31.5.08

O REI SEM MORADIA

"Havia um rei que queria construir um palácio, mas não sabia exactamente em que cidade estabeleceria o centro do seu reinado. Para procurar um lugar apropriado, decidiu visitar as cidades, para ver como seria recebido pelos seus habitantes. Quando chegou á primeira cidade, esperava que todos os moradores corressem alegremente para recebê-lo, mas ao contrário, encontrou as ruas desertas e as pessoas trancadas dentro de suas casas. O rei então descobriu o motivo: a maioria das pessoas daquela cidade trabalhava de maneira desonesta, e por isso temiam que o rei fosse morar entre eles, pois seriam obrigados a abandonar a sua vida de ilegalidades.

O rei não desistiu, foi até uma segunda cidade, mas novamente ninguém o esperava na rua. Desapontado, pensou em desistir, mas explicaram-lhe que naquela cidade as pessoas não pagavam impostos, e portanto não queriam o rei por perto, afinal, não pretendiam mudar o seu estilo de vida.

Finalmente, após passar por uma porção de cidades onde as pessoas não queriam a sua presença, finalmente chegou a um lugar onde foi recebido por uma grande multidão, que cantava e dançava alegremente. As pessoas desta cidade sabiam que a chegada do rei traria mudanças ao seu quotidiano, e isto seria um pouco difícil no início, mas também sabiam que certamente o rei investiria na reconstrução da cidade, surgiriam novos empregos e a situação melhoraria. Não tinham nada a perder, ao contrário, sabiam que a presença do rei traria apenas coisas boas para eles. O rei, vendo a recepção calorosa daquelas pessoas, decidiu que seria naquela cidade que ele construiria o seu palácio e moraria para sempre"

D'us ofereceu a Torá para todos os povos, mas a maioria não se interessou, pois entenderam que a Torá significaria mudanças nas suas vidas. Apenas o povo judeu recebeu alegremente a Torá, e aceitou sobre si a responsabilidade de mudar os seus actos, pois entendeu que todas as mudanças seriam para melhor.
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Nesta semana começamos o quarto livro da Torá, Bamidbar, que significa "No deserto", pois neste livro estão descritas as inúmeras viagens e acontecimentos durante os 40 anos do povo judeu no deserto. E assim começa a Parashá desta semana, Bamidbar: "E D'us falou com Moshé no deserto do Sinai..." (Bamidbar 1:1). Se o povo judeu havia saído do Egipto e caminhava em direcção à terra de Israel, é óbvio que estavam no deserto. Então porque a Torá precisa de dizer que D'us falou com Moshé no deserto?

Responde o Midrash (Torá Oral) que quando D'us quis entregar a Torá, Ele foi até ao mar, mas o mar fugiu, como está escrito: "E o mar viu e fugiu" (Salmos 114:3). Então Ele foi até as montanhas, mas as montanhas também fugiram, como está escrito: "As montanhas saltaram como carneiros" (Salmos 114:4). Apenas no desolado deserto D'us foi bem recebido e pôde entregar a Torá ao povo judeu. O que quer dizer este Midrash?

Cada pessoa tem o seu estilo de vida e os seus costumes, e é difícil mudar. Todos entendem que se queremos mais músculos é preciso frequentar o ginásio, suar e
esforçar-se. Para ser um campeão, é necessário horas diárias de treinamento e uma vida disciplinada, abrindo mão de muitas coisas. Porém, quando chega na área espiritual, as pessoas pensam que podem crescer e melhorar sem esforço, sem dedicação, sem abrir mão de nada na vida. Pensam que para ser uma boa pessoa não é necessário nenhum investimento.

Muitos de nós conhecemos pessoas aparentemente "religiosas", que usam Kipá na cabeça e frequentam alguma sinagoga, e por isso esperamos deles um comportamento diferente, mas muitas vezes nos decepcionamos. A nossa reacção imediata ao ver um religioso fazendo algo errado é dizer "Mas isso é a Torá? Isso é tudo o que a Torá pode fazer por alguém? Pensei que a Torá podia mudar as pessoas, transformá-las em pessoas melhores, mas agora eu vejo que não!". Este pensamento é equivocado, pois não podemos confundir o judeu e o judaísmo. O judaísmo é muito maior do que a maioria dos judeus que vamos encontrar em nossas vidas.
Ensina o Rav Yssocher Frand que é por isso que a Torá foi entregue no deserto, no meio do nada, na desolação, para nos ensinar que a única maneira de conseguir mudar na vida, se tornar uma pessoa melhor, é esvaziandoo nosso conteúdo anterior, isto é, querendo de verdade mudar, mesmo que isso implique em abrir mão de certos comodismos. É aceitar o que a Torá tem para nos ensinar, e não seguir apenas o que nos interessa na Torá.

Se alguém quer procurar um verdadeiro modelo de judeu, basta olhar para grandes rabinos, tais como o Chafetz Chaim ou o Rav Moshe Feinstein. Porque eles chegaram a ser tão grandes? Pois se fizeram como desertos, isto é, tiveram uma atitude diante da Torá de "mude-me, transforme-me numa pessoa melhor, eu estou disposto às mudanças". Eles aceitaram receber a Torá incondicionalmente, pois sabiam que a Torá os transformaria em pessoas melhores.

Porém, a maioria de nós não se comporta como deserto, pois não estamos realmente dispostos a mudar as nossas vidas, a abrir mão dos nossos costumes. Muitos recebem sobre si viver uma vida de Torá e Mitzvót, mas aceitam nos seus próprios termos, não nos termos de D'us, causando com isso decepções nas pessoas. O local da entrega da Torá ensina-nos que sem estar dispostos a mudar de verdade, a abandonar conceitos errados para aprender os certos, sem escutar os ensinamentos da Torá de maneira sincera, podemos até crescer, mas certamente nunca chegaremos ao nosso máximo potencial espiritual.

29.5.08

Porção Semanal: Bamidbar


Bamidbar 1:1 - 4:20


A Parashá Bamidbar, a primeira porção do quarto livro da Torá, está principalmente envolvida com o recenseamento do povo judeu feito no segundo mês de seu segundo ano no deserto. Após relacionarem os líderes das doze tribos de Israel, a Torá apresenta os totais de homens entre as idades de 20 e 60 anos para cada tribo, sendo que a contagem totalizou 603.550.
A estrutura do acampamento é então descrita, com a tribo de Levi no meio, guardando o Mishcan, Tabernáculo, e cercada pelas doze tribos de Israel, cada uma na área que lhe foi designada. É feita a designação da tribo de Levi como os líderes espirituais do povo judeu, e o seu próprio censo é realizado, à parte do restante de Israel.
A porção da Torá conclui com as instruções dadas à família de Kehat, o segundo filho de Levi, pelo seu papel em lidar com as partes mais sagradas do Mishcan.

