Começa na quinta-feira á noite, shavuot (a festa das semanas), o dia em que o Povo Judeu recebeu a Torah há quase quatro milénios. Desde esse dia, que se tem dedicado á sua leitura e estudo. Os dez mandamentos foram revelados e dados por Hashem.
A primeiro de Sivan, o primeiro dia do terceiro mês após o Êxodus do Egipto, os Filhos de Israel chegaram ao Deserto do Sinai e acamparam perto da montanha.
Durante as poucas semanas de viagem no deserto sob a protecção Divina, com milagres diários, tais como o maná e a codorna, o miraculoso adoçamento da água, a derrota de Amalec e a travessia do Mar Vermelho, o povo judeu havia se tornado mais e mais consciente de D'us.
A fé tornava-se mais intensa a cada dia, até que atingiram um padrão de santidade, solidariedade e unidade, jamais conseguido antes ou depois por qualquer outra nação.
Moshê ascendeu ao Monte Sinai, e D'us disse-lhe as seguintes palavras: "Assim dirás à casa de Yaacov, e dirás aos Filhos de Israel: 'Vocês viram aquilo que fiz aos egípcios, e como Eu os trouxe nas asas da águia, e os trouxe até a Mim. Agora, portanto, se ouvirem de facto a Minha voz, e se mantiverem a Minha aliança, então serão o Meu tesouro dentre todos os povos; pois toda a terra é Minha; e serão para Mim um reino de sacerdotes, e uma nação sagrada.'"
Moshê voltou do Sinai e chamou os anciãos do povo e transmitiu-lhes todas estas palavras de D'us. Unanimemente, com uma voz e uma só mente, o povo respondeu: "Naasê Venishmá" - "Tudo que D'us falou, assim o faremos."
Dessa forma, aceitaram totalmente a Torá, com todos seus preceitos, sem ao menos pedir uma enumeração detalhada das obrigações e deveres que nela estavam envolvidos.
Quando Israel havia se prontificado a receber a Torá, D'us falou novamente a Moshê: "Vá até ao povo, santifique-os hoje e amanhã, e deixe que lavem as suas vestes, e estejam prontos ao terceiro dia: pois no terceiro dia todo o povo verá o Senhor no Monte Sinai. Estabeleça limites para o povo, dizendo: Prestem atenção; não subam ao Monte, ou toquem na sua borda, pois aquele que o fizer morrerá."
A Revelação no Sinai
A alvorada do terceiro dia trouxe trovões e relâmpagos que encheram o ar. Pesadas nuvens pairavam sobre a montanha, e os sons crescentes e constantes do shofar fizeram o povo estremecer com temor. Moshê levou os Filhos de Israel para fora do acampamento e colocou-os ao pé do Monte Sinai, que estava todo coberto por fumaça e trepidações, pois D'us tinha descido sobre ele, em fogo.
O toque do shofar intensificou-se, mas de repente todos os sons cessaram, e seguiu-se um silêncio absoluto; então D'us proclamou os Dez Mandamentos desta forma:
1 - "Eu sou o Senhor teu D'us, que te tirei da terra do Egipto, da casa dos escravos.
2 - "Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti imagem de escultura, figura alguma do que há em cima, nos céus, e abaixo na terra, ou nas águas, abaixo da terra. Não te prostrarás diante deles, nem os servirá, pois sou o Eterno, teu D'us, D'us zeloso, que visita a iniquidade dos pais aos filhos sobre terceiras e quartas gerações aos que me aborrecem; e mostrarei misericórdia até mil gerações aqueles que Me amam e guardam os Meus mandamentos.
3 -"Não jurarás em nome do Eterno, teu D'us, em vão; porque não livrará o Eterno ao que jurar o Seu nome em vão.
4 - "Lembra-te do dia de Shabat para santificá-lo. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. E o sétimo é o Shabat do Eterno, teu D'us, e não farás nenhuma obra, tu, o teu filho, a tua filha, o teu servo, a tua serva, o teu animal, e o teu peregrino que estiver nas tuas cidades; pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar, e tudo o que há neles, e repousou no sétimo dia; portanto, abençoou o Eterno o dia de Shabat e o santificou.
