Porção Semanal: Balac
Bamidbar 22:2 - 25:9
A Parashá Balac muda das viagens do povo judeu no deserto para contar a história de Bilam, o profeta pagão que tentou amaldiçoar os Filhos de Israel. Contratado por Balac, o rei de Moav, Bilam concorda em embarcar numa jornada até ao acampamento israelita; entretanto, primeiro pede permissão a D'us, e vai com a condição de que falaria apenas aquilo que D'us colocasse na sua boca. Durante a viagem, um anjo com uma espada bloqueia o caminho de Bilam, fazendo com que se desvie repetidas vezes da estrada. Incapaz de ver o anjo, Bilam reage golpeando o jumento desobediente por três vezes. Milagrosamente, D'us faz com que o animal fale com Bilam, e D'us abre os olhos do humilhado profeta, para que possa ver o anjo de pé no seu caminho. O anjo então lembra a Bilam uma vez mais que ele pode apenas falar as palavras que o Criador colocar na sua boca. Próximo do acampamento dos judeus, Bilam tenta amaldiçoá-los repetidamente; em todas as vezes D'us o impede, e em vez disso ele termina por pronunciar várias bênçãos e preces, para consternação de Bilam.
A Porção da Torá termina com a licenciosidade dos homens judeus com as filhas promíscuas de Moav e Median, e o indecente acto público de Zimri, um príncipe da Tribo de Shimon, com uma princesa medianita. Pinechas, neto de Aharon, reage furiosamente furando-os até a morte com uma lança, detendo uma peste que D'us havia feito irromper no acampamento.
A mensagem
O Talmud (Tratado Berachot 12b) declara que os Sábios queriam incluir a porção Balac desta semana da Torá no nosso recital diário da prece fundamental Shemá. A questão, é claro: porque? O que há de tão especial na Porção Balac da Torá para justificar que seja recitada diariamente numa das nossas preces mais importantes? A resposta pode ser encontrada num versículo em particular - "Eles são uma nação que se levanta como um jovem leão" (Bamidbar 23:24).
O Sfas Emes explica que os rabinos consideraram este versículo tão importante porque representa uma das mais elevadas aclamações do povo judeu. Como o leão, somos uma nação que sempre se levanta; não importa o quanto caímos, sempre nos levantamos. Isso é o que são os judeus, e é o traço de carácter do qual mais nos orgulhamos. Somos um povo que se ergue das cinzas. Essa é uma qualidade expressa por qualquer um que tenha alguma ligação com uma família que passou pelo Holocausto, e sobrevive hoje para chamar-se judeu. Nos campos de concentração, Eichmann tirou a cortina de uma Arca Sagrada e colocou-a sobre a entrada da câmara de gás. Sobre ela estava escrito o versículo: "Este é o portão para D'us; os justos passarão por ele." Fez isso como zombaria - zombando de D'us, do povo judeu, e de tudo aquilo além do reino deste mundo físico. Porém a mensagem era bem verdadeira - os judeus que passaram por aquela cortina tornaram-se justos. Eichmann e os nazistas desapareceram há muito tempo, mas colocamos de volta aquela cortina nas nossas arcas. Erguemo-nos novamente como um leão, e existem agora mais cortinas e mais sinagogas para colocá-las do que jamais houve antes. Não importa quantas vezes possamos cair, sempre nos levantamos novamente. Esta é a característica do povo de Israel. Os profetas chamam-nos de "uma nação de sobreviventes." O Rei Salomão escreveu: "Um justo que cai sete vezes e se levanta novamente" (Mishlê 24:16). O que é, exactamente, um justo? Um indivíduo justo não é necessariamente quem jamais comete pecado, mas sim a pessoa que peca e levanta-se novamente. Esta é a mensagem que o Rabino Hutner escreveu a um dos seus alunos que estava desanimado sobre a sua aparente falta de conquistas e desenvolvimento espirituais. O rabino disse-lhe: "Não desista. É disso que trata a vida - as batalhas, os conflitos. Os nossos sábios dizem que o único modo de tornar-se um indivíduo justo é após a queda. Isso é o que o torna melhor. O crescimento vem apenas com o conflito. Não é automático. Por vezes precisa de perder algumas batalhas antes de vencer a guerra."
É disso que trata a teshuvá, retorno ao caminho de Torá e mitsvot. Haverá batalhas, retrocessos, conflitos e perdas. Mas temos de nos levantar outra vez. É uma lição na história judaica e uma lição a cada um de nós. Às vezes, nós, como judeus, podemos hibernar. Podemos passar anos sem cumprir mitsvot. De repente despertamos como um leão e mudamos. Somos uma nação que não é derrotada, uma nação de sobreviventes. É devido a esta característica que ainda estamos aqui hoje.
SHABAT SHALOM
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