29.7.09

Tisha Beav


Uma boa semana! Qual o dia mais triste da vida de uma pessoa? Provavelmente é o dia do falecimento de um parente mais próximo (pai, mãe, irmão, irmã, filho, filha ou cônjuge). E se a pessoa não sente nenhuma tristeza pelo falecimento de seu parente próximo? Então certamente deveria sentir-se triste pela sua falta de apreço e por sua incapacidade de sentir a emoção apropriada.
O Dia 29 de julho deste ano, quarta-feira, iniciando-se ao pôr do sol, até o anoitecer de quinta-feira, é Tishá BeÁv, o 9 dia do mês Judaico de Av. É o dia mais triste do calendário Judaico. O que a pessoa deve fazer se não tem nenhum sentimento em especial por Tishá BeÁv? Se for Judeu (ia) e se se identifica com o Judaísmo, então cabe-lhe descobrir o porquê de nós, como um Povo, estarmos de luto neste dia. O que perdemos nesta data? O que ela significa para nós? O que devemos fazer para recuperar o que perdemos?
Em 1967, pára-quedistas israelitas capturaram a Cidade Velha de Jerusalém e abriram caminho até ao Muro das Lamentações (Kotel HaMaaravi). Muitos dos soldados religiosos estavam emocionados e encostaram-se ao Muro, orando e chorando. Um pouco afastado do Muro estava um soldado não-religioso que também chorava. Os seus colegas perguntaram: “Porque choras? O que o Muro representa para ti?” O soldado respondeu: “Estou a chorar, pelo contágio!”
O dia de Tishá BeÁv é observado para lamentarmos a perda dos Templos Sagrados de Jerusalém. Qual foi a grande perda resultante da destruição dos Templos?
Foi a perda do sentimento da presença Divina entre nós. O Templo era um local de orações, espiritualidade, santidade e milagres a céu aberto. Era a parte mais importante do Povo Judeu, o ponto focal da identidade Judaica. Três vezes ao ano (Pessach, Shavuót e Sucót) todo o Judeu ascendia ao Templo. A sua presença permeava todos os aspectos da vida Judaica: o planeamento do ano, o lado para onde a pessoa se voltava para rezar, onde recorria por justiça ou para estudar Torá, onde trazia certos dízimos, etc.

Neste mesmo dia, através da História, muitas tragédias aconteceram ao Povo Judeu, incluindo:
1. O incidente com os espiões difamando a Terra de Israel, com o consequente decreto para vaguearem pelo deserto por 40 anos.
2. A destruição do Primeiro Templo, em Jerusalém, por Nevuchadnétzar, Rei da Babilónia.
3. A destruição do Segundo Templo, em Jerusalém, pelos romanos, no ano 70 E.C.
4. A queda da cidade de Betar e o fim da revolta de Bar Kochvá contra os romanos, 62 anos depois, no ano 132 E. C.
5. Os Judeus da Inglaterra são expulsos em 1290.
6. Iniciam-se as Primeiras Cruzadas. Dezenas de milhares de Judeus são mortos e muitas comunidades completamente destruídas.
7. Os Judeus da Espanha são expulsos em 1492, dando início à Inquisição Espanhola.
8. A Primeira Guerra Mundial irrompeu em Tishá BeÁv de 1914, quando a Rússia declarou guerra contra a Alemanha. O ressentimento alemão após ter sido derrotado criou o palco para o Holocausto.
9. Começou a deportação dos Judeus do Gueto de Varsóvia. Tishá BeÁv é um dia de jejum (com a mesma duração que Yom Kipur: do anoitecer de um dia até o anoitecer do dia seguinte) que culmina e encerra as Três Semanas de luto do Povo Judeu. Neste dia somos proibidos de comer e beber, banhar-nos, usar cremes, loções ou óleos, calçar sapatos de couro ou manter relações conjugais.
A idéia é minimizar o prazer e fazer o corpo sentir o desconforto que a alma deveria sentir em relação a tragédias como estas. Como em todos os dias de jejum, o objectivo deste dia é a introspecção, fazendo um balanço espiritual e corrigir os nossos caminhos - o que em Hebraico é chamado Teshuvá, o retorno para o caminho do bem e da honra. Os Tefilin são colocados somente na parte da tarde, após as 13:00 hs.

Teshuvá é um processo de quatro etapas:
1) Precisamos conscientizar-nos das coisas erradas que fizemos e de nos arrepender de tê-las feito.
2) Precisamos parar de fazer estas transgressões e corrigir quaisquer danos que possamos ter causado.
3) Assumimos a responsabilidade de não repetir o erro novamente.
4) Precisamos, verbalmente, pedir ao Todo-Poderoso que nos desculpe. Na noite de Tishá BeÁv, lemos na sinagoga a Meguilá Eichá (pronuncia-se Eirrá), o livro das Lamentações, escrito pelo profeta Yirmiáhu (Jeremias). Também recitamos as Kinót, poemas especiais recontando as tragédias, que aconteceram com o Povo Judeu durante toda a História. Com o ambiente à meia luz, sentamo-nos em almofadas ou pequenas banquetas em sinal de luto.

O estudo da Torá é o coração, a alma e o sangue do Povo Judeu. É o segredo da nossa sobrevivência. Estudar leva ao entendimento e o entendimento leva à acção. Uma pessoa não consegue amar aquilo que não entende. Estudar Torá dá-nos uma grande satisfação ao nos proporcionar a oportunidade de entendermos as nossas vidas. Em Tishá BeÁv somos proibidos de estudar Torá, com excepção daquelas partes que tratam sobre as calamidades que o Povo Judeu tem sofrido. Precisamos parar, refletir, mudar a nós mesmos e, somente assim, estaremos aptos a fazer deste um mundo melhor. Durante toda a nossa História passámos por Holocaustos, Pogroms, Cruzadas e outros massacres. Isto por si só já nos faria despertar a seguinte pergunta: “Por que os nossos ancestrais tão persistentemente insistiram em se manterem Judeus quando, com poucas palavras, poderiam terem-se convertido – excepto durante o Holocausto – e salvo as suas vidas e a dos seus familiares? O que eles sabiam que não sabemos? O que precisamos então saber?” Repetindo a história que compartilhei convosco - o imperador francês Napoleão Bonaparte caminhava pelas ruas de Paris, quando ouviu lamentos e gritos vindos de uma sinagoga. Querendo saber o motivo, vieram informar-lhe que aquele era o dia de Tishá BeÁv e que os Judeus estavam a chorar pela destruição do seu Templo em Jerusalém. “Como eu não ouvi sobre isto? Quando aconteceu?”, perguntou Napoleão. Quando descobriu que o facto ocorrera há quase 2.000 anos, Napoleão permaneceu em silencio e então falou: “Uma nação que recorda o seu Templo destruído e lamenta tão profundamente e por tanto tempo a sua perda, certamente terá o mérito de o reconstruír novamente!”