7.4.08

DEVOLVENDO UM JUDEU COMPLETO

"O Rabino Israel Shapira, um sobrevivente do Holocausto, costumava contar uma história que aconteceu enquanto ele estava no Campo de Concentração de Yesnovka. Todos os dias os prisioneiros judeus trabalhavam sem parar, desde a madrugada até o anoitecer. Devido às terríveis condições de trabalho e à mísera porção de comida que recebiam, eles mal conseguiam ficar de pé. Certo dia, durante o horário de trabalho, uma mulher se aproximou dele e sussurrou:

- Rabino, me dê uma faca agora.

O rabino se assutou com o pedido da mulher, pois havia entendido suas intenções. Então ele respondeu, tentando fazê-la desistir da idéia:

- Minha filha, mais um pouco e todos nós iremos para o Olam Habá (Mundo Vindouro). Por que você quer apressar as coisas?

A mulher não escutou as palavras do rabino e mais uma vez pediu-lhe uma faca. Neste momento um dos guardas do campo de concentração escutou que eles conversavam e se aproximou gritando:

- Judeu maldito, o que esta mulher falou para você?

O rabino congelou. Conversar durante o trabalho era considerado uma grave trangressão, e muitos judeus haviam sido friamente assassinados por crimes menores do que este. A mulher corajosamente se adiantou e falou:

- Eu pedi para ele uma faca.

O guarda nazista abriu um sorriso. Ele havia entendi qual era a intenção da mulher. Ele havia visto muitas pessoas se suicidarem durante a noite, se atirando contra as cercas eletrificadas. Mas esta cena seria diferente, seria mais interessante. Ainda sorrindo, ele retirou do bolso uma faca e estendeu para a mulher.

Pegando a faca, a mulher caminhou alguns passos em direção a um pequeno embrulho feito com panos, que estava no chão. Ela abriu rapidamente os panos e tirou de lá um bebê. Diante dos olhos atônitos de todos ela pegou a faca, recitou a Brachá "Bendito sejas Tu, D'us... que nos comandou a introduzí-lo no pacto de Avraham Avinu", e imediatamente realizou o Brit-Milá no bebê. Ela abraçou o bebê para acalmá-lo, e levantando-o para o céu, falou:

- Senhor do Universo. Você me mandou um bebê. Agora eu te devolvo um judeu completo...." (História Real)

Por mais de 4.000 anos o povo judeu guarda, com alegria, a Mitzvá de Brit-Milá. Por mais afastado que o povo esteja, por mais que muitas Mitzvót sejam abandonadas pela maioria do povo, esta Mitzvá nunca foi abandonada.
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A Parashá desta semana, Tazria, começa nos ensinando sobre as leis de impureza espiritual que recai sobre uma mulher após o parto. Imediatamente a Torá interrompe a narrativa, e fala sobre o Brit-Milá (circuncisão): "E no oitavo dia, o prepúcio será circuncidado" (Vayikrá 12:3). Daqui surgem duas perguntas: por que a Torá interrompe a narrativa sobre a impureza da mulher para falar sobre a Mitzvá de Brit-Milá? E por que o Brit-Milá é feito no oitavo dia, e não no primeiro?

A maioria do judeus atualmente não cumpre mais Mitzvót como o Shabat ou Kashrut. O que deveríamos esperar de uma Mitzvá que implica em fazer uma cirurgia em uma criança com 8 dias de vida? Certamente a maioria do povo deveria tê-la abandonado. Mas há algo de espetacular na Mitzvá de Brit-Milá, pois vemos justamente o contrário: por mais afastado que as pessoas estejam do judaísmo, a Mitzvá do Brit-Milá continua. E mais do que isso, o Brit-Milá é feito com alegria por todo o povo judeu.

Ensinam os nossos sábios que o motivo que D'us nos entregou as Mitzvót é para que possamos nos elevar espiritualmente. Isto é, através de atos materiais, podemos interferir sobre a nossa alma, e fazer com que os dois se elevem juntos, garantindo nossa recompensa no Olam Habá. O número 7, segundo a Cabalá, representa o mundo material, enquanto o número 8 representa a transcendência. Quando D'us fez o pacto do Brit-Milá com Avraham e seus descendentes, D'us estava dando ao povo judeu a possibilidade de transcender o material. E da mesma maneira que a criança nasce imperfeita, e logo no começo de sua vida começa o seu "conserto" através do Brit-Milá, assim também acontece com nossas características, devemos começar o nosso trabalho o mais cedo possível para atingir a perfeição espiritual. Então por que o Brit não é feito no primeiro dia? Como D'us se preocupa com suas criaturas, Ele quer que o bebê esteja forte o suficiente para que não corra riscos de vida desnecessários.

E a interrupção do assunto da impureza é mais uma demonstração do amor de D'us e Sua preocupação com o nosso bem estar. Explica o Or Hachaim, comentarista da Torá, que a mulher fica impura por 7 dias após o parto, e durante estes dias ela está proibida para o marido. Por isso D'us fez com que o Brit-Milá fosse apenas no oitavo, para que não aconteça de todos estarem contentes na festa e justamente a mãe estar triste.

D'us, por amor às suas criaturas, fez com que todos aqueles que cumprem Suas Mitzvót também tenham um benefício ainda neste mundo. E isso fica muito evidente quando observamos atentamente a Mitzvá de Brit-Milá. Segundo estudos americanos, pessoas que fizeram Brit-Milá tem 30 vezes menos probabilidade de desenvolver infecções do trato urinário. Além disso, a circuncisão protege contra bactérias, fungos e infecções parasitárias, além de uma série de outros problemas relacionados com a higiene. A taxa extremamente baixa de câncer cervical em mulheres judias, 20 vezes menor, também é atribuída à prática da circuncisão.

Porém, a descoberta mais fantástica foi feita há alguns anos por um médico alemão, que estudava a produção de Protrombina B, um dos agentes mais importantes na coagulaçao do sangue. Este médico descobriu que as crianças nascem com uma taxa de 60% de produção de Protrombina B. Esta taxa cai para pouco mais de 30% aos 3 dias de vida, aos 8 dias de vida chega a uma taxa de 110% e finalmente se estabiliza em 100% a partir do nono dia, se mantendo assim durante toda a vida. Incrivelmente o oitavo dia é, medicamente falando, o dia mais propício na vida de uma pessoa para fazer uma cirurgia, justamente quando D'us nos ordenou fazer o Brit-Milá. E por mais que estes motivos médicos não sejam o motivo da Mitzvá de Brit-Milá, eles mostram o quanto é grande o amor de D'us por todos aqueles que seguem os Seus mandamentos.

Rabino Efraim Birbojm