5.1.10

Se eu me esquecer de ti Jerusalém…


Devemos começar a entender a importância da memória. Memória não é apenas história ou arquivo morto. Por definição, a memória passada cria o presente. Repressão da memória cria o desequílibro mental. A saúde depende da recuperação da memória. Ditadores consolidam o seu poder distorcendo a memória. Stalin apagou Trotsky e Bukharin das fotografias. Revisionistas negam que o Holocausto tenha acontecido. Que diferença faz? O homem é memória. Ninguém pode apagar o que foi visto (testemunhado) e documentado.

Pessoas que perdem a memória não perdem apenas suas referências; perdem também suas identidades. Ficam perdidas no tempo, pois sem memória, o presente não tem contexto e nem significado.

Yerushaláyim é para nós judeus como a luz, a água e o ar. O centro para o qual nos voltamos três vezes ao dia, dirigindo as nossas preces a D’us; voltamos a nossa mente e coração em direção a Yerushaláyim; onde quer que estejamos, judeus na Europa, Ásia, Africa, não importa, todos estarão voltados para a direção em que nasce o sol, onde se encontrava erguido o Bet Hamicdash, o Templo Sagrado.

Quando os judeus foram exilados de Jerusalém pela primeira vez, o profeta Yirmiyáhu escreveu: "Se eu me esquecer de ti Yerushaláyim, que a minha mão direita perca a sua destreza. E que minha língua fique grudada ao meu palato. Se eu não me lembrar de ti. Se não elevar Yerushaláyim acima da minha maior alegria".

Yerushaláyim fez, faz e eternamente fará parte da vida do Povo Judeu.

É lembrada nos momentos mais felizes. Em todos os casamento judaicos, a cena mais emocionante sob a chupá é aquela que dá desfecho à cerimónia em que um copo é quebrado pelo noivo em lembrança à destruição do Templo Sagrado de Jerusalém.

Em outros lugares D'us é teoria, mas em Jerusalém Ele pode ser sentido como uma presença tangível, em incontáveis fatos históricos relatados na Torá, que marcaram cada pedra, cada estrada que conduzia a Jerusalém. O exato local onde seria construído o Templo Sagrado foi testemunha da cena em que Yaacov teve o sonho de anjos a subirem e descerem de uma escada; foi também palco do sacrifício de Yitschac levado pelo seu pai Avraham, o qual declarou sobre o lugar: "Este é o local onde D'us é visto.". Jerusalém foi cenário de batalhas e glórias, de liberdade e exílio, onde sempre alimentou a nossa memória e esperança. Foi de construção, destruição e se D’us quiser, será de reconstrução definitiva.

Antigamente o Monte do Templo era o ponto mais alto da cidade de Yerushaláyim, mas no ano 135, escravos romanos levaram a sujeira para fora da montanha, transformaram-a no vale que vemos hoje em dia na Cidade Velha. Os romanos expeliram os Judeus de Yerushaláyim e os impediram de retornar, causando a dor da morte. A vida judaica, proclamaram, terminava agora.

Os Cruzados reescreveram a importância de Yerushaláyim, não mais como o centro unificador do povo judeu, mas o local de outras paixões alheias ao judaísmo. Como os romanos eles expulsaram os judeus, e destruíram sinagogas. Os muçulmanos vieram depois, e como os outros, reescreveram a memória de Jerusalém, banindo judeus e cristãos. Construíram mesquitas sistematicamente, em todo local santo para os Judeus. Eles apagaram o passado. Cada uma destas culturas reescreveu o nosso lugar, o lugar judaico na história. Acreditavam que nos reduziariam, à caixa de pó da história -- certa vez um grande povo, mas agora, abandonado por D'us e ultrapassado pelo tempo.

No entanto, contrariando qualquer lógica ou estatística, continuamos aqui. A nossa memória jamais nos traiu. Todos os anos, ao final do sêder de Pêssach, data em que celebramos o nosso Êxodo do Egito e liberdade rumo a Terra Santa, declaramos: "No próximo ano em Jerusalém", o desejo de chegar a uma época em que não precisaremos mais viver na galut, diáspora, o sonho de um mundo no qual amor e justiça, paz e união nos reconduzirão ao centro do universo, a moradia de D’us.

Yerushaláyim está viva e sempre presente. Quando construímos as nossas casas, deixamos um pequeno quadrado sem acabamento, e quebramos um copo em casamentos, em memória a Yerushaláyim. Do mundo inteiro nos viramos e rezamos para Yerushaláyim, e porque a memória foi mantida viva, o povo judeu sobreviveu.

Quando Yerushaláyim foi libertada, o tempo era confuso. O passado ficou presente. O que nós tínhamos almejado, tornou
-se nosso. O que nós tínhamos sonhado ficou real, e os soldados choraram, pois um país mediterrâneo adolescente recuperava uma memória perdida durante 2000 anos, repentinamente. O passado estava imediatamente presente, inacreditavelmente transformando-nos no que sabíamos que sempre fomos.

Quem somos nós?

Nós não somos itinerantes menosprezados e empobrecidos, sobrevivendo às custas da benevolência inconstante de outras nações. Não somos uma nação de pessoas trabalhadoras, dinâmicas, que recuperam pântanos, e por vezes guerreiros - entretanto quando nós precisamos, somos todas estas coisas. Somos uma nação de sacerdotes e profetas, que tem servido de exemplo, inspiração e luz a toda a humanidade.

O Talmud diz que o nome Yerushaláyim vem de D'us, composto de duas partes: "Yira", que significa 'ver' e 'shalem', 'paz'; portanto, "Visão da paz".

A cidade, capital espiritual do mundo, dá-nos força para almejar e alcançar esta visão. A matemática dos nossos actos no cumprimento de Torá e mitsvot, desde Avraham até aos nossos dias, envolvendo todos os judeus que trilham o caminho da teshuvá (retorno), tem-nos conduzido verdadeira e irremediavelmente a Jerusalém e ao início de uma nova era… quase palpável!