14.1.08

SABEMOS O VALOR DAS COISAS?

"João Carlos caminhava pela rua, cabisbaixo e amargurado. Pensava na pobreza que reinava na sua casa, onde não havia nem mais comida suficiente para alimentar os seus filhos. Deu um grande suspiro enquanto pensava o quanto era amarga a sua sorte.
De repente, João Carlos olhou para a rua e viu algo brilhando.
Imediatamente foi ver o que era, talvez fosse uma moeda que refletia o brilho do sol. Chegando perto, percebeu que era uma pedra muito bonita, com um brilho especial. Pegou a pedra e ficou a brincar com ela, atirando-a de uma mão para outra. Pensou em dar a pedra ao seu filho pequeno para brincar, para distraí-lo, para que ele não pensasse na fome. Quando passava pela loja do seu amigo Henrique, o ourives da cidade, decidiu mostrar-lhe a pedra. Quem sabe se aquela pedra não valia alguma coisa?
João Carlos entrou na loja de Henrique e mostrou-lhe a pedra.
Henrique pegou numa lente de aumento e ficou a examinar a pedra atentamente. De repente, deu um grito emocionado:
- Não acredito. Encontras-te uma pedra preciosa valiosíssima. Acho inclusive que esta pedra poderia ser colocada na coroa do rei.
Imediatamente avisou o rei que alguém tinha em sua posse uma pedra magnífica, que ficaria muito bem na coroa real. O rei, interessado, mandou enviados para trazerem a pedra e o seu dono. Quando o rei olhou para a pedra, imediatamente gostou e decidiu comprá-la, não importava o preço. Virou-se para João Carlos e perguntou:
- Quanto quer por esta pedra magnífica?
- Vou ser sincero com Vossa Majestade – respondeu João Carlos. No momento que encontrei esta pedra, não sabia que ela era valiosa. Para mim parecia apenas uma bonita pedra brilhante. Portanto, Vossa Majestade pode me dar a quantia que achar justa, nem que seja penas um bom prato de comida.
O rei mandou chamar um avaliador, que logo percebeu a preciosidade da jóia. João Carlos foi muito bem recompensado, com uma enorme quantidade de ouro, e em sua casa nunca mais houve pobreza."
Explica o rabino Chafetz Chaim que a nossa Torá sagrada é mais valiosa do que pérolas e barras de ouro, pois por cada palavra que pronunciamos quando a estudamos receberemos uma recompensa para toda a eternidade. Mas como somos pobres de conhecimento, muitas vezes a abandonamos e a trocamos por coisas que, no final, não terão valor nenhum.

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Na Parashá desta semana, Bô, D'us manda as últimas 3 pragas, e finalmente o faraó dá permissão ao povo judeu de sair em liberdade.
Porém, antes da última praga, D'us fala para Moshé: "Por favor, diga aos ouvidos do povo: 'Peçam, cada homem de seu companheiro e cada mulher de sua companheira, objectos de prata e objectos de ouro' "(Shemot 11:2). Surgem duas perguntas: Por que D'us pediu para Moshé "por favor", e simplesmente não ordenou que pedissem as riquezas dos egípcios? E qual a necessidade dos judeus saírem com riquezas, não era suficiente a liberdade que D'us estava dando?
Explica Rashi, famoso comentarista da Torá, que D'us pediu "por favor"' para que Avraham Avinu não reclamasse com Ele. Mas por que Avraham reclamaria? Muitos anos antes, D'us havia firmado um pacto com Avraham, e havia lhe profetizado o futuro do povo judeu: "E Ele disse para Avraham: 'Saiba que os seus descendentes serão estrangeiros numa terra que não será deles. E eles os servirão, e os oprimirão, por 400 anos. E também este povo a quem eles servirão, Eu os julgarei, e depois disso sairão com grande riqueza' " (Bereishit 15:13,14). Se o povo saísse sem as riquezas, Avraham poderia questionar: "D'us, porque cumpriu a parte da escravidão e da opressão, mas não cumpriu a parte da grande riqueza?". Mas toda a preocupação de D'us era só com a reclamação de Avraham Avinu? Não é suficiente problema D'us não cumprir o que prometeu?
Explicam os nosso sábios que D'us, quando prometeu que os judeus sairiam com grandes riquezas, não estava referindo-se às riquezas materiais, e sim à maior de todas as nossas riquezas: a Torá, com todos os seus maravilhosos conhecimentos, que nos ensinam como viver a vida neste mundo e como construir a nossa eternidade. Porém, D'us sabia que infelizmente nem todos do povo judeu teriam a claridade para entender que a verdadeira riqueza neste mundo é a Torá e não as posses materiais, que são passageiras. Avraham é considerado o protector do povo judeu, principalmente daqueles de nível espiritual mais baixo, e constantemente ele tenta interceder pelo povo judeu, como se fosse o nosso advogado de defesa. Portanto, D'us cumpriria a promessa de qualquer maneira, pois logo após a saída do Egipto D'us entregou-nos a Torá. Mas para que Avraham não precisasse de reclamar por aqueles que preferiam os bens materiais, D'us pediu por favor para Moshé instruir o povo a pedir riquezas aos seus vizinhos.
Para nós, fica a pergunta: será que sabemos dar o verdadeiro valor á nossa Torá? Será que sabemos que ela vale mais do que ouro e pedras preciosas? Ou será que muitas vezes trocamos momentos de estudo de Torá por momentos a mais de trabalho, para recebermos um pouco mais de dinheiro no fim do mês? Porque nos contentamos com pequenos prazeres materiais, se podemos ter acesso a riquezas e prazeres muito maiores?

Rabino Efraim Birbojm