22.10.07

Judeus em perigo na Europa


Uma pessoa que perdeu recentemente um ente querido veio conversar comigo. Entre as várias coisas que conversamos, disse-lhe que provavelmente acharia de grande interesse um livro (em inglês) publicado recentemente intitulado Living Kaddish, escrito pelo Rabino canadiano Gedalia Zweig. Nele o Rabino Zweig desperta a nossa consciência sobre a profunda e extremamente importante mitsvá de os homens dizerem o Kadish. Ele apresenta-nos a dezenas de Judeus por todo o mundo, com diferentes antecedentes religiosos, que compartilham as suas histórias pessoais e os seus desafios para dizerem o Kadish e, ao cumprirem esta mitsvá, as suas experiências inesquecíveis, milagrosas e que modificaram as suas vidas.
Uma história que achei muito estimulante e significativa foi a de um homem chamado Martin Sokol procurando um
minián (um quorum de 10 homens Judeus acima de 13 anos de idade, necessário para o serviço de orações e para se recitar o Kadish) em Bruxelas, na Bélgica. Um estranho, que se identificou como Judeu, ofereceu a Martin que seguisse o seu carro até um minián. Ao passarem por um edifício que ficava numa área cheia de depósitos de estocagem, o estranho apontou para uma porta e gritou pela janela do seu carro: “É lá dentro” e foi embora. O Sr. Sokol tocou a campainha de uma porta de aço cinza e foi rapidamente introduzido após dizer o que queria. Foi então cercado por diversos homens com metralhadoras Uzi que queriam saber quem ele era e como chegara lá. Quando contou a sua história, eles o questionaram persistentemente: Quantos anos tinha quando fez bar mitsvá? Quando é Shabat? Quantas perguntas fazemos em Pessach? Somente então o deixaram entrar no edifício. Foi aí que Martin Skol descobriu que havia entrado numa Yeshiva. O forte esquema de segurança devia-se a que alguns meses antes o líder da Comunidade Judaica de Bruxelas havia sido assassinado por terroristas da OLP. Escreveu o Sr. Skol: “Quando descobri onde estava e refleti sobre o forte esquema de segurança a que estes filhos e netos de sobreviventes do Holocausto estavam submetidos, fiquei sem palavras. Lágrimas encheram os meus olhos. A minha garganta ficou obstruída de emoção. Não consegui parar de pensar que pouco mais de cinquenta anos após o Holocausto, os Judeus estavam novamente em perigo na Europa. Para mim, esta experiência foi um símbolo da nossa longa e conturbada história”.
“O Kadish é recitado para se lembrar de pessoas amadas que não mais estão entre nós. Aquelas crianças ajudaram-me a lembrar que sobrevivemos e que sempre haverá uma outra geração que irá relembrar, que lutará para manter a nossa preciosa herança espiritual e que recitará o Kadish”.

O QUE É O KADISH DOS ENLUTADOS E POR QUE É RECITADO?

O Kadish é a prece que um enlutado recita por 11 meses após o falecimento do seu pai ou mãe. É recitado por apenas um mês em caso de falecimento de um irmão, irmã, esposa ou marido, filho ou filha. É comumente conhecido como a ‘Oração dos Mortos’. Na realidade, ao lermos a tradução das suas palavras, que estão em aramaico, contata-se que é uma afirmação na crença e confiança no Todo-Poderoso. Eis a tradução baseada no Sidur Artscroll:

Que o Seu grande Nome seja exaltado e santificado no mundo que Ele criou conforme a Sua vontade.

Que Ele queira estabelecer o Seu reinado ... durante as nossas vidas e durante a vida de toda a Família de Israel, rapidamente e em breve.

(A Congregação responde: ‘Amen. Que o Seu grande nome seja abençoado para sempre e eternamente’).

Abençoado, louvado, glorificado, exaltado, enaltecido, honrado, elevado e elogiado seja o nome do Todo-Poderoso.

(A Congregação responde: ‘Abençoado Seja’)

Acima de todas as bênçãos e cânticos, louvores e consolações que possam ser pronunciados no mundo.

Que possa haver paz abundante vinda dos Céus e vida boa sobre nós e todo Israel.

Aquele que estabelece a paz nas alturas, que possa trazer a paz sobre nós e sobre todo Israel.

Como se pode notar, não há nenhuma menção ao falecido, sobre morte ou luto. O Kadish é uma afirmação de vida: o reconhecimento do Todo-Poderoso, uma prece para que Sua grandeza seja reconhecida no mundo e um pedido por paz e vida.
O Kadish é recitado porque, além de afirmar e reassegurar a crença do enlutado no Todo-Poderoso, ele traz méritos à alma da pessoa falecida, pois aquele que recita o Kadish (o enlutado) faz com que a congregação louve o nome de D'us ao recitarem “Que o Seu grande nome seja abençoado para sempre e diariamente” e “Abençoado Seja”. Há muitas histórias no Talmud e no Midrásh (uma coletânea de explicações sobre a Torá) sobre os grandes benefícios gerados pelo pronunciamento do Kadish para a alma da pessoa falecida no Mundo Vindouro. Um amigo meu confidenciou-me, que a obrigação de dizer o Kadish não apenas lhe proporcionou uma maneira de demonstrar respeito e gratidão aos seus pais, mas o confortou tremendamente trazendo-o à sinagoga e à companhia de outros Judeus duas vezes por dia.