25.2.08

O que é pecado?

Como a maioria das coisas, a resposta depende de a quem você pergunta.

O Midrash (Yalcut Shimoni sobre Tehilim 25) descreve uma espécie de "mesa-redonda" na qual esta pergunta é apresentada a quatro autoridades diferentes - Sabedoria, Profecia, Torá e D'us - cada um dos quais fornece uma diferente definição de pecado.

Segundo a Sabedoria, o pecado é um acto prejudicial. De acordo com a Profecia, é morte. Torá o vê como uma tolice. E D'us o vê como uma oportunidade.


A visão filosófica do pecado é que é uma má ideia, como caminhar descalço sobre a neve ou comer muitos alimentos engordurados. Se faz coisas más, as consequências serão más.

Isso quer dizer que Alguém fica sentado, tabulando os pecados e distribuindo os castigos? Bem, de certa forma, embora não seja algo tão simplista como um D'us vingativo acertando as contas com as Suas pequenas criaturas terráqueas por ousarem desafiar as Suas instruções. A gangrena num membro congelado é a punição enviada por D'us por aquela caminhada sobre a neve? Problemas no coração são a vingança de D'us por causa de uma dieta rica em colesterol? Definitivamente sim, se você aceita que tudo que acontece foi porque D'us queria que acontecesse. Mas o que realmente significa é que D'us estabeleceu certas "leis da natureza" que descrevem os padrões dos Seus actos sobre a nossa existência. Há leis físicas da natureza - aquelas que os cientistas avaliam e formulam hipóteses a respeito. Há também leis espirituais da natureza, que ditam que os actos espiritualmente benéficos produzem benefício espiritual, e acções espiritualmente prejudiciais causam dano espiritual. E como a nossa existência física deriva e espelha a nossa realidade espiritual, o comportamento moral e espiritual de uma pessoa terminará por afectar a sua vida física também.

Dessa maneira, o Rei Salomão (que é a fonte da perspectiva da "Sabedoria" no Midrash acima mencionado) declara no Livro dos Provérbios (Mishlê): "O mal persegue a iniquidade."

"Profecia" vai um passo além disso. O pecado não é apenas um acto prejudicial - é o acto prejudicial por excelência. A Profecia (que representa o apogeu do esforço do homem para comungar com D'us) define "vida" como uma conexão com D'us. O Pecado - o homem afastando-se de D'us - é uma ruptura desta conexão.

Sendo assim, o pecado é a morte.

A Torá concorda que o pecado seja um acto prejudicial. Concorda também que é uma ruptura do fluxo de vida do Criador para a criação. De facto, a Torá é a fonte tanto da perspectiva da Sabedoria como da Profecia sobre o pecado. Mas a Torá também vai além de ambos, ao reconhecer que a alma do homem, voluntária e conscientemente, jamais faria algo tão tolo.

O pecado, diz a Torá, é um acto de insensatez. A alma "perde a cabeça", e num momento de irracionalidade e confusão cognitiva faz algo contrário ao seu verdadeiro desejo. Então o pecado pode ser transcendido, quando a alma reconhece e identifica a tolice da sua transgressão, e reafirma a sua verdadeira vontade. Então o verdadeiro "eu" da alma transparece, revelando que o pecado foi de facto cometido apenas pelo "eu" mais externo e maleável da alma, ao passo que o seu "eu" interior jamais esteve envolvido.


E o que diz D'us? D'us, é claro, inventou as leis da natureza (tanto físicas como espirituais) e a Sabedoria que reconhece como elas funcionam. D'us é a fonte da vida, e é Ele quem decreta que a vida deveria fluir para a alma humana através de um canal construído (ou rompido) pelas acções do homem. E D'us nos deu a Torá e as suas fórmulas para a sanidade espiritual, auto-conhecimento e transcendência. Portanto, D'us é a fonte das primeiras três perspectivas sobre o pecado.

Mas há uma quarta perspectiva que vem unicamente de D'us: o pecado como uma oportunidade para o "retorno" (teshuvá).

Teshuvá é um processo que, na sua forma máxima, possibilita-nos não apenas transcender as nossas falhas como também redimi-las: literalmente, voltar no tempo e redefinir a natureza essencial de um acto passado, transformando-o de mau em bom.

Para conseguir isso, primeiro temos de sentir o acto de transgressão como algo negativo. Temos de agonizar com a total devastação que produziu na nossa alma. Temos de reconhecer, rejeitar e renunciar à sua insensatez. Apenas então poderemos voltar atrás e alterar aquilo que fizemos.

Então, o pecado é uma acção má e prejudicial? É a própria face da morte? É mera estupidez, para ser posta de lado por uma alma inerentemente pura e sábia? É uma oportunidade potente para a conquista e o crescimento? Na verdade, é tudo isso. Mas apenas pode ser a quarta perspectiva se for também as três primeiras.