15.3.08

COMO FORÇAR UM SENTIMENTO

"Depois de 21 anos de casado, descobri uma nova maneira de manter viva a chama do amor: decidi sair com outra mulher. Na realidade foi idéia da minha esposa.

- Você sabe que a ama - disse-me minha esposa um dia, pegando-me de surpresa - A vida é muito curta, você deve dedicar especial tempo a essa mulher...

- Mas eu amo-te, protestei.

- Eu sei. Mas também a amas.. Tenho a certeza disso.

A outra mulher, a quem minha esposa queria que eu visitasse, era a minha mãe, que já era viúva há 19 anos, mas as exigências do meu trabalho e dos meus 3 filhos faziam com que eu a visitasse muito pouco. Naquela noite eu telefonei e convidei-a para jantar e ir ao cinema. Ela estranhou, achou que havia acontecido alguma coisa, que eu precisava contar algo. Respondi, entre risadas, que apenas queria passar algum tempo agradável junto dela, só nós dois. Ela agradeceu e aceitou o convite.

Depois de alguns dias lá estava eu, dirigindo para buscá-la, depois do trabalho. Estava um tanto nervoso, era o nervosismo que antecede a um primeiro encontro... E que coisa interessante, pude notar que ela também estava muito emocionada. Esperava-me na porta de casa, havia feito um penteado novo e usava o mesmo vestido que havia vestido em seu aniversário de bodas. Seu rosto brilhava e irradiava luz como um anjo.

- Eu contei às minhas amigas que ia sair com você, elas ficaram muito impressionadas - comentou, enquanto subia no carro.

Fomos a um restaurante aconchegante, minha mãe segurou meu braço como se fosse a "primeira dama". Quando nos sentamos, tive que ler para ela o menu, pois seus olhos só enxergavam grandes figuras. Levantei os olhos, mamãe me olhava fixamente. Um sorriso nostálgico se delineava nos seus lábios.

- Era eu quem lia o menu quando você era pequeno - disse-me.

- Então é hora de relaxar e me permitir devolver o favor - respondi.

Durante o jantar tivemos uma agradável conversa. Nada extraordinário, só colocando em dia a vida um para o outro. Falamos tanto que perdemos o horário do cinema.

- Como foi teu encontro? - quis saber minha esposa quando cheguei naquela noite.

- Muito agradável. Muito mais do que imaginei...

Dias mais tarde minha mãe faleceu de um infarte fulminante. Foi tudo muito rápido, não pude fazer nada. Encontrei na cabeceira de sua cama um bilhete que dizia: "Filho, você jamais poderá entender o que aquela noite significou para mim. Te amo".

Nesse momento compreendi o quanto aquela noite havia sido importante, o quanto ela havia aumentado o nosso amor, e imaginei quantas outras oportunidades eu havia desperdiçado...

As pessoas que amamos são muito importante, dedique tempo a eles, porque elas não podem esperar".
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Nesta semana começamos o terceiro livro da Torá, Vayikrá. E a Parashá Vayikrá descreve as leis sobre os Korbanot (sacrifícios) que eram oferecidos no Mishkan (Templo Móvel), e posteriormente no Beit Hamikdash (Templo Sagrado). Havia Korbanot que deveriam ser trazidos durante as festas, e outros cujo principal objetivo era expiar os pecados não-intencionais e alguns tipos de pecados intencionais. A Torá descreve também um outro tipo de Korban, chamado "Shlamim", que era trazido sem motivo em especial, apenas como um acto voluntário, em apreciação a D'us pelas Suas bondades. E em algumas outras Mitzvót percebemos também este carácter não obrigatório, como por exemplo o Nazirato (quando uma pessoa se abstenha, voluntariamente, de beber vinho e cortar o cabelo) e o Chessed (Bondade com o próximo. Por mais que tenhamos a obrigação de fazer bondade, D'us não estipulou uma quantidade fixa). Entendemos que D'us nos deu as Mitzvót para as cumprir, pois estas Mitzvót vão refinando o nosso carácter e actuando sobre a nossa alma. Mas por que D'us nos deu Mitzvót e Korbanot voluntários?

Além disso, existem Mitzvót em que actos físicos estão envolvidos, como Tefilin e Mezuzá, e Mitzvót que envolvem apenas o coração, tais como amar a D'us e temê-Lo. Mas é difícil entender como é possível cumprir as Mitzvót do coração, pois podemos obrigar a cumprir as Mitzvót que envolvem actos, mas como podemos obrigar o nosso coração a um sentimento?

O livro Messilat Yesharim traz uma idéia interessante, que nos ajuda a responder ás nossas perguntas. O nosso interior espelha-se no nosso exterior, como nos ensina o "Lashon Hakodesh" (língua sagrada com a qual D'us criou o mundo), onde a palavra "rosto" (Panim) é escrita com as mesmas letras da palavra "interior" (Pnim). Porém, o contrário também acontece, isto é, os nossos actos externos podem influenciar o nosso interior. Por exemplo, quando uma pessoa não está feliz mas se força a sorrir, com o tempo ela vai sentindo uma alegria no coração, até que o sorriso se transforma em algo verdadeiro e interior. E o mesmo se aplica às Mitzvót do coração. Amar a D'us não é algo fácil, mas se fizermos actos externos que ressaltem o nosso amor por Ele, com o tempo esse amor vai preenchendo o nosso coração. E que acto externo pode reforçar o nosso amor por D'us? Os actos voluntários, nos quais fazemos mais do que D'us nos pediu, e assim mostramos-lhe a nossa vontade de nos conectar.

Portanto, esse é um dos motivo pelo qual D'us nos deu a Mitzvá do "Korban Shlamim" e as outras Mitzvót que não são obrigatórias, para que através dos nossos actos de "doação" para D'us possamos despertar o nosso amor e a nossa conexão com Ele. Se fossem obrigatórias, estaríamos apenas a cumprir a nossa obrigação, e não como um caminho para conectarmos o nosso coração a Ele. E é por isso também que os Baalei Teshuvá (pessoas afastadas que voltaram aos caminhos da Torá) e os convertidos são tão queridos por D'us, pois por sua escolha decidiram se aproximar, e esse acto de doação conecta os seus corações ao Criador de uma maneira muito mais forte e duradoura.

"O lugar onde se encontra um Baal Teshuvá, mesmo um Tzadik Gamur (pessoa completamente justa) não alcança".