5 - "Honra o teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o Eterno, teu D'us, te dá.
6 - "Não matarás.
7 - "Não cometerás adultério.
8 - "Não furtarás.
9 - "Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.
10 - "Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, e o seu servo, ou a sua serva, e o seu boi, e o seu asno, e tudo que seja do teu próximo.
Moshê recebe a Torá
Todo o povo ouviu as palavras de D'us, e ficaram assustados.
Imploraram a Moshê para ser o intermediário entre D'us e eles, pois se o próprio D'us continuasse a dar-lhes toda a Torá, certamente morreriam. Moshê disse-lhes para não terem medo, pois D'us revelara-Se a eles para que O temessem e não pecassem.
Então D'us pediu a Moshê para subir a montanha; pois apenas ele era capaz de ficar na presença de D'us. Lá Moshê receberia as duas tábuas contendo os Dez Mandamentos e a Torá completa, para ensiná-los aos Filhos de Israel.
Moshê subiu a montanha e lá permaneceu por quarenta dias e quarenta noites, sem comer ou dormir, pois havia se tornado semelhante a um anjo. Durante este tempo, D'us revelou a Moshê toda a Torá, com todas as suas leis e as suas interpretações.
Finalmente, D'us deu a Moshê as duas Tábuas do Testemunho, feitas de pedra, contendo os Dez Mandamentos, escritos pelo próprio D'us.
A Parashá Bamidbar, a primeira porção do quarto livro da Torá, está principalmente envolvida com o recenseamento do povo judeu feito no segundo mês de seu segundo ano no deserto. Após relacionarem os líderes das doze tribos de Israel, a Torá apresenta os totais de homens entre as idades de 20 e 60 anos para cada tribo, sendo que a contagem totalizou 603.550.A estrutura do acampamento é então descrita, com a tribo de Levi no meio, guardando o Mishcan, Tabernáculo, e cercada pelas doze tribos de Israel, cada uma na área que lhe foi designada. É feita a designação da tribo de Levi como os líderes espirituais do povo judeu, e o seu próprio censo é realizado, à parte do restante de Israel.A porção da Torá conclui com as instruções dadas à família de Kehat, o segundo filho de Levi, pelo seu papel em lidar com as partes mais sagradas do Mishcan.
Mensagem da Parashá
Na porção desta semana de Bamidbar, encontramos um Midrash fascinante no primeiro versículo: "E D'us falou a Moshê no deserto do Sinai." O Midrash explica que a Torá foi outorgada em associação com três coisas - fogo, água e no deserto.O Rabi Meir Shapiro dá uma bela explicação sobre a importância destas três coisas. Explica que o traço de carácter que destacou o povo judeu desde o início é o espírito de auto-sacrifício. Isso tem sido sempre evidente no nosso cumprimento das leis da Torá e na nossa aderência à sua fé.Avraham, o primeiro dos nossos Patriarcas, permitiu-se ser atirado a uma fornalha ardente por ter quebrado os ídolos do seu pai, e foi salvo apenas por um verdadeiro milagre de D'us. Por este acto, ele conferiu a todas as gerações futuras a vontade e a força de morrer pelo seu judaísmo. Algumas pessoas poderiam argumentar que este foi um acto de heroísmo isolado de um indivíduo notável. Deveriam então considerar um segundo exemplo envolvendo todo o povo judeu. Quando o Mar Vermelho foi dividido, o povo judeu marchou como uma só nação para as águas enraivecidas, tendo ao seu comando, o Criador.É claro que alguém poderia argumentar ainda que este teste ocorreu num período de tempo relativamente curto. Deixemos então que considerem o terceiro exemplo, o facto de toda a nação judaica voluntariamente entrar no deserto sem comida ou bebida, não sabendo quanto tempo teriam de lá permanecer. Fizeram isso apenas por amor e lealdade a D'us, como está escrito em Yirmiyáhu "Lembro-Me da afeição da tua juventude... como seguiram-Me no deserto, numa terra que não era semeada" (2:1).Foi em virtude destes três testes - pelo fogo, água e deserto - que a Torá foi outorgada ao povo judeu como a sua possessão eterna. A disposição para desistir da vida pela sua crença em D'us, assegurou a nossa sobrevivência até aos dias de hoje.
