13.1.08

Agir de forma similar a D'us

BOM DIA! O que é a verdadeira espiritualidade? Meu querido amigo, o Rabino Avraham Goldhar, que desenvolveu uma abordagem revolucionária para ajudar as crianças a irem melhor na escola (www.goldhar.com), propôs o seguinte modelo de atributos para esclarecer a nossa definição de espiritualidade. Coloque um “X” num atributo de cada par que considerar ser mais espiritual:

Emoção ( ) .............................Intelecto ( )

Bondade ( ) ............................... Justiça ( )

Comunidade ( ) ......................... Solidão ( )

D’us ( ) .................................. Natureza ( )

Serenidade ( ) ......................... Desafios ( )

Agora, se quiser tentar algo realmente interessante, coloque um “X” em cada atributo que associar ao Povo Judeu. O mais fascinante é que a maioria das pessoas associa espiritualidade com emoção, bondade, solidão, natureza e serenidade ... e o Povo Judeu com intelecto, justiça, comunidade, D'us e desafios. A razão é que temos uma noção oriental de espiritualidade, a de uma felicidade espiritual conectada ao universo. A abordagem Judaica de espiritualidade é baseada no propósito de aprimorarmos o mundo (tikun olám, em hebraico), algo que exige intelecto, justiça, comunidade, D'us e desafios. Para o Judaísmo, o intelecto deve ser direccionado em termos emocionais, mas a emoção não deve dominar e controlar a vida da pessoa: precisamos tomar decisões baseadas no intelecto.
A justiça cuida para que o mundo seja um local onde a bondade prevaleça. Uma sociedade deve estar desejosa de identificar o que é certo e errado e opor-se claramente ao mal. Caso contrário, alguém pode tentar fazer um acto de bondade e acabar causando coisas ruins e perversas. A comunidade nos provê com um entendimento de quem somos – membros de um povo: mesmo ao estarmos sózinhos, ainda somos parte de algo maior. Compreender que existe um Criador e ter um relacionamento com Ele torna o natural algo muito mais profundo. Este mundo é uma realidade coberta por um véu, e o Criador está por detrás dele. As pessoas só conseguem desfrutar de serenidade quando conquistam um determinado patamar de desafios. Se não, a busca pela serenidade torna as pessoas atormentadas por não conseguirem atingir o seu próprio potencial ou as expectativas que estabeleceram para si. Há alguns anos uma moça judia fez uma escala em Israel na sua viagem para a Índia, à procura de espiritualidade. Os seus amigos sugeriram-lhe, que fosse até um seminário chamado Nevê Yerushalaim, em Jerusalém, assistir a uma aula e dar ao Judaísmo uma última chance antes de procurar outros caminhos. O grupo em que entrou estava a estudar as leis da Torá que tratam sobre a devolução de objectos perdidos: a partir de quando um item é considerado perdido, o que ocorre se o dono não tem mais esperanças de recuperar o que perdeu, o que constitui um sinal de identificação legítimo para o dono reivindicar o objecto como sendo seu, quanto esforço e dinheiro devem ser investidos para se devolver um objecto encontrado, etc. A moça ficou furiosa: isto seguramente NÃO era espiritualidade. Saiu indignada e seguiu para a Índia. Seis meses depois, ela e o seu guru estavam a caminhar pelo vilarejo, discutindo um assunto filosófico. Encontraram uma carteira cheia de rúpias (o dinheiro indiano). O guru apanhou o dinheiro, colocou-o no seu bolso e continuou a discorrer sobre o ponto em que estavam. A moça o interrompeu e perguntou: “O senhor não vai verificar se há alguma identificação na carteira para devolvê-la?” O guru respondeu: “Não. É o carma da pessoa que a perdeu e é o meu carma que a encontrei. Portanto, é minha”.
A moça rogou: “Mas o dono pode ter uma família numerosa e este pode ser o seu salário do mês... eles podem passar fome se o senhor não devolver o dinheiro”. O guru respondeu: “Este é o carma deles”.
A jovem então lembrou-se da aula que tivera em Jerusalém – e percebeu que
espiritualidade sem justiça, bondade e preocupação pelos demais é apenas uma emoção espiritual falsa e corrupta. Ela voltou para Jerusalém e no final retornou à sua herança espiritual, a Torá. A Torá equipa-nos com uma verdadeira percepção sobre espiritualidade. No seu início ela relata um episódio em que o Todo-Poderoso apareceu para Avraham no terceiro dia após o seu Brit Milá (circuncisão).
No meio da conversa, Avraham viu três homens aproximando-se e quis oferecer a sua hospitalidade. Ele falou ao Todo-Poderoso: “D'us, se o Senhor gosta de mim, por favor guarde-me”. Será mesmo que Avraham estava pedindo ao Todo-Poderoso que ‘ficasse na linha’ enquanto cuidava de três simples mortais? Como é possível? O que pode haver de mais espiritual do que falar com D'us?
A resposta está no Talmud (Shevuot 35b e Shabat 127a): “Oferecer hospitalidade aos viajantes é mais grandioso do que receber a Presença Divina” – é melhor ser como D'us do que conversar com D'us! É melhor aceitar responsabilidades pelo mundo e os seus habitantes do que conversar com D'us. Isto é a verdadeira espiritualidade: agir de forma similar a D'us.

Por isso é que as pessoas precisam de inteligência, justiça, comunidade, D'us e desafios ao desejarem atingir uma genuína espiritualidade.