Julgando os outros e a si mesmo
Por Lori Palatnik
Devemos dar sempre a nós mesmos e aos outros o benefício da dúvida.
Frequentemente, nas nossas vidas religiosas, cometemos o erro de pensar que se não fizermos tudo perfeitamente, é melhor que não façamos nada. Afinal, pensamos, “por que ser um hipócrita?”
No meu seminário, “How to Raise a Mensch” (“Como criar um Mensch”), menciono que nunca devemos castigar uma criança em estado de raiva. Agora, digamos que eu convido a si para minha casa na próxima sexta-feira à noite depois da aula. Você vem para apreciar uma boa comida de Shabat, porém durante a noite os meus filhos começam a comportar-se mal. (Sim, até os filhos do rabino se comportam mal.) Tento pacientemente educá-los, distraí-los e influenciá-los a fazer outra coisa... entretanto, perco a minha paciência. Fervendo de raiva, castigo-os.
A caminho de casa você pensa, "Como ela é hipócrita! Esta semana ensinou-nos que nunca devemos castigar alguém quando estamos com raiva, e hoje à noite o fez."
Será que sou uma hipócrita? Os hipócritas dizem algo, e não colocam em prática, pois não acreditam verdadeiramente no que disseram. Quando disse que não devemos castigar em estado de raiva, acreditei nisto. O facto de ter perdido a minha paciência na sexta-feira não me torna uma hipócrita; faz-me um ser humano tentando viver com as minhas convicções da melhor forma possível.
Se eu cometer um erro ao criar os meus filhos, será que devo dizer: "Ah não! Perdi a paciência. Acho melhor entregá-los para a minha vizinha criar?"
Não. Acalmo-me, tento deixar as coisas mais claras, e começo tudo novamente.
Se, por acaso, uma pessoa que está de dieta, acabar por comer um doce, esta deveria dizer: “Será que como a caixa inteira?” Claro que não.
Está ideia também se relaciona ao judaísmo, pois se não posso cumprir tudo, é melhor que não cumpra nada. Isto é um erro, porque cada mitzvá que fazemos, cada acto de bondade, cada reconhecimento da presença de D’us é para sempre, mesmo que erremos um minuto antes ou depois disso. Às vezes na vida é necessário andar três passos e parar dois, mas, pelo menos, está-se a ter progresso!
Esforço e sucesso
Temos os nossos ideais, como não gritar com os nossos filhos, cumprimentar a todos com um sorriso, julgar as pessoas amavelmente, lembrar que existe um D’us acima de nós, mas não estamos à altura deles. D’us entende isto. Ele criou-nos e não fica surpreso quando cometemos erros. Os nossos sábios dizem: "de acordo com a dor é a recompensa" (Avot 5:26). O que significa que a recompensa é por tentar e não por ter sucesso. Tudo o que D’us quer para nós é que façamos um esforço, tendo sucesso ou não. D’us não espera perfeição e sim que tentemos entender a vida, tomar decisões baseadas nos nossos valores e não em caprichos e sentimentos, e empenharmo-nos para viver com estas decisões. Os nossos sábios perguntam, qual é a diferença entre uma pessoa boa e uma má?
A resposta: "Uma pessoa boa cai sete vezes, uma pessoa má só uma vez" (Provérbios, 24:16). A pessoa boa cai e então se levanta novamente, novamente, e novamente. Mas uma pessoa má cai e nunca se levanta. Não podemos evitar cometer erros. Porém, o que aprendemos deles e como viveremos posteriormente é o verdadeiro teste de todo o ser humano.
Julgando o próximo
Os nossos sábios indagam: “Quando lhe é permitido julgar outra pessoa?” A resposta é: Nunca. A explicação dada é a seguinte:
Quem disse que o seu sangue é mais vermelho que o dele? (Talmud - Sanhedrin 74a)
Ou seja, não sabemos quem é mais amado aos olhos de D’us. Não sabemos realmente quem é melhor. Não conhecemos os desafios que D’us deu a outra pessoa para que cresça. Nós as encontramos no meio da sua história de vida, por exemplo, no "Capítulo 3”. Não sabemos o que aconteceu no capítulo 1 ou 2 e nem o que virá nos Capítulos 4, 5 ou 6.
Ainda assim, somos muito rápidos para julgar. Uma pessoa que parece estar num nível mais baixo pode ter, de facto, trabalhado duramente para superar as dificuldades e alcançar este nível. Já outros, embora pareçam íntegros e realizados, estejam, talvez, usando somente uma parte dos seus talentos e habilidades.
Com que frequência as pessoas lhe elogiam por algo que vem naturalmente e lhe custou só um pequeno esforço da sua parte? Talvez seja uma habilidade artística ou fluência de idioma. Porém, outras áreas da sua vida não vêm tão naturalmente e exijam um esforço muito maior. Estas podem não ser as áreas que brilham ou chamam atenção, mas você sabe, e D’us também, que são muito mais importantes em termos de auto-realização.
A tradição judaica diz-nos, que não podemos julgar alguém "a menos que estejamos no seu lugar”. E já que nunca estaremos exactamente no mesmo lugar e circunstância de vida da outra pessoa, não podemos julgá-la.
Mas isto não significa que devamos ser tão cabeça-aberta que aceitemos cegamente alguém ou alguma coisa. Não podemos julgar uma pessoa, mas podemos julgar as suas acções. Mesmo quando as pessoas cometem erros, podemos ver o melhor, amar, e cuidar delas apesar dos seus erros. Percebermos isto pelos nossos filhos Quem conhece as suas falhas melhores do que a gente? Ainda assim, escolhemos amá-los.
Somente D’us pode verdadeiramente julgar uma pessoa, e Seu julgamento é único para cada indivíduo e não se baseia em fórmula alguma. Maimonides diz que uma pessoa pode alcançar um mérito que poderia ter muito mais valor do que toda uma vida de erros.
Infinito potencial
Qual é o primeiro atributo que D’us usa para julgar uma pessoa? É a aprendizagem da sabedoria da vida. O que não significa que o primeiro passo no julgamento está baseado em quanto sabemos. Está baseado na nossa aprendizagem, em quanto tentamos duramente descobrir o que é certo. D’us não espera a perfeição, e sim que tentemos, em todos os aspectos das nossas vidas.
Os nossos sábios ensinam, "Não se considere uma pessoa má”. Ou seja, que é um erro até mesmo nos julgarmos. Todos erramos em julgamento, mas cada um de nós foi criado à imagem de D’us, e rotular-nos de "estúpido," "ruim," ou "desprezível," está calculado no Seu plano. Cada pessoa foi criada com um potencial infinito.
Quando cometer um engano, pare, esclareça-o, e volte ao seu caminho. Não deixe que um erro diminua a pessoa boa que você é e a grandeza que D’us sabe que pode alcançar. Como um exercício, pense no seu parente favorito. Como esta pessoa querida olha para os outros? Ela lhes dá o benefício da dúvida? Esforça-se para julgar os outros favoravelmente? Qual o sentido de auto-valorização para ela? Tente lembrar-se de uma história na sua vida que ilustre este ideal. E então viva com ela.
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