documentos que dominavam aquelas três salas. O espaço escasso era ainda dividido por Wiesenthal e uma equipe de três funcionários. Na rua, o quartel-general era denunciado apenas pela presença de um policial armado à porta do prédio. A protecção era consequência de uma bomba que havia explodido em Junho de 1982 à porta da casa de Wiesenthal. O autor do ataque, um alemão, acabou preso e condenado a cinco anos de prisão. Também foram detidos vários neonazistas austríacos envolvidos no atentado.
Quando ouvi as palavras de Kofi Annan sobre Wiesenthal, lembrei que eu havia guardado a mesma impressão do "caçador de nazistas": um dínamo de vitalidade e de lucidez, apesar da idade avançada. Mesmo depois de ter completado 90 anos, Wiesenthal frequentava o seu local de trabalho diariamente, com uma impecável pontualidade. O trabalho, no entanto, havia mudado. Em vez de mergulhar nas investigações que o mobilizaram durante décadas e resultaram na prisão de mais de mil criminosos de guerra, Wiesenthal passou a se dedicar, num sinal dos tempos, a passar o seu rico e vasto arquivo para o computador.
Wiesenthal nasceu em 31 de dezembro de 1908, em Buczacz, na região da cidade de Lvov, hoje parte ocidental da Ucrânia. O anti-semitismo modelou muitos momentos de sua juventude, como quando tentou ingressar no Instituto Politécnico de Lvov. Foi barrado por conta das cotas impostas a estudantes judeus. Mas conseguiu se formar engenheiro pela Universidade Técnica de Praga, em 1932. Quatro anos mais tarde, casou-se com Cyla Mueller e passou a trabalhar num escritório de arquitectura, em Lvov. A cidade, um importante pólo da vida judaica na Europa oriental, foi ocupada pelos soviéticos em 1939, após Hitler e Stalin, por meio de um pacto de não-agressão, decidirem dividir a Polónia de então. Com a chegada dos comunistas, começaram os expurgos de "elementos burgueses e contra-revolucionários". O padrasto e o irmão de Wiesenthal foram vítimas da perseguição. O jovem arquitecto teve de fechar o seu negócio e trabalhar numa fábrica. Conseguiu escapar da deportação para a Sibéria, junto com sua mulher e mãe, ao subornar um comissário da NKVD, antecessora da famigerada KGB.
Em 1941, após Hitler romper o pacto de não-agressão com a URSS, os nazistas chegaram a Lvov. Um novo pesadelo se abateu sobre os Wiesenthal. A mãe de Simon, em Agosto de 1942, foi enviada ao campo de extermínio de Belzec. Já em Setembro daquele ano, uma trágica constatação: os nazistas haviam assassinado a maioria dos familiares de Simon e de sua mulher. No total, 89 integrantes da família foram massacrados.
Cyla sobreviveu graças a um acordo de Simon com a resistência polaca. O arquitecto fez e entregou mapas, úteis para operações de sabotagem, dos entroncamentos das estradas de ferro. Em troca, a sua mulher recebeu documentos falsos, transformando-a na polaca "Irene Kowalska", que viveu em Varsóvia dois anos, depois de ser retirada do campo de concentração com ajuda da resistência.
Simon Wiesenthal passou por diversos campos de concentração. Foi libertado em 5 de Maio de 1944, quando as tropas norte-americanas chegaram a Mauthausen, na Áustria. A sua saúde era extremamente precária. Estava à beira da morte.
No final de 1945, Simon e Cyla se reencontraram. Ambos achavam que o outro cônjuge tinha morrido. No ano seguinte, nasceu Pauline, filha do casal. Saúde restaurada e família reestruturada, Simon Wiesenthal mergulhou na tarefa de recolher provas sobre as atrocidades nazistas para serem usadas nos julgamentos de criminosos de guerra. Também se dedicou a ajudar sobreviventes e refugiados em solo europeu.
