28.3.07

Pessah e Chametz (1)


Por: Rabino Hayim Halevy Donin Z'L

Pessach comemora a libertação dos Filhos de Israel depois de mais de dois séculos de escravidão egípcia e recorda o êxodo em massa do Egito, há cerca de 3300 anos atrás. A história da servidão e do sofrimento crescente, da missão confiada por D-us a Moisés e seu irmão Aarão, seus infatigáveis esforços para conseguir a libertação de seu povo, a resistência teimosa do Faraó egípcio, a série de catástrofes, mandadas por D-us, que acabaram por causar uma mudança temporária no comportamento de Faraó, e a saída do Povo de Israel – tudo isto está relatado no Livro Êxodo, capítulos 1-15. Este acontecimento se tornou o ponto central da história judaica e marcou o nascimento do povo livre de Israel. Ademais, as lições que a experiência da escravidão egípcia e a redenção nos ensinaram, proporcionaram uma sólida base para muitos conceitos da fé e ética judaica.

A Torá chama Pessach a “Festa do pão ázimo” (“Chag haMatsot”), que é o preceito que mais distintamente caracteriza esta Festa. No Livro de rezas é designado também como “a Época da nossa Libertação” (“Zeman Cheruteinu”), que constitui seu aspecto principal.

Contudo o seu nome mais usado é “Chad haPessach” – a “Festa de Pessach”. Pessach é uma referência à oferenda pascal, ofertada na véspera da Festa, e que recorda a promessa Divina “e passarei por cima de vós e não haverá entre vós praga para destruir-vos...” (Ex. 12,13). O nome de Pessach é o mais usado na Mishná e em toda a literatura rabínica.

O significado agrícola de Pessach é que marca a primeira safra, na Terra de Israel. A safra da cevada foi assinalada pela oferenda especial do Ómer, no segundo dia de Pessach.

As leis de chamets e Matsá

“Sete dias comereis pães ázimos” (Êx. 12,15).

“Não comereis nenhuma coisa levedada; em todas as vossas habitações comereis pães ázimos”. (Êx. 12,20).

A característica especial de Pessach é o pão ázimo (Matsá) e a absoluta proibição de comer ou de possuir qualquer pão levedado ou de qualquer alimento que contenha chamets.

Esses preceitos estavam entre os transmitidos aos Filhos de Israel por Moisés, antes de sua partida do Egito e sua libertação da escravidão. “E guardai a festa dos pães ázimos... guardai este dia nas vossas gerações, como estatuto perpétuo” (Ex. 12,17).

É proibido possuir chamets, mesmo que se deixe de comê-lo. “Não seja visto levedado contigo e nenhum fermento seja visto em todo teu território” (Ex. 13,7). E “não se ache nenhum fermento em vossas casas...” (Êx. 12,19).

Estas proibições (não ser visto e não ser encontrado) não se referem ao chamets que pertence a um não judeu. Um não judeu que está de visita, trabalha ou aluga recintos de um judeu, não está proibido de trazer chamets a esses lugares. Contudo, o chamets do não judeu deve ficar restrito à sua própria área ou deixado separado, para não ser tomado, inadvertidamente, pelo judeu.

É também proibido obter qualquer benefício, lucro ou vantagem do chamets durante esta semana, mesmo se for chamets de um não judeu.

Na Diáspora – todos os países fora de Israel – as leis relativas ao chamets vigoram por mais um dia, e Pessach é o observado durante oito dias.


O que é chamets

- Chamets é qualquer um dos cinco cereais – trigo, centeio, cevada, aveia e espelta – que tenha permanecido em contato com água durante, ao menos, 18 minutos. Neste caso, considera-se que o cereal tenha iniciado o processo de fermentação.

- Chamets é qualquer comida ou bebida feita de qualquer um desses cereais, ou nas quais haja um dos ingredientes, mesmo que seja em quantidade mínima. Matsá é a única exceção, que é o pão ázimo estatutário, e na confecção do qual se tomam precauções especiais. Quando estas precauções não são tomadas devidamente, para prevenir o início do processo de fermentação, a Matsá se torna chamets. É por isso que Matsot feitas para o consumo durante o ano, estão marcadas na sua embalagem “impróprio para o consumo em Pessach”.

