29.8.08

Elul

Shabat Shalom! De volta das férias, todos os alunos estavam descansados e alegres. Aproveitando o ‘alto astral‘ da turma, o professor resolveu ensinar algo muito importante aos seus alunos, para que aproveitassem bem todo seu segundo semestre letivo: pediu a todos que trouxessem, no dia seguinte, uma sacola de plástico e dez batatas.
Na manhã seguinte, lá estavam todos muito curiosos, com as suas sacolas e batatas. O professor então pediu para que cada aluno separasse uma batata para cada colega com quem tivesse discutido ou brigado no semestre anterior, escrevesse o nome do mesmo na batata e as colocassem dento da sacola. Depois ordenou a todos que, durante uma semana, andassem com aquela sacola de batatas seja lá para onde fossem.
Alguns alunos reclamaram que as suas sacolas estavam muito pesadas. Porém, o mais interessante veio com o passar dos dias: as batatas começaram a se deteriorar e o cheiro a aparecer.
Ao final dos sete dias, com um cheiro terrível no ar e os alunos de braços cansados, o professor falou:
- Caros alunos! O que quis que vocês aprendessem foram duas coisas:
1) Ao terem de carregar a sacola de batatas para todos os lugares aonde iam, tiveram de se concentrar nisto e automaticamente deixaram de notar outras coisas mais importantes ao seu redor, e
2) Mesmo que inicialmente as batatas pareciam belas e importantes, com o passar dos dias o mau cheiro acabou com todo este pensamento inicial!
As batatas nas quais vocês escreveram o nome de colegas com que discutiram no semestre passado a princípio pareciam bonitas e gostosas, da mesma maneira que uma discussão, no seu início, parece ser importante e interessante, a ponto de valer a pena guardar as mágoas que logicamente resultam. Porém, com o passar dos dias, o ‘mau cheiro’ vai aumentando, e o custo de carregá-las para todos os lados acaba
sendo muito alto. Agora, caros alunos, vocês entenderam que não vale a pena carregar as ‘batatas’ de discussões, broncas, mágoas, fofocas, etc. Portanto, perdoar o colega e abandonar a má vontade em relação aos demais é a única maneira de se livrar das batatas!
Creio que esta é uma grande lição para nós, queridos leitores, à medida que o fim do ano Judaico se aproxima. Vale a pena deitar fora as batatas e iniciar o novo ano com o pé direito, com união e amizade entre todos nós!
E vamos aos preparativos:

O Que Há de Especial no Mês de Elul?
Domingo (31 de agosto) e segunda-feira (1 de setembro) são dias de Rosh Chódesh, o começo do novo mês hebreu de Elul. Este é um mês muito especial no ano Judaico, pois precede Rosh HaShaná, o Ano Novo Judaico (que começa dia 30 de setembro, terça-feira, ao entardecer). A cosmologia Judaica ensina-nos que cada período do ano nos oferece uma oportunidade espiritual especial para o sucesso. Por exemplo: Pessach é tempo de se trabalhar sobre a liberdade, Sucót sobre a alegria e assim por diante.
Elul, quando soletrado em letras Hebraicas, é o acróstico das palavras “Eu pelo meu amado e meu amado por mim” (ani l'dodi v'dodi li -- frequentemente inscrito no lado interno de anéis de casamento). Este mês é um período de elevada espiritualidade, onde o Todo-Poderoso está ‘mais próximo e mais acessível’.
É uma época de introspecção e preparação para Rosh HaShaná, propícia ao balanço espiritual e ao correcto encaminhamento da nossa vida.
O Rabino Noah Weinberg, Shlita, fundador e director do Aish HaTorá, compara a possibilidade de chegarmos próximos a D’us em Elul com o exemplo de se tentar marcar uma audiência com o Presidente da República. É uma tarefa muito difícil de se ter sucesso -- a menos que seja ano eleitoral. Elul é como um ano eleitoral. O Todo-Poderoso é como um pai amoroso esperando que voltemos para casa.

