1. Porque Lutero se tornou um Anti-Semita?
Por Jan Willem van der Hoeven
Esta abordagem real sobre Lutero é para esclarecer os cristãos sobre a atitude tomada por um homem influente na época e fundador do Movimento Reformista Cristão, contra um Povo e o que a Bíblia Cristã menciona sobre todas as acções tomadas contra esse Povo - os Judeus - "Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! " (Romanos 11.1).
Em 1523, Martin Lutero escreveu:
Talvez eu consiga atrair alguns judeus para a fé cristã, pois os papas, bispos, sofistas e monges... até agora os têm tratado tão mal que... se eu fosse judeu e visse esses idiotas, estabelecendo normas e ensinando a religião cristã, eu preferiria ser um porco a ser cristão. Pois esses homens trataram os judeus como cães, e não como seres humanos. [1]
Esta declaração foi feita no início do período da Reforma, quando Lutero ainda era muito jovem. Nos anos seguintes, entretanto, ele ficaria cada vez mais irritado com o facto de que os judeus, ao lado de quem ele se colocara contra os preconceitos da Igreja Católica Romana, recusavam terminantemente a se converter ao Cristianismo.
Vinte anos mais tarde, amargurado e desapontado, Lutero escreveu estas palavras inacreditáveis a respeito do povo que um dia defendera:
Em primeiro lugar, as suas sinagogas deveriam ser queimadas... Em segundo lugar, as suas casas também deveriam ser demolidas e arrasadas... Em terceiro, os seus livros de oração e Talmudes deveriam ser confiscados... Em quarto, os rabinos deveriam ser proibidos de ensinar, sob pena de morte... Em quinto lugar, os passaportes e privilégios de viagem deveriam ser absolutamente vetados aos judeus... Em sexto, eles deveriam ser proibidos de praticar a agiotagem [cobrança de juros extorsivos sobre empréstimos]... Em sétimo lugar, os judeus e judias jovens e fortes deveriam pôr a mão na debulhadeira, no machado, na enxada, na pá, na roca e no fuso para ganhar o seu pão no suor do seu rosto... Deveríamos banir os vis preguiçosos de nossa sociedade ... Portanto, fora com eles...
Resumindo, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai solução melhor, para que vós e nós possamos ver-nos livres dessa insuportável carga infernal – os judeus. [2]
Com essas palavras, e a atitude assustadora por trás delas, o alemão Lutero lançou os fundamentos do anti-semitismo do Terceiro Reich. Muitos de seus compatriotas puderam afirmar, séculos depois, que estavam seguindo a orientação de Lutero ao incendiarem sinagogas judaicas durante a Kristallnacht ["Noite dos Cristais"], episódio que se tornou o ponto de partida para acontecimentos muito piores [durante o tempo do nazismo].
Com razão, o Dr. Michael Brown, pergunta:
Seria possível que [...] um homem cujos escritos deflagraram a Reforma Protestante, [...] e que as suas palavras tivessem ajudado a atiçar as chamas dos fornos de extermínio nazista? [3]
Em seu livro Why the Jews [Por Que os Judeus?], Dennis Prager e Joseph Telushkin escrevem:
[...] os escritos posteriores de Lutero, atacando os judeus, eram tão virulentos que os nazistas os citavam frequentemente. De facto, Julius Streicher argumentou durante a sua defesa no julgamento de Nuremberg que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martin Lutero não tivesse dito 400 anos antes. [4]
O próprio Hitler considerou Lutero uma das três maiores figuras da Alemanha, juntamente com Frederico, "o Grande", e Richard Wagner. [5]
Ao executarem seu primeiro massacre em larga escala, em 9 de novembro de 1938, no qual destruíram quase todas as sinagogas da Alemanha e assassinaram trinta e cinco judeus, os nazistas anunciaram que a perseguição era uma homenagem ao aniversário de Martin Lutero.[6]
Portanto, nos seus últimos anos de vida, Martin Lutero pode ter abortado o efeito da Reforma que ele mesmo havia iniciado, por causa do seu ódio e dos seus discursos amargos contra o mesmo povo que nos legou as Escrituras.
Tudo isso é extremamente triste e deve servir-nos de alerta, pois o que ocorreu a este homem, pode acontecer com qualquer um de nós, no que se refere aos judeus – o povo de D´us.
Lutero deveria ter prestado mais atenção às palavras de Paulo em sua Epístola aos Romanos (como todos nós devemos), que ele conhecia tão bem: "Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! " (Romanos 11.1).
Portanto, talvez a arrogância e a cegueira que se verificam nos dias de hoje em relação ao plano e propósito final de Deus para com O Seu povo, os judeus, sejam piores que a cegueira e o anti-semitismo da maior parte dos membros da igreja no passado, inclusive de Lutero, pois, enquanto eles viveram no período da dispersão dos judeus, nós vivemos no período da reunião de Israel.
