3.3.08

OPERAÇÃO SALOMÃO

"Por muitos séculos um grupo de judeus viveu completamente isolado do resto da comunidade judaica mundial: os judeus da Etiópia, mais conhecidos como "falashas". Foi somente no século 20 que historiadores revelaram os falashas para o mundo. E no final dos anos 80 os judeus de todo o mundo viam com apreensão a situação dos falashas, que viviam em constante perigo por causa de uma guerra civil entre tribos etíopes. A Etiópia estava sob o comando de um ditador tirano e sanguinário, Mengistu Haile Mariam, conhecido como "o açougueiro de Adis". Os judeus de todo o mundo queriam tirar os falashas da Etiópia e levá-los para Israel, onde poderiam viver em paz. Foram iniciadas algumas negociações com Mengistu, através do embaixador de Israel na Etiópia, Asher Naim, e no dia 23 de Maio de 1991 foi feita uma verdadeira operação de guerra, que durou 25 horas e retirou da Etiópia 14.200 judeus. Esta operação ficou conhecida como "Operação Salomão".
Todo o mundo festejou a salvação dos judeus, e grandes louvores foram dados a Asher Naim, à companhia de aviação israelense El Al e ao exército de Israel pela brilhante operação. Mas o que ninguém sabia era que o verdadeiro herói não recebeu mérito nenhum.
Quando o ditador Mengistu permitiu a saída dos judeus, ele fez duas exigências. A primeira era que os judeus pagassem, em dinheiro, uma quantia de alguns milhões de dólares, mas isso não foi um problema, pois judeus de todo o mundo contribuíram. O problema foi a segunda exigência, na qual Mengistu pedia que o presidente dos Estados Unidos, George Bush (pai do actual presidente americano) telefonasse pessoalmente para ele e pedisse "Por favor, deixe os judeus saírem". Isso colocava em jogo a soberania dos Estados Unidos, e não era uma decisão simples. Uma reunião de emergência foi marcada, e as 13 pessoas mais importantes dos EUA foram chamadas para decidir se os judeus etíopes seriam salvos ou não. A reunião estava tensa, muitos argumentos eram trazidos contra e a favor. Quando finalmente começou a votação, 6 pessoas votaram a favor e 6 contra. Então a última pessoa, que decidiria tudo, se levantou e começou a falar:
- Antes de dar o meu voto, preciso contar uma história. Há 20 anos atrás eu vivia com minha esposa e com meus três filhos pequenos no bairro do Brooklin, em Nova York. Um dia ligaram-me para o trabalho dizendo que a minha casa estava em chamas, e que os meus três filhos ainda estavam lá dentro. Corri para lá, desesperado, mas as chamas já tomavam conta do primeiro andar, e era impossível entrar. A situação começou a ficar desesperadora, pois os bombeiros atendiam outro chamado e demoravam a chegar. De repente uma pessoa, envolta em cobertores molhados, entrou correndo dentro da casa e voltou, segundos depois, com meus três filhos no colo. Parecia um anjo que havia vindo do céu para salvar os meus filhos. Quando a pessoa tirou os cobertores, pude ver que era um homem negro, que usava uma kipá na cabeça. Era um judeu etíope, que também vivia no bairro. Quis agradecer, ofereci pagar-lhe algo pelo acto heróico, mas ele recusou-se, dizendo que apenas havia cumprido uma Mitzvá da Torá de salvar uma vida, e por isso não queria nenhuma recompensa. Abracei-o várias vezes e insisti em dar-lhe uma recompensa, mas ele foi firme em recusar. E por 20 anos eu fiquei com uma dívida de gratidão pendente com aquele judeu etíope que salvou os meus filhos. A minha dívida vou pagá-la agora. Eu voto a favor da salvação de todos os judeus etíopes.
E este último voto decisivo fez com que 14.200 judeus fossem salvos da Etiópia" (História Verídica
Quando fazemos uma Mitzvá, principalmente quando a Mitzvá é feita de todo o coração, com Messirut Nefesh (auto-sacrifício), este mérito fica guardado, para nós ou para os nossos descendentes. É como se jogássemos uma bola para cima, que pode voltar a cair em qualquer lugar. Mesmo se não vemos imediatamente nenhum fruto directo deste bom acto, temos que saber que este mérito pode ficar guardado por anos, algumas vezes por gerações, e pode ajudar pessoas onde menos imaginamos.