Para ajudá-lo em sua preparação para Rosh HaShaná, o Dia do Julgamento, apresento-lhe algumas perguntas para fazer a si mesmo e discutir com amigos e familiares, extraídas do fabuloso e indispensável livro ‘The Rosh Hashanah-Yom Kipur Survival Kit’, do Rabino Shimon Apisdorf. Eis, então, as ‘Perguntas Para Uma Vida Mais Cheia de Significado’:
1) Quando mais sinto que minha vida tem sentido?
2) Àqueles que mais significam para mim - será que já lhes contei como me sinto?
3) Existem alguns ideais pelos quais estaria disposto a morrer?
4) Se pudesse começar a minha vida novamente, mudaria alguma coisa?
5) O que me traria mais alegria que qualquer outra coisa neste mundo?
6) Quais foram minhas 3 maiores realizações desde o último Rosh HaShaná?
7) Quais os 3 maiores erros que cometi desde o último Rosh HaShaná?
8) De que projecto ou meta, se não realizado, mais me arrependerei no próximo Rosh HaShaná?
9) Se soubesse que não falharia, a que me comprometeria na vida?
10) Quais minhas 3 maiores metas na vida? Que estou fazendo para atingi-las? Que medidas práticas posso tomar, nos próximos 2 meses, em direcção a estas metas?
11) Se pudesse dar somente 3 conselhos aos meus filhos, quais seriam?
Achando as Grandes Festas chatas? Muitas pessoas reclamam que não conseguem acompanhar os serviços religiosos e não os entendem. Dizem que os acham ‘chatos, sem significado ou espiritualidade’.
Faz sentido! A menos que haja preparação e esforço para entendê-los, será um milagre se tiverem quaisquer tipos de experiência que seja.

Pensamento da Semana

“O que a luz do sol representa para as flores, o sorriso representa para a Humanidade!”

Porção Semanal: Reê


Bereshit 47:28 - 49:26

Na Parashat Reê (Devarim 11:26 - 16:17), Moshê continua a exortar o povo judeu a seguir os caminhos da Torá, e a confiar em D’us. Moshê começa a colocar as mitsvot em perspectiva, sem ambiguidade, declarando que o povo judeu será abençoado se cumprir a Torá, e amaldiçoado se o não fizer.

Ele começa então uma longa revisão de várias mitsvot, compreendendo a maior parte do livro Devarim. Primeiro discute alguns dos mandamentos que são relevantes à iminente conquista da Terra de Israel pelo povo, conclamando-os novamente a remover qualquer vestígio de idolatria. Após ensinar-lhes certos detalhes sobre a oferenda e o consumo de corbanot, sacrifícios, a Torá ordena que o povo judeu se abstenha de imitar as nações que os circundam. A eles é dito que permaneçam atentos aos falsos profetas e outras pessoas que poderiam afastá-los de D’us, e aprendem as leis de uma cidade judaica que tornou-se tão corrupta que a maioria dos seus cidadãos sucumbiu à idolatria, recebendo por isso a pena de morte.

A Torá faz uma revisão sobre quais são os animais casher, permitidos para consumo, e quais não o são, seguida pelas leis de ma’aser sheni – o segundo "dízimo", que é consumido pelos seus proprietários, mas apenas na cidade de Jerusalém.

Após ordenar que todas as dívidas sejam canceladas ao final de cada sétimo ano (Shemitah), e que devemos ser calorosos e caridosos com os nossos irmãos, a Torá repete as leis relativas ao servo judeu. Ele deve ser libertado incondicionalmente no sétimo ano e coberto de presentes generosos pelo seu antigo amo.

