13.12.08

Encurtando a distância

"Numa aula o professor perguntou aos seus alunos:
- Porque as pessoas gritam quando estão zangadas umas com as outras?
Os alunos não sabiam a resposta, mas muitos tentaram arriscar. Um dos alunos respondeu que as pessoas gritam porque perdem a calma, mas a resposta não convenceu o professor, pois perder a calma não explica o acto de gritar com alguém que está perto de si. Outro aluno respondeu que as pessoas gritam porque querem que a outra pessoa escute. Mas isso também não convenceu o professor, afinal, se duas pessoas estão uma do lado da outra, é suficiente falar baixo para ser escutado. Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o professor. Até que um dos alunos se levantou e falou:
- Acho que eu sei a resposta. Quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito. Para cobrir esta distância, precisam de gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, pois maior é a distância entre os seus corações. Mas ao contrário, quando duas pessoas se amam, elas falam suavemente, pois os seus corações estão muito perto um do outro. E quando o amor é muito intenso não necessitam sequer de falar, apenas um olhar carinhoso basta para os seus corações se entenderem."
Esta é a lição que fica: quando duas pessoas discutem, devem tomar cuidado para não deixar que os seus corações se afastem, devem evitar dizer palavras que os distanciem mais, pois podem chegar a uma distância tamanha que não encontrarão mais o caminho de volta.
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A Parashá desta semana, Vaishlach, conta-nos sobre a volta de Yaacov para casa, depois de passar muitos anos a fugir do seu irmão Essav. Essav era o filho primogénito de Itzchak e tinha direito a uma Brachá (benção) especial. Porém, como estava ligado somente à busca de prazeres do mundo material, desprezou o seu direito espiritual da primogenitura e vendeu-a a Yaacov por um prato de lentilhas. Mas quando Essav viu que Yaacov havia recebido a Brachá no seu lugar, arrependeu-se, odiou o seu irmão com todas as suas forças e decidiu no seu coração que iria matá-lo. Yaacov fugiu para a casa do seu tio Lavan, onde se casou e construiu uma família. Passados 34 anos, ele acreditava que o ódio de Essav já havia passado e decidiu voltar.
Porém, a Parashá ensina-nos justamente o contrário. Yaacov enviou mensageiros para buscar uma reconciliação com Essav, mas eles voltaram com um terrível relato: Essav vinha ao encontro de Yaacov acompanhado de 400 homens, certamente não em missão de paz. O encontro seria explosivo, e Yaacov preparou-se para a inevitável batalha sangrenta. Mas algo estranho aconteceu no caminho, pois a Parashá conta que finalmente os irmãos se encontraram, se abraçaram e choraram um sobre o ombro do outro. O que ocorreu que causou esta mudança tão drástica nos acontecimento?
Conhecemos as leis do mundo material e sabemos o quanto elas são rígidas. Se atiramos para cima uma maça, a força da gravidade faz com que a maça caia. Da mesma forma, o mundo espiritual também tem as suas leis rígidas. Ensina-nos Shlomo Hamelech (Rei Salomão), o mais sábio de todos os homens, no seu livro Mishlei (Provérbios), uma das leis espirituais que regem o mundo: "Da mesma forma que a água reflete o rosto da pessoa, assim também o coração do homem reflete o coração do seu companheiro". Quando uma pessoa olha para a água, vê o seu próprio rosto refletido. Se ela sorri, vê um rosto sorridente, mas se ela está irritada, vê refletido um rosto tenso e irritado. Shlomo Hamelech ensina-nos, que assim também ocorre entre as pessoas, vemos refletido nas outras pessoas o nosso próprio comportamento. Se sorrimos recebemos de volta um sorriso, se gritamos recebemos de volta um grito. O que sentimos por outra pessoa no nosso coração, ela também o sente por nós.
Yaacov conhecia muito bem as leis do mundo espiritual. Quando regressava e recebeu a notícia de que o seu irmão vinha contra ele com um exército, entendeu que o ódio era grande demais, maior do que havia imaginado, pois continuava fervendo mesmo depois de 34 anos. Ele entendeu que se Essav o odiava tanto era porque ele provavelmente também deveria estar mantendo no coração, o mesmo sem perceber, um ódio pelo seu irmão. A Torá ensina-nos, que devemos odiar o pecado e não o pecador. Por mais que Yaacov estivesse correcto em odiar os actos abomináveis do seu irmão Essav, entendeu que havia ido além, havia guardado no seu coração um grande ressentimento por Essav. Quando percebeu isso, Yaacov começou imediatamente a esforçar-se para arrancar do coração todo o ódio que estava guardado. E finalmente, quando eles se encontraram, o ódio do coração de Yaacov já havia sido retirado e, como um espelho, o ódio do coração de Essav também desapareceu.
Essa lei espiritual também se aplica a nós. Quando temos algum problema de relacionamento com outra pessoa, é muito fácil colocar a culpa no outro. Mas Yaacov ensinou-nos, que se há algo de errado no relacionamento, certamente há algo de errado no nosso próprio coração. Como num espelho, não adianta tentar mudar o reflexo sem mudar algo no nosso próprio comportamento.
Quando há um incêndio, todos sabem que não se combate fogo com fogo. Gritos não resolvem problemas, apenas os pioram. Em momentos de nervosismo, falar de maneira tranquila pode mudar o rumo das coisas. Guardar rancor faz mal a nós e aos outros. Um sorriso, um pedido de desculpas quando erramos e um abraço carinhoso são actos aparentemente simples, mas que podem tocar no fundo da alma de uma pessoa. É fácil criticar a violência no mundo, o difícil é cada um dar a sua contribuição para a paz.
"A vida é como jogar uma bola á parede. Se joga uma bola azul, recebe de volta uma bola azul. Se joga uma bola com força, recebe de volta uma bola com força. Por isso, nunca "jogue uma bola" na vida de forma que não esteja pronto a recebê-la de volta" (Albert Einstein).