15.10.10

A sinagoga de Gouveia, Guarda

Gouveia é uma cidade portuguesa pertencente ao Distrito da Guarda, região Centro e subregião da Serra da Estrela, com cerca de 3 759 habitantes.
É sede de um município com 302,49 km² de área e 15 628 habitantes (2006), subdividido em 22 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Fornos de Algodres, a nordeste por Celorico da Beira, a leste pela Guarda, a sueste por Manteigas, a sudoeste por Seia e a noroeste por Mangualde.

Gouveia teve uma comunidade de Judeus e uma sinagoga. 514 anos se passaram desde a edificação em Portugal da última sinagoga, antes da expulsão dos judeus. Essa sinagoga foi construída na cidade de Gouveia.

A sinagoga foi inaugurada em pleno dia de Ano Novo Judaico (Rosh Hashana) no ano de 1496, três meses antes do pérfido decreto promulgado em Dezembro desse mesmo ano pelo rei D. Manuel I. A Judiaria de Gouveia situa-se num aglomerado de ruas estreitas e de casas antigas, já em pleno bairro da Biqueira.

Em Gouveia iniciou-se com uma pequena comuna tendo cerca de 50 judeus em meados do século XV. No final da centúria, seriam quase 200. Encontramos aqui os Adida, Abenazo, Baruc, Faravam, Navarro e Sacuto. A comuna de Gouveia esteve sempre muito ligada ao trabalho da lã, actividade clássica desde há muito nesta cidade. Depois da data de expulsão dos judeus de Espanha (1492), muitos dos refugiados afluíram a Gouveia e outras localidades da Beira Alta e Baixa com o sentido de intensificarem o trabalho dos lanifícios praticado então de forma muito rudimentar. Em 1496 é construída uma sinagoga cujo registo fica patente na pedra encontrada em 1967 numa casa da Rua Nova em plena judiaria de Gouveia.

Nesta cidade da vertente norte da Serra da Estrela a comunidade era também bem organizada. Fica para a história a força que, no período entre 1525 e 1530, o ódio fomentado por D. João III atingiu, tornando conhecido este episódio relatado por Meyer Kayserling: «Em Gouveia foi encontrada em pedaços uma imagem de Maria, muito adorada pelo povo. Este sacrilégio, atribuído aos cripto-judeus da cidade, levou à prisão de três deles, que foram soltos após alguns dias. A massa enfurecida acusou os judeus de suborno. [...] O inquérito contra os cripto-judeus libertados foi reiniciado por insistência dos moradores. Falsas testemunhas depuseram contra os acusados e, como ficou provado mais tarde, devido a acusações caluniosas, morreram na fogueira como hereges e profanadores de imagens sagradas.»

Na pedra da sinagoga de Gouveia descoberta em 1967 pode ler-se: “A glória desta Última casa será maior que a primeira; Diz o "Adonai" (Senhor) dos Exércitos: a casa da nossa santificação, da nossa glória, e os resgatados pelo Senhor, voltarão e regressarão a Sião em alegria”.

Os Judeus e posteriormente os cristãos-novos, foram os grandes responsáveis pelo desenvolvimento dos lanifícios em toda aquela região incrementado também o sector comercial em geral.

Após o decreto real, a transformação do edifício e o gradual esquecimento do mesmo como símbolo de toda uma comunidade, acabou irremediavelmente por o remeter ao abandono e à ruína.