Neste mês comemoramos o evento mais significativo da História judaica e a própria base do judaísmo, a festa de Shavuot, que marca a revelação Divina no Monte Sinai e a Outorga da Torá.
A importância deste acontecimento é frisada num verso das orações diárias: "Guarda-te muito bem... para não te esqueceres do dia em que estiveste diante do Senhor [no Sinai]."
O estudo da Torá necessita de preparação, a qual se constitui de três elementos básicos: dedicação à vontade do Altíssimo, humildade e união. Estas são indicadas no versículo: "Eles deixaram Refidim e chegaram ao deserto de Sinai… e lá Israel acampou em frente à montanha."
Refidim foi o lugar onde os judeus foram atacados por Amalec, que pôde agir devido ao facto do povo ter negligenciado os ensinamentos transmitidos por Moshê. Deixar Refidim simboliza a correcção desta falha através de uma dedicação sincera que chegou ao auge na declaração: "Tudo que D’us mandar faremos."
"Chegar ao deserto" expressa a humildade, segundo explicação do Talmud: "Todo aquele que se considera humilde como um deserto merecerá receber a Torá." Humildade verdadeira é a fonte de todas as características boas e positivas.
O terceiro elemento – união – é indicado pela palavra "acampou" na forma singular (e não "acamparam", como os outros verbos da frase que aparecem no plural). Quanto mais forte o elo entre os judeus, mais estes se tornam parte integrante da Torá. Aliás, cinco dos Dez Mandamentos tratam do comportamento entre o homem e o seu próximo.
Hoje em dia, ao recitar as bênçãos da Torá, o texto diz: "D’us dá-nos a Torá" (e não "deu", no passado). A Outorga da Torá, além de um evento histórico, é um processo contínuo. Por isso devemos estar sempre prontos, tal como os nossos antepassados no deserto.
Que este evento no Sinai sirva de modelo para a nossa vida. Para nos tornarmos um povo, prometemos dedicação, humildade e união; e para continuar como nação temos de honrar a nossa palavra.
Bechucotai, a última porção da Torá do Livro Vayicrá, começa por relacionar brevemente algumas das bênçãos e recompensas que o povo judeu receberá por seguir diligentemente a Torá e por cumprir as mitsvot. A porção então muda para o assunto que a tornou famosa - a tochachá, a severa admoestação de D'us. Passo a passo, a Torá descreve as tragédias que acontecerão ao povo judeu, muitas vezes em termos descritivos, por eles terem abandonado a observância da Torá e mitsvot fornecendo uma lúgubre descrição daquilo que foi a nossa história até este dia. A porção então continua para falar sobre a santificação dos presentes voluntários ao Templo Sagrado, e o processo pelo qual uma pessoa pode monetariamente redimir aqueles itens santificados para o seu próprio uso. O Livro de Vayicrá conclui com uma breve discussão sobre os dízimos, incluindo uma porção que o fazendeiro deve ele próprio consumir dentro da cidade de Jerusalém, chamada ma'asser sheni.
Mensagem da Parashá
D’us esqueceu-se?