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Na Parashá desta semana, Vayakel, a Torá descreve o início dos serviços de construção do Mishkan (Templo Móvel). E D'us nomeou uma pessoa em especial para ser o responsável pela construção, como está escrito "E falou Moshé ao povo judeu: 'Vejam, D'us designou pelo nome Betzalel, filho de Uri, filho de Chur, da tribo de Yehudá` " (Shemot 35:30). Há algumas perguntas interessantes sobre este versículo. Por que a linguagem "Vejam"? Por que toda vez que a Torá menciona o nome de Betzalel, menciona também a sua ascendência até ao seu avô Chur? E por que a escolha de Betzalel, o que ele tinha em especial? A Torá não menciona em nenhum momento que Betzalel era um grande arquitecto ou artista, ou que tinha aptidão natural para o trabalho de construção do Mishkan!
Explicam os nossos sábios que Betzalel foi escolhido pela sua forte conexão com D'us, que se expressa no seu próprio nome, pois "Betzalel" significa "na sombra de D'us". E esta proximidade de D'us é a característica mais importante quando o trabalho envolvido é a construção do Mishkan, a moradia de D'us neste mundo.
E de onde Betzalel conseguiu esta conexão com D'us? A Torá repetidas vezes traz o nome de Betzalel junto com o nome de Chur para nos ensinar que há algo que os conecta. Chur era um dos líderes do povo judeu. Quando o povo quis construir o bezerro de ouro, Chur levantou-se contra o povo e lutou ferozmente pela honra de D'us. Mas ele pagou caro pelo seu acto, pagou com a sua própria vida, pois o povo, enfurecido e obstinado, assassinou Chur. A qualidade encontrada em Chur de conexão com D'us, de Messirut Nefesh (auto-sacrifício), de prontidão em dar a sua própria vida em honra de D'us, foi transferida para o seu filho Uri e para o seu neto Betzalel.
Sempre costumamos considerar as conseqüências directas das coisas que ocorrem no nosso cotidiano. Olhando deste ângulo, o acto de Chur aparente mente não serviu para nada, ele morreu em vão, pois o povo construiu o Bezerro de Ouro que ele tentou evitar. Mas a Torá vem ensinar-nos que não devemos olhar o mundo de maneira tão imediatista, de forma tão limitada. Segundo a Torá, a história não termina hoje, a história continua. A dedicação e o auto-sacrifício de um avô, que num primeiro momento pareceu improdutivo, teve um grande impacto no potencial das suas futuras gerações e mudou o curso de toda a história..
Mais ainda explicam os nossos sábios que a construção do Mishkan foi uma expiação pelo pecado do Bezerro de Ouro. Esta expiação veio através dos esforços de Betzalel, neto de Chur. Portanto, Chur foi o verdadeiro responsável pela expiação do pecado que ele tentou evitar.
Chur não pôde parar a construção do Bezerro de Ouro, mas ele pôde parar os seus efeitos e trazer expiação a todo o povo. A sua morte não foi em vão.
E este é também o motivo pelo qual a Torá escreve "Vejam", para ressaltar que esta é a forma correcta de levar a vida, não de forma imediata, mas sabendo que D'us é perfeito, Ele faz justiça e guarda cada pequeno bom acto. Nada que fazemos neste mundo é em vão, e mesmo que não consigamos ver o futuro, temos que saber que podemos estar, neste exacto momento, mudando o curso de toda a história.

Rav Efraim Birbojm