30.11.06

Olmert reitera oferta de paz













Ehud Olmert, primeiro ministro israelita, reiterou a sua oferta de paz à Autoridade Palestina enfatizando a sua intenção de libertar prisioneiros palestinos em troca da liberdade do soldado Gilad Shalit e de falar directamente com Abu Mazen sobre a implantação do plano de paz conhecido como Mapa do Caminho (Road Mapa), durante a cerimônia em homenagem a David Ben Gurion, no Kibbutz Sde Boker, que contou com a presença dos principais dirigentes políticos de Israel,familiares do ex-premier homenageado e de centenas de populares.
Na íntegra, o pronunciamento do chefe de estado israelita, considerado por analistas políticos internacionais como um grande avanço na postura diplomática israelita, é o seguinte:
" Há três anos, como Vice do Primeiro Ministro Ariel Sharon, eu fiz um discurso aqui, e citei um trecho do discurso de David Ben-Gurion, num debate no Knesset, em 1949, sobre os Acordos do Armistício, no qual ele disse:
"... quando tivemos que decidir entre a escolha de toda a terra de Israel sem um estado judeu, ou um estado judeu sem toda a terra de Israel - escolhemos um estado judeu sem a totalidade da terra de Israel".
Esta escolha histórica feita por Ben-Gurion na conclusão da Guerra da Independência, foi uma escolha dolorosa, mas corajosa, de apertar o coração, mas sóbria.
Partes da nossa terra natal amadas e queridas - o berço da nossa história - ficaram além da fronteira, mas uma maioria judaica sólida fiicou garantida no Estado de Israel.
O tempo passou, a animosidade e o terrorismo árabe resultou em novas guerras, e aproximadamente há 40 anos, Israel mais uma vez teve uma difícil escolha: muitas pessoas boas defendem a visão de um Israel maior.
David Ben-Gurion, quando homem de estado já aposentado, dizia que em troca da paz verdadeira, Israel deveria ceder uma grande maioria dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias. Muita coisa aconteceu desde então, muitos factos ocorreram, acordos foram assinados, e a arena internacional e regional sofreu transformações difíceis de serem descritas.
O conflito sangrento com os palestinos não terminou. O diagnóstico básico de Ben Gurion continua válido, e continua a guiar - com as emendas necessárias - a posição dos governos israelitas na nossa política de paz actual.
Já no nascimento do Estado de Israel, Ben-Gurion estendeu a sua mão em sinal de paz às nações árabes. A sua mão foi rejeitada, mas continua estendida. Eu estendo a minha mão em sinal de paz aos nossos vizinhos palestinos, com a esperança de que ela não será rejeitada.
Eu, de todo o coração, me identifico com as declarações feitas por Ben-Gurion em relação a todos os governos de Israel de lutar pela paz: "Consideraria um grande pecado, não apenas em relação a nossa geração, mas também em relação às futuras gerações, se não tivéssemos feito tudo que estivesse ao nosso alcance para conseguir uma compreensão mútua com os nossos vizinhos árabes, e se as futuras gerações tivessem motivo para culpar o governo de Israel de perder uma oportunidade de conseguir a paz..."
Estes não são tempos fáceis para o Estado e o povo de Israel. Nestes dias, mais do que nunca, é natural que nós venhamos a esse local, o túmulo do Pai da nossa nação reavivada, para nos inspirarmos.
Se eu pudesse aconselhar-me com Ben-Gurion hoje em dia, creio que ele me aconselharia a fazer as declarações que eu pretendo fazer aos nossos vizinhos palestinos nesta data.
Os senhores, o povo palestino, no sul e leste, na Faixa de Gaza, Judéia e Samaria, encontram-se, nestes dias, no limiar de uma encruzilhada histórica.
O Terror, a violência, assassinatos e ataques incessantes contra os cidadãos de Israel podem nos aproximar a uma nova e dolorosa onda de terrível violência. O radicalismo sem compromisso das organizações terroristas palestinas - o Hamas, Jihad, a Brigada dos Mártires de El-Aksa e outras organizações - não os trouxeram para mais perto de conseguirem o objectivo que, estou convencido, é o desejo que muitos dos senhores compartilham - o estabelecimento de um estado Palestino, que lhes garantirá um futuro de prosperidade e que existirá tendo boas relações lado a lado com o Estado de Israel.