Poderíamos dizer que, em sentido bíblico, a dispersão dos judeus sempre teve uma conotação negativa como juízo de Deus sobre O Seu povo. Mas, da mesma forma, a sua reunião tem uma conotação positiva, pois o que permite aos judeus retornarem ao seu lar é o amor de D´us e A Sua fidelidade para com eles. Desse modo, a atitude crítica e muitas vezes anti-semita que a igreja de hoje adopta em relação a Israel é ainda mais condenável do que a de Lutero.
Isso nos faz lembrar as seguintes palavras: "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Com grande empenho, estou zelando por Jerusalém e por Sião. E, com grande indignação, estou irado contra as nações que vivem confiantes; porque eu estava um pouco indignado, e elas agravaram o mal. Portanto, assim diz o Senhor: Voltei-me para Jerusalém com misericórdia; a minha casa nela será edificada... As minhas cidades ainda transbordarão de bens; o Senhor ainda consolará a Sião e ainda escolherá a Jerusalém" (Zacarias 1.14-17).
E também: "Ouvi a palavra do Senhor, ó nações, e anunciai nas terras longínquas do mar, e dizei: Aquele que espalhou a Israel o congregará e o guardará, como o pastor, ao seu rebanho" (Jeremias 31.10). "Não temas, pois, servo meu, Jacó, diz o Senhor, nem te espantes, ó Israel; pois eis que te livrarei das terras de longe e à tua descendência, da terra do exílio; Jacó voltará e ficará tranquilo e em sossego; e não haverá quem o atemorize. Porque eu sou contigo, diz o Senhor, para salvar-te; por isso, darei cabo de todas as nações entre as quais te espalhei; de ti, porém, não darei cabo, mas castigar-te-ei em justa medida e de todo não te inocentarei" (Jeremias 30.10-11).
Portanto, fica claro que, assim como Deus disse que O Seu povo seria espalhado, Ele também afirmou que haveria um dia em que eles seriam novamente reunidos na terra que lhe havia prometido. O salmista anteviu que, assim como houve um período de desfavorecimento, chegaria também o dia em que Israel voltaria a desfrutar do favor de Deus: "Levantar-te-ás e terás piedade de Sião; é tempo de te compadeceres dela, e já é vinda a sua hora" (Salmo 102.13).
Como é triste ver que um dos pais da Reforma estava cego para esta verdade e acabou voltando-se ferozmente contra os judeus.
Desse modo, por causa do seu próprio preconceito anti-semita, Lutero – cuja Reforma partiu de uma rebelião contra a influência pagã de Roma sobre a fé cristã – foi incapaz de levar a igreja de volta às suas raízes judaicas e à sua origem em Jerusalém.
Portanto, Lutero abortou a Reforma da qual tanto desejava ser instrumento. Em vez de afastar a igreja das influências pagãs de Roma e fazê-la retornar às suas origens bíblicas em Jerusalém – onde a igreja verdadeira está arraigada e enxertada – ele tirou-a da direcção de Roma e apontou-a na direcção de Genebra. E, hoje em dia, com Israel habitando novamente na sua terra, pela fidelidade de Deus, a atitude arrogante e crítica da maior parte da igreja em relação a Israel demonstra que ela está mais longe do que nunca de Jerusalém. Enquanto isso, Genebra voltou às suas origens, em nome de um falso espírito ecuménico que devorará os frutos da Reforma numa igreja mundial unida, cuja capital será Roma.
Com os judeus agora de volta à sua terra e prontos para entrar no período mais abençoado da sua história, num claro cumprimento das repetidas promessas de Deus, alguém poderia pensar que a igreja, cônscia do seu vergonhoso passado em relação ao povo judeu, estaria desejosa de consertar-se, de todo o coração, demonstrando amor e misericórdia, dando apoio e orando por esse povo. Mas, longe disso! A maioria das igrejas tem estado a emitir declarações oficiais em relação aos judeus reunidos na sua terra mostrando que o anti-semitismo "cristão" do passado está mais vivo do que nunca, com uma diferença: agora ele se dirige contra o povo judeu na sua terra e recebe o nome de anti-sionismo.
O capítulo sobre anti-semitismo, anti-sionista do livro de Prager e Telushkin mostra com clareza que não existe nenhuma diferença real entre essas duas posturas:
Durante a sua longa história, o judaísmo tem defendido a ideia de que a nacionalidade judaica constitui a base do judaísmo, juntamente com D´us e a Torá. Como está escrito num antigo texto judaico, "Deus, Torá e Israel são um". A autodefinição dos judeus como uma nação com pátria em Israel não é uma nova crença política dos judeus contemporâneos, mas a essência do judaísmo, desde os tempos bíblicos. [7]
É quase inacreditável o modo como igrejas e os cristãos genuínos de hoje – a exemplo do que fez Lutero no passado – censuram e criticam violentamente o povo de Israel, quando a Bíblia em que eles afirmam crer não deixa a menor dúvida acerca das intenções de D´us para com O Seu povo, repetindo diversas vezes a mesma afirmação: após um período de dispersão, Ele o reunirá novamente na terra que prometeu dar-lhes em possessão eterna.
O facto de até mesmo cristãos verdadeiros terem a ousadia de emitir declarações anti israelitas faz com que se pergunte: será que o erro de Lutero ( em se ter voltado contra os judeus), não influenciou os cristãos genuínos de hoje contra os claros ensinamentos da Bíblia, em que afirmam crer?
