POR QUE CHORAR?
Actualmente viajar para Israel e visitar o Kotel (Muro das Lamentações) é um acto normal para milhares de judeus do mundo inteiro. Mas nem sempre foi assim. Por muitos anos Jerusalém esteve nas mãos dos árabes e estávamos proibidos de visitar o Kotel, a única parte remanescente do nosso Templo Sagrado.
A história recente de Israel foi marcada por momentos dramáticos de luta e guerra, onde os judeus, sempre em desvantagem, conseguiram vitórias milagrosas contra os seus vizinhos árabes. Foi o que ocorreu na Guerra dos 6 dias, em 1967, quando Israel lutou sózinho contra Egipto, Jordânia, Síria, Iraque, Kuweit, Arábia Saudita, Argélia e Sudão, e venceu. E de todas as lembranças memoráveis, talvez o momento mais emocionante, eternizado em fotos e filmes, foi quando um grupo de paraquedistas israelitas conseguiu capturar a Cidade Velha de Jerusalém e chegar até ao Kotel.
Entre os soldados que foram os primeiros a chegarem ao Kotel estavam muitos jovens religiosos que, tomados pela imensa emoção, choravam sem parar, com a cabeça encostada no Muro. Os soldados não-religiosos ficaram afastados, vendo aquela cena sem entender muito bem o que estava a acontecer. Um deles, de repente, começou a chorar. O seu amigo perguntou, curioso:
- Ei, porque está a chorar?
O jovem rapaz respondeu:
- Eu estou a chorar por ver todas estas pessoas chorando e não saber nem porque eu deveria estar a chorar.
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Na noite deste Sábado, 09 de agosto, revivemos o triste dia de Tishá Be Av, data na qual os nossos dois Beit-Hamikdash (Templos Sagrados) foram destruídos. É um dia de jejum, e comportamo-nos como enlutados, sentados no chão e recitando as rezas em tom de choro. Mas qual a razão de chorar por algo que ocorreu há mais de 2000 anos?
O Beit-Hamikdash foi, e ainda é, um dos conceitos mais básicos e centrais do judaísmo. Uma das 19 Brachot existentes na Amidá (reza silenciosa, a parte central das 3 rezas diárias) é justamente para pedir para D'us a sua reconstrução. Os nossos sábios ensinam que o Beit-Hamikdash deveria ser uma das nossas principais preocupações, e que deveríamos sentir a sua falta em cada momento. Mas para a grande maioria de nós não é assim. Talvez muitos de nós nem saiba porque deveríamos chorar em Tishá be Av. Porque isso acontece?
A nossa vida, em muitos momentos, é boa e confortável. Nós não sentimos que falta algo. Nós acreditamos na ilusão do mundo físico, e imaginamos que a vida é boa como ela é. Vivemos anestesiados e alienados da vida real que poderíamos viver.
Mas a verdade é que, apesar de todas as coisas boas que temos na vida, lá no fundo cada um de nós sente que algo está a faltar. Algumas vezes isto se manifesta na confusão que temos sobre o propósito da vida, outras vezes na decepção de sentirmos que não atingimos o nosso potencial, ou até mesmo naquela estranha sensação de que a vida poderia ser mais do que ela é. Quem nunca escutou sobre a "Crise da meia-idade" ou sobre os altos índices de depressão que atinge velhos e jovens, homens e mulheres? Pessoas ricas, bonitas e sociáveis se afundam em terríveis depressões. O que lhes falta?
Há cerca de 2000 anos atrás nós tínhamos o nosso Templo em Jerusalém, que constantemente nos lembrava quem somos, quais são as nossas prioridades e para onde estamos indo. Era a nossa âncora num mundo escuro e tempestuoso. O Templo não era apenas uma construção bonita, era a manifestação física da nossa conexão com D'us, como diz o versículo "Construam para Mim um Templo, e Eu morarei dentro de vocês". Não está escrito "dentro dele", e sim "dentro de vocês", mostrando que a construção do Templo significou, para cada judeu, uma real conexão com D'us. Nos dias do Beit-Hamikdash a presença de D'us e a existência da espiritualidade eram evidentes, e o ateísmo era uma grande piada. As pessoas podiam ir para Jerusalém e literalmente sentir a Sua presença. Havia claridade e auto-estima, pois as pessoas conseguiam entender que haviam sido cridas à imagem e semelhança de D'us. As pessoas viviam vidas com propósito, com o entendimento de que tinham um objectivo a alcançar.
Quando o Beit-Hamikdash foi destruído, nós perdemos tudo o que tínhamos. A base de toda a alienação e baixa auto-estima que vemos actualmente no mundo está enraizado na destruição do nosso Beit-Hamikdash. Tishá be Av vem para contrastar a maneira como vivemos e a maneira como poderíamos viver. O Kotel é chamado "Muro das Lamentações" pois, mesmo passados mais de 2000 anos, nós ainda choramos e lamentamos tudo o que perdemos com a destruição do nosso Beit-Hamikdash.
D'us não espera que consigamos atingir imediatamente elevados níveis espirituais. Mas isso também não nos exime de tentar. Se nós não sentirmos a falta do Beit-Hamikdash nas nossas vidas, então não há mais esperança de reconstruí-lo. Portanto, se neste Tishá be Av não conseguirmos chorar pela falta do nosso Beit-Hamikdash, que possamos ao menos chorar pelo facto de não sentirmos vontade de chorar.
