18.5.10

A história dos sefarditas portugueses

Foi lançado o livro “Judaísmo Português na fogueira – Estudos sobre os Judeus e Cripto Judeus”, de 259 páginas, na língua Hebraica, editado por Yom Tov Assis e Moises Orfali. O seu preço é de 89 shequels (moeda oficial de Israel), cerca de 18 euros.

No prefácio, Yom Tov Assis escreve: “Este é o 1º livro em Hebraico dedicado exclusivamente à Judiaria Portuguesa, que tem sido negligenciado pelos estudiosos em Israel”.
“Esta extraordinária compilação de artigos revela, na verdade, novas facetas da extinta Comunidade Judaica Portuguesa. Com isto, não quero dizer, que se tem negligenciado voluntariamente, mas porque os Judeus de Portugal, em grande parte foram agrupados com os Judeus de Espanha. Tal, deve-se ao facto, de no passado ambos serem parte de um só território, a Península Ibérica e durante a Idade Média, as suas fronteiras variavam”.

Há uma breve descrição de como veio a ser Português. Desenvolveu-se no séc 11 e 12, da mistura entre a linguagem Galega e a dos Lusitanos e da influência do árabe. Historicamente, os muçulmanos conquistaram parte de Portugal em 713. Foi reconquistado no final do século 9 e um século depois, Portugal separou-se da Galiza. Na segunda parte do século 12, Lisboa foi conquistada, pelos muçulmanos, quando o exército português ia a caminho para a Segunda Cruzada. Os muçulmanos deixaram os Judeus permanecerem. Naquele tempo, estima-se serem 35.000, o total no país.

A história dos Judeus Portugueses é curta, cerca de 500 anos.

O primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques (1109-1185) encorajou judeus a fixarem-se nas áreas, que conquistou. Colocou o judeu, Yahva Ibn Yaish (também conhecido por Yahia Ben Rabbi) como tesoureiro das finanças do reino. Afonso Henriques criou assim, condições para o seu sucessor empregar Judeus em posições administrativas e nas finanças.Ibn Yaish não foi só chefe rabino,mas também cavaleiro chefe. Os herdeiros do rei Afonso colocaram Judeus na administração do reino. Isto durou durante o reinado dos 5 primeiros reis, na qual a situação dos judeus era boa e viviam em segurança.
Os problemas começaram mais tarde,mas mesmo durante o período em torno do massacre de 1391 contra os Judeus de Espanha, Portugal serviu de refúgio aos Judeus de Castilha.
Segundo Assis, a bem organizada comunidade de Alfama, além de autónoma, tinha um rabino chefe. Esta comunidade era reconhecida e protegida pela coroa portuguesa. A perseguição veio por parte da Igreja. A população Judia aumentou e aquando da expulsão dos judeus de Espanha (1492), cerca de 120.000 foram para Portugal.

Os Judeus nunca foram expulsos de Portugal até 1496. D. Manuel I queria casar-se com a filha de Ferdinando e Isabel, mas estes colocaram como condição, livrar-se dos Judeus, em Portugal. Quando os Judeus estavam para embarcar nos navios, padres exigiram a sua conversão ao catolicismo e não os deixaram embarcar. Assim, através do baptismo, o rei poderia afirmar não haver Judeus no País e como tal, poderia casar-se com a princesa.

Continua Assis, a maioria dos Judeus tornaram-se convertidos – convertidos à força – e a percentagem de Judeus, nestes acontecimentos, era a mais alta da Europa. Muitos conseguíriam posteriormente deixar o País para outros destinos. Temos um bom exemplo dos de Belmonte, cuja sociedade matriarcal preservou o Judaísmo vivo desde a Inquisição.

Artigos incluídos:

-- Historiadora Elvira Azevedo Mea "A Mulher Cristã Nova e a Inquisição" baseado em estudos dos ficheiros da inquisição, a qual opina, que foi a mulher cristã nova, a responsável pela transmissão das tradições Judaicas.

-- Eric Lawee escreve sobre o filósofo e financeiro Isaac Abarbanel (1437-1508 ), durante o período em que viveu em Portugal.

-- Elias Lipiner lida com a preocupação dos convertidos, em relação à lei religiosa judaica.

-- O co-editor Moises Orfali's "Judeus e Judaísmo na Polémica Cristã em Portugal," mostra como, mesmo depois de terem “desaparecido” os Judeus, as acusações escritas contra eles, não pararam. Este artigo, também se refere ao alcance da Inquisição - Goa, colónia Portuguesa na altura – onde muitos Sefarditas viviam. Em 1560, a inquisição, fundou a sua sede e começou a perseguição aos Judeus, Hindus e Muçulmanos.

-- Edgar Samuel escreve acerca da família Sefaradita Curiel (séc.16-17), onde ainda existem descendentes em Portugal, outros noutras partes do mundo, alguns queimados vivos na fogueira, outros absolvidos, outros tornaram-se católicos devotos e outros figuras públicas na América do Sul.

-- O Historiador José Nunes Carreira "A Diáspora Portuguesa (séc. 16 e 17) à luz de documentos de viagem" cobre os diálogos dos missionários portugueses. Ele descreve os viajantes, que escreveram sobre os encontros com judeus portugueses em Aleppo (Siria), Tripoli (Libia), Basra (Iraque), Cairo (Egito), Pérsia (Irão) e Palestina. Inclui o clérigo Gaspar de Bernadino , que afirma, que esses judeus em Aleppo falavam espanhol; conheceu judeus portuguees na Galileia, onde mais de 400 eram descendentes de famílias portuguesas. Os relatórios revelam , que as comunidades de sefarditas que foram para o Golfo Pérsico, ilha de Hormuz e Siria ansiavam por retornar a Portugal. Inclui também o frade Pantaleão de Aveiro, que descobriu muitos Judeus Portugueses no Médio Oriente (em Jerusalém, Galileia, Damasco e Tripoli). Pantaleão de Aveiro escreveu sobre a Dona Gracia Mendes Nasi, a qual arrendou Tiberias, em 1558, na altura pertença do Sultão Turco. Em Damasco, encontrou um homem de Braga, Portugal, que teve de fugir do País, após o seu pai ter sido queimado vivo.

-- Claude (Dov) Stuczynski lida com a identidade religiosa e as actividades económicas dos “Novos Cristãos “.