Em 1947, após encerrar sua colaboração com os norte-americanos, Wiesenthal e mais 30 voluntários criaram o Centro de Documentação Histórica Judaica em Linz, na Áustria, também com o intuito de recolher evidências e informações sobre o nazismo e os seus seguidores. O trabalho incansável daqueles idealistas foi duramente golpeado pelo acirramento da Guerra Fria, já que Washington e Moscovo, mobilizadas na sua disputa, demonstravam cada vez menos interesse em perseguir criminosos de guerra. O centro de Linz acabou por fechar, em 1954, quando os seus arquivos migraram para o Instituto Yad Vashem, em Jerusalém. No entanto, no ano anterior, Wiesenthal havia recebido uma informação sobre o paradeiro de Adolf Eichmann, o coordenador da "Solução Final". Ele vivia, sob nome falso, em Buenos Aires, e não em Damasco, como muitos acreditavam. O "caçador de nazistas" passou a informação a Israel. Agentes israelitas capturaram Eichmann em solo argentino, em 1960, e levaram-no a julgamento em Israel. Foi enforcado em 31 de Maio de 1961.
"Busco justiça, não vingança", costumava dizer Wiesenthal. Sobre a sua motivação, ele afirmava: "Quando a história olhar para trás, quero que as pessoas saibam que os nazistas não puderam matar milhões de pessoas e ficar impunes". Ele também escreveu o seguinte: "Sobreviver é um privilégio que significa obrigações. Pergunto sempre a mim mesmo, o que posso fazer por aqueles que não sobreviveram. A resposta que achei para mim (e que não precisa necessariamente ser a mesma para todo o sobrevivente): eu quero ser o seu porta-voz; quero manter a sua memória viva e assegurar que os mortos sobrevivam naquela memória".
Encorajado pela captura de Eichmann, Simon Wiesenthal decidiu reabrir o Centro de Documentação Judaica, agora em Viena. Na lista dos quase 1,1 mil criminosos de guerra que ele levou à Justiça, está, por exemplo, Karl Silberbauer, responsável pela prisão da menina holandesa, Anne Frank. Em 1963, quando localizado, o ex-homem da Gestapo trabalhava na polícia austríaca.
Os tentáculos de Wiesenthal chegaram ao Brasil, com a captura de Franz Stangl, que foi comandante dos campos de concentração de Sobibor e Treblinka, na Polónia. A investigação durou três anos. Stangl foi extraditado para a Alemanha em 1967 e, condenado à prisão perpétua, morreu no cárcere. Outro caso célebre ocorreu em solo norte-americano. Certa feita, Wiesenthal foi aos Estados Unidos para divulgar o lançamento do seu livro de memórias. Na viagem, anunciou ter localizado, em Nova York, Hermine Ryan, que supervisionou a matança de centenas de crianças no campo de Majdanek. Extraditada para a Alemanha em 1973, foi julgada e condenada à prisão perpétua.
Em 1977, foi criado o Centro Simon Wiesenthal, organização judaica que se transformou em referência internacional nos esforços para preservar a memória do Holocausto, defender direitos humanos e promover acções contra o racismo, anti-semitismo, genocídio e terrorismo. Conta com mais de 400 mil famílias como filiados, mantém a sua sede em Los Angeles e escritórios em Nova York, Toronto, Miami, Jerusalém, Paris e Buenos Aires.
A obra de Wiesenthal, portanto, continua. Prosseguem buscas por criminosos de guerra. Reforçam-se as iniciativas por organizar e divulgar informações relativas às causas que modelaram a acção de uma das figuras mais marcantes das últimas décadas. Simon Wiesenthal morreu em 20 de Setembro de 2005, enquanto dormia no seu lar, em Viena, e foi enterrado em Herzlya, Israel.

* O jornalista Jaime Spitzcovsky é editor do site www.primapagina.com.br.
Foi editor internacional e correspondente em Moscovo e em Pequim.