Mensagem da Parashá

Na porção desta semana de Bamidbar, encontramos um Midrash fascinante no primeiro versículo: "E D'us falou a Moshê no deserto do Sinai." O Midrash explica que a Torá foi outorgada em associação com três coisas - fogo, água e no deserto.
O Rabi Meir Shapiro dá uma bela explicação sobre a importância destas três coisas. Explica que o traço de carácter que destacou o povo judeu desde o início é o espírito de auto-sacrifício. Isso tem sido sempre evidente no nosso cumprimento das leis da Torá e na nossa aderência à sua fé.
Avraham, o primeiro dos nossos Patriarcas, permitiu-se ser atirado a uma fornalha ardente por ter quebrado os ídolos do seu pai, e foi salvo apenas por um verdadeiro milagre de D'us. Por este acto, ele conferiu a todas as gerações futuras a vontade e a força de morrer pelo seu judaísmo. Algumas pessoas poderiam argumentar que este foi um acto de heroísmo isolado de um indivíduo notável. Deveriam então considerar um segundo exemplo envolvendo todo o povo judeu. Quando o Mar Vermelho foi dividido, o povo judeu marchou como uma só nação para as águas enraivecidas, a um comando do Criador.
É claro que alguém poderia argumentar ainda que este teste ocorreu num período de tempo relativamente curto. Deixemos então que considerem o terceiro exemplo, o facto de toda a nação judaica voluntariamente entrar no deserto sem comida ou bebida, não sabendo quanto tempo teriam de lá permanecer. Fizeram isso apenas por amor e lealdade a D'us, como está escrito em Yirmiyáhu "Lembro-Me da afeição da tua juventude... como seguiram-Me no deserto, numa terra que não era semeada" (2:1).
Foi em virtude destes três testes - pelo fogo, água e deserto - que a Torá foi outorgada ao povo judeu como a sua possessão eterna. A disposição para desistir da vida pela sua crença em D'us, assegurou a nossa sobrevivência até aos dias de hoje.

24.5.08

Para pensar...

Boa semana! Fico espantado sobre quantas vezes, ao começar a responder a uma pergunta, sou interrompido, cortado. Fico em silêncio e aguardo que a pessoa finalize o seu pensamento. Porque deveria ser tão descortês como ela? A situação é realmente muito cómica: porque fazer uma pergunta se tudo o que ela quer é falar? Fale então! Na verdade, a sua interrupção economiza-me muito esforço pois nem preciso em me preocupar por dar uma resposta.
Recentemente encontrei nos meus arquivos as seguintes regras para uma boa comunicação.
Vale a pena imprimir este quadro e oferecer a alguém que as esteja violando!

Os 10 Mandamentos para evitar desentendimentos

1- Comece com algo positivo para criar uma atmosfera amigável.

2- Aprecie o ser humano com quem está falando. Ele/ela não é seu inimigo.

3- Respeite os desejos do seu oponente de fazer a coisa certa. Quando possível, dê-lhe um retorno positivo.

4- Almeje a paz. Se o seu oponente fizer erros ofensivos, não retalhe. Pelo contrário, ajude-o a corrigir-se.

5- Seja “Cabeça Aberta”. Se o seu oponente fizer uma boa objecção, admita-o (e desfrute este novo ponto de vista).

6- Não interrompa. Trate os outros da forma que gostaria de ser tratado. A longo prazo, isto lhe poupará tempo.

7- Não provoque o seu oponente, calcando as suas ‘feridas’.

8- Demonstre e não grite. Mantenha a discussão no plano intelectual. Não force a sua opinião através de gritos.

9- Dê o exemplo. Não espere que o seu oponente siga estas regras. Ensine-o com o seu exemplo.

10- Encerre resumindo o que tem em comum com o seu oponente, o que já será um bom começo para a próxima vez.

Pensamento da Semana

“A fragilidade de uma discussão é inversamente proporcional ao seu nível sonoro!

QUANDO CADA UM FAZ SUA PARTE

"Havia um rei que tinha um coração muito bondoso. Tudo o que ele havia feito no reino, até mesmo o menor detalhe, era a pensar em atender as necessidades dos seus queridos súbditos. Certo dia, o rei chamou um dos seus ministros e passou-lhe uma importante missão, que ele deveria cumprir para o seu próprio bem e para o bem de todo o reinado. E parte da missão era uma longa viagem, com uma série de dificuldades no caminho.

Para garantir que o ministro conseguiria cumprir a sua missão e vencer as dificuldades, o rei reuniu um enorme grupo de ajudantes para servi-lo em tudo o que ele necessitasse durante a longa jornada. Chamou os ajudantes e instruiu-os a fazer de tudo para ajudar o ministro, mas com a condição de que o ministro realmente estivesse a cumprir a missão designada. Se percebessem que o ministro não estava fazendo a sua parte, eles poderiam deixar de fazer a parte deles também.

Durante o caminho, os ajudantes seguiram fielmente as ordens do rei, esforçando-se ao máximo para dar ao ministro todas as condições necessárias para cumprir a sua missão. Porém, começaram a perceber que o ministro lentamente se desviava do propósito original, e começava a utilizar a ajuda do rei para o seu próprio benefício. Começaram a ficar irritados, mas continuaram a fazer a parte que lhes competia.

De repente, surgiu diante deles um grande rio. O ministro não sabia o que fazer, pois não sabia nadar, e não havia outra maneira de atravessar o rio. Os ajudantes prontamente atiraram-se á água e levantaram os braços, para que pudessem carregar o ministro e este pudesse chegar ao outro lado são e salvo. A travessia estava difícil, e os ajudantes começaram a cansar-se, mas faziam de tudo para cumprir as ordens do rei. Quando olharam para o ministro, perceberam que ele estava tranquilamente aproveitando o momento para tomar sol e relaxar, ao invés de fazer o trabalho que deveria fazer. Então um dos ajudantes não aguentou e falou:

- Senhor ministro, acho que o rei deixou bem claro as funções de cada um nesta viagem. O senhor tem uma missão, e nós fomos designados para auxiliá-lo a cumprir esta missão, ajudando em tudo o que fosse necessário. Porém, o rei deixou bem claro que o nosso trabalho estava condicionado ao cumprimento do seu trabalho. Até agora fizemos o nosso trabalho com dedicação, mas temos notado que o senhor não está mais empenhado em cumprir o seu trabalho. Agora eu pergunto: o senhor não tem medo de não fazer a sua parte, sabendo que, no meio da travessia do rio, nós podemos deixar de fazer a nossa parte? Será que você não tem medo de morrer afogado?

O ministro, entendendo o recado, voltou logo ao trabalho, e em pouco tempo conseguiu cumprir a sua missão com êxito"

O livro "Chovot Halevavót" (Deveres do coração) traz esta história para nos ensinar a refletir um pouco mais sobre o porquê de tantas vezes a natureza "se revoltar" contra a humanidade e causa grandes catástrofes. Será que são coincidências, ou são um reflexo dos nossos próprios actos?
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Na Parashá desta semana, Bechukotai, a Torá traz uma profecia condicional, que é aplicada de acordo com o comportamento do povo. A Parashá começa por descrever todas as Brachót (Bençãos) que podem recair sobre o povo judeu, e depois descreve todas as Klalót (Maldições). E qual é a condição? A condição é o primeiro versículo da Parashá: "Se vocês seguirem os Meus estatutos e guardarem os Meus mandamentos, e os cumprirem..." (Vayikrá 26:3). Isto é, se o povo seguir os caminhos de D'us recebem as Brachót, mas se não seguir então recebem as Klalót. E a Torá ensina-nos que esta profecia não valia apenas para a geração do deserto, mas também para cada um de nós, nos nossos dias.

Quando a Torá descreve a criação do mundo, no final de cada dia é feita a contagem: "Dia um", "Segundo dia", "Terceiro dia", e assim por diante. Mas no sexto dia da criação está escrito "O sexto dia". O que houve de especial neste dia, diferente do resto da criação? Explicam os comentaristas que no sexto dia foi criado o ser humano, fazendo com que toda a criação tivesse sentido, pois desde a estrela mais distante no céu até o peixe que vive nas águas mais profundas, tudo foi criado para servir o homem, para ajudá-lo, directa ou indirectamente, a completar o seu trabalho neste mundo.