"Desde o dia em que o Beit-Hamikdash foi destruído, nunca mais houve um dia em que o céu esteve perfeitamente claro" (Talmud Brachót 59)
Rav Efraim Birbojm
A história recente de Israel foi marcada por momentos dramáticos de luta e guerra, onde os judeus, sempre em desvantagem, conseguiram vitórias milagrosas contra os seus vizinhos árabes. Foi o que ocorreu na Guerra dos 6 dias, em 1967, quando Israel lutou sózinho contra Egipto, Jordânia, Síria, Iraque, Kuweit, Arábia Saudita, Argélia e Sudão, e venceu. E de todas as lembranças memoráveis, talvez o momento mais emocionante, eternizado em fotos e filmes, foi quando um grupo de paraquedistas israelitas conseguiu capturar a Cidade Velha de Jerusalém e chegar até ao Kotel.
Entre os soldados que foram os primeiros a chegarem ao Kotel estavam muitos jovens religiosos que, tomados pela imensa emoção, choravam sem parar, com a cabeça encostada no Muro. Os soldados não-religiosos ficaram afastados, vendo aquela cena sem entender muito bem o que estava a acontecer. Um deles, de repente, começou a chorar. O seu amigo perguntou, curioso:
- Ei, porque está a chorar?
O jovem rapaz respondeu:
- Eu estou a chorar por ver todas estas pessoas chorando e não saber nem porque eu deveria estar a chorar.
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Na noite deste Sábado, 09 de agosto, revivemos o triste dia de Tishá Be Av, data na qual os nossos dois Beit-Hamikdash (Templos Sagrados) foram destruídos. É um dia de jejum, e comportamo-nos como enlutados, sentados no chão e recitando as rezas em tom de choro. Mas qual a razão de chorar por algo que ocorreu há mais de 2000 anos?
O Beit-Hamikdash foi, e ainda é, um dos conceitos mais básicos e centrais do judaísmo. Uma das 19 Brachot existentes na Amidá (reza silenciosa, a parte central das 3 rezas diárias) é justamente para pedir para D'us a sua reconstrução. Os nossos sábios ensinam que o Beit-Hamikdash deveria ser uma das nossas principais preocupações, e que deveríamos sentir a sua falta em cada momento. Mas para a grande maioria de nós não é assim. Talvez muitos de nós nem saiba porque deveríamos chorar em Tishá be Av. Porque isso acontece?
A nossa vida, em muitos momentos, é boa e confortável. Nós não sentimos que falta algo. Nós acreditamos na ilusão do mundo físico, e imaginamos que a vida é boa como ela é. Vivemos anestesiados e alienados da vida real que poderíamos viver.
Mas a verdade é que, apesar de todas as coisas boas que temos na vida, lá no fundo cada um de nós sente que algo está a faltar. Algumas vezes isto se manifesta na confusão que temos sobre o propósito da vida, outras vezes na decepção de sentirmos que não atingimos o nosso potencial, ou até mesmo naquela estranha sensação de que a vida poderia ser mais do que ela é. Quem nunca escutou sobre a "Crise da meia-idade" ou sobre os altos índices de depressão que atinge velhos e jovens, homens e mulheres? Pessoas ricas, bonitas e sociáveis se afundam em terríveis depressões. O que lhes falta?
Há cerca de 2000 anos atrás nós tínhamos o nosso Templo em Jerusalém, que constantemente nos lembrava quem somos, quais são as nossas prioridades e para onde estamos indo. Era a nossa âncora num mundo escuro e tempestuoso. O Templo não era apenas uma construção bonita, era a manifestação física da nossa conexão com D'us, como diz o versículo "Construam para Mim um Templo, e Eu morarei dentro de vocês". Não está escrito "dentro dele", e sim "dentro de vocês", mostrando que a construção do Templo significou, para cada judeu, uma real conexão com D'us. Nos dias do Beit-Hamikdash a presença de D'us e a existência da espiritualidade eram evidentes, e o ateísmo era uma grande piada. As pessoas podiam ir para Jerusalém e literalmente sentir a Sua presença. Havia claridade e auto-estima, pois as pessoas conseguiam entender que haviam sido cridas à imagem e semelhança de D'us. As pessoas viviam vidas com propósito, com o entendimento de que tinham um objectivo a alcançar.
Quando o Beit-Hamikdash foi destruído, nós perdemos tudo o que tínhamos. A base de toda a alienação e baixa auto-estima que vemos actualmente no mundo está enraizado na destruição do nosso Beit-Hamikdash. Tishá be Av vem para contrastar a maneira como vivemos e a maneira como poderíamos viver. O Kotel é chamado "Muro das Lamentações" pois, mesmo passados mais de 2000 anos, nós ainda choramos e lamentamos tudo o que perdemos com a destruição do nosso Beit-Hamikdash.
D'us não espera que consigamos atingir imediatamente elevados níveis espirituais. Mas isso também não nos exime de tentar. Se nós não sentirmos a falta do Beit-Hamikdash nas nossas vidas, então não há mais esperança de reconstruí-lo. Portanto, se neste Tishá be Av não conseguirmos chorar pela falta do nosso Beit-Hamikdash, que possamos ao menos chorar pelo facto de não sentirmos vontade de chorar.
"Desde o dia em que o Beit-Hamikdash foi destruído, nunca mais houve um dia em que o céu esteve perfeitamente claro" (Talmud Brachót 59)
Rav Efraim Birbojm
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