Lutero sucumbiu às influências de sua época e acreditou na calúnia de que os judeus estavam tramando em envenenar os cristãos, como demonstrou ao escrever:
Se eles [os judeus] pudessem matar-nos, o fariam alegremente, sim, e muitas vezes o fazem, principalmente os que professam a medicina... [8]
Do mesmo modo, alguns cristãos de hoje não hesitam em repetir, deliciados, todas as mentiras e invenções contra os israelitas, que os muçulmanos e inimigos de Israel espalham em qualquer lugar do mundo, aceitando-as prontamente como factos comprovados, e não como distorções maldosas do que realmente está ocorrendo. Um bom exemplo é o rebuliço gerado entre os cristãos em geral, e até entre cristãos amigos de Israel, pela proposta de um projecto de lei anti-missionário. Esse projecto não conta sequer com o apoio do governo israelita, como fica claro numa carta do então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, recebida por um colega meu:
Gostaria de assegurar-lhe que esse projecto de lei não tem o apoio do governo de Israel. Ele foi apresentado como uma proposta particular de alguns membros, pelas mãos de Nissim Zvilli, do Partido Trabalhista, e do rabino Moshe Gafni, do partido YaHadut HaTorah. Com menos de trinta membros do Knesset [o parlamento israelense] presentes na sessão, o projecto conseguiu aprovação numa leitura preliminar. Entretanto, para ser sancionado como lei, precisa de ser aprovado em três outras audiências. O governo é terminantemente contra esse projecto e não poupará esforços para que ele não seja aprovado. [9]
Por sua vez, como lemos num artigo de Yossi Klein HaLevi publicado no Jerusalem Report, a Autoridade Palestina não tem pudores de dizer que, perante as suas leis e costumes, o acto dum cristão levar um muçulmano para o Cristianismo é considerado crime. Isso foi evidenciado no caso de Muhammed Bak’r, um ex-muçulmano que, depois de aceitar o cristianismo, levou quatro outros muçulmanos a se converterem ao cristianismo e, por isso, foi preso e torturado pelas autoridades palestinas.
O mesmo destino teve Shakr Saleh, um muçulmano que se entregou ao cristianismo há alguns anos e agora vive escondido após ter sido arrancado da sua casa, sequestrado, interrogado e torturado pelos "polícias" palestinos de Jibril Rajoub, em Jericó.
Segundo um recente comunicado cristão à imprensa:
Bak’r é a mais recente vítima da campanha empreendida oficialmente pela Autoridade Palestina com o intuito de perseguir ex-muçulmanos que se converteram à fé cristã para desestimular novas conversões. De acordo com a lei islâmica, converter-se a outra religião é crime punível com a morte. [10]
Diante disso, é chocante ouvir o clamor de cristãos do mundo inteiro contra Israel por causa de uma lei que ainda nem foi aprovada, enquanto não se ouve quase nenhum murmúrio pelos pobres cristãos palestinos torturados e ameaçados de morte por seus próprios compatriotas. Isso realmente é muito estranho.
Deveríamos ler novamente os relatos sobre os gritos aterradores de muitos cristãos, homens e mulheres, que foram mortos, mutilados e violentados pelos asseclas de Arafat, durante os anos em que este exerceu o seu brutal reino de terror no Líbano. Assim saberíamos qual – ou quem – é a principal ameaça à comunidade cristã palestina. Não se trata de Israel!
Vejamos alguns relatos:
1. Testemunhando numa audiência diante da sub-comissão de Relações Exteriores do Senado dos EUA sobre perseguições religiosas no Médio Oriente, em 1º de maio, a escritora Bat Ye’or declarou:
O século XIX – até mesmo após a I Guerra Mundial – foi um período traumático marcado pelo genocídio de cristãos em massacres que se estenderam desde os Balcãs (Grécia, Sérvia, Bulgária) até à Arménia e o Médio Oriente. Nesse contexto de morte, os cristãos orientais conceberam, em finais do século XIX, a doutrina da simbiose islâmico-cristã numa tentativa desesperada de se protegerem contra o terror e a escravidão. Essa doutrina – que também incluía o anti-sionismo – tinha muitas facetas, tanto políticas quanto religiosas. No fim de contas, os seus resultados foram, na sua maioria, negativos.
Essa doutrina, que ainda tem seguidores nos dias de hoje, é responsável pelo silêncio geral em relação à tragédia permanente em que vivem os cristãos orientais. Qualquer menção da jihad e das perseguições de cristãos pelos muçulmanos era assunto tabu, porque não fazia sentido denunciar a perseguição e, simultaneamente, proclamar a existência de uma pretensa simbiose islâmico-cristã, desde o passado até aos dias de hoje. É nesse casulo de mentiras e de silêncio deliberadamente imposto, firmemente apoiado pelas igrejas, os governos e a imprensa – cada um por suas próprias razões – que a perseguição de cristãos pôde desenvolver-se livremente durante este século até ao presente momento, quase sem obstáculos. [11]
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