Explica o livro Chovót Halevavót que uma das maneiras de chegarmos a entender o Criador é refletindo sobre toda a criação. Se prestarmos atenção, perceberemos que tudo no universo cumpre a função que D'us lhe atribuiu de maneira rígida, sem desvios. Os planetas seguem movendo-se em suas órbitas fixadas pelo Criador, o mar restringe-se aos limites fixados pela terra, o corpo humano comporta-se dentro dos seus limites, cada órgão trabalhando de acordo com a sua determinada função. Em todo o universo, a única criatura que se rebela contra o Criador e se afasta das suas funções é o ser humano.

Uma das maneiras de D'us nos despertar é "Midá Kenegued Midá" (medida por medida). Quando nos rebelamos e nos afastamos do nosso propósito, do nosso trabalho neste mundo, D'us adverte-nos fazendo com que as outras criações também comecem a sair dos seus limites. Quando as águas deixam os seus limites, como aconteceu no Tsunami, o resultado são 250 mil mortos. Quando a Terra deixa os seus limites, tremores destroem e arrasam cidades inteiras. Quando o corpo humano deixa de funcionar como deveria, a vida da pessoa termina. Uma das doenças mais temidas pela humanidade, o câncer, é causado quando a estrutura de uma célula se altera e sai dos seus limites, começando a se multiplicar e a espalhar-se de forma descontrolada por todo o corpo.

Tudo o que recebemos neste mundo é apenas para nos ajudar a cumprir o nosso objectivo, e quando nos desviamos, o mundo material traz-nos de volta ao caminho. O grande problema é que actualmente não paramos mais para refletir. Se abrirmos os jornais e revistas que noticiaram o recente terremoto ocorrido na China, onde o saldo foi de mais de 40 mil mortos, as frases mais frequentes são "Natureza ataca o homem", "A natureza descontrolada", "Desastre natural", isto é, toda a ênfase é dada nas explicações naturais do fenómeno. Porém, o principal é sempre esquecido, é sempre deixado de lado. As perguntas que cada ser humano deveria fazer ao ver uma tragédia deveriam ser "Porque motivo isso aconteceu?" e "Será que isso tem algo a ver comigo, com os meus actos?".

O universo inteiro foi criado para nos servir. Mas se não cumprimos o nosso papel, se não fazemos a nossa parte, D'us utiliza o universo como um lembrete, como um despertador. Podemos olhar estas catástrofes como ensinamentos para nos ajudar a mudar e melhorar os nossos actos, e assim poder receber as Brachót profetizadas na Torá. Ou podemos continuar a olhar para tudo como se fosse um grande acaso, esperando qual será a próxima tragédia natural que atingirá o mundo.

Rav Efraim Birbojm

O que é Lag BaÓmer e Como o Celebramos ?


De acordo com a cosmologia Judaica, o dia começa ao cair da noite. Por isso é que todas as nossas festividades começam à noite, depois do nascer das estrelas. Desde a passada quinta-feira à noite, 22 de maio, começou a festa de Lag BaÓmer.

Lag BaÓmer é o 33º dia do Ómer, o período entre Pessach e Shavuót. Neste dia, a praga que matava os discípulos de Rabi Akíva cessou. Também é o dia do aniversário de falecimento de Rabi Shimon Bar Yohái, o autor do Zôhar, o livro básico da Cabalá, o misticismo Judaico. A tradição transmite-nos, que na data do seu falecimento o dia estava repleto de uma forte luz proveniente da alegria sem fim pela sabedoria secreta que ele revelou aos seus alunos no Zôhar.

Em Israel, acendem-se enormes fogueiras por todo o país. Desde Pessach as crianças costumam juntar gravetos e panos velhos para construir piras de 5 a 10 metros de altura. Ao escurecer, as piras são acesas e o céu enche-se de chamas e fumo.

As fogueiras simbolizam tanto a luz da sabedoria de Rabi Shimon Bar Yohái trazida ao mundo como a vela de yórtzaitpela memória do seu falecimento. Cortes de cabelo e casamentos costumam ser feitos nesta data e há muitas festas, acompanhadas de música, danças e canções.

Porquê o nome Lag BaÓmer? Toda a letra hebraica tem um valor numérico. O alef é igual a 1, o bêt igual a 2 e assim por diante. As duas letras hebraicas lámed (30) e guímel (3) somam 33. Portanto, Lag BaÓmer significa o 33o. dia do Ómer. A palavra Ómer significa ‘feixe’ ou ‘ramos’ e refere-se à oferenda de feixes de cevada trazida ao Templo Sagrado no segundo dia de Pessach, marcando a colheita da safra de cevada. Deste dia até Shavuót (o aniversário da outorga da Torá, também conhecida como Festa da Colheita) é uma época chamada de Período do Ómer. É um período de reflexão sobre como encaramos e tratamos o nosso semelhante, e sobre as tragédias que nos aconteceram pelo ódio infundado (ou auto-justificado) entre os nossos irmãos Judeus.

22.5.08

Porção Semanal: Bechucotai

Vayicrá 26:3 - 27:34

Bechucotai, a última porção da Torá do Livro Vayicrá, começa por relacionar brevemente algumas das bênçãos e recompensas que o povo judeu receberá por seguir diligentemente a Torá e por cumprir as mitsvot.
A porção então muda para o assunto que a tornou famosa - a tochachá, a severa admoestação de D'us. Passo a passo, a Torá descreve as tragédias que acontecerão ao povo judeu, muitas vezes em termos descritivos, por eles terem abandonado a observância da Torá e mitsvot fornecendo uma lúgubre descrição daquilo que foi a nossa história até este dia.
A porção então continua para falar sobre a santificação dos presentes voluntários ao Templo Sagrado, e o processo pelo qual uma pessoa pode monetariamente redimir aqueles itens santificados para o seu próprio uso.
O Livro de Vayicrá conclui com uma breve discussão sobre os dízimos, incluindo uma porção que o fazendeiro deve ele próprio consumir dentro da cidade de Jerusalém, chamada ma'asser sheni.


Mensagem da Parashá

D’us esqueceu-se?