por Micah Gimpel
A porção desta semana da Torá contém a tochachá, a famosa advertência severa aos Filhos de Israel por não seguirem os caminhos que D'us ordenou. Entretanto, embora a longa passagem comece com uma nota negativa, termina de modo inspirador. D'us diz-nos que perdoará os Filhos de Israel assim que se arrependam e mudem o seu modo de agir. Esta secção enaltecedora começa com um interessante versículo: "Lembrar-me-ei do Meu pacto com Yaacov, e também do Meu pacto com Yitschac, e também do Meu pacto com Avraham lembrarei, e lembrar-me-ei da Terra" (Vayicrá 26:42). Linguisticamente, este versículo é bastante difícil por várias razões. Rashi cita um Midrash que faz uma pergunta óbvia e esclarecedora: porque a Torá usa a linguagem de "lembrar" referindo-se a Yaacov e Avraham, mas não em relação a Yitschac? Seria possível que D'us lembre-Se menos de Yitschac que dos outros? O Midrash, conforme foi citado por Rashi, dá uma resposta que requer alguns esclarecimentos. Declara que o Criador vê as cinzas de Yitschac como se fossem juntadas e colocadas sobre o altar; portanto, lembrar é desnecessário no caso de Yitschac. Esta declaração refere-se à akeidá, o quase-sacrifício, de Yitschac na mão do seu pai, descrito no final da Parashá Vayerá (Bereshit 22:1-19). Deixando-se de lado a aparente irrelevância da akeidá ao assunto em discussão, devemos em primeiro lugar entender sobre o que o Midrash está a falar, pois como se deve lembrar, Yitschac jamais foi sacrificado, e portanto nunca foi queimado sobre o altar. No último momento Avraham rescindiu a Sua ordem. Se é aquele o caso, como pode o Midrash dar uma resposta aparentemente tão erronea, falando sobre as cinzas inexistentes de Yitschac? A akeidá foi um tremendo teste de fé, que serve como paradigma da grandeza de Yitschac. Contando já 37 anos e maduro de carácter, Yitschac concordara em agir de acordo com a ordem de D'us e dar a sua vida. Este fiel atributo brotou da natureza passiva de Yitschac. Durante toda a sua vida, a sua grandeza foi demonstrada por sua falta de iniciativa. Voltou às mesmas cidades que Avraham havia visitado anteriormente, a fim de reforçar o que o seu pai já havia feito; poucas vezes fez algo por sua própria iniciativa. Foi durante a akeidá que a passividade de Yitschac mostrou-se mais fortemente, e isso caracteriza a sua vida inteira e toda a sua personalidade. O Criador, portanto, viu Yitschac como se efectivamente tivesse sido sacrificado sobre o altar, pois estava desejoso de entregar a sua vida até mesmo no último momento. As cinzas teriam representado a realização do sacrifício e permanecem perante D'us como um lembrete permanente da grandeza de Yitschac. Portanto, o Chofetz Chaim explica, como as cinzas de Yitschac são sempre vistas, não há necessidade de se lembrar. Este entendimento sobre Yitschac esclarece ambas as perguntas. A razão pela qual Yitschac não é "lembrado" no versículo é simplesmente porque jamais foi esquecido. É desnecessário lembrar algo que permanece constantemente no primeiro plano da consciência. Portanto, ao responder esta questão, o Midrash refere-se à akeidá – o meio pelo qual ele jamais fora esquecido – para expressar a grandeza de Yitschac, a sua passividade. Moshê diz aos Filhos de Israel os castigos que advirão pelos seus pecados, e como Ele os perdoará. As acções dos Filhos de Israel foram tão ofensivas que não podiam pedir misericórdia pelas suas iniquidades. Mas pelo mérito de Yitschac, que representa a grandeza pela falta de acção, os Filhos de Israel poderiam arrepender-se e pedir a D'us para deixar passar os seus horríveis pecados, concentrando-se na sua falta de acção. A passividade de Yitschac permite-nos sermos grandes através da nossa própria passividade. Evitarmos uma situação negativa pode por vezes ser equivalente a realizar um acto positivo.
