26.12.08

Porção Semanal: Mikêts


Mikêts inicia-se com o famoso sonho do faraó sobre sete vacas esqueléticas devorando sete vacas gordas, seguido por sete magras espigas de cereal devorando sete espigas saudáveis.
Quando os seus conselheiros e necromantes foram incapazes de resolver adequadamente a intrigante charada, o faraó chamou Yossef (José), que havia estado na prisão por um total de sete anos, para interpretar os seus sonhos. Creditando o seu poder de interpretação unicamente a D'us, Yossef diz ao faraó que, após viverem sete anos de extraordinária abundância nas colheitas, o Egipto será assolado por sete anos de uma escassez devastadora.
Yossef aconselha o faraó a procurar um homem sábio para presidir a coleta e o armazenamento de grande quantidade de alimentos durante os anos de fartura. Impressionado pela brilhante interpretação, o faraó designa Yossef para ser o vice-rei do Egipto, fazendo dele o segundo homem na hierarquia do país.
A mulher de Yossef, Asnat, dá à luz dois filhos, Menashê e Efraim, e os anos de fartura e escassez acontecem como Yossef havia predito.Com a fome abatendo também na terra de Canaan, os irmãos de Yossef vão ao Egipto para comprar alimentos. Como não reconhecem o seu irmão, Yossef põe em acção um plano para determinar se eles se arrependeram totalmente pelo pecado de tê-lo vendido quase vinte anos atrás.
Yossef age com indiferença e acusa-os de serem espiões, mantendo Shimeon como refém, enquanto o restante dos irmãos retorna com os alimentos para Canaan. Yossef, ainda não sendo reconhecido, conta-lhes que Shimeon será libertado apenas quando retornarem ao Egipto com o irmão mais novo. Relutante a princípio, mas confrontado pela escassez crescente, Yaacov finalmente concorda em permitir aos filhos que levem Binyamin com eles. Ao chegarem ao Egipto, Yossef testa ainda mais os irmãos, tratando bem a todos, mas mostrando um grande favoritismo por Binyamin.
Quando os irmãos finalmente voltam para casa com os baús repletos de cereais, Yossef esconde a sua taça na sacola de Binyamin e este é acusado de ter roubado o precioso objecto. A porção termina com a ameaça pendente de que Binyamin será feito escravo do governante egípcio.

Mensagem da Parashá

Ao descrever os talos saudáveis no "sonho do trigo" do faraó, diz a Torá: "E vejam, havia sete sadias e boas espigas de grão crescendo num único talo" (Bereshit 41:5)
É interessante notar que a respeito das magras espigas de grão, a Torá não menciona que cresciam num único talo. Não parece provável que esta diferença fosse inconsequente, pois sabemos que cada detalhe mencionado na Torá é importante e não deve ser deixado de lado. Assim, permanece a dúvida: porque a Torá descreve as boas espigas como crescendo num só talo e omite este detalhe a respeito das espigas doentes?
O Otzar Chaim propõe uma solução engenhosa para esta discrepância. Explica que podemos, de facto, aprender uma importante lição desta diferença na descrição: que aquilo que é bom e significativo tende a se fundir e ficar junto. Entretanto, aquilo que é mau e sem propósito não pode tolerar a harmonia e a concordância. Por esta razão, as espigas boas e saudáveis cresciam em um único talo. Devido à boa e pura disposição das espigas, era natural que se unissem para crescer em um só talo. Por outro lado, as espigas mirradas e doentes, naturalmente mostrando desarmonia, "escolheram" crescer em talos diferentes, porque na verdade, qualquer união do mal é apenas para o avanço das necessidades e desejos individuais.
É interessante notar que, quando alguém pesquisa o passado dentro de alguns milhares de anos da história judaica, percebe que esta mensagem é especialmente verdadeira. O povo judeu jamais representou mais que uma ínfima fracção da população mundial. Apesar disso, o povo judeu permaneceu, tem sobrevivido, e continua a ser ouvido neste mundo. Como isto é possível?
A lógica diria que o povo judeu, com todas as provações e sofrimentos destes anos, deveria ter desaparecido há muito. Mais especificamente, encontramos na história judaica casos de pequenos grupos de judeus enfrentando inimigos maiores e mais fortes. Mesmo assim, o povo sempre emerge vitorioso.
Poucos judeus a derrotarem um numeroso inimigo pode ser encontrado na história de Chanucá. Um pequeno número de soldados judeus levantou-se em rebelião contra o poderoso exército grego e conseguiu expulsa-los da Judéia. Este feito milagroso, provavelmente mais que qualquer outro evento, serve como um microcosmo da história judaica. Onde, então, está o segredo do nosso sucesso?
Poderia parecer que a resposta se encontra nos conceitos acima mencionados. Quando um número de indivíduos se reúne para fazer o bem, naturalmente formarão um grupo coeso. Na história de Chanucá, a missão de restaurar a ordem e a paz no Templo Sagrado e na terra da Judéia levou à formação de um grupo unido. E como diz um velho adágio, "cinco palitos unidos são mais fortes que dez palitos separados".
Os Macabeus, reunidos com o propósito do bem, puderam derrotar o exército grego que era composto simplesmente por indivíduos, cada um procurando em realizar os seus próprios desejos. Ocorre o mesmo com a nação judaica como um todo. Quando empreendemos uma missão sagrada, instintivamente formamos uma força invencível, que nos possibilita sobrepujar os nossos adversários. Este é o segredo do nosso sucesso.
Não é minha intenção diminuir a natureza miraculosa da vitória dos Macabeus. Não há dúvida de que a derrota dos gregos não teria acontecido sem a intervenção Divina. Estou apenas a propor o meio através do qual ocorreu o milagre. Por isso, entre as outras lições de Chanucá, podemos também extrair este importante ensinamento da Festa das Luzes.
Ao acendermos a Menorá e avistarmos todas as velas acesas - e percebermos, que embora cada vela individual emite apenas um pequeno brilho, todas as velas juntas formam uma espetacular exibição de fogo e luz - podemos então lembrar a mensagem de Chanucá: a sobrevivência do povo judeu.