por Micah Gimpel


A porção desta semana da Torá contém a tochachá, a famosa advertência severa aos Filhos de Israel por não seguirem os caminhos que D'us ordenou. Entretanto, embora a longa passagem comece com uma nota negativa, termina de modo inspirador. D'us diz-nos que perdoará os Filhos de Israel assim que se arrependam e mudem o seu modo de agir. Esta secção enaltecedora começa com um interessante versículo: "Lembrar-me-ei do Meu pacto com Yaacov, e também do Meu pacto com Yitschac, e também do Meu pacto com Avraham lembrarei, e lembrar-me-ei da Terra" (Vayicrá 26:42). Linguisticamente, este versículo é bastante difícil por várias razões. Rashi cita um Midrash que faz uma pergunta óbvia e esclarecedora: porque a Torá usa a linguagem de "lembrar" referindo-se a Yaacov e Avraham, mas não em relação a Yitschac? Seria possível que D'us lembre-Se menos de Yitschac que dos outros? O Midrash, conforme foi citado por Rashi, dá uma resposta que requer alguns esclarecimentos. Declara que o Criador vê as cinzas de Yitschac como se fossem juntadas e colocadas sobre o altar; portanto, lembrar é desnecessário no caso de Yitschac. Esta declaração refere-se à akeidá, o quase-sacrifício, de Yitschac na mão do seu pai, descrito no final da Parashá Vayerá (Bereshit 22:1-19). Deixando-se de lado a aparente irrelevância da akeidá ao assunto em discussão, devemos em primeiro lugar entender sobre o que o Midrash está a falar, pois como se deve lembrar, Yitschac jamais foi sacrificado, e portanto nunca foi queimado sobre o altar. No último momento Avraham rescindiu a Sua ordem. Se é aquele o caso, como pode o Midrash dar uma resposta aparentemente tão erronea, falando sobre as cinzas inexistentes de Yitschac? A akeidá foi um tremendo teste de fé, que serve como paradigma da grandeza de Yitschac. Contando já 37 anos e maduro de carácter, Yitschac concordara em agir de acordo com a ordem de D'us e dar a sua vida. Este fiel atributo brotou da natureza passiva de Yitschac. Durante toda a sua vida, a sua grandeza foi demonstrada por sua falta de iniciativa. Voltou às mesmas cidades que Avraham havia visitado anteriormente, a fim de reforçar o que o seu pai já havia feito; poucas vezes fez algo por sua própria iniciativa. Foi durante a akeidá que a passividade de Yitschac mostrou-se mais fortemente, e isso caracteriza a sua vida inteira e toda a sua personalidade. O Criador, portanto, viu Yitschac como se efectivamente tivesse sido sacrificado sobre o altar, pois estava desejoso de entregar a sua vida até mesmo no último momento. As cinzas teriam representado a realização do sacrifício e permanecem perante D'us como um lembrete permanente da grandeza de Yitschac. Portanto, o Chofetz Chaim explica, como as cinzas de Yitschac são sempre vistas, não há necessidade de se lembrar. Este entendimento sobre Yitschac esclarece ambas as perguntas. A razão pela qual Yitschac não é "lembrado" no versículo é simplesmente porque jamais foi esquecido. É desnecessário lembrar algo que permanece constantemente no primeiro plano da consciência. Portanto, ao responder esta questão, o Midrash refere-se à akeidá – o meio pelo qual ele jamais fora esquecido – para expressar a grandeza de Yitschac, a sua passividade. Moshê diz aos Filhos de Israel os castigos que advirão pelos seus pecados, e como Ele os perdoará. As acções dos Filhos de Israel foram tão ofensivas que não podiam pedir misericórdia pelas suas iniquidades. Mas pelo mérito de Yitschac, que representa a grandeza pela falta de acção, os Filhos de Israel poderiam arrepender-se e pedir a D'us para deixar passar os seus horríveis pecados, concentrando-se na sua falta de acção. A passividade de Yitschac permite-nos sermos grandes através da nossa própria passividade. Evitarmos uma situação negativa pode por vezes ser equivalente a realizar um acto positivo.

20.5.08

Ahavat Yisrael


por Tzvi Freeman

Talvez nada seja tão prejudicial ao povo judeu quanto a idéia moderna de que o Judaísmo é uma religião. Se somos uma religião, então alguns judeus são mais judeus, outros menos judeus e muitos não são judeus de maneira alguma. É uma mentira. Somos todos um só. Se um judeu come carne de porco ou trabalha no Shabat, D’us não o permita, é como se todos nós estivéssemos a transgredir com ele. Quando o mesmo judeu estende a mão para dar uma esmola a um necessitado, para enrolar o tefilin no braço ou acender uma vela antes do Shabat – todos nós esticamos o braço juntos. Não somos uma religião. Somos uma alma. Uma única alma irradiando para muitos corpos, cada raio brilhando na sua missão única, cada corpo recebendo a luz segundo a sua capacidade, cada personificação desempenhando o seu papel crucial. Juntos, compomos uma sinfonia sem partes redundantes, nenhum instrumento mais vital que o outro. E o nosso caminho de volta àquela fonte original de luz é através de todos os raios que se estendem a partir dela.
Um corpo sadio é aquele no qual todas as partes trabalham em harmonia. Um povo judeu saudável é uma grande família, onde cada indivíduo está preocupado pelo outro como se fosse ele mesmo. Quando um judeu enfrenta tempos difíceis o outro suporta-o. Quando alguém é bafejado pela boa sorte, todos nós festejamos. Ninguém é rotulado pelas suas crenças, comportamento ou passado. Cada qual se apressa a fazer um acto de bondade para com o outro e fecha os olhos e ouvidos à vergonha do outro. E se, por algum motivo, um ofender o outro, então tudo é resolvido com sensibilidade. Ou talvez seja simplesmente esquecido – como a mão direita perdoa a esquerda por fazer algum gesto desajeitado. Eu não deveria amar a todos? Alguns não acham que os judeus deveriam selecionar outros judeus para tratamento especial. Na mente deles, não há sub-grupos de humanidade; todas as distinções deveriam ser extintas. Parece muito bom. O problema é que isso tem pouco a ver com as realidades da natureza humana. E menos ainda com a natureza do verdadeiro amor. Se alguém ignora as necessidades do seu próprio irmão, o que há por detrás da sua bondade para com os outros? Primeiro aprendemos a cuidar da nossa própria família e depois podemos realmente preocupar-nos com os outros. Este é o caminho que a Torá nos dá para atingirmos o oceano além do nosso próprio ego: primeiro encontre o rio do qual você é afluente, o local de onde vem, o destino ao qual deve se dirigir e o povo com quem você partilha aquela herança e jornada. Depois então poderá ir mais além. Isso funciona. Até nos guetos da Idade Média, mendigos não-judeus sabiam bater primeiro nas portas dos judeus.
1 As coisas não mudaram muito: quando o Peace Corps foi fundado nos Estados Unidos, 40% dos voluntários eram judeus
2. E um estudo em 1987 descobriu que quanto mais voluntários uma família oferece para causas judaicas, mais tende a oferecer também para causas não-judaicas.
3. Se pregássemos exclusivamente a universalidade, não haveria judeus para serem voluntários – teríamos desaparecido há muito tempo, juntamente com nossa mensagem de justiça social para o mundo.
Há um outro motivo para começar com o seu irmão judeu. Se não cuidarmos do que é nosso, quem o fará? Talvez seja este o segredo da nossa sobrevivência. Nisso somos singulares; até hoje, quando um judeu foca sabendo da provação de algum outro judeu em qualquer lugar do mundo, identifica-se com ele, sente o seu sofrimento e faz todo o possível para ajudar. Falando de Maneira Prática, em 1976, o Rebe acrescentou a mitsvá de Ahavat Yisrael (amor pelo outro judeu) à sua "campanha de mitsvá" – uma lista de acções práticas que ele propôs para encorajar todo o judeu, independentemente do seu grau de observância religiosa, a fazer uma acção Divina. Obviamente, Ahavat Yisrael tem sido um pilar central do Chassidismo e especialmente da liderança do Rebe, desde o seu início; a sua inclusão na campanha das mitsvot simplesmente significava que Ahavat Yisrael não deveria ser algo que os chassidim praticavam, mas um valor judaico activamente ensinado ao mundo em geral. Eis aqui algumas das coisas práticas que o Rebe pediu que todo judeu fizesse:
1 – Inicie a manhã afirmando: "Aceito sobre mim a mitsvá de amar o meu próximo como a mim mesmo."
2 – Fale somente o bem sobre as outras pessoas. Nem sequer escute uma má palavra, a menos que algum bem possa resultar para aquela pessoa por meio dessa conversa.
3 – Procure oportunidades de fazer um favor ao seu semelhante.
4 – Apoie um fundo de empréstimos judaico sem juros.
5 – Aproxime os judeus uns dos outros. Ajude a derrubar as falsas barreiras da idade, filiação e etnia.
6 – Convide outros judeus a partilharem o que temos de mais precioso: a nossa Torá e as nossas mitsvot.
Das Fontes"Ama teu próximo como a ti mesmo."
Vayicrá 19:18"Este é o maior princípio da Torá."

