15.5.08

Parashá Behar


“Diz aos Filhos de Israel...” (Vayikrá 25:2)A parashá desta semana começa por dizer o seguinte: “E falou o Eterno a Moshé de Sinai...”, ao que perguntaram aos nossos Sábios: Porquê a Torá esclareceu que este preceito foi dito a Moshé no Monte de Sinai, por acaso não lhe foi entregue todos os preceitos no Monte de Sinai? Ao que os nossos Sábios responderam: para ensinar-nos que, tal como foram explicados todos os detalhes do ano sabático, “Shemitá”, com todas as suas obrigações, também foram ordenados todos os preceitos com detalhes do Monte de Sinai, da boca do Todopoderoso. Este conceito é a base de toda a nossa Torá! Cada letra, cada preceito, foram determinados directamente por Hashem no Monte de Sinai diante de todo o povo. A veracidade e autenticidade da Torá, fixaram-se nisso, em que foi entregue directamente diante de todo o povo, não por meio de intermediários nem por um grupo selecto de intelectuais. A obrigação por excelência é o estudo da Torá todos temos, não somente a possibilidade senão a obrigação de chegar ao nível de um profeta como chegou Moshé no Monte de Sinai. Moshé não foi um super dotado em nenhum conceito, senão apenas em humildade: “E Moshé é muito humilde”. “...Quando venhas à Terra que Eu te entrego, descansará a terra “Shabat” ao Eterno. Até a Terra deve cumprir com a obrigação do Shabat (no Sábado semanal, senão o Sábado da “Shemitá”, cada sete anos), pois o cumprimento das obrigações do Shabat, são o testemunho de que reconhecemos o Criador de todo o Universo. “Pois Minha é toda a terra...” “Seis anos semearás a terra... e ao sétimo ano Shabat Shabaton será para a terra, Shabat, Shabat para o Eterno, não semearás... E será o Shabat da terra para que comas tu, o teu servo, a tua serva, o teu empregado e o residente na terra que habitam contigo...” Com esta obrigação o Criador quer ensinar-nos que é Ele que na verdade alimenta todo o Universo. “E se perguntas: que comeremos no sétimo ano já que não semearemos a terra e não recolheremos a nossa colheita? E obrigarei a Minha bênção no sexto ano e fará a colheita para três anos. A Torá continua e ensina-nos as obrigações que temos no que respeita às diferentes propriedades de casas, assim como as obrigações que temos para com os servos, ao que perguntaram os nossos Sábios que relação existe entre o ano Sabático e a propriedade de casas e a posse de servos, ao que responderam: “Quem não teve confiança na promessa Divina e não respeitou as obrigações do ano Sabático, no final não terá que vender as suas casas... até que tenha que vender-se como servo para poder substituir”. Entre os conceitos mal entendidos nas últimas gerações pelos não estudantes da Torá, encontra-se o conceito de “servo” da Torá. A imagem do escravo dos filmes martela-nos com a pergunta: Como é que a Torá pode permitir uma injustiça social como essa? Por acaso não somos todods feitos pelo mesmo Criador? A mera pergunta demonstra o descontentamento de quem a formula, já que o Talmud expressa:Todo aquele que adquire um servo, está a adquirir um dono!. As obrigações que adquire o dono com o seu servo, converte-o em seu servo. Asim determinou a Torá: Não o pode obrigar a trabalhar “befarech”, comentando os nossos Sábios: naquilo em que não está acostumado a fazer, qualquer trabalho depreciativo tal como levar ferramentas atrás dele, demonstraria a sua situação de servo, qualquer trabalho inecessário ele está proibido dar-lho para fazer. Se o facto decarregar ferramentas atrás de si é depreciativo e aquele que não está acostumado a fazê-lo está proibido e o inecessário não é correcto dar-lhe a fazer, não parecia bem que o senhor teria que abrir um escritório de emprego para lhe procurar um trabalho que ele possa aceitar? As leis do desemprego mais socialistas do século XXI não chegaram a comparar-se com as leis de há 3000 anos da Torá. A Halachá determina as relações humanas com a que me obrigo ao adquirir um servo: comerá na mesa do senhor, assim como dormirá como ele... chegando, no caso de impossibilidade, a que o servo se converta em dono do seu senhor: “E quando saia de tua casa não saíra vazio, senão que compartirás com ele, a benção com a qual te bendisse o Todopoderoso...” Não o despedirás vazio!. Sómente quem não tem conhecimento da Torá pode suspeitar como fora do tempo, a Torá. “Fixou-se na Torá e fez o mundo”. O Universo com toda a sua criação, foi criado com base na Torá pelo que não pode encontrar-se nela nenhuma incoerência com o que foi criado, senão, uma falta de conteúdo da Torá é a que nos leva a pensar que a Torá pudesse ser incompatível com o mundo moderno, baseado no conhecimento das ciências e nos sentimentos humanos.

