17.8.08

O sucesso final...!

BOM DIA! Eis uma pergunta que me fazem muito frequentemente: O que influi mais no sucesso dos nossos empreendimentos: as ‘coincidências’ ou a nossa inteligência, a nossa capacidade de administrar riscos e analisar correctamente as situações que nos aparecem? Gostaria de responder a esta pergunta com uma história descoberta em dois diários de bordo com mais de 50 anos de idade!

Noite de 28 de novembro de 1944. O submarino USS Archer-Fish, sob o comando do capitão Joseph Enright, patrulhava a baía de Tóquio. No campo de visão do seu periscópio estava o super-porta-aviões japonês IJN Shinano, com mais de 70.000 toneladas (40.000 toneladas maior que os maiores porta-aviões americanos!). A sua existência ainda era desconhecida do serviço de inteligência norte-americano. Foi originalmente planeado para ser um navio de guerra comum, mas após as grandes baixas nas batalhas navais de Mariana Islands, Leyte Gulf e Midway, os japoneses resolveram colocar toda a sua esperança de vitória na construção de um mega-porta-aviões. O Shinano foi construído com um casco duplo especial, recheado de concreto, para torná-lo impenetrável a torpedos e com compartimentos estanques para torná-lo impossível de afundar.

O capitão Enright, porém, estava com problemas: no dia anterior o seu radar avariou-se e, ao consertá-lo, os técnicos realizaram testes que revelaram a sua presença na área. Agora ele estava vendo o gigantesco navio, mas este estava a viajar muito rápido, a 20 nós (o Shinano podia chegar a 27 nós e os melhores submarinos de guerra alcançavam, no máximo, 19 nós). Desejoso em não perder contacto com o navio, Enright continuamente utilizava o seu radar, uma estratégia não recomendável pois revelava a sua presença.

Imaginava, entretanto, que já sabiam que estava lá devido ao teste do radar no dia anterior.

Quando o Shinano virou para o sul, não havia mais condições de continuar seguindo-o. O capitão emergiu e enviou então um relatório à base americana anti-submarinos no Havaí, informando sobre o alvo e o seu curso. O USS Archer-Fish seguiu então numa direcção em que presumivelmente poderia encontrar o porta-aviões, esperando adiantar-se e encontrá-lo lá na frente, quando atingisse a possível rota que o Shinano estaria fazendo. (Quando um porta-aviões está em águas infestadas de submarinos, costuma zigzaguear para não se tornar um alvo fácil para os torpedos inimigos, virando à direita e à esquerda do seu curso normal).

De repente, eis o super-navio! O submarino rapidamente submerge, preparando os seus torpedos. O ângulo de tiro não estava bom, porém precisava fazê-lo. Espere! O porta-aviões começou a virar para o norte, entrando num ângulo perfeito para os torpedos. O comandante disparou 6 torpedos, com 8 segundos de intervalo entre eles. Quatro acertam o alvo... e cerca de 6 horas depois, o super porta-aviões afundou-se com quase metade da sua tripulação.

Óptimo trabalho! O capitão Enright recebeu a medalha da Cruz Naval americana. Ele fez tudo certinho, afundando o ‘Bismarck japonês’, a última esperança do Japão! O uso correcto do cérebro, da ousadia e da experiência! Entretanto, eis o que o capitão Enright não soube, que:

O IJN Shinano estava a ser comandado pelo capitão Abe (não, ele não era Judeu!). O Alto Comando japonês ordenou-o a levar o Shinano para os mares do interior do país. Eles sabiam que um avião espião B- 29 fotografara a área e temiam que tivesse descoberto o porta-aviões, o que certamente incorreria num ataque subsequente de bombardeiros sobre a área onde o Shinano estava a ser completado. O capitão protestou, alegando que o mega-navio ainda não estava pronto: os compartimentos-estanques não haviam ainda sido testados para garantir a sua resistência à entrada de água: faltavam algumas vedações e muitas portas estavam desalinhadas. Quatro das suas doze caldeiras ainda não estavam operacionais, permitindo que atingisse no máximo a velocidade de 20 nós. Porém, o Alto Comando ordenou: “Vá de qualquer forma!

E faça-o à noite, pois não temos aviões para escoltá-lo!”

