3.12.06

A humildade


BOM DIA! Na semana passada mencionei um comentário do Rabino Simcha Zissel de Kelm (Kelm, 1824-1898), que a “Arrogância é uma característica repreensível, a mãe de todas as características negativas”. Uma vez que a humildade é o antídoto para a arrogância, pensei em escrever esta semana sobre a humildade.

O que é humildade e porque precisamos dela?

Humildade é algo que todos valorizamos – normalmente nos outros. Teoricamente, é uma virtude. Na realidade, muitos acham que é algo prejudicial. Porquê? Estas pessoas identificam ‘humildade’ como sendo algo ‘fraco’, ou seja, permitir que os outros nos pisem.

Não é assim! A Torá ensina-nos que Moshe Rabeinu (Moisés, o nosso Mestre) foi a pessoa mais humilde que já existiu (Bamidbár 12:3) e, também, o único profeta que conversou ‘cara a cara’ com o Todo-Poderoso (Devarim, 34:10). Todos os outros profetas recebiam a sua profecia enquanto dormiam ou em transe, mas Moshe podia falar directamente com o Criador. D’us ditou a Moshe como escrever a Torá, palavra por palavra, letra por letra. Moshe, portanto, sabia que D’us afirmou que ele era e seria o maior de todos os profetas. Como era possível, então, que permanecesse humilde?

Eis o segredo para a humildade de Moshe e algo para aplicarmos às nossas vidas: Moshe conhecia as suas forças e as suas conquistas, mas também sabia de uma verdade básica e vital: que tudo que tinha e tudo que conseguira foram dádivas do Todo-Poderoso.

Imagine, que alguém nos diz: “Sou um ser humano muito especial! Veja isto: posso mover os meus dedos!” Pensaríamos que este sujeito está maluco, pois quase todos podem mover os seus dedos. Entretanto, ficamos impressionados com a capacidade mental de Einstein. Porquê? Qual a diferença entre as duas situações? Ambas são dádivas Divinas. Na melhor das hipóteses, deveríamos apenas admirar que o indivíduo esteja a utilizar plenamente as dádivas que lhe foram dadas.

Uma pessoa arrogante é extremamente focada em si mesma para ouvir a verdade, para enxergar as suas próprias falhas e para ajudar os outros (é necessário ouvir as necessidades dos demais para poder ajudá-los). Uma pessoa arrogante está mais preocupada consigo mesma e sobre como os outros a encaram do que em fazer as coisas certas.

Os nossos Sábios assemelham a Torá com a água. Ela é necessária para a vida, é essencial para o crescimento e para atingirmos o nosso potencial. Um sujeito arrogante coloca-se numa posição alta como uma montanha. O que ele esquece é que a água fluí da montanha para os lugares mais baixos, e não o contrário. Para extrairmos o máximo do nosso potencial, precisamos ser humildes.

Humildade é liberdade. O que nos refreia e nos inibe são as nossas preocupações desnecessárias sobre nós mesmos, incluindo como nos parecemos aos olhos dos demais. Quando a pessoa se preocupa apenas com a verdade e vive com ela, então é livre para realizar as coisas mais significativas.

Como podemos trabalhar para desenvolver a nossa humildade?

1. Leia alguns hespedim (discursos de homenagem a falecidos). Eles contêm grandes doses de humildade e ajudam-nos a entender o significado da vida. Pense no seguinte: Pelo que gostaríamos de ser lembrados depois de vivermos 120 anos neste mundo? Isto nos ajudará a conectarmo-nos com o Eterno.

2. Perceba que somos alma e corpo, não apenas um corpo. Amizades e relacionamentos não irão perdurar se forem apenas físicos. Esforços não serão duradouros se estiverem enraizados apenas no mundo material. O materialismo deve ser um meio, não um fim. Satisfazer as necessidades da alma deve fazer parte dos nossos esforços diários. Sintonizarmo-nos com a alma traz humildade.

3. Seja orgulhoso para não ser pequeno: Usemos a humildade para mantermo-nos acima das brigas e discussões. Não se rebaixe respondendo a todos os insultos.

4. Use a humildade para abrir-se para a sabedoria. Sem humildade não conseguiremos adquirir sabedoria, pois estaríamos por demais fincados na nossa realidade subjectiva. O primeiro passo é admitirmos que não sabemos tudo, ‘abrindo as nossas cabeças’ ao que a Torá tem para nos dizer.
5. Uma maneira de conquistar mais objectividade é aconselhar outra pessoa. Lidar com as questões dos demais permite-nos em aperceber a nossa própria situação mais claramente.