Resumo da Parashá
Estando o Povo de Israel no Monte de Sinai, o Todopoderoso disse a Moshé que lhes transmitisse que quando tomassem possessão da terra de Canaã, deviam deixar descansar a terra um ano depois de cada seis anos de sementeira. O sétimo ano seria Shabat para a terra (shemitá) no qual não se deveriam semear os campos nem podar os vinhedos. Também disse o Eterno que em cada cinquenta anos, os Benei Israel deveriam observar o jubileu (iovel), que começa em Yom Kipur e durante esse ano não se semeavam os campos e se colocavam em liberdade os escravos hebreus e todas as terras deveriam ser devolvidas aos donos originário. Se um proprietário vendesse a terra por razões de pobreza, a fazenda podia ser resgatada por um parente do dono original ou este mesmo. Se alguém devia vender uma propriedade situada numa cidade amuralhada, para resgatá-la, tinha que esperar um ano, enquanto que, se estivesse situada em aldeias ou cidades separadas para os levitas, voltavam aos seus donos durante o período do jubileu. Se um judeu emprestasse dinheiro a outro judeu pobre, não devia cobrar-lhe juros. Se o necessitado se visse na necessidade de vender-se como servo, o amo judeu deveria considerá-lo com respeito e pô-lo em liberdade durante o iovel. Um parente adinheirado podia resgatar o servo judeu, pagando ao amo uma quantidade de dinheiro sobre a base dos anos que faltavam até ao jubileu.

Rab. Shlomó Wahnón
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Vayicrá 25:1 - 26:2
Behar, concentra-se principalmente nas mitsvot referentes à terra de Israel, começando com a ordem de cumprir Shemitá - a mitsvá de deixar o campo sem cultivo a cada sete anos, abstendo-se de plantar e colher. Da mesma forma, a terra em Israel deve permanecer não cultivada no Yovel, ou 50º ano, quando então a propriedade de todas as terras retorna automaticamente à sua herança ancestral.
D'us promete que abençoará a terra no sexto ano, para que produza alimentos suficientes para durar por todo o período de Shemitá. Após descrever este processo, pelo qual os proprietários originais da terra podem redimir a sua propriedade ancestral nos anos que precedem Yovel, a porção muda para falar sobre os pobres e oprimidos. Não apenas somos ordenados a dar-lhes tsedacá e fazer actos de bondade, como o ideal seria fornecer-lhes os meios para sair do seu estado de pobreza.
Somos proibidos de receber e pagar quaisquer juros em empréstimos feitos a outros judeus. A Torá então discute os vários detalhes a respeito de servos judeus e não-judeus que trabalham para judeus, e a mitsvá de redimir judeus que são servos de não-judeus. Todos os servos judeus devem ser libertados antes do início do ano Yovel.
A porção conclui repetindo a proibição da idolatria, e as mitsvot de guardar o Shabat da profanação e reverenciar os locais santificados de D'us.
Mensagem da Parashá
A porção desta semana da Torá pinta um quadro sinistro para os agricultores de Israel. Após receberem ordens na Parashá Kedoshim (Vayicrá 19:9) de que algumas porções da colheita devem ser deixadas para os pobres (como os cantos dos campos, a produção esquecida quando da colheita, etc.), esta semana a Torá informa ao agricultor que deve também observar a Shemitá, permitindo que o seu campo permaneça inculto a cada sete anos.
Certamente, esta é uma pílula difícil de engolir: manter-se casher e celebrar o Shabat é uma coisa, mas sacrificar o próprio meio de vida por um ano inteiro parece equivalente ao suicídio financeiro. Porque a Torá exigiu tanto dos simples agricultores?
Embora vários comentaristas ofereçam interpretações do mandamento da Shemitá, o Keli Yacar rejeita a maioria destas explicações e no seu lugar oferece a sua própria hipótese. Ele teoriza que a Torá havia exigido a cessação de toda a actividade agrícola a fim de incutir no povo judeu um senso de confiança e fé em D'us. Se eles tivessem permissão de plantar e colher à vontade, chegariam à conclusão equivocada que o seu meio de vida e sustento devem ser atribuídos à sua própria labuta e esforço. Os judeus deduziriam erroneamente que o seu próprio controle sobre as forças naturais do mundo estabeleciam o seu destino e o seu sucesso.
Portanto, o Criador instituiu o ciclo Shemitá para que o povo judeu percebesse que as suas conquistas e realizações dependem completamente da graça e boa vontade Dele. Quando confrontado com a realidade da colheita inexistente, os judeus não têm outra escolha a não ser voltarem-se para D'us por sustento e apoio.
Embora muitos de nós, como não somos agricultores, não possamos apreciar completamente a importância de um ano Shemitá, mesmo assim podemos também extrair uma lição para a nossa vida. Muitas vezes tornamo-nos presas do nosso sucesso, congratulando-nos por um trabalho bem feito. Deixamos de perceber a verdadeira fonte da nossa prosperidade. Iludimo-nos pensando que "a minha força e o poder da minha mão trouxeram-me esta riqueza" (Devarim 8:17). Apenas quando passamos por tempos difíceis finalmente percebemos a nossa pequenez.
A fim de lembrarmo-nos do verdadeiro Provedor das nossas necessidades, o Criador deve tomar atitudes severas que nos forçarão a reexaminar a nossa autoconfiança. Ao suportar estes tempos duros e que exigem muito de nós, podemos chegar a uma total apreciação da bondade e compaixão de D'us.
SHABAT SHALOM