O capitão Abe recebeu do seu subalterno o relato de um submarino utilizando o radar nas imediações (lembra-se do teste feito pelo Archer-Fish para consertar o seu radar?) Ele presume que há uma frota de submarinos no seu encalço. Ao perceber os sinais constantes do radar inimigo (lembre-se: o Archer-Fish não conseguia alcançá-lo, mas não queria perder o contacto), ordenou aos quatro destróieres que o escoltavam a manter posição ao redor do Shinano. Ele imaginava que os inimigos estavam a usar o submarino como isca para afastar os destróieres, de forma que outro submarino pudesse aproximar-se e afundá-lo. Quando um dos destróieres localizou o submarino e saiu na sua perseguição, o capitão Abe chamou-o de volta e chamou-o á razão, antes que este pudesse atirar ou soltar as suas cargas de profundidade contra o alvo. Se o destróier tivesse perseguido o submarino, o Shinano poderia ter escapado!

Depois de virar para o sul, o super-navio foi obrigado a diminuir a marcha por causa de um sobreaquecimento no seu propulsor, diminuindo assim a sua velocidade. O capitão Abe é avisado da transmissão de rádio feita pelo submarino (quando o Archer-Fish não mais conseguia manter contacto com o Shinano, enviou um comunicado à base do Havaí). Imaginando que o submarino havia transmitido a sua posição aos outros submarinos, o capitão Abe resolve mudar o curso de volta para o norte – indo, sem saber, directamente de encontro ao USS Archer-Fish.

Quando o comandante recebeu o relato de que os sinais de radar do submarino haviam cessado (quando o submarino submergiu para tentar um tiro fora de ângulo), exclamou: “Ahá! O submarino está prestes a nos torpedear!” E o que fez então? Alterou novamente o curso do Shinano para sair da mira do submarino, o que justamente o levou a entrar no melhor ângulo de tiro para um tiro perfeito!

Antes do impacto dos quatro torpedos, o capitão Abe dá ordens para aumentar a velocidade em direcção ao seu destino, presumindo que quatro torpedos não fariam um grande estrago no navio. Ao invés de rumar de volta para a sua base ou para terra-firme, o mega-navio aumentou a velocidade. Infelizmente, devido aos problemas com as vedações e portas estanques, a sua ordem apenas atrapalhou: com o aumento da velocidade, mais água foi entrando pelo casco, até que ficou tarde demais para salvar o navio e a sua tripulação.

Agora, eis a questão: O que afundou o IJN Shinano? A habilidade de navegação e a estratégia do capitão Enright ou as suposições do capitão Abe?

A resposta: as duas!

A nossa lição de toda esta história?

Precisamos dar o máximo de nós nas nossas vidas, levando em conta as informações disponíveis e tomando as melhores decisões baseados nelas. O resultado? Não está nas nossas mãos! O sucesso está nas ‘mãos’ do Todo-Poderoso. Se Ele desejar, o porta-aviões afunda, se não, não.

Qual a prova disto? Voltemos ao diário de bordo:

Um ano antes, o nosso capitão Enright estava a comandar o submarino USS Dace. A base americana anti-submarinos enviou-lhe uma mensagem super-secreta: haviam interceptado e decifrado uma mensagem naval japonesa, passando-lhe a localização, curso e velocidade do porta-aviões IJN Shokaku (que esteve envolvido no bombardeio a Pearl Harbour). O capitão posicionou-se no melhor local para interceptar o inimigo. Na hora prevista, lá estava o porta-aviões – porém ... 9 milhas mais adiante, longe demais para ser alvejado. Qual o motivo? O capitão Enright percebeu depois que a corrente marítima do local estava 1/3 mais fraca, o que causou a diferença em relação à posição do inimigo. Em pé, na frente do seu periscópio, de coração partido, o capitão Enright assistiu o Shokaku deslizando pelo horizonte, impotente para fazer qualquer coisa.

Respondendo agora à pergunta “O que influi mais no sucesso de nossos empreendi-mentos: as ‘coincidências’ ou a nossa inteligência, a nossa capacidade de administrar riscos e analisar correctamente as situações que nos aparecem?”, a resposta é que não há como saber, como ter uma resposta precisa.

Porém, podemos aprender o seguinte: façamos os nossos melhores esforços, tudo o que estiver dentro de nosso alcance, mas com a certeza de que o sucesso final está nas mãos do Criador!