Nas semanas anteriores ao Dia da independência – comemorado este ano na última semana de Abril – vendedores de ocasião aproveitavam para ganhar uns trocos nos principais cruzamentos do país, vendendo pequenas bandeiras para colocar nos vidros dos automóveis. Sucesso (e dinheiro) garantido. Varandas, árvores, cercas e janelas das casas cobriram-se das cores nacionais. Ainda na pré-escola, as crianças aprendem uma alegre canção que as ajuda a identificar-se com a bandeira nacional: Ha'deguel sheli hu kahol ve'lavan!... (A minha bandeira é azul e branca!...). Os símbolos nacionais não são rodeados de um tabu como em Portugal e outros países. Aqui, a bandeira e o escudo com as insígnias do Estado de Israel são usadas numa enorme parafernália de objectos turísticos: postais, borrachas e lápis (com a consequente "extinção" da bandeira por via do uso), T-shirts ou até chinelos de praia. Abrenúncio, sujar a bandeira das quinas com o pó da rua! A paixão e ostentação da bandeira é um fenómeno que em Israel dura o ano inteiro. Não é uma febre passageira dependente do feriado da Independência – ainda que tenha o seu pico nesta época. Em Portugal, apenas me lembro de uma febre destas por alturas do Euro’2004 quando o treinador Scolari apelou aos portugueses para cobrirem o país de vermelho e verde. O apelo de Scolari – foi preciso um brasileiro para apelar à paixão lusitana – foi um sucesso. Em especial para os supermercados. Algumas bandeiras mantiveram-se nas casas, mas com o distanciar da festa e as agruras dos elementos, poucas sobreviveram ao primeiro Inverno. Eu, que nunca fui muito dado a clubismos e nacionalismos e que, em 2004 apenas pela emoção das vitórias da equipa portuguesa segui o rebanho dos decoradores de janelas com a bandeira das quinas, não decorei este ano a janela de casa com a "azul e branco". Porém, alguns dias antes do Dia da Independência, a caminho da yeshiva encontrei uma pequena bandeira num palito, caída no chão. Coloquei-a no fecho da minha mochila. Só durou uma tarde, até um menino atrevido a ter topado no autocarro. "Posso?", perguntou ele, cobiçando a minha bandeira-miniatura. "OK…" deixando-o tirá-la e brincar com ela. A mãe não ficou muito entusiasmada e alguns minutos depois, farto de girar e balançar a bandeirinha no seu micro-mastro, o miúdo devolveu-a ao seu lugar no fecho da mochila. Desajeitado, partiu o palito que a sustentava. Guardei os despojos da mini kahol ve’lavan e em casa deitei-os no lixo. Naquele final de tarde, enquanto viajava de autocarro para Gilo, a fim de chegar ao cruzamento onde costumo pedir boleia para Alon Shevut, observei os bairros árabes de Beit Safafa e Sharafat, que ladeiam a grande subida de Gilo. Nem uma bandeira de Israel. Ali, as cores e as bandeiras serão outras, mas também não serão as verdes do Hamas. As fidelidades dos habitantes locais estão – secretamente – divididas. As sondagens efectuadas nas comunidades árabes de Israel demonstram que apesar de a maioria se sentir descriminada de alguma maneira pelo Estado, ainda assim a grande maioria prefere viver em Israel do que em qualquer outro país. Se existe algum apreço pela nação onde vivem, nenhum o declara. Nos bairros árabes, as paredes têm ainda mais ouvidos. Nos últimos dias, uma nova bandeira tomou conta dos postes de iluminação pública em Jerusalém: a "branco e dourado", do Vaticano. A próxima visita do Papa à Terra Santa é a razão para a nova decoração das ruas. (Ah, os condutores já começam a perguntar quando chega o apifior – papa, em hebraico. Prevêem-se engarrafamentos monumentais numa cidade complicada até nos dias normais.) E quando o visitante for embora, as bandeiras vaticanas serão rapidamente substituídas por mais uma dose de "azul e branco". Até à visita do próximo VIP.Em Israel, ao contrário do que acontece em Portugal, a bandeira nacional é um objecto do quotidiano. Está em todo o lado. Um turista que chegue ao país depara-se, logo à saída do aeroporto de Tel Aviv, com dezenas de bandeiras que decoram a auto-estrada que conduz ao terminal. Em cada poste de iluminação pública, duas bandeiras. Os próprios postes já são construídos com um dispositivo colocado a meia altura que permite fixar as faixas. Na auto-estrada para Jerusalém – ou para qualquer outro lugar – contam-se milhares de ondulantes kahol ve’lavan, ou "azul e branco".