- É proibido o uso de pratos, panelas e utensílios de cozinha em geral que tenham absorvido partículas, mesmo que minúsculas, de chamets, a não ser que se possa tornar os utensílios kasher para Pessach e se isto for feito antes da Festa.

É costume entre judeus ashkenazim não comer os seguintes produtos em Pessach: arroz, milho, amendoim e legumes que frutificam em vagens (cápsulas). Esses produtos são tratados como se fossem chamets;

O que não é chametz?

Todo o mais é permitido, se não tiver sido preparado em utensílios de chamets ou misturado com ingredientes de chamets, o que tornaria todo o produto chamets. Os seguintes tipos de alimentos não são, em si, chamets:

- Carne, aves e peixes,

- Todas as frutas,

- Todas as verduras e legumes (exceto os citados para os judeus ashkenazim),

- Todas as especiarias,

- Laticínios

Para ter certeza que alimentos industrializados não contém ingredientes que os tornariam proibidos em Pessach, o certo é comprar somente os produtos que foram feitos sob supervisão de autoridades rabínicas. Alimentos crus, das primeiras quatro categorias acima, não precisam de nenhum endosso.

Produtos derivados de chamets, que não são comestíveis e são impróprios para o consumo humano e animal, não são considerados chamets no que concerne à sua possessão, seu uso e à obtenção deles de benefícios, lucros ou vantagens. A proibição bíblica relativa ao chamets refere-se somente a produtos comestíveis para seres humanos ou para animais.

O que é Matsá?

Matsá é uma bolacha que não fermentou, feita de água e farinha, de um dos cinco cereais – trigo, centeio, cevada, aveia e espelta. Esses cereais e suas farinhas precisam ser supervisionados cuidadosamente, para se evitar contato prematuro com água ou qualquer agente de fermentação. Todo processo de confecção da Matsá, desde a mistura da água com a farinha até a entrada da massa no forno não passa de dezoito minutos. A maior parte das Matsot são, hoje em dia, feitos à maquina. No entanto, há ainda pessoas que preferem Matsot feitas à mão. A evolução do maquinário moderno para a mistura da massa etc., não apenas possibilita a confecção de Matsot de qualidade e padrão uniformes, como também garante maior velocidade do processo, reduzindo assim, o perigo de fermentação.

A forma da Matsá não tem importância alguma, ela tanto pode ser redonda como quadrada.

Uma vez assada, a Matsá não mais está sujeita à fermentação. Por conseguinte, diversos produtos são feitos da Matsá pronta, que é triturada ou moída e transformada em “farfel”, sêmola ou farinha de Matsá.

O que é Matsá Shemurá?

Shemurá quer dizer observada ou guardada. A sua origem está no versículo (Ex. 12,17) que diz: “e guardai (a Festa) das Matsot”, que inclui a conotação de “e guardai as Matsot” (de se tornarem chamets). Segundo opinião da maioria das autoridades – e esta é a halachá – tal supervisão é necessária apenas a partir da moagem do trigo. Sendo que toda Matsá produzida para Pessach é assim supervisionada, logo tecnicamente toda Matsá que é kasher para Pessach, é Matsá Shemurá.

Porém, em vista do fato que alguns sábios expressam a opinião de que é necessário supervisionar a Matsá desde o corte do trigo, a fim de evitar qualquer contato do trigo com a água, os que são especialmente escrupulosos em tais assuntos fazem um esforço especial para comer somente Matsot que foram submetidas a esta medida extra de vigilância (shemirá). Há os que comem este tipo de Matsá durante todo Pessach e há os que usam Matsá Shemurá somente na(s) noite(s) do Seder. O termo “Matsá Shemurá” é usado para as Matsot supervisionadas desde o corte do trigo.