A Parashat Reê conclui com uma breve descrição das três festas de peregrinação – Pêssach, Shavuot e Sucot – quando todos deveriam ir a Jerusalém e ao Templo com oferendas, para celebrar a sua prosperidade

Mensagem da Parashá

Importância individual
por Ranon Cortell

A porção desta semana da Torá começa com a dramática exortação de D'us: "Vejam, hoje apresento perante vós uma bênção e uma maldição" (Devarim 11:26).

Quanto ao tipo de bênção e maldição, os sábios informam-nos que se refere à sagrada Torá e suas mitsvot que, dependendo da nossa observância, nos fornecerão uma bênção ou uma maldição. Entretanto, se alguém examinar o conteúdo gramatical desta declaração, perceberá uma perfeita contradição nos tempos do verbo usado em cada versículo. Primeiro, no singular, D'us ensina cada indivíduo 're'ê – veja". Depois, o versículo descreve a bênção e a maldição como sendo proferidas perante uma audiência plural: "perante vós", referindo-se à toda a nação judaica. Diversas explicações foram desenvolvidas pelos nossos eminentes sábios para solucionar esta diferenciação das mais singulares.

Rabi Moshê Alshich sugere que esta contradição revela a natureza da missão de D'us para o povo judeu no nosso infeliz mundo corrupto. Um monarca comum, quando designa um empreendimento gigantesco à nação, não se preocuparia com o progresso de cada indivíduo, desde que a obra fosse completada ao final do prazo. Entretanto, isso não se aplica à missão designada pelo Rei dos reis à sua sagrada nação. Todo e cada indivíduo tem total responsabilidade de cumprir tudo que está incluído nos limites da Torá. Por esta razão, o versículo usa os tempos contraditórios, para informar-nos que embora a Torá tenha sido outorgada à nação como um todo, cada judeu deve esforçar-se para cumprir os deveres a ele impostos por D'us.

Uma segunda explicação sobre a dicotomia deste versículo explora o conceito de que cada judeu é responsável pela observância do seu próximo da Torá. Como consequência directa deste conceito, podemos ser punidos ou recompensados pelas acções dos nossos amigos. Portanto, o versículo usa o singular e o plural para ensinar-nos que, ao colocar a responsabilidade de guardar a Torá sobre cada indivíduo, D'us está também impondo sobre nós a responsabilidade de conferir se a nossa família e os nossos amigos também cumprem as Suas sagradas leis.

Como resultado destas nuances perspicazes de uma simples contradição textual, podemos deduzir que devemos constantemente lembrar que a responsabilidade da Torá cabe a cada um de nós. Além disso, devemos também estar constantemente preocupados com o bem-estar e o crescimento da observância dos nossos irmãos.

27.8.08

"Shemá Yisra'El Adonay Echad"