Seguindo os passos da ordem dada na porção da semana anterior a toda a população judaica para ser santa, a Parashá Emor (Vayicrá 21:1-24:23) começa discutindo várias leis dirigidas especificamente aos Cohanim e ao Cohen Gadol, cujo serviço Divino exige que mantenham um alto padrão de pureza. Ela contém a ordem para que o Cohen abstenha-se de ficar ritualmente impuro através do contacto com um corpo morto (excepto parentes próximos) e aumenta as restrições sobre quem poderiam desposar. A porção cita defeitos físicos que impedem um cohen de realizar o seu trabalho no Templo Sagrado, a menos que se cure. O assunto então volta-se à nação inteira: qualquer um que esteja tamê, impuro, recebe ordens de afastar-se dos locais e coisas que sejam especialmente sagradas. Após discutir as leis de terumá (a pequena percentagem de comida que deve ser separada da colheita na Terra de Israel e dada a um Cohen, antes que a porção restante possa ser comida) e as várias imperfeições que tornam uma oferenda inadequada, somos advertidos a ser cuidadosos para não profanar o nome de D’us e, ao contrário, santificá-Lo a todo custo. A Torá continua a discutir as festas do ano (Pêssach, Shavuot, Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucot e Shemini Atsêret), seguidas pelas duas mitsvot constantes mantidas no Mishcan: o acendimento da menorá todos os dias e a exibição de lechem hapanim a cada semana. A porção termina com o horrível incidente de um homem que amaldiçoou o nome de D’us e foi punido com a pena de morte por ordem Divina.
Mensagem da Parashá
Na saúde e na doença por Matthew Leader
Infelizmente, as pessoas nem sempre são justas. Se alguém o informar que não pode ter um determinado trabalho devido a um defeito físico, seja o trabalho de médico, advogado ou Chefe da Tribo, a maioria das pessoas diria: "Ei, meu senhor, isso não é justo!" Entretanto, todos esperam que D’us seja justo, se não na prática, pelo menos nas regras escritas. Eis porque muitos sábios através dos tempos têm discutido a parte aparentemente não igualitária da porção desta semana da Torá, que trata das leis dos Cohanim. Após descrever vários detalhes de como um Cohen deveria manter-se especialmente puro, D’us diz a Moshê que um Cohen com qualquer defeito físico, como cegueira, eczema ou mesmo um pé quebrado não poderia aproximar-se do Mishcan para realizar o serviço sacerdotal de trazer oferendas, pois isso "profanaria o Meu local sagrado" (Vayicrá 21:23). Como pode ser? A nossa religião não é para aperfeiçoamento interior, onde o Criador nos julga pelos nossos pensamentos e acções e não pela nossa aparência pessoal? Na prece fundamental do Shemá, está escrito que devemos servir a D’us "com todo o nosso coração e toda a nossa força" e Ele ficará satisfeito connosco. O salmo Aishet Chayil, recitado toda sexta-feira à noite como um louvor às mulheres da casa, informa-nos que "o encanto é falsidade e a beleza é vã, mas uma mulher que teme D’us, essa deve ser louvada." Então, como pode uma pessoa que tem a infelicidade de ser cega ou desenvolver uma doença de pele ser excluída do serviço de D’us, se possui um bom coração? Convenientemente, Rabi Meir Simcha HaCohen de Dvinsk faz a mesma pergunta, e dá-nos a resposta em duas partes. A primeira é a mais óbvia – pois D’us é o árbitro daquilo que constitui a verdadeira justiça, e tudo que Ele faz é justo por definição. As leis a respeito das oferendas são chukim e podemos apenas adivinhar as razões pelas quais Ele deseja que certas pessoas estejam envolvidas neste serviço, e outras sejam excluídas. Isso ensina-nos, que não devemos aplicar os nossos limitados ideais humanos de "justiça" às acções de D’us. Esta resposta é mais compreensível no caso de um Cohen que nasceu com um defeito. Entretanto, isso não é realmente compreensível no caso de alguém que D’us considerou merecedor quando anteriormente desempenhou o serviço sacerdotal, mas agora foi golpeado por essa lista. Devemos portanto assumir que esta pessoa tornou-se desmerecedora de servir, através de algum pecado ou acto que cometeu. Mas certamente há pessoas defeituosas que são mais justas que outras saudáveis. Rabi Meir Simcha responde a isso de uma maneira judaica clássica, fazendo outra pergunta: Se deveria haver desqualificações, porque D’us simplesmente não dizia ao profeta da época quais pessoas haviam pecado, e o profeta as desqualificaria do serviço sacerdotal? Rashi declara que o facto de a Torá escrever a palavra "defeitos" uma vez mais (ibid. 21:21), após já ter listado vários exemplos, ensina-nos que qualquer defeito físico é motivo para desqualificação, mesmo um que não seja aparente ou visível de imediato. Portanto, explica Rabi Meir Simcha, o defeito físico é uma maneira de D’us enviar uma mensagem directa à pessoa afligida que, mesmo se as suas acções parecem ser puras externamente, podem existir falhas internas ou um traço de carácter que ele precisa remediar. O defeito de forma alguma significa que ele é "mau" ou "pecador"; ao contrário, sugere que há um pequeno atributo ou actividade que ele precisa aperfeiçoar antes de retomar o serviço sacerdotal. Talvez apenas o próprio Cohen possa descobrir esta falha através da sua própria introspecção, enquanto as "autoridades religiosas" da época possam ser incapazes de encontrar o problema interno. Esta lição de responsabilidade pessoal não se aplica apenas aos Cohanim. Cada um de nós, no nosso próprio nível, deve manter o relacionamento único com D’us e responder às subtis mensagens que Ele envia constantemente na nossa direcção.