Rabi Akiva" "Todo o povo judeu é um todo único, perfeito."
Zôhar"Todas as manhãs, antes das suas preces, comprometa-se a amar outro judeu como a si mesmo. Então as suas preces serão aceitas e produzirão frutos."

Rabi Yitschac Luria, "O Ari" "Uma alma desce do seu lugar no alto e entra neste mundo por setenta ou oitenta anos apenas para fazer um favor a outra."

"O Báal Shem Tov"Você ouve o que dizem na academia celestial? Que amar o outro judeu significa amar o totalmente perverso assim como você ama o completamente justo!
"As etiquetas são para as camisas, não para os judeus. Servimos a todos os judeus igualmente, sem expectativas."


15.5.08

Parashá Behar


“Diz aos Filhos de Israel...” (Vayikrá 25:2)A parashá desta semana começa por dizer o seguinte: “E falou o Eterno a Moshé de Sinai...”, ao que perguntaram aos nossos Sábios: Porquê a Torá esclareceu que este preceito foi dito a Moshé no Monte de Sinai, por acaso não lhe foi entregue todos os preceitos no Monte de Sinai? Ao que os nossos Sábios responderam: para ensinar-nos que, tal como foram explicados todos os detalhes do ano sabático, “Shemitá”, com todas as suas obrigações, também foram ordenados todos os preceitos com detalhes do Monte de Sinai, da boca do Todopoderoso. Este conceito é a base de toda a nossa Torá! Cada letra, cada preceito, foram determinados directamente por Hashem no Monte de Sinai diante de todo o povo. A veracidade e autenticidade da Torá, fixaram-se nisso, em que foi entregue directamente diante de todo o povo, não por meio de intermediários nem por um grupo selecto de intelectuais. A obrigação por excelência é o estudo da Torá todos temos, não somente a possibilidade senão a obrigação de chegar ao nível de um profeta como chegou Moshé no Monte de Sinai. Moshé não foi um super dotado em nenhum conceito, senão apenas em humildade: “E Moshé é muito humilde”. “...Quando venhas à Terra que Eu te entrego, descansará a terra “Shabat” ao Eterno. Até a Terra deve cumprir com a obrigação do Shabat (no Sábado semanal, senão o Sábado da “Shemitá”, cada sete anos), pois o cumprimento das obrigações do Shabat, são o testemunho de que reconhecemos o Criador de todo o Universo. “Pois Minha é toda a terra...” “Seis anos semearás a terra... e ao sétimo ano Shabat Shabaton será para a terra, Shabat, Shabat para o Eterno, não semearás... E será o Shabat da terra para que comas tu, o teu servo, a tua serva, o teu empregado e o residente na terra que habitam contigo...” Com esta obrigação o Criador quer ensinar-nos que é Ele que na verdade alimenta todo o Universo. “E se perguntas: que comeremos no sétimo ano já que não semearemos a terra e não recolheremos a nossa colheita? E obrigarei a Minha bênção no sexto ano e fará a colheita para três anos. A Torá continua e ensina-nos as obrigações que temos no que respeita às diferentes propriedades de casas, assim como as obrigações que temos para com os servos, ao que perguntaram os nossos Sábios que relação existe entre o ano Sabático e a propriedade de casas e a posse de servos, ao que responderam: “Quem não teve confiança na promessa Divina e não respeitou as obrigações do ano Sabático, no final não terá que vender as suas casas... até que tenha que vender-se como servo para poder substituir”. Entre os conceitos mal entendidos nas últimas gerações pelos não estudantes da Torá, encontra-se o conceito de “servo” da Torá. A imagem do escravo dos filmes martela-nos com a pergunta: Como é que a Torá pode permitir uma injustiça social como essa? Por acaso não somos todods feitos pelo mesmo Criador? A mera pergunta demonstra o descontentamento de quem a formula, já que o Talmud expressa:Todo aquele que adquire um servo, está a adquirir um dono!. As obrigações que adquire o dono com o seu servo, converte-o em seu servo. Asim determinou a Torá: Não o pode obrigar a trabalhar “befarech”, comentando os nossos Sábios: naquilo em que não está acostumado a fazer, qualquer trabalho depreciativo tal como levar ferramentas atrás dele, demonstraria a sua situação de servo, qualquer trabalho inecessário ele está proibido dar-lho para fazer. Se o facto decarregar ferramentas atrás de si é depreciativo e aquele que não está acostumado a fazê-lo está proibido e o inecessário não é correcto dar-lhe a fazer, não parecia bem que o senhor teria que abrir um escritório de emprego para lhe procurar um trabalho que ele possa aceitar? As leis do desemprego mais socialistas do século XXI não chegaram a comparar-se com as leis de há 3000 anos da Torá. A Halachá determina as relações humanas com a que me obrigo ao adquirir um servo: comerá na mesa do senhor, assim como dormirá como ele... chegando, no caso de impossibilidade, a que o servo se converta em dono do seu senhor: “E quando saia de tua casa não saíra vazio, senão que compartirás com ele, a benção com a qual te bendisse o Todopoderoso...” Não o despedirás vazio!. Sómente quem não tem conhecimento da Torá pode suspeitar como fora do tempo, a Torá. “Fixou-se na Torá e fez o mundo”. O Universo com toda a sua criação, foi criado com base na Torá pelo que não pode encontrar-se nela nenhuma incoerência com o que foi criado, senão, uma falta de conteúdo da Torá é a que nos leva a pensar que a Torá pudesse ser incompatível com o mundo moderno, baseado no conhecimento das ciências e nos sentimentos humanos.

Resumo da Parashá
Estando o Povo de Israel no Monte de Sinai, o Todopoderoso disse a Moshé que lhes transmitisse que quando tomassem possessão da terra de Canaã, deviam deixar descansar a terra um ano depois de cada seis anos de sementeira. O sétimo ano seria Shabat para a terra (shemitá) no qual não se deveriam semear os campos nem podar os vinhedos. Também disse o Eterno que em cada cinquenta anos, os Benei Israel deveriam observar o jubileu (iovel), que começa em Yom Kipur e durante esse ano não se semeavam os campos e se colocavam em liberdade os escravos hebreus e todas as terras deveriam ser devolvidas aos donos originário. Se um proprietário vendesse a terra por razões de pobreza, a fazenda podia ser resgatada por um parente do dono original ou este mesmo. Se alguém devia vender uma propriedade situada numa cidade amuralhada, para resgatá-la, tinha que esperar um ano, enquanto que, se estivesse situada em aldeias ou cidades separadas para os levitas, voltavam aos seus donos durante o período do jubileu. Se um judeu emprestasse dinheiro a outro judeu pobre, não devia cobrar-lhe juros. Se o necessitado se visse na necessidade de vender-se como servo, o amo judeu deveria considerá-lo com respeito e pô-lo em liberdade durante o iovel. Um parente adinheirado podia resgatar o servo judeu, pagando ao amo uma quantidade de dinheiro sobre a base dos anos que faltavam até ao jubileu.