Por Christian Gondar Henríquez s"t

Esta é a primeira coisa que aprendemos em casa, quando os nossos pais fazem questão de que nós sejamos capazes de compreender o alcance e significado desta mensagem, que é aliás uma declaração aos quatro ângulos da terra e do universo.
O que significa isto?
A resposta é relativamente simples... Adonay não é divisível. Não é divisível em vários deuses. Nem sequer quando a raíz etimológica do nome Elohim seja aparentemente plural (porque é abrangente ao ponto de incluir aos que pertencem ao Seu mundo), nem mesmo assim é possível pluralizar Adonay e fazer Dele inúmeros deuses ou representantes subalternos. Muito menos mediadores. E isto leva-nos a compreender a falácia dos povos pagãos que insistem em que todos os caminhos levam ao mesmo destino, isto é, a Roma. Nisto certamente os pagãos têm toda a razão. Realmente, Roma é o arquétipo da abominação pagã e portanto, perfila-se como o lugar ideal para adorar aos falsos deuses do hedonismo do século XXI que estão por toda parte e inundam as aspirações do coração da humanidade. Mas o problema intrínseco do homem continua o mesmo: "La'Pétach Chatat Robess We'Elecha Teshuqató We'Atáh Timshol Bo" (O pecado está à porta rastejando que nem um ofídio e o seu desejo é você, mas compete a si derrotá-lo). Adonay jamais diz para pegar em água benta ou utilizar um mediador entre Deus e os homens e sim diz que é da inteira responsa-bilidade do homem assumir a vitória sobre o seu pior imimigo que por incrível que pareça não é aquele ser com chifres que alguns adoram culpar e sim a sua própria natureza humana ou yesser ha'rá. É precisamente aí onde começa a cobardia do homem que insiste em esconder-se da presença de Deus desde os tempos do Gan Éden (Jardim do Éden) atrás de desculpas, pretensos advogados defensores ou de representantes humanos de Deus na terra. Afinal, então para que serve acreditar em Adonay? Se o homem insiste em profanar o Seu Nome e uma e outra vez banaliza e minimaliza o poder e a importância de Deus com absoluta desfaçatez e continua a criar caminhos alternativos dos quais aliás o próprio Adonay proibiu de maneira expressa que fossem adoptados. Bom, Adonay é e sempre será o Marco de Referência Eterno inabalável que servirá de testemunha aos homens para que não digam que não sabiam disso ou que jamais alguém lhes referiu estas verdades eternas. Por favor, paremos um momento para pensar, reflitam e digam. Apesar de Adonay ter afirmado claramente várias vezes no livro de Yeshayahu Ha'Nabi (Isaías o profeta) que Ele é o único Deus e que jamais houve outro deus antes dele, não há e não haverá outro deus depois dele e que Ele é o Único que pode salvar. Não é absurdo afirmar o contrário? Então vem um homem simples e afirma que é Deus em pessoa ou que é um profeta de Deus e que então deve ser adorado no lugar de Deus e então as multidões o seguem e cospem na face de Adonay. Percebem então que isto é uma contradição absurda? Sendo assim, este fenómeno demonstra apenas uma coisa: Que as multidões acreditam mais nos homens do que no próprio Adonay e que então duvidam que Adonay diz a verdade. É precisamente aqui onde radica a raíz do mal. O cúmulo da profanação é quando o homem decide quem adorar e ainda com os seus actos de idolatria cospe no próprio rosto de Adonay e o chama de mentiroso. Eis o verdadeiro problema de acreditar no que os homens afirmam, isto é, numa religião. A religião tem esse poder de castrar a mente dos homens e transformá-los em verdadeiros eunucos pensantes e ainda se especializa em cultivar homens ao mais puro estilo bonsai, "hominhos" cuja ética e desenvolvimento espiritual sempre será balizado pela hipocrisia de dogmas absurdos que cerceam a mente do homem até transformá-lo num bagaço a mercê das ondas do mar da impiedade. Existe uma religião que afirma que só o facto de olhar para uma mulher formosa já é pecado. No entanto no judaísmo, o sexo jamais foi considerado uma coisa suja e imunda e sim parte vital e primordial da criação divina e portanto digno do mais absoluto respeito e para isso estabeleceu códigos rígidos de comportamento que em nada se parecem aos códigos hipócritas das religiões. O judaísmo apenas se preocupa em que não haja leviandade e em que o direito alheio seja respeitado. É por isso que estabelece nos Asséret ha'Dibrot (nos Dez Mandamentos) que a mulher do semelhante não deverá ser cobiçada. Senão a estrutura social seria abalada e haveria consequências desastrosas para o destino da humanidade como um todo. Além disso, o judaísmo estabelece "shin be shin, áyin be áyin" (dente por dente, olho por olho). Mas o que isto significa apesar das campanhas publicitárias milenares empreendidas contra o judaísmo por causa desta declaração? Por incrível que pareça, nesta mensagem está contida a peça mais dramática do amor de Deus pela humanidade, já que o âmago desta mensagem jamais foi nem tem sido a vingança, senão muito pelo contrário a perpétua preocupação de Adonay em que os direitos e deveres do homem sejam respeitados e em que realmente haja indemnização e reparações pelos danos causados em situações extremas, tanto para o ézrach (israelita natural da terra) como para o guer (estrangeiro) e isto, sem discriminações de nenhum tipo. Porque Adonay proíbe terminantemente que se discrimine o estrangeiro que quiser morar entre nós e ser como um de nós. Todavia, todos nós sabemos como certa religião apóstata deturpou esta mensagem ao ponto de transformá-la num cavalo de batalha para uma campanha publicitária destinada a denegrir o judaísmo por mais de dois mil anos. Que tácticas mais abjetas cheias de ignomínia empregam as religiões para conseguir os seus fins maquiavélicos. De modo que, para concluir, é necessário esclarecer a todos os homens que o judaísmo jamais tem sido uma religião. Por isso, nos identificamos com o judaísmo plenamente todos aqueles que queremos preservar a memória do Povo da Nação, isto é, a memória dos autênticos israelitas através da nossa memória colectiva; a nossa história perpétua, a nossa identidade, a nossa cultura, a nossa civilização milenar cuja pátria espiritual vai muito além do mundo físico que é apenas um simples arremedo do verdadeiro mundo do Olam Ha'bá (Mundo Vindouro), que Adonay tem preparado para o seu Am Segulá.
Shalom.

