8.4.07

Tripla Inspiração

Por Steve Hyatt

A inspiração chega em todos os formatos e tamanhos. Há algumas semanas, durante um farbrenguen no Chabad do Norte de Nevada, Rabi Shlomie Chein que estava nos visitando contou a história de um cocheiro que pensava ter um emprego mundano, sem inspiração. Certo dia ele foi até seu Rebe para algumas palavras que o inspirassem, mas quando finalmente viu o Rebe estava tão nervoso que tudo que conseguiu dizer foi: “Sou um simples cocheiro.” O Rebe (Maharash) olhou para o homem e disse-lhe que seu trabalho lhe permitia uma oportunidade única; todos os dias podia erguer os olhos e contemplar algo feito por D’us em tudo que via. Rabi Chein continuou dizendo que as sinagogas têm janelas grandes para que os congregantes possam facilmente ver lá fora, e assim serem constantemente lembrados de D’us toda vez que estão na sinagoga. Devido ao fato de nossa sinagoga estar localizada na base da magnífica cadeia de montanhas Sierra Nevada, o grupo todo sentado ao redor da mesa pôde avaliar bem as profundas palavras do Rebe Maharash. Apesar da enormidade da cadeia de montanhas e do inigualável esplendor do Lago Tahoe, nas proximidades, três dos exemplos mais inspiradores das bênçãos de Hashem no Norte de Nevada talvez sejam Moshe, Chana e Rachel Cunin, os trigêmeos de quatro anos de Rabino Mendel e Rebetsin Sara Cunin. Recentemente, na primeira noite de Pêssach, quando chegou a hora das Quatro Perguntas, os três apareceram e ficaram em pé nas cadeiras, e de maneira encantadora e melódica entoaram as perguntas que as crianças judias têm feito aos pais há mais de 3 mil anos. Os trigêmeos dos Cunin são membros da primeira pré-escola judaica ao Norte de Nevada. Embora não saibam ler nem escrever, os trigêmeos e seus coleguinhas de classe memorizaram muitas canções, preces e passagens como parte de suas lições diárias. Cada membro desta escola é uma inspiração para os pais, amigos e vizinhos em nossa pequena comunidade judaica. Alguns dos pais dos alunos, que anteriormente não estavam interessados ou conscientes de seu legado judaico, têm visto as crianças desabrocharem no cálido abraço da sua Pré-Escola Gan Sierra, e começaram a acender velas de Shabat, comer comida casher e freqüentar mais a sinagoga, pois seus filhos os inspiram a cultivar e construir sólidas raízes judaicas em casa.Durante o Sêder, quando os trigêmeos Cunin subiram na cadeira sorrindo de orelha a orelha, e alegremente entoaram suas canções observei a reação dos adultos sorridentes na sala apinhada. Foi como se cada um deles tivesse de repente voltado no tempo, a um momento em que eles eram os pequeninos de pé nas cadeiras, cantando para seus Zeides, Bobes, Mamães e Papais: “Ma nishtaná”. À medida que Moshe, Chana e Rachel entoavam cada pergunta de memória, os adultos à mesa deixaram a mente voltar a um tempo muito mais simples, inspirador, em suas respectivas vidas; um tempo em que eles eram inspirados a aprender mais sobre seu legado e tradições. No mundo atarefado de hoje muitos de nós achamos que é tarde demais, difícil demais ou constrangedor demais voltar às nossas raízes judaicas para explorar e abraçar os ensinamentos de Torá, e viver uma vida mais observante, mais baseada na Torá. Uma simples visita a qualquer Beit Chabad no mundo receberá um convite sincero, caloroso para aprender, no seu próprio ritmo, as informações sobre seu povo, tradições e rico legado.No dia anterior à primeira noite de Pêssach, um morador de Reno enviou uma carta ao nosso jornal local, questionando a habilidade dos judeus de hoje cumprirem as mitsvot da Torá no mundo turbulento em que vivemos. Ele deixou claro que sente que os mandamentos dados por D’us a Moshê e ao povo judeu simplesmente são difíceis demais, muito desafiantes e não-realistas para os seres humanos “modernos” seguirem. Ele estava argumentando que as pessoas simplesmente não possuem a capacidade para seguir os Dez Mandamentos, que dirá 613! Sua carta fez-me perceber que obviamente ele nunca tinha ido a um Beit Chabad, que jamais se sentara a uma mesa de Shabat iluminada pela luz das velas, e que definitivamente nunca tinha visto três membros inspiradores da comunidade judaica no Reno, que devido aos pais e professores maravilhosos, demonstram diariamente como se pode facilmente tornar os mandamentos Divinos uma parte da vida diária.Os trigêmeos Cunin servem como inspiração para toda a nossa comunidade. Enquanto eu os observava no Sêder, perguntei a mim mesmo: se crianças com quatro anos podem aprender a honrar o Shabat, comer casher, recitar o kidush, acender velas de Shabat, celebrar yamim tovim (dias festivos), colocar tsitsit e uma kipá e dar graças após as refeições, por que é tão difícil para um adulto fazer o mesmo. Se uma criança de quatro anos consegue ver a mão prodigiosa de Hashem no mundo ao seu redor, por que nós não podemos? Se uma criança de quatro anos pode subir orgulhosamente na cadeira e fazer as Quatro Perguntas, por que temos tanto medo de deixar um chefe saber que precisamos de alguns dias de licença para celebrar Rosh Hashaná, Yom Kipur, Shavuot e Sucot? A verdade é que uma criança raramente se sente constrangida por tentar algo novo, ouvir os pais ou aquela vozinha dentro da cabeça que lhe pede para fazerem a coisa certa. É somente quando adultos que deixamos de ouvir aquela vozinha, nossos mentores, nossos pais e nossa família. Não queremos ficar constrangidos ou admitir nossa ignorância sobre assuntos que não nos são familiares. Às vezes é preciso um pouco de inspiração para cativar a nossa atenção, motivar-nos e focalizar nossos esforços na direção certa.Como eu disse antes, a inspiração vem em todos os tamanhos e formatos. Às vezes somos inspirados pelas glórias da natureza. Às vezes por líderes da comunidade, e às vezes por três pequenos membros de nossa comunidade que vivem, respiram e cantam as alegrias do seu legado. No decorrer dos anos 90, milhões de pessoas no mundo todo assistiram a Michael Jordan numa quadra de basquete. Os comerciais da Nike proclamavam que todos queriam ser “Igual a Mike”. Tenho de admitir que houve vezes em que eu também queria ser igual a Mike. Mas com todo o devido respeito ao Sr. Jordan e ao pessoal da Nike, após ter passado tempo e eu ter assistido aos trigêmeos Cunin no último Pêssach, creio que eu gostaria mais de ser como Moshe, Chana e Rachel!