Rab. Shlomó Wahnón
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Vayicrá 25:1 - 26:2
Behar, concentra-se principalmente nas mitsvot referentes à terra de Israel, começando com a ordem de cumprir Shemitá - a mitsvá de deixar o campo sem cultivo a cada sete anos, abstendo-se de plantar e colher. Da mesma forma, a terra em Israel deve permanecer não cultivada no Yovel, ou 50º ano, quando então a propriedade de todas as terras retorna automaticamente à sua herança ancestral.
D'us promete que abençoará a terra no sexto ano, para que produza alimentos suficientes para durar por todo o período de Shemitá. Após descrever este processo, pelo qual os proprietários originais da terra podem redimir a sua propriedade ancestral nos anos que precedem Yovel, a porção muda para falar sobre os pobres e oprimidos. Não apenas somos ordenados a dar-lhes tsedacá e fazer actos de bondade, como o ideal seria fornecer-lhes os meios para sair do seu estado de pobreza.
Somos proibidos de receber e pagar quaisquer juros em empréstimos feitos a outros judeus. A Torá então discute os vários detalhes a respeito de servos judeus e não-judeus que trabalham para judeus, e a mitsvá de redimir judeus que são servos de não-judeus. Todos os servos judeus devem ser libertados antes do início do ano Yovel.
A porção conclui repetindo a proibição da idolatria, e as mitsvot de guardar o Shabat da profanação e reverenciar os locais santificados de D'us.
Mensagem da Parashá
A porção desta semana da Torá pinta um quadro sinistro para os agricultores de Israel. Após receberem ordens na Parashá Kedoshim (Vayicrá 19:9) de que algumas porções da colheita devem ser deixadas para os pobres (como os cantos dos campos, a produção esquecida quando da colheita, etc.), esta semana a Torá informa ao agricultor que deve também observar a Shemitá, permitindo que o seu campo permaneça inculto a cada sete anos.
Certamente, esta é uma pílula difícil de engolir: manter-se casher e celebrar o Shabat é uma coisa, mas sacrificar o próprio meio de vida por um ano inteiro parece equivalente ao suicídio financeiro. Porque a Torá exigiu tanto dos simples agricultores?
Embora vários comentaristas ofereçam interpretações do mandamento da Shemitá, o Keli Yacar rejeita a maioria destas explicações e no seu lugar oferece a sua própria hipótese. Ele teoriza que a Torá havia exigido a cessação de toda a actividade agrícola a fim de incutir no povo judeu um senso de confiança e fé em D'us. Se eles tivessem permissão de plantar e colher à vontade, chegariam à conclusão equivocada que o seu meio de vida e sustento devem ser atribuídos à sua própria labuta e esforço. Os judeus deduziriam erroneamente que o seu próprio controle sobre as forças naturais do mundo estabeleciam o seu destino e o seu sucesso.
Portanto, o Criador instituiu o ciclo Shemitá para que o povo judeu percebesse que as suas conquistas e realizações dependem completamente da graça e boa vontade Dele. Quando confrontado com a realidade da colheita inexistente, os judeus não têm outra escolha a não ser voltarem-se para D'us por sustento e apoio.
Embora muitos de nós, como não somos agricultores, não possamos apreciar completamente a importância de um ano Shemitá, mesmo assim podemos também extrair uma lição para a nossa vida. Muitas vezes tornamo-nos presas do nosso sucesso, congratulando-nos por um trabalho bem feito. Deixamos de perceber a verdadeira fonte da nossa prosperidade. Iludimo-nos pensando que "a minha força e o poder da minha mão trouxeram-me esta riqueza" (Devarim 8:17). Apenas quando passamos por tempos difíceis finalmente percebemos a nossa pequenez.
A fim de lembrarmo-nos do verdadeiro Provedor das nossas necessidades, o Criador deve tomar atitudes severas que nos forçarão a reexaminar a nossa autoconfiança. Ao suportar estes tempos duros e que exigem muito de nós, podemos chegar a uma total apreciação da bondade e compaixão de D'us.
SHABAT SHALOM

10.5.08

Às vezes pode doer...

BOM DIA! O dia das mães está a chegar: é no próximo domingo, 11 de maio. Portanto resolvi compartilhar convosco um belo quadro que recebi de Y. Homnick, cuja mãe, com 96 anos de idade, mantém 132 famílias semanalmente, para o Shabat, em Jerusalém!

QUANDO D’US CRIOU AS MÃES

Quando o Todo-Poderoso fez as mães, já era o sexto dia e Ele estava a trabalhar em hora extra. Um anjo apareceu e disse: “Por que o Senhor está a gastar tanto tempo?”

E o Todo-Poderoso respondeu: “Já viu a folha de especificações dela? Ela precisa ser completamente lavável, mas não de plástico, ter 200 partes móveis, todas substituíveis, ter um colo onde caibam 3 crianças de uma vez, ter um beijo que cure qualquer coisa, desde o joelho arranhado até ao coração partido, e tenha 6 pares de mãos!” O anjo ficou impressionado com os requerimentos para esta criatura. “Seis pares de mãos?! Impossível!”, disse o anjo.

D'us respondeu: “Não são as mãos que são o problema. São os 3 pares de olhos que as mães precisam ter!” “E tudo isto no modelo ‘standard’?”, perguntou o anjo.

O Criador respondeu: “Sim, um par de olhos para verr através da porta fechada quando ela pergunta às crianças o que estão a fazer, apesar de já saber. Outro par atrás da cabeça para ela ver o que precisa saber, apesar de ninguém pensar que ela pode. E o terceiro par na frente da cabeça.

Servirá para ver uma criança errante e transmitir-lhe que ela a entende e a ama mesmo sem dizer nenhuma única palavra!”

O anjo tentou demover o Todo-Poderoso: “Isto é muito trabalho para um só dia. Espere até amanhã para acabar”. “Eu não posso!”, protestou D’us, “Estou quase a terminar esta criatura. E ela está tão próxima ao Meu coração!”

O anjo aproximou-se e tocou a mulher. “Mas o Senhor a fez tão frágil, Todo-Poderoso!” “Ela é frágil”, D’us concordou, “mas Eu também a fiz resistente. Você não tem idéia do que ela pode agüentar ou conseguir!” “Ela poderá pensar?”, perguntou o anjo.

O Criador respondeu: “Não só será capaz de pensar, mas também de argumentar e negociar!” O anjo então percebeu alguma coisa, esticou a sua ‘mão’ e tocou na bochecha da mulher. “Opss, parece que há um vazamento neste modelo. Eu lhe disse que o Senhor estava a querer colocar coisas demais nela!”

“Não é um vazamento”, objectou D’us, “É uma lágrima!”

“Para que serve uma lágrima?”, perguntou o anjo.

O Todo-Poderoso respondeu: “A lágrima é a sua forma de expressar a sua alegria, o seu sofrimento, o seu desapontamento, a sua dor, a sua solidão, a sua tristeza e o seu orgulho!”

O anjo estava impressionado: O Senhor é um gênio, Todo-Poderoso! O Senhor pensou em tudo!

As MULHERES SÃO REALMENTE MARAVILHOSAS!