Israel é uma democracia parlamentar com sufrágio universal. O Presidente de Israel é o chefe de estado, mas as suas funções são em grande parte simbólicas. Um membro do Parlamento apoiado pela maioria dos parlamentares torna-se o Primeiro-Ministro, normalmente o presidente do maior partido. O Primeiro-ministro é o chefe de governo e chefe do Gabinete. Israel é governado por um parlamento composto por 120 membros, conhecido como Knesset. A composição do Knesset é baseada na representação proporcional dos partidos políticos. As eleições parlamentares são realizadas a cada quatro anos, mas o Knesset pode dissolver o governo, a qualquer momento, por falta de confiança na votação. A Lei Básica de Israel funciona como uma Constituição não escrita. Em 2003, o Knesset começou a redigir uma constituição oficial baseada nestas leis.
Israel tem três níveis no sistema judicial. O nível mais baixo são magistrados judiciais, situados na maioria das cidades do país. Acima deles são tribunais de comarca, servindo simultaneamente como tribunais de apelação e tribunais de primeira instância, estão situados em cinco dos seis distritos de Israel. O terceiro nível e o mais elevado é a Suprema Corte de Israel, situada em Jerusalém. Serve um papel duplo como o mais alto tribunal de apelação e de Supremo Tribunal de Justiça. Nesta última função, o Supremo Tribunal dita as regras como um tribunal de primeira instância, permitindo que os indivíduos, os cidadãos e não cidadãos, façam uma petição contra as decisões das autoridades estatais. Israel não é um membro do Tribunal Penal Internacional, pois teme que o tribunal seja tendencioso contra ele, devido as pressões políticas de outros países membros. Israel combina os sistemas jurídicos de common law inglês, o direito civil, e as leis judaicas. Esse sistema é baseado no princípio do stare decisis e é um sistema acusatório, onde as partes envolvidas no facto trazem provas perante o tribunal. Os precessos do Tribunal são julgados por juízes profissionais, em vez de jurados. Casamento e divórcio estão sob a jurisdição dos tribunais religiosos: judeus, muçulmanos, druzos e cristãos. Uma comissão de membros do Knesset, juízes do Supremo Tribunal, advogados israelitas realizam a eleição dos juízes.
A Lei Básica: Dignidade Humana e Liberdade visa defender os direitos humanos e das liberdades em Israel. Israel é o único país da região classificado como "Livre" pela Freedom House em função do nível dos direitos civis e políticos. Os Repórteres sem Fronteiras classificaram Israel na 50ª posição entre 168 países em termos de liberdade de imprensa, o nível mais alto entre os países do sudoeste asiático. As liberdades civis de Israel também permitem a auto-crítica, a partir de grupos como B’Tselem, uma organização israelita de direitos humanos.
