Devemos empenhar-nos ...
O título de meu último livro, “Os anjos não deixam pegadas”, baseia-se na afirmação do Talmud de que os anjos apenas ficam parados, enquanto os seres humanos podem caminhar.
Nesta afirmação está implícito que por mais santificados que sejam os anjos, eles o são por terem sido criados desta forma. A sua santidade não é fruto das suas próprias acções. Os anjos não conseguem aperfeiçoar-se. Não se podem tornar ainda mais santificados do que quando foram criados. Pois os anjos são estacionários, nem progridem nem retrocedem.
Os seres humanos, por outro lado, não são criados com santidade. Pelo contrário, são criados com um corpo físico que tem fortes impulsos e desejos de agir em total contraste com a santidade. Quando os homens exercem controle sobre as suas urgências físicas e agem de acordo com a moral e a ética, tornam-se espirituais e santificados por obra do seu próprio empenho. Contrapondo-se aos anjos que são estacionários, os seres humanos caminham, podendo, portanto, progredir. É por esta razão que os ensinamentos da nossa Torá nos dizem que os homens são superiores aos anjos.
Quando as pessoas progridem espiritualmente, elas impactam o ambiente que as rodeia. A sua família, os seus amigos e a sua comunidade são influenciados pela sua espiritualidade. Eles assim possibilitam que outros sigam os seus passos, as suas pegadas. Daí o título do meu trabalho, “Os anjos não deixam pegadas”. As pessoas, sim, deixam a sua marca.
Uma pessoa pode minimizar o efeito dos seus actos. “O que eu fizer não mudará o mundo”. Isto é um grave erro. Se agirmos moralmente e espiritualmente, estaremos elevando o mundo. Se nos comportarmos de forma imoral, faremos com que o mundo se degenere.
A nossa responsabilidade, enquanto povo que recebeu a Torá, é a obra de Tikun Haolam, a rectificação do mundo. Trata-se de uma assombrosa responsabilidade, mas uma responsabilidade à qual não ousamos nos furtar.
De modo semelhante a outros seres vivos, o homem, por natureza, busca o prazer. Em nome do comportamento ético e moral, com frequência temos que nos privar de certos prazeres. A nossa mente tem enorme capacidade de racionalização. O Rei Salomão, nos seus Provérbios, diz: “Os caminhos do homem são justos aos seus próprios olhos”. Ou seja, conseguimos encontrar justificativa para o que quer que seja da nossa vontade, para o que desejarmos.
Se usarmos o nosso intelecto apenas para encontrar formas de aumentar o nosso prazer e justificar os nossos actos, seremos exatamente aquilo pelo qual a ciência nos identifica: homo sapiens, animais inteligentes.
A perspectiva da Torá é muito diferente. Estamos aqui para ser criaturas espirituais, cujo comportamento é determinado pelo que é certo ou errado – e não por aquilo que desejamos. Não devemos satisfazer-nos com aquilo que somos. Devemos empenhar-nos em ser aquilo que podemos vir a ser.
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