24.1.08

Porção Semanal: Yitrô


Shemot 18:1 - 20:23

A porção de Yitrô inicia-se com o sogro de Moshê, Yitrô, na chegada ao acampamento do povo judeu no deserto, onde é saudado calorosamente por grande quantidade de pessoas. Yitrô desejou juntar-se a eles quando ouviu falar de todas as maravilhas e milagres que D'us realizara para o povo judeu durante o êxodo do Egipto.
Quando vê que Moshê está a agir como único juiz do povo desde o amanhecer até a noite, Yitrô declara que este sistema jamais funcionará. Sugere portanto que juizes subordinados sejam designados para julgar os casos menos importantes. Moshê concorda com este plano.
O povo judeu chega ao Monte Sinai e prepara-se para receber a Torá. Moshê escala a montanha e D'us lhe diz para transmitir ao povo de que serão para Ele como um tesouro entre as nações. Após três dias de preparação, finalmente chega o momento da revelação, e no meio de trovões, raios e o som do shofar, D'us desce sobre a montanha e proclama os Dez Mandamentos.
Moshê então sobe à montanha para receber o restante da Torá de D'us, tanto a parte escrita como a oral. A porção é concluída com várias mitsvot referentes à construção do Altar no Templo.

Mensagem da Parashá

"No terceiro mês após a saída dos Filhos de Israel do Egipto, neste dia finalmente chegaram ao deserto do Sinai" (Shemot 19:1).
À primeira vista, este versículo parece inócuo; o que pode haver de especial em dizer-nos que os Filhos de Israel chegaram ao Sinai? Entretanto, Rashi imediatamente alerta-nos para o facto de que este versículo contém mais do que possamos suspeitar. Rashi enfatiza que a Torá não escreve "naquele dia", implicando que "naquele" no passado, quando eles chegaram. Ao contrário, a Torá escreve "neste dia", parecendo indicar o verdadeiro dia no qual lemos este versículo. Este emprego, continua Rashi, ensina-nos, que a Torá deveria ser nova para nós a cada dia, como no dia em que foi outorgada.
Se examinarmos o contexto deste versículo, verificamos que esta lição está situada apropriadamente. Como declara o versículo, os judeus acabaram de chegar ao Monte Sinai e logo a seguir, recebem a Torá directamente das mãos de D'us. Imagine, se puder, a cena no acampamento dos Filhos de Israel. Limpeza, lavagem, banhos - todos estão ocupados preparando-se, pois todos perceberam que este não é apenas mais um dia comum. A revelação no Monte Sinai assinala o maior de todos os acontecimentos, desde a Criação. É o clímax dos eventos que começaram com a divisão entre luz e trevas.
Relâmpagos, trovões e fumo rodeiam a montanha - o mundo todo não pode evitar de perceber este evento extraordinário. Os judeus no Monte Sinai receberam permissão de chegar mais perto do Divino do que qualquer outro povo, antes ou depois. Como poderia um judeu viver este fenômeno incrível e não se tornnar cativo da Torá e das suas leis? Como poderia alguém em tal estado de euforia não ser avassalado por um sentimento de paixão para realizar a vontade do Criador?
Obviamente, nesta notável ocasião, os filhos de Israel sentem um intenso nível de fascinação e comprometimento com a Torá que acabaram de receber. Não podem deixar de cumprir as suas leis e mandamentos. Mas e quanto ao amanhã? O que acontecerá quando o entusiasmo inicial arrefecer? O que acontecerá quando os relâmpagos, trovões e efeitos especial forem esquecidos? Os Filhos de Israel ainda cumprirão as mitsvot com a mesma intensidade? Na verdade, isso parece muito pouco provável. Exactamente por esta razão, a Torá escolheu este momento específico para ensinar a lição importante enfatizada por Rashi.
Após a euforia inicial do recebimento da Torá ter passado, eles devem entender que o seu zelo em cumprir as mitsvot não pode diminuir. Assim, cada dia deve ser visto como se a Torá tivesse sido outorgada hoje. Ao relembrar aquele primeiro dia em que chegaram ao deserto do Sinai, os judeus podem novamente atingir aquele nível de entusiasmo pela Torá.
Se aqueles judeus que viveram apenas alguns dias subseqüentes à Revelação precisassem ser lembrados desta mensagem, muito mais nós que vivemos nos dias de hoje, três mil anos depois, precisamos receber esta lição no nosso coração. É muito fácil ser-se envolvido pela rotina. Rezar três vezes ao dia, recitar bênçãos antes de comer - estas coisas facilmente tornam-se tão habituais que começamos a realizá-las feito robôs, ao invés de seres humanos. O status quo é confortável e familiar. Entretanto, este tipo de comportamento e maneiras deveria ser evitado a qualquer custo.
Os perigos da mediocridade estão bem documentados, mesmo nos domínios da não-Torá. Dante reservou o lugar mais quente do Inferno para aqueles que não queriam ir adiante, contentes em correr no mesmo lugar. Assim que começamos a cumprir as mitsvot mecanicamente, ao invés de fazê-lo com a atenção e concentração que merecem, as leis tornam-se sem vida e rançosas. Em vez de servirem de inspiração para a nossa vida do dia-a-dia, os mandamentos tornam-se fardos problemáticos dos quais logo nos cansamos.
Dessa maneira, a Torá reúne-nos aqui hoje para quebrarmos o círculo vicioso. Não podemos satisfazer-nos com o status quo. Devemos esforçar-nos para ir para a frente, buscando novos picos na nossa vida espiritual. O primeiro passo neste plano é uma mudança de atitude. Como uma criança transbordando de entusiasmo por ter acabado de ganhar um brinquedo novo, da mesma forma devemos receber cada novo dia, com o mesmo entusiasmo. Com tal mudança de atitude, a Torá e as suas leis recebem um novo significado. Ao invés de serem obstáculos nas estradas, as mitsvot tornam-se os nossos mapas na estrada da vida. em vez de nos restringir, a Torá agora nos liberta das amarras da mediocridade. Se apenas considerarmos a mensagem de "neste dia", nós também podemos atingir o mesmo nível de fervor e zelo pela Torá que tinham os judeus quando da Revelação. Nós também podemos sentirmo-nos como estarmos a receber a Torá no Monte Sinai todos os dias.