Relações internacionais
Israel mantém relações diplomáticas com 161 países e tem 94 missões diplomáticas ao redor do mundo. Apenas três membros da Liga Árabe normalizaram as suas relações com Israel, o Egipto e a Jordânia assinaram tratados de paz em 1979 e 1994, respectivamente, e a Mauritânia optou por manter relações diplomáticas completas com Israel desde 1999. Dois outros membros da Liga Árabe, Marrocos e Tunísia, que tinham algumas relações diplomáticas com Israel, encerram a sua relação no início da Segunda Intifada, em 2000. Desde 2003, os laços com Marrocos têm sido sobre a economia e o Ministro das Relações Exteriores de Israel visitou o país. Sob a lei israelita, Líbano, Síria, Arábia Saudita, Iraque e Iémen são considerados países inimigos e os cidadãos israelitas não podem visitá-los sem a permissão do Ministério do Interior. Desde 1995, Israel tem sido membro do Diálogo Mediterrâneo, que promove a cooperação entre sete países da Bacia do Mediterrâneo e os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Os Estados Unidos, Turquia, Alemanha, Reino Unido e Índia estão entre os mais próximos aliados de Israel. Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer o Estado de Israel, seguidos pela União Soviética. Os E.U.A. consideram Israel como o seu principal aliado do Sudoeste Asiático, baseado em valores políticos e religiosos comuns. Embora a Turquia não estabelecesse relações diplomáticas integrais com Israel até 1991, o país tem colaborado com o Estado de Israel desde o seu reconhecimento em 1949. Os laços da Turquia com as outras nações muçulmanas, por vezes, resultou em pressão dos países árabes para que o país cessasse as suas relações com Israel. A Alemanha possui fortes laços com Israel sobre a cooperação científica e educacional além de os dois estados permanecerem fortes parceiros económicos e militares. A Índia estabeleceu laços diplomáticos plenos com Israel em 1992 e tem promovido uma forte parceria militar e cultural com o país desde então. O Reino Unido manteve integralmente as relações diplomáticas com Israel desde a sua formação. Tem também uma forte relação comercial, Israel é o 23º maior mercado. As relações entre os dois países também foram feitas pelo primeiro-ministro anterior, Tony Blair. O Reino Unido é visto como tendo uma relação "natural" com Israel em virtude do Mandato Britânico da Palestina. O Irão tinha relações diplomáticas com Israel durante a dinastia Pahlavi, mas retirou o reconhecimento de Israel durante a revolução iraniana.
Forças armadas
As Forças de Defesa de Israel são formadas pelo exército, marinha e Força Aérea. Foi fundada durante a Guerra Árabe-Israel de 1948 por organizações paramilitares- principalmente a Haganah - que precedeu a criação do Estado de Israel. A FDI também usa os recursos da Direcção de Inteligência Militar. O envolvimento das Forças de Defesa de Israel em grandes guerras e conflitos fronteiriços tornou-a numa das forças armadas mais poderosas do planeta.
A maioria dos israelitas são convocados para o serviço militar obrigatório aos 18 anos de idade. Homens devem servir por três anos e as mulheres devem servir por dois anos. Na sequência do serviço obrigatório, homens israelitas juntam-se á força militar de reserva por várias semanas a cada ano até completar 40 anos de idade. A maioria das mulheres estão isentas do imposto de reserva. Árabes Israelitas (com excepção dos druzos) e aqueles que exercem estudos religiosos em tempo integral estão isentos do serviço militar. Uma alternativa para aqueles que recebem isenções sobre vários motivos é o Sherut Leumi, ou serviço nacional, que envolve um programa de serviços em hospitais, escolas e outros quadros de bem estar social. Como resultado do seu programa, a FDI mantém aproximadamente 168.000 tropas activas e um adicional de 408.000 reservistas.
As forças armadas do país dependem fortemente de sistemas de armas de alta tecnologia concebidos e fabricados em Israel, além de algumas importações estrangeira. O anti-míssel Arrow, desenvolvido pelos E.U.A. e por Israel, é um dos únicos sistemas operacionais de mísseis anti-balísticos do mundo. Desde a Guerra do Yom Kippur, Israel tem desenvolvido uma rede de satélites de reconhecimento. O sucesso do programa Ofeq fez de Israel um dos sete países capazes de lançar satélites desse tipo. O país também desenvolveu o seu próprio tanque de guerra, o Merkava. Desde a criação das Forças Armadas, Israel tem gasto uma parcela significativa do seu produto interno bruto na defesa.
Depois da Guerra do Golfo em 1991, quando Israel foi atacado por mísseis Scud iraquianos, foi aprovada uma lei exigindo que todas as habitações em Israel tenham uma mamad, isto é, uma sala de segurança reforçada e impermeável a substâncias químicas e biológicas.