23.8.08

PENSANDO NOS VIZINHOS

"Jorge foi até á casa do seu vizinho Pedro, na sexta-feira de manhã, e pediu o seu cortador de relva emprestado. Pedro estranhou, pois sabia que Jorge também tinha um cortador de relva.Pedro sabia que a máquina de Jorge não estava avariada, porque a utilizou-a durante a semana. Porque então a pediu-a emprestada? Não quis perguntar, com medo de ofendê-lo, mas ficou curioso.

De tarde, Pedro encontrou António, um outro vizinho seu, e no meio da conversa comentou sobre o estranho pedido de Jorge. António ficou preocupado, pois Jorge havia também havia pedido-lhe a sua máquina emprestado logo de manhã. Que estranho! E quando foram até a casa de Fernando, um outro vizinho, descobriram que Jorge também havia passado de manhã pedindo-lhe a sua máquina de cortar de relva. Decidiram descobrir de uma vez por todas o que se estava a passar.

Foram até á casa de Jorge, e quando ele abriu, os três perguntaram, já um pouco irritados:

- Ei, Jorge, que brincadeira de mau gosto é esta? Porque nos pediste a máquina de cortar relva a todos nós?

Jorge, desmascarado no seu plano genial, sorriu e explicou:

- Não foi uma brincadeira. Não se preocupem, vocês terão as vossas máquinas de cortar relva de volta na segunda-feira, logo pela manhã. É que eu estou muito cansado, e finalmente conseguirei dormir em paz no fim de semana até um pouco mais tarde..."

Muitas vezes estamos tão entretidos nas nossas actividades quotidianas que nos esquecemos o quanto podemos estar a atrapalhar e incomodar as outras pessoas.

O judaísmo ensina que devemos pensar, em cada pequeno acto que fazemos e como isso afecta os outros à nossa volta.

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A Parashá desta semana, Eikev, começa enumerando uma série de Brachót

(bençãos) que D'us prometeu dar ao povo judeu, condicionais ao cumprimento das Mitzvót, como diz o primeiro versículo da Parashá:

"Vehaia eikev tishmeun..." (E será, porque ouviram estas leis, e as cuidarão e as cumprirão, e D'us guardará o pacto e a bondade que Ele jurou aos seus antepassados) (Devarim 7:12). Rashi, comentarista da Torá, explica que a palavra "Eikev" pode significar "porque", mas também pode significar "calcanhar". Ele explica que o versículo refere-se aos cuidados que devemos ter com as Mitzvót fáceis, aquelas que aparecem no quotidiano e que, por parecerem simples e sem valor. Muitas vezes nós desprezamos e "pisamos com os nossos calcanhares". O Talmud também reforça o cuidado com as Mitzvót fáceis e simples, e diz que o julgamento final da pessoa é de acordo com o desprezo que a pessoa teve por estas Mitzvót. Mas de que tipo de Mitzvót fáceis e simples a Torá está se referindo?