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PODE SER AMARGO, MAS É BOM


"Rafael Grunenbaum (nome fictício), um rapaz jovem que havia recém começado o seu processo de Teshuvá (retorno aos caminhos do judaismo), trabalhava num escritório de São Paulo. Ele estava um pouco tenso pois no dia seguinte teria uma reunião muito importante no Rio de Janeiro, e por isso decidiu visitar um amigo para conversar e relaxar um pouco. Quando Rafael decidiu voltar para casa descobriu, para o seu desespero, que o seu carro havia sido roubado. Para piorar, lembrou-se que a passagem para o Rio de Janeiro estava no porta luvas do carro.

Rafael sentou-se na calçada e, desconsolado, começou a questionar a bondade de D'us. Ele estava a fazer Teshuvá, estava a tentar ser uma pessoa melhor, então porque D'us não lhe prestava atenção? Ligou desesperado para a Companhia Aérea e informou sobre o roubo da passagem. Quem o atendeu tranquilizou-o, garantindo que o seu nome estava no computador, e que seria necessário apenas trazer um Boletim de Ocorrência do roubo e os documentos de identidade para reimprimir a passagem no dia seguinte. Como esse processo seria um pouco mais burocrático do que o normal, ela aconselhou-o a chegar mais cedo do que os outros passageiros.

Rafael mal conseguiu dormir de preocupação. A reunião era muito importante, ele não poderia perdê-la. Tinha de se apresentar no aeroporto às 06:30 da manhã, para tomar o vôo das 07:00, mas estava tão ansioso que chegou ao aeroporto às 06:00. Como o Chek-in estava completamente vazio, o processo foi rápido e tudo ficou pronto antes das 06:15. A senhora chamou-o e informou que havia um vôo a partir dentro de 5 minutos, e ele poderia escolher entre embarcar naquele vôo ou aguardar o vôo das 07:00. Já que não tinha nada para fazer no aeroporto, Rafael decidiu embarcar antes, pois assim poderia passear no Rio antes da reunião e relaxar um pouco.

A viagem decorreu tranquila e a reunião foi um grande sucesso. Perto do meio dia Rafael telefonou para casa, para contar as boas notícias. A empregada atendeu, e ele escutou pessoas a chorarem. Ficou preocupado, teria acontecido algo? Quando a empregada reconheceu a sua voz, deu um grito e entregou o telefone para a sua mãe. Ela atendeu o telefone, visivelmente alterada:

- Filho, onde estás? O que aconteceu? Estás bem?

- Claro mãe, porque eu não estaria bem?

- Filho, como você pode estar vivo, se todos os passageiros do seu vôo morreram quando o avião caiu após a decolagem???

Rafael engoliu seco com a notícia. O avião que ele deveria ter viajado era o fatídico vôo 402 da TAM, o Fokker-100 que caiu logo após a decolagem do aeroporto de São Paulo, em 1996, deixando um total de 99 mortos. Mas por terem roubado o seu carro ele chegou mais cedo ao aeroporto e acabou por viajar às 06:15, escapando do que seria a morte certa" (História Real)

Em geral somos injustos com os nossos julgamentos a respeito dos actos de D'us. Enquanto estamos apenas a ver um pequeno ponto da história, D'us tem conhecimento de todo o quadro, e faz-nos o que é realmente o melhor. Às vezes pode doer, pode até ser amargo... mas sempre é para o bem.
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Na Parashá desta semana, Emor, a Torá descreve os cuidados que os Cohanim (sacerdotes) deviam ter para evitar qualquer tipo de impureza espiritual, que os impossibilitava temporariamente de fazer os serviços do Templo. A Torá então descreve as principais festas judaicas, e termina com um incidente envolvendo o filho de um egípcio com uma mulher judia que entrou em uma briga e terminou amaldiçoando o nome de D'us em público. Moshé não sabia exactamente o que fazer com o infrator, que tipo de punição aplicar, então prendeu-o e foi ao Mishkan (Templo Móvel) para consultar D'us sobre o destino do infrator. D'us comandou que o infrator fosse morto por apedrejamento, e o povo cumpriu as ordens de D'us.

Há um Midrash que nos ensina que D'us anuncia: "Talvez vocês pensarão que Eu dei a Torá para o mal de vocês, mas saibam que Eu dei a Torá apenas para o bem de vocês". Como entender este Midrash? Alguém vai pensar que D'us, a Fonte de toda a bondade e misericórdia, nos daria a Torá para o nosso mal? A resposta é que quando uma pessoa é julgada por um rei, ela sabe que o rei pode puní-la severamente, mas tem esperanças que ele terá misericórdia e lhe dará uma pena branda. E se esperamos um lado misericordioso de um ser de carne e osso, muito mais esperamos de D'us, Quem nos criou apenas por bondade. Mas em muitos pontos da Torá vemos que D'us nos ensina as punições para vários tipos de infrações, e entre as punições estão castigos duros, como chicotadas e até mesmo pena de morte, como ocorreu no veredicto do homem que blasfemou D'us.. Onde está a bondade e a misericórdia de D'us nestas punições tão duras?

Explica o Chafetz Chaim que o ser humano está acostumado a enxergar os castigos de D'us como algo negativo por comparar os atos de D'us com os atos dos seres humanos. Muitas vezes os seres humanos aplicam castigos por raiva, com um sentimento de vingança, e na grande maioria das vezes o castigo é algo completamente desmedido e sem propósito. Mas a Torá nos ensina que os castigos de D'us são justamente o contrário, são uma grande bondade. Os castigos são uma forma das pessoas expiarem seus erros. Se saíssemos deste mundo sem passar por esta purificação, nosso sofrimento espiritual posterior seria muito maior. Por isso D'us castiga os infratores de forma que já façam a "limpeza espiritual" aqui e possam sair deste mundo inocentes e limpos. Mas isso explica apenas os castigos em que a pessoa permanece viva, como as chicotadas. Que bondade há na pena de morte, em que o único ato é a morte do infrator? Que expiação isso pode trazer?

Explica o Ramban (Nachmânides) que na realidade a morte não estava nos planos iniciais de D'us para o ser humano. Se Adam Harishon tivesse vencido seus desejos materiais e tivesse escutado a ordem de D'us, terminaria seu teste e meritaria assim receber sua recompensa imediatamente. Não haveria morte, Adam entraria direto no Olam Habá (Mundo Vindouro) e ali nasceriam seus descendentes. Como ele não passou seu teste e comeu do fruto proibido, o mal, que estava fora do ser humano, virou parte dele, e para que o ser humano pudesse novamente chegar ao Mundo Vindouro foi necessário que D'us criasse mais um estágio: a morte. A morte é a separação do corpo e da alma, para que cada um deles possa fazer os seus "consertos" necessários. O corpo passa pelo sofrimento da decomposição, enquanto a alma passa por processos de purificação espirituais, que envolvolvem desde algum tempo no "Gueirrinom" (local de sofrimentos espirituais, mal traduzido como "inferno", que purifica nossa alma) até a necessidade, em alguns casos, de uma reencarnação em outro corpo.

Portanto, tudo o que está acontecendo neste mundo é uma grande bondade, pois a bondade verdadeira não é olhar somente o que ocorre a curto prazo, e sim o que ocorrerá por toda a eternidade. Os castigos de D'us são como os castigos de um pai que ama seu filho e quer o melhor dele. Por mais que pareçam duros, os castigos são necessários, e são uma grande bondade de D'us.

Pensamento da Semana

O resultado de se agir impulsivamente é sempre o arrependimento!

