15.10.07

O problema é a falta de educação


O Sr. Guinzberg (nome fictício) chegou no Beit Din (Tribunal Rabínico) decidido a pedir o divórcio da sua esposa. Depois de 15 anos casado, ele não aguentava mais viver ao lado da sua esposa. Ela estava sempre mal-humorada e reclamava de tudo o que ele fazia. O rabino chefe do Beit Din perguntou o nome dele e o nome da esposa, parou alguns instantes para pensar, como se estivesse fazendo algum cálculo, e falou:
- Sr. Guinzberg, eu entendo que o Sr. queira se divorciar, e é um direito seu. Porém, vendo o seu nome e o nome da sua esposa, percebi que a Guemátria (soma do valor numérico de cada letra) do nome dela é incompatível com a Guemátria do seu nome, e segundo a Kabalá esta pode ser a fonte dos seus problemas de Shalom Bait (Paz familiar). Eu tenho uma sugestão para si: mudaremos o nome da sua esposa, e tentaremos por mais um mês manter o casamento. Se mesmo assim não funcionar, então pode voltar e faremos imediatamente o divórcio. O Sr. Guinzberg aceitou, e o rabino propôs que a esposa dele, que se chamava Lea, passasse a ser chamada de Chana Lea. Segundo o rabino, acrescentar mais um nome resolveria o problema da Guemátria. - Porém – continuou o rabino – como vocês estão casados há 15 anos, será difícil mudar o hábito de chamá-la apenas de Lea. Por isso, vou dar-te uma sugestão. Todos os dias de manhã, no momento em que acordares, deves olhar para a tua esposa, dar um sorriso e dizer "Bom dia, Chana Lea". Todos os dias antes de dormir, olhas para a tua esposa, dás um sorriso e dizes "Boa noite, Chana Lea". E todas as vezes que a tua esposa fizer algo por ti, como servir o almoço, arrumar a casa ou passar a tua roupa, deves olhar para ela e dizer "Obrigado, Chana Lea". Assim em poucos dias te terás acostumado ao novo nome. Uma semana depois, o Sr. Guinzberg voltou ao Beit Din à procura do rabino chefe. Ele contou, com um grande sorriso nos olhos:

- Realmente esta história de Guemátria dos nomes funciona! A minha vida mudou, a minha esposa sorri para mim, parou de reclamar e estamos a entendermo-nos muito bem. Isto é um milagre!

O rabino, quando conta a história aos seus alunos, explica que o problema nunca foi a Guemátria dos nomes. O problema foi a falta de Derech Eretz (bons modos). (HISTÓRIA REAL)

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Nesta semana lemos, na Parashá Noach, sobre o dilúvio que quase apagou do mapa toda a humanidade. A geração havia se corrompido, e actos como roubo, assassinato e imoralidade sexual eram vistos com naturalidade. Somente Noach e a sua família foram salvos do dilúvio, e tiveram o mérito de recomeçar a humanidade. Apesar de ser possível construir a arca em pouco tempo, Noach passou 120 anos construindo-a, no topo de uma montanha, para que servisse como um sinal, para que as pessoas soubessem do dilúvio e se arrependessem dos seus maus actos, anulando o mau decreto. E mesmo quando o dilúvio começou, não começou com uma chuva forte, e sim com uma pequena chuva, para ainda dar tempo a outras pessoas de despertarem e se arrependerem. Mas ninguém mais se arrependeu e mereceu ser salvo. A lição a tirar é de que, quando uma pessoa não quer ver a verdade, nenhum sinal é suficiente para abrir os seus olhos, como diz o ditado "o pior cego é aquele que não quer ver". Se D'us decidiu recriar a humanidade a partir de Noach, é porque viu nele boas características, que seriam importantes para serem transmitidas aos seus futuros descendentes. A primeira grande característica de Noach é que, apesar de viver numa geração completamente pervertida, apesar de todas as influências e pressões sociais, ele conseguiu se manter íntegro e recto. É muito difícil não receber más influências, e não são raros casos de jovens que, ao andar com más companhias, se desviam e começam a usar drogas e a fazer actos de vandalismo e crueldade para serem aceites no grupo. Noach teve estrutura e força espiritual para suportar as pressões sociais, e mesmo sendo visto pelos outros como um "perdedor", manteve-se firme nas suas convicções de ser uma pessoa correcta. Porém, há uma outra boa característica de Noach que nos chama a atenção. Desde o dia que Noach entrou na arca, ele não teve um segundo de sossego. Durante os 12 meses em que ele ficou dentro da arca, o seu trabalho para alimentar os animais e manter a limpeza era incessante, e não houve uma única noite em que Noach e a sua família conseguiram deitar e dormir um sono tranquilo. Após 12 meses na arca, quando finalmente as águas baixaram, o que era esperado de Noach é que ele saísse a correr da arca, libertando-se de todo aquele trabalho pesado. Mas Noach não correu, Noach nem saiu da arca até que D'us lhe dissesse que saísse. Porquê? Pois ele tinha uma grande característica chamada "Derech Eretz" (bons modos). Como ele somente havia entrado na arca com a ordem de D'us, ele entendeu, racionalmente, que somente poderia sair também com a permissão de D'us, e por isso ele aguardou pacientemente. Derech Eretz é a capacidade de se comportar como um "Mench", uma pessoa digna, em todos os actos. Desde o bom dia para o porteiro ou o faxineiro, até o reconhecimento e o agradecimento pelas coisas boas que recebemos das pessoas mais próximas, que muitas vezes nos esquecemos com o passar do tempo, como acontece nos casamentos. Um animal faz o que seu instinto manda, e o que diferencia o ser humano de um animal, o que o faz ser um "Mench", é a possibilidade do auto-controle, do trabalho das características internas. Não gritar com as pessoas, não se ser glutão nas festas, respeitar e dar valor aos outros. São infinitas possibilidades que temos no nosso quotidiano de aperfeiçoar os nossos bons modos. O nosso comportamento externo é um reflexo do nosso interior, e portanto, as pessoas que não se comportam com Derech Eretz demonstram que precisam ainda de trabalhar as suas características interiores. Também podemos aprender Derech Eretz observando o comportamento de D'us com todas as Suas criaturas. Quando D'us criou o mundo, está escrito "Façamos o homem", no plural. Porquê? Pois ele se aconselhou com os anjos antes de criar o ser humano. Mesmo sendo perfeito, mesmo sabendo tudo, Ele quis ensinar-nos Derech Eretz, dando consideração aos anjos, que já haviam sido criados. E quando D'us pedia algo a Avraham ou a Moshé, Ele dizia "Por favor". Mesmo sendo o Criador Supremo do mundo, mesmo sendo Aquele cuja vontade sempre é cumprida, Ele pedia "por favor". Muitos confundem os bons modos do Derech Eretz com "etiqueta social". Porém, há uma grande diferença, pois que importa se a pessoa sabe com qual garfo vai comer se ela não sabe como falar de forma agradável com as outras pessoas? Para que é importante saber como se estende o guardanapo no colo ou como se limpa a boca com "classe" se a pessoa não dá o mínimo valor para os outros? Também é Derech Eretz comer de forma adequada, mas não podemos esquecer que quem dita as regras é o Criador do mundo, e Ele espera de nós muito mais do que apenas não apoiar os cotovelos na mesa.


Rav. Efraim Birbojm