Umas das obrigações do ser humano neste mundo é desejar sempre chegar à máxima grandeza espiritual, e todos os dias devemos nos questionar "Quando os meus actos chegarão aos actos dos meus patriarcas?". Actos como os de Avraham, que após fazer o seu Brit-Milá aos 99 anos, sem anestesia nem instrumentos cirúrgicos, sentou-se na porta de casa para esperar convidados, pois a dor de não fazer bondades era maior do que a dor física do Brit-Milá. Actos como o de Itzchak, que sabendo que o seu pai iria sacrificá-lo para D'us, aceitou com alegria e pediu que as suas mãos fossem amarradas, para que nenhum acto reflexo pudesse desviá-lo de cumprir a vontade Divina. Ou actos como o de Yaacov, que passou 20 anos sendo enganado pelo seu tio Lavan, e mesmo assim não deixou de ser honesto nem trabalhador durante todo esse tempo. Mas mesmo almejando este nível de grandeza espiritual, não podemos esquecer-nos das coisas do quotidiano, aqueles pequenos detalhes, que tantas vezes passam desapercebidos por parecerem desprezíveis. E incluído entre estas pequenas coisas está o "Derech Eretz" (Bons Modos), que são tão importantes, ao ponto dos nossos sábios afirmarem "Derech Eretz Kadmá La Torá" (Os bons modos vêm antes da Torá).

Mas o que os bons modos têm a ver com a Torá? Aquele que é relaxado com os assuntos mundanos, também será relaxado com os assuntos espirituais, pois a falta de cuidados com os assuntos pequenos do quotidiano é um reflexo de uma falha nas características espirituais da pessoa, que não se importa em chegar ao preenchimento total nos seus actos. Pela maneira como nos comportamos nos pequenos actos do quotidiano podemos saber realmente a nossa essência.

Mas é preciso deixar claro que bons modos não significa saber com que faca comer o peixe ou como arrumar o guardanapo na mesa, pois isso é "etiqueta". Bons modos significa preocupar-se com a honra do próximo, com o sentimento dos outros. A Mishná em Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas) ensina-nos: "Qual o caminho correcto na qual o ser humano deve seguir? Rav Iossi disse: seja um bom vizinho". Mas ser um bom vizinho é algo muito específico, este é o caminho que devemos seguir para a vida, algo muito mais amplo?

Grande parte das atividades "Bein Adam Lehaveiró" (entre o homem e o seu

semelhante) ocorre entre vizinhos. Se a pessoa se esforça para ser um bom vizinho, de forma que o seu pensamento está sempre voltado a ajudar os outros e a se cuidar para não causar nenhum dano ou incómodo, ele se acostumará a fazer as pequenas coisas do quotidiano da maneira correcta, e no final também direccionará todas as suas atitudes na vida, pequenas ou grandes, da maneira correcta. Pois quando nos acostumamos a comportar de forma correcta e ordenada nos assuntos pequenos, no final também nos comportaremos de forma correcta e ordenada nos assuntos grandes.

Da mesma forma que grandes edifícios começam a partir de pequenos tijolos, assim também grandes homens começam com pequenos actos.

Pensamento da Semana

O objectivo é aperfeiçoarmo-nos em ser humanos e não em parecermos humanos!