Rabino Shlomo Ibn Gabirol (Espanha, 1021-1058)

Porção Semanal da Torá: Emór


Vaikrá (Levíticus) 21:01 - 24:24

A porção desta semana estabelece os padrões de pureza e perfeição para um Cohen; especifica as necessidades físicas das oferendas e o que deve ser feito com animais oferecidos contendo imperfeições; proclama os dias santificados do Shabat, Pessach, Shavuót, Rosh HaShaná, Yom Kipur e Sucót. Relembra o povo Judeu que devem prover azeite de oliva puro para a Menorá e designa os detalhes dos pães consumidos pelos Cohanim (sacerdotes): duas prateleiras com 6 pães em cada uma, colocadas na mesa dentro do santuário portátil (e depois no Templo), e repostas uma vez por semana, no Shabat. A porção conclui com uma interessante história sobre uma pessoa que profanou o nome de D'us com uma maldição. Qual deveria ser a sua pena pela transgressão? Ficou /curioso? Vaikrá 24:14.

Dvar Torá: baseado no livro Love your Neighbor, do rabino Zelig Pliskin

A Torá declara: "Quando colherem a sua terra, não devem ceifar completamente os cantos do seu campo, nem recolher as espigas que caírem da sua ceifa; para o pobre e o estrangeiro devem deixá-los (os cantos do campo e as espigas que caíram) (Vaikrá 23:22)".

Porque o dono do campo é ordenado a deixar os cantos e as espigas caídas no seu próprio lugar, ao invés de colher a produção e dá-la ao pobre?

A resposta é: ao não se dar directamente ao carente, nós o poupamos da humilhação de estar a receber caridade. Mais ainda: ele mantém a sua dignidade ao sentir que está a recolher o que lhe é de direito pela lei da Torá.

Este versículo ensina-nos que é muito importante sermos sensíveis em relação aos outros e às suas necessidades!

3.5.08

Porção Semanal: Emor


Bereshit 47:28 - 49:26

Seguindo os passos da ordem dada na porção da semana anterior a toda a população judaica para ser santa, a Parashá Emor (Vayicrá 21:1-24:23) começa por discutir várias leis dirigidas especificamente aos Cohanim e ao Cohen Gadol, cujo serviço Divino exige que mantenham um alto padrão de pureza. Ela contém a ordem para que o Cohen abstenha-se de ficar ritualmente impuro através do contacto com um corpo morto (excepto parentes próximos) e aumenta as restrições sobre quem poderiam desposar.

A porção cita defeitos físicos que impedem um cohen de realizar o seu trabalho no Templo Sagrado, a menos que se cure. O assunto então volta-se à nação inteira: qualquer um que esteja tamê, impuro, recebe ordens de afastar-se dos locais e coisas que sejam especialmente sagradas. Após discutir as leis de terumá (a pequena porcentagem de comida que deve ser separada da colheita na Terra de Israel e dada a um Cohen, antes que a porção restante possa ser comida) e as várias imperfeições que tornam uma oferenda inadequada, somos advertidos a ser cuidadosos para não profanar o nome de D’us e, ao contrário, santificá-Lo a todo custo.

A Torá continua a discutir as festas do ano (Pêssach, Shavuot, Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucot e Shemini Atsêret), seguidas pelas duas mitsvot constantes mantidas no Mishcan: o acendimento da menorá todos os dias e a exibição de lechem hapanim a cada semana. A porção termina com o horrível incidente de um homem que amaldiçoou o nome de D’us e foi punido com a pena de morte por ordem Divina.

Mensagem da Parashá

Na saúde e na doença
por Matthew Leader

Infelizmente, as pessoas nem sempre são justas. Se alguém o informar que não pode ter um determinado trabalho devido a um defeito físico, seja o trabalho de médico, advogado ou Chefe da Tribo, a maioria das pessoas diria: "Ei, meu senhor, isso não é justo!" Entretanto, todos esperam que D’us seja justo, se não na prática, pelo menos nas regras escritas. Eis por que muitos sábios através dos tempos têm discutido a parte aparentemente não igualitária da porção desta semana da Torá, que trata das leis dos Cohanim. Após descrever vários detalhes de como um Cohen deveria manter-se especialmente puro, D’us diz a Moshê que um Cohen com qualquer defeito físico, como cegueira, eczema ou mesmo um pé quebrado não poderia aproximar-se do Mishcan para realizar o serviço sacerdotal de trazer oferendas, pois isso "profanaria o Meu local sagrado" (Vayicrá 21:23).

Como pode ser? A nossa religião não é para aperfeiçoamento interior, onde o Criador nos julga pelos nossos pensamentos e acções, não pela nossa aparência pessoal?

Na prece fundamental do Shemá, está escrito que devemos servir a D’us "com todo o nosso coração e toda a nossa força" e Ele ficará satisfeito conosco. O salmo Aishet Chayil, recitado toda sexta-feira à noite como um louvor às mulheres da casa, informa-nos que "o encanto é falsidade e a beleza é vã, mas uma mulher que teme D’us, essa deve ser louvada." Então, como pode uma pessoa que tem a infelicidade de ser cega ou desenvolver uma doença de pele ser excluída do serviço de D’us, se possui um bom coração?

Convenientemente, Rabi Meir Simcha HaCohen de Dvinsk faz a mesma pergunta, e nos dá a resposta em duas partes. A primeira é a mais óbvia – pois D’us é o árbitro daquilo que constitui a verdadeira justiça, e tudo que Ele faz é justo por definição. As leis a respeito das oferendas são chukim e podemos apenas adivinhar as razões pelas quais Ele deseja que certas pessoas estejam envolvidas neste serviço, e outras sejam excluídas.

Isso nos ensina que não devemos aplicar os nossos limitados ideais humanos de "justiça" às acções de D’us. Esta resposta é mais compreensível no caso de um Cohen que nasceu com um defeito. Entretanto, isso não é realmente compreensível no caso de alguém que D’us considerou merecedor quando anteriormente desempenhou o serviço sacerdotal, mas agora foi golpeado por essa lista. Devemos portanto assumir que esta pessoa tornou-se desmerecedora de servir, através de algum pecado ou acto que cometeu.

Mas certamente há pessoas defeituosas que são mais justas que outras saudáveis.

Rabi Meir Simcha responde a isso de uma maneira judaica clássica, fazendo outra pergunta: Se deveria haver desqualificações, por que D’us simplesmente não dizia ao profeta da época quais pessoas haviam pecado, e o profeta as desqualificaria do serviço sacerdotal?

Rashi declara que o facto de a Torá escrever a palavra "defeitos" uma vez mais (ibid. 21:21), após já ter listado vários exemplos, ensina-nos que qualquer defeito físico é motivo para desqualificação, mesmo um que não seja aparente ou visível de imediato. Portanto, explica o Rabi Meir Simcha, o defeito físico é uma maneira de D’us enviar uma mensagem directa à pessoa afligida que, mesmo se as suas acções parecem ser puras externamente, podem existir falhas internas ou um traço de carácter que ele precisa remediar.

O defeito de forma alguma significa que ele é "mau" ou "pecador"; ao contrário, sugere que há um pequeno atributo ou actividade que ele precisa aperfeiçoar antes de retomar o serviço sacerdotal. Talvez apenas o próprio Cohen possa descobrir esta falha através da sua própria introspecção, enquanto as "autoridades religiosas" da época possam ser incapazes de encontrar o problema interno.

Esta lição de responsabilidade pessoal não se aplica apenas aos Cohanim. Cada um de nós, no nosso próprio nível, deve manter o nosso relacionamento único com D’us e responder às sutis mensagens que Ele envia constantemente na nossa direcção.