A ROUPA DO MANDARIM
Havia um homem na antiga China que foi nomeado mandarim (uma espécie de conselheiro do imperador), um cargo muito importante e honrado. Envaidecido com a nova posição, pensou em mandar confeccionar roupas novas. Como seria um homem importante, precisava de se vestir bem. Um amigo recomendou-lhe um velho alfaiate, um homem muito sábio e especial, que sabia dar a cada cliente o corte perfeito. Depois de cuidadosamente anotar todas as medidas do mandarim, o alfaiate perguntou-lhe “há quanto tempo ele era mandarim”.
- O que isso tem a ver com a medida do meu manto? - perguntou o mandarim, visivelmente irritado, o sucesso já a subir-lhe à cabeça.
Paciente, o alfaiate explicou:
- A informação é importante para que eu possa fazer a sua roupa com o corte perfeito. Por exemplo, se é um mandarim recém-nomeado, deve estar tão deslumbrado com o cargo que andará com o nariz erguido e a cabeça levantada. Nesse caso, preciso fazer a parte da frente maior que a de trás. Se já é mandariam há alguns anos, está ocupado com o seu trabalho e os transtornos advindos da sua experiência já o devem ter tornado um homem sensato e que olha para frente, para ver o que vem na sua direcção e o que precisa de ser feito em seguida. Então eu tenho que costurar um manto de modo que fiquem igualadas as partes da frente e a de trás. Mas se você já é mandarim há muitos anos, o corpo está curvado pelos trabalhos exaustivos, sem falar na humildade que adquiriu na vida junto, com a sabedoria. Neste caso eu preciso de fazer o manto com a parte de trás mais longa. Portanto, preciso saber há quanto tempo o senhor está no cargo, para que a roupa lhe assente perfeitamente.
O homem, quando saiu da loja, entendeu os motivos que levaram o seu amigo a lhe indicar aquele sábio alfaiate. Com certeza não era para acertar as suas roupas, e sim o seu comportamento.
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Na Parashá desta semana, Shmini, a Torá descreve a inauguração do Mishkan (Templo Móvel) e a primeira vez que a Presença Divina repousou sobre ele. Porém, o que era para ser um dia de grandes festas e alegria transformou-se em uma grande tragédia: os dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, que eram os Cohanim (sacerdotes) designados para fazer os serviços do Mishkan, ofereceram um incenso que não havia sido pedido por D'us e morreram, fulminados por um fogo Celestial. Moshé, vendo a tristeza de Aharon pela perda dos filhos, foi consolá-lo com as seguintes palavras: " ...Foi isso o que D'us havia me dito, quando Ele falou: "Eu santificarei o Meu nome através daqueles que são muito próximos de Mim"... " (Vayikrá 10:3). Explica o Midrash (parte da Torá Oral) que com estas palavras Moshé consolou Aharon: "Saiba que durante a entrega da Torá no Monte Sinai, D'us havia disse-me sobre a morte de dois Tzadikim (Justos) muito próximos Dele, e que eles santificariam o Seu nome. Eu pensei que seríamos eu e tu. Agora entendo que os seus filhos eram ainda maiores do que nós dois". Quando Aharon escutou isso, consolou-se, e em algum momento questionou a vontade de D'us.
Mas prestado um pouco de atenção nas palavras do Midrash, surge uma dúvida. Moshé Rabeinu é conhecido pela sua incrível humildade, e em vários pontos da Torá essa característica é ressaltada. Quando D'us o escolheu como o salvador do povo, Moshé não quis aceitar, pois achava que haviam muitas pessoas melhores do que ele para o cargo. Quando o Mishkan ficou pronto, Moshé deveria ter entrado, mas não quis, pois achava que não era a pessoa mais adequada para fazer os serviços. E a própria Torá descreve, explicitamente, que Moshé era um homem muito humilde. Porém, neste episódio da morte dos filhos de Aharon, onde se vê a humildade de Moshé? Parece justamente o contrário, como se ele estivesse a dizer ao Aharon "eu sei que sou alguém muito grande". Isso é humildade?
Explicam os nossos sábios um fundamento muito importante sobre a característica de humildade. Humildade não significa a pessoa se sentir lixo, estar deprimida, achar que não tem importância nenhuma no mundo. A humildade verdadeira é daquelas pessoas que sabem a sua grandeza, que sabem a sua importância no mundo, mas não atribuem o seu sucesso a si mesmas, e sim à D'us. Moshé sabia que ele era o líder do povo, que era o único ser humano que podia falar com D'us face a face, que era espiritualmente um gigante. Porém, ele nunca atribuiu nada dessa grandeza a si mesmo, ele sabia que tudo era um presente e uma bondade de D'us. Ele tinha muito claro no seu coração que se D'us não permitisse, ele não tinha forças para nem mesmo levantar um dedo.
A humildade é uma característica muito difícil de ser alcançada, pois a tendência do ser humano é que o seu orgulho e sua prepotência aumentem na proporção do seu crescimento na vida. As pessoas pensam que, por terem se tornado presidentes da empresa, já não precisam mais de dizer bom dia ao porteiro, obrigado para a empregada, nem por favor para a secretária. O orgulho sobe facilmente à cabeça das pessoas, cegando-as. Como ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Três coisas tiram o homem deste mundo: a inveja, a busca pelos desejos materiais e a busca pela honra". Justamente ao contrário de Moshé, cuja maior grandeza foi, quanto mais ele crescia, mais humilde ele se tornava.
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