Porção Semanal da Torá: Ékev


Devarim (Deuteronómio) 07:12 - 11:25


Nesta semana Moshe continua a sua explicação, garantindo ao Povo de Israel prosperidade e boa saúde caso sigam as Mitsvót (mandamentos). Relembra-nos para recordarmos a nossa história e para que saibamos que podemos e devemos confiar em D'us. Entretanto, devemos ser muito cuidadosos para não nos distrairmos com o nosso sucesso material, sob risco de chegarmos a esquecer e a ignorar o Todo-Poderoso.

Moshe adverte-nos contra a idolatria (a definição de idolatria é acreditar que qualquer outra coisa além de D'us possa ter Poder) e contra a auto-suficiência (Não digas que por minha virtude D'us trouxe-me para ocupar a terra de Israel... mas sim, por causa da maldade dos povos ocupantes. D'us os expulsou e te colocou lá). A Torá detalha, então, as nossas rebeliões contra D'us durante os 40 anos no deserto e a outorga das Segundas Pedras da Lei – é verdade: os 10 Mandamentos estavam gravados em pedra, não em madeira (Moshe quebrou as primeiras Pedras da Lei, contendo os Dez Mandamentos, após ver o Povo idolatrando um Bezerro de Ouro).

A porção dessa semana dissipa uma concepção errónea muito comum. Muitas pessoas pensam que o trecho O Homem não vive só de pãosignifica que são necessários alimentos adicionais além do pão para sobrevivermos. A citação da Torá, por completo, é a seguinte: “O Homem não vive só de pão, mas de tudo que sai da boca de D'us.

A Torá, então, responde à pergunta que todo ser humano já se fez: “O que D'us quer de Nós?

Resposta:Somente que tenhamos consciência de Dus, para seguir por os Seus caminhos e O amar, servindo-O com todo o nosso coração e toda a nossa alma.

Devemos seguir os mandamentos e os decretos Divinos... para que tudo o que é bom recaia sobre nós(Devarim 10:12).

Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin

A Torá declara: “ [D’us falou:] E assim será se vocês seguirem os Meus mandamentos que os ordeno hoje (Devarim 11:13)”, e traz uma relação de bênçãos a quem seguir estes mandamentos. Este trecho da Torá é recitado diariamente na prece Shemá Israel. A Torá transmite, que haverá recompensas por cumprirmos os mandamentos do Todo-Poderoso. Sobre a primeira palavra em hebraico desta frase, ‘Vehaiá’ (‘E assim será), o Rabino Haim ben Atar (Itália e Israel, 1696-1743), autor do famoso

livro Or HaChaim, comentou: “A palavra ‘Vehaiá’ denota alegria. Ela veio acrescentar um parâmetro importantíssimo a este versículo: todos os mandamentos da Torá devem ser cumpridos com alegria. A verdadeira alegria vem somente quando a pessoa pratica actos bons. Entretanto, se a pessoa tem sentimentos elevados mas desprovidos de um verdadeiro significado, trata-se apenas um estado temporário que não perdurará”.

Há muitas atitudes que as pessoas podem tomar em relação a praticar bons actos. Uma delas é sentir pesar por não fazer o que é correcto. Outra atitude é o temor da punição. Todavia, mesmo que nos versículos 16 e 17 a Torá relate sobre as punições por se fazer o mal, o sentimento que vem primeiro deve ser o da alegria por fazermos o bem.

A maioria das pessoas come porque gosta de comer, sem levar levar em conta que se não comerem por alguns dias acabarão por colocar as suas vidas em perigo. Muito poucas pessoas se sentam na frente de uma deliciosa refeição e dizem para si: ‘É melhor eu comer pois senão morrerei”. No caso de estarem sem apetite algum, precisarão esforçar-se a comer, mas a vasta maioria das pessoas centra-se apenas no prazer de comer.

O mesmo se dá com as Mitsvót. Mantenhamos o foco na alegria da satisfação espiritual que conquistaremos. E caso a pessoa não tenha ‘apetite’ por fazer o bem, precisa então encontrar outras motivações. Uma pessoa espiritualmente saudável experimentará grande prazer em praticar o bem!