Morte assistida e eutanásia
Ninguém deseja ver os seus entes queridos com dor e em sofrimento. Quais são os ensinamentos da Torá em relação à morte assistida e à eutanásia?
Escreveu o rabino Daniel Levy:
“O argumento frequentemente proposto em apoio à morte assistida e à eutanásia é de que se está a agir por compaixão para aliviar a dor e o sofrimento do doente e, portanto, os seus defensores não consideram este acto como um assassinato. Este ponto de vista, por mais bem-intencionado que seja, é contrário à visão da Torá. A questão da dor e da qualidade de vida versus a própria vida não está nas nossas mãos para ser avaliada e decidida. O judaísmo considera a santidade da vida como uma dádiva de D'us e ela não pode ser activamente encerrada por qualquer ser humano, por mais nobres que sejam as suas intenções”.
“A Torá proíbe infligir danos a si mesmo e ensina que não somos donos dos nossos corpos. Por exemplo: a proibição constante nos Dez Mandamentos de ‘Não Matarás (Êxodus 20:12)’ inclui a proibição de suicidar-se (Pesikta Rabati Parasha 25 – uma das explicações sobre a Torá). Num outro trecho, quando a Torá relata a saída de Noé da Arca, D'us comunica-lhe ser terminantemente proibido o assassinato. O versículo diz:: “Eu (D'us) vou clamar o sangue derramado ... Eu irei cobrar de toda a criatura e da mão do homem [que assassinou] (Gênesis 9:5)”. O Talmud (Baba Kama 91b) analisa que não só é proibido matar alguém, mas também tirar a própria vida”.
“A Torá declara no livro Bamidbár (Números 25:31): ‘Vocês não devem aceitar resgate pela vida de um assassino; ele deve ser punido”. O Rambam (Maimônides, (1135-1204)) explicou o princípio por trás desta lei: “Os juizes do tribunal foram advertidos a não aceitar pagamento para que um assassino seja liberto da sua punição, mesmo que ofereça todo o dinheiro do mundo e mesmo que a parte vindicada (os parentes do morto) concorde que ele seja libertado. A razão é que a vida da pessoa assassinada não é propriedade dos parentes, mas sim do Todo-Poderoso (Mishnê Torá, Leis sobre Assassinato 1:4)” . “Em relação ao suicídio, o rabino Yechiel Michel Tucazinsky, um dos grandes líderes do judaísmo no século XX, esclareceu alguns pontos muito perguntados: “Cometer suicídio talvez seja um pecado ainda maior que o assassinato, por diversos motivos. Primeiro, ao suicidar-se a pessoa remove qualquer possibilidade de arrependimento. Segundo, a morte, na maioria das circunstâncias, é a maior expiação espiritual pelas transgressões de uma pessoa. Ao suicidar-se, ao invés de uma expiação, uma transgressão gravíssima está sendo cometida. Uma terceira razão pela qual o judaísmo abomina o suicídio é que a pessoa que retira a sua própria vida expressa com este acto extremo, que nega o Poder Divino e a posse que Ele tem das nossas vidas, corpos e almas. O suicida deliberado ainda nega com este acto ser ele próprio uma Criação de D'us. Os nossos Sábios comparam a partida de uma alma do corpo humano com um Sefer Torá (os Rolos da Torá) que foi consumido pelo fogo. Aquele que comete suicídio pode ser comparado a alguém que propositadamente queima um Sefer Torá’”. “Certamente é doloroso ver os outros a sofrer e é por esta razão que entre os princípios centrais da Torá estão a compaixão e a ajuda ao próximo. Os proponentes da morte assistida e da eutanásia consideram estes actos como uma ‘morte misericordiosa’ ao invés de assassinato. Entretanto, o termo ‘assassinato por misericórdia’ não diminui o facto de que uma atitude destas questiona o próprio princípio de que não somos donos dos nossos corpos e, por mais pura que seja a intenção de abreviar uma vida para aliviar o sofrimento, isto não torna o acto aceitável”.
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