24.7.10

Correios de Portugal


No dia 5 de julho, os Correios de Portugal lançaram a série "As Judiarias de Portugal", composta de três selos e um bloco. Oa selos, emitidos em folhas de 50 unidades, têm os seguintes faciais e tiragens: • € 0,32 - 230.000 unidades • € 0,57 - 190.000 • € 0,68 - 230.000. O bloco tem um selo, com facial de € 2,50, e a tiragem foi de 66.000 unidades. Foram lançados dois envelopes de 1º dia para FDCs oficiais, um para a série e outro para o bloco.

Portugal foi um local na Europa onde se misturaram diferentes povos e culturas que deram ao povo português uma matriz eclética e um código genético sui generis. Neste pequeno território de 89.000 km², autóctones, latinos, povos do centro e do norte da Europa e populações do Médio Oriente (judeus e muçulmanos) cruzaram-se e procriaram por vezes devido a decisões políticas que se foram repetindo ao longo dos séculos da medievalidade.

A emissão e o livro agora lançados pelos Correios de Portugal procuram erguer a memória de um tempo em que cristãos e judeus conviviam no espaço municipal tal como, num copo, a água convive com o azeite, ou seja, sem se misturarem. De fato, ambas as religiões proibiam os casamentos mistos com aqueles que uma designava infiéis, e a outra chamava goim, mas sempre havia excepções.
A memória que desejaram reconstruir respeita a espaços urbanos, as judarias ou judiarias, identificados pela documentação escrita coeva e que catástrofes naturais ou a mão humana foi fazendo desaparecer ao longo dos tempos. Estas tornam difícil a reconstituição do urbanismo medieval e dos inícios da modernidade, tanto mais quanto a presença da minoria judaica oficialmente foi extinta pelo massacre de 4 de dezembro de 1496, data do édito de expulsão das minorias judaica e muçulmana do reino de Portugal.

Após este e o batismo forçado, o espaço outrora símbolo da segregação de um povo abriu-se à cristandade, fazendo-se acompanhar pela transformação de edifícios como sinagogas e escolas, representativos de uma certa autonomia religiosa, judicial, administrativa e cultural, em igrejas e habitações de pessoas de diferente origem social e religiosa. Apesar da devastação que quase fez apagar a memória do povo judeu no espaço municipal, não quiseram deixar de a expurgar do esquecimento a que tem sido votada e fazer ressuscitar os tênues vestígios desse património que, ainda hoje, sobrevivem nos conselhos que conheceram a presença das suas ruas e dos seus bairros.