1.1.09

Porção Semanal: Vayigash


Bereshit 44:18 - 47:27

A Parashat Vayigash começa com a súplica ardorosa de Yehudá ao poderoso governante egípcio (Yossef ainda disfarçado) pela vida de Binyamin, alegando que Yaacov certamente morreria de dor se perdesse o seu filho mais jovem. Yehudá oferece-se para permanecer no Egipto como escravo no lugar do irmão mais novo. Yossef, incapaz de se segurar por mais tempo, revela a sua identidade aos seus atônitos irmãos, perdoando-os por vendê-lo como escravo tantos anos antes, declarando que enviá-lo ao Egipto era parte do plano Divino de preparar a sobrevivência da escassez. Yossef então envia-os de volta para a Terra de Israel carregados de presentes pedindo que tragam Yaacov e a sua família de volta ao Egipto onde viverão na província de Goshen. Antes que Yaacov saia de casa, D'us aparece-lhe reafirmando que Ele estará com eles e que no final retornarão à Terra de Israel como uma grande nação. Após vinte e dois anos de separação, Yaacov finalmente reúne-se com o seu amado filho Yossef, e são levados ao encontro do Faraó. A porção termina descrevendo como Yossef usou os seus vastos poderes para amealhar quase toda a riqueza do Egipto para o tesouro do Faraó.

Mensagem da Parashá

Conta a história que Aristóteles foi certa vez apanhado em flagrante por alguns dos seus alunos, cometendo um acto degradante que não condizia com a sua posição. Os discípulos ficaram atónitos. Afinal, pensaram eles, estamos tratando com um dos maiores pensadores de todos os tempos, e consequentemente, ele deveria personificar alguém extremamente elevado. Como poderia cair a tal nível? Sentindo a necessidade de reparar o dano, Aristóteles declarou: "Qual é o problema? Aristóteles não mudou. A palestra de amanhã ainda terá lugar às 9 horas. Mas agora estou me comportando como um ser humano comum, como qualquer um de vocês o faria!". A reação à história acima é previsível. Que hipocrisia! Como pode uma pessoa com tal profundidade de pensamento chegar a este nível de degradação? A história não registra a reacção dos alunos de Aristóteles a essa declaração; entretanto, bem pode-se imaginar que aqueles estudantes que testemunharam este comportamento foram provavelmente incapazes de assistir á palestra do dia seguinte. A separação entre a teoria e a prática é muito comum. Todos estudamos e temos conhecimento de várias e virtuosas formas de comportamento, mesmo assim quando se trata de implementar estas maravilhosas filosofias, parece haver certa dificuldade. O que falta? Como podemos infundir nas nossas acções os valores que tão facilmente entendemos? A habilidade de conectar as conclusões lógicas da mente com a sua execução em acção é uma faculdade conhecida em hebraico como "da'at". A palavra da'at literalmente significa conhecimento. Entretanto, a Torá também usa esta palavra referindo-se ao vínculo entre marido e mulher, indicando que da'at implica um grau de conhecimento que conecta e aproxima. Isto significa que não é o bastante simplesmente chegar a conclusões elevadas; a pessoa deve também comprometer-se com aquela conclusão, unificando a mente e o coração, órgão que controla as acções, dessa maneira obrigando-se a cumprir aquilo que foi tão claramente entendido. Isto explica uma expressão inusitada que a Torá utiliza na Porção desta semana. Após a dramática descrição da revelação de Yossef aos irmãos, a Torá relata que Yossef "caiu sobre o pescoço de Binyamin e chorou, e Binyamin chorou no seu pescoço". Os nossos sábios explicam que Binyamin chorou porque percebeu a destruição definitiva do Mishcan, o Tabernáculo que afinal estaria localizado no quinhão de Yossef em Israel, e Yossef chorou porque percebeu a destruição do Bet Hamicdash, o Templo Sagrado, que estaria na porção de terra de Binyamin. Deixando de lado a questão de que estavam a chorar pela futura destruição nesta época, ainda precisa ser esclarecido porque choravam especificamente no pescoço um do outro. Não faria mais sentido que o encontro acontecesse sobre a cabeça, ou perto dela, a parte mais elevada do corpo? Na verdade, a função do pescoço é única, pois numa situação saudável ele age como um condutor entre a cabeça e o coração (e portanto o restante do corpo). Como o intelecto está situado fisicamente na cabeça, diz-se que os nossos pensamentos podem também ser canalizados através do pescoço. Um bloqueio no pescoço, obstruindo a livre passagem do fluxo de pensamentos, é obviamente uma condição doentia. A função do pescoço é por isso, análoga à função do da'at. Ambos existem para forjar a conexão entre os pensamentos da mente que se traduzem em acções controladas pelo coração. Eis por que os irmãos choraram no pescoço um do outro. Os Templos foram destruídos em consequência dos pecados do povo judeu. Por outras palavras, o povo judeu não pôs em acção aquilo que sabiam em suas mentes. Existia um bloqueio. Ao prantear a destruição, portanto, os irmãos choraram especificamente sobre o pescoço, ensinando-nos que apenas o entendimento intelectual não é suficiente. Os actos são o supremo e mais importante objectivo.