3.2.08

A dor...


BOM DIA! O pai de um adolescente que eu conheço tinha um belo Ford Galaxie, ano 1965, descapotável, amarelo e preto. Um dia o rapaz perguntou ao pai porque tinha um Galaxie enquanto a outra pessoa que competia com ele pelo posto número 1 na companhia conduzia um moderno Thunderbird. O pai respondeu: “As pessoas não gostam de saber, que se ganha exageradamente bem”. Dois anos depois este pai comprou um Thunderbird. O filho perguntou-lhe porque mudara de ideia. O pai desta vez respondeu: “As pessoas gostam de ver que se é um homem de sucesso!”

“Não tem lógica”, afirmariam?

O cérebro é um instrumento poderoso. Peça-lhe 10 razões para assaltar um banco e ele lhe dará:

1) Será muito emocionante

2) Pense em todo o bem que poderá fazer com o dinheiro

3) Eles tem seguro mesmo... e assim por diante.

Peça agora ao seu cérebro 10 razões para não roubar um banco e ele lhe dará:

1) É errado

2) Você provavelmente será um maricas

3) O nome da sua próxima namorada será Geraldo, etc.

Sabendo que o cérebro pode justificar praticamente qualquer atitude, devemos perguntar-lhe: “Qual a coisa certa a fazer?“ E frequentemente vale a pena pedir a um amigo que não tem os mesmos interesses que nós, a sua opinião. Isto ajudará a nos mantermos objectivos.

Podemos usar o nosso cérebro para melhorar a nossa situação ou para piorá-la. Todos conhecemos pessoas que ‘conseguiram’ trocar muita alegria por uma enorme miséria. Um empregao de mesa certa vez contou-me, que às vezes ele tinha vontade de, ao invés de perguntar ao cliente: “Estava boa a refeição?”, perguntar: “Tinha algo de bom nesta refeição?”

Todos podemos olhar para um copo com água como ‘meio cheio’ ou ‘meio vazio’. Entretanto, devemos usar o nosso cérebro para ver sempre o lado positivo.

Como membro do Bikur Holim da nossa cidade (um grupo de voluntários que visita e ajuda os doentes), geralmente visito os doentes na Unidade de Reabilitação, onde estão se recuperando de cirurgias no joelho ou nos quadris. Muitas vezes eles estão com muitas dores. É doloroso assistir á sua dor.

Digo ao paciente: “Gostaria muito de poder eliminar a sua dor, mas isto não é possível. Além de rezar pela sua rápida e completa recuperação, posso – se você tiver interesse – ensiná-lo como minimizar a intensidade da sua dor”. Nove em dez pacientes ficam fascinados e ansiosos por aprender.

Um entre dez agradece a minha visita e pede que eu saia. Então continuo:

“Há 2 tipos de sofrimentos: sofrimentos com significado e sofrimentos sem sentido. Se alguém leva uma tareia, isto é doloroso. Porém, se a pessoa apanha para proteger uma criança, é uma situação menos dolorosa. Porquê? Tomar a resolução de aceitar a dor ao invés de deixar que uma criança a receba proporciona significado ao sofrimento”.

A dor pós-operatória tem significado: Significa que o paciente está vivo, significa que o corpo está funcionando e, esperançosamente, irá se curar. Existe uma doença em que a criança nasce sem a capacidade de sentir dor. Infelizmente, estas crianças em geral não vivem muito, porque não sabem quando estão sangrando, se estão muito perto de um lume ou se estão feridas.

Existem outros benefícios na dor. A dor pode ser um ‘chamado’ do Todo-Poderoso para que investiguemos os nossos actos e as nossas vidas. Será que há algo que precisamos mudar ou fazer melhor?

Existe um conceito na Torá que diz o seguinte: D’us comporta-se connosco ‘Midá K'Néged Midá’, ou seja, medida por medida. Se uma pessoa tropeça e machuca o dedão, ela deveria pensar não apenas na conveniência de usar sapatos, mas também num nível metafísico: “Será que andei a chutar alguém?” Mesmo que não consigamos descobrir a razão para cada coisa desagradável que possa nos

acontecer, com certeza nos beneficiaremos da reflexão e aperfeiçoaremos o nosso carácter e atitudes.

Num nível espiritual, a dor também serve como reparo ou correcção de algum acto. Quando estou a sofrer, peço ao Todo-Poderoso: “Por favor, aceite esta dor como reparação por algo que eu tenha feito de errado”. Certamente é melhor aceitar o sofrimento com amor e apreciação do que com raiva e ressentimento.

Se D’us manda sofrimento a alguém como um ‘chamado’ ou como expiação e a pessoa o ignora, ela está a pegar em algo que tem significado e pode beneficiá-la e relegando-o ao nível da ‘coincidência’ ou falta de sentido – o que não apenas é triste, mas mais doloroso ainda.

Se conhece alguém a passar por uma fase de sofrimentos, talvez possa ajudá- lo(a) compartilhando algumas destas ideias.