Prestes a tomar decisões que poderiam lançar-nos num conflito de grandes proporções, eu venho hoje, deste local, perto do túmulo de Ben-Gurion, sugerir um caminho diferente - um caminho que ofereça uma chance de um futuro diferente, para os senhores e para nós.
Nós começamos isso anteontem. Nós embarcamos nesse caminho - e eu espero que isso nos levará adiante em direcção aos objectivos que nós todos aspiramos - paz, tranquilidade e confiança mútua. Estamos prontos e desejosos de trilhar esse caminho, e perseverar até que alcancemos a solução que buscamos.
Se for estabelecido um novo governo palestino - um governo que estará comprometido com os princípios do "Quarteto", implementação do Mapa do Caminho e a libertação de Gilad Shalit, convidarei Abu Mazen para se encontrar comigo imediatamente, para que possamos conduzir um diálogo verdadeiro, aberto, genuino e sério entre nós.
No escopo deste diálogo, e de acordo com o Mapa do Caminho, os senhores poderão estabelecer um Estado Palestino independente e viável, com continuidade territorial na Judéia e Samaria - um Estado com plena soberania e fronteiras definidas.
Neste escopo, as fronteiras do Estado de Israel serão definidas, de acordo com a carta do dia 14 de abril de 2004, do Presidente Bush ao Primeiro Ministro Ariel Sharon.
Estas fronteiras serão diferentes dos territórios actualmente sob o controle de Israel.
Entendo a importância que a sociedade palestina atribui à questão dos prisioneiros.
Então eu aqui declaro que, quando Gilad Shalit for solto e devolvido a' sua família, gozando de boa saúde, o Governo de Israel estará pronto para libertar numerosos prisioneiros palestinos - incluindo aqueles que foram sentenciados a longas penas - a fim de aumentar a confiança entre nós e provar que de facto, a nossa mão está estendida na busca da paz genuína.
Eu disse isso antes do sequestro de Gilad Shalit, e não mudei a minha opinião.
Sei que muitas famílias palestinas anseiam pelo dia em que os seus amados retornarão as suas casas. Este dia pode estar muito perto.
Creio que muitos dos senhores estão cansados do alto preço que têm que pagar como resultado do extremismo violento das organizações terroristas que prevalecem nas suas ruas.
Creio que a maioria dos senhores anseiam por um novo capítulo que poderemos abrir juntos na história sangrenta das nossas relações.
O fim do terrorismo e violência, nos permitirá oferecer aos senhores uma série de medidas, que serão tomadas em mútua cooperação, a fim de facilitar a melhoria da qualidade de vida da população palestina, que foi severamente prejudicada como resultado da sua necessidade de tomar medidas defensivas contra as ações das organizações terroristas entre a sua população.
Nós diminuiremos significantemente o número de bloqueios nas estradas, aumentaremos a liberdade de movimentação nos territórios, facilitaremos a movimentação de pessoas e bens em ambos os sentidos, facilitaremos as operações para atravessar as fronteiras da Faixa de Gaza, e liberaremos fundos palestinos com o intuito de aliviar as dificuldades humanitárias que muitos dos senhores passam.
Nós poderemos assistí-los na formulação de um plano de reabilitação econômica da Faixa de Gaza e em áreas da Judéia e Samaria.
Nós poderemos ajudá-los no estabelecimento de zonas industriais - em cooperação com a comunidade internacional - para criar novos postos de trabalho e os meios de ganhar a vida decentemente, e aliviá-los da sua contínua dependência das infraestruturas de emprego em Israel.
Nós procuraremos a ajuda dos países árabes vizinhos que almejam uma solução pacífica para o conflito entre nós, incluindo; o Reino da Jordânia, Egipto, Arábia Saudita e os Estados do Golfo, a fim de nos beneficiarmos da sua experiência e receber o apoio deles para que haja negociações directas entre nós.
As vozes que emanam destes Estados, em relação à necessidade de reconhecimento e normalização das relações com o Estado de Israel - incluindo, por exemplo, alguns trechos da iniciativa de paz saudita - são positivas, e pretendo investir esforços a fim de avançar na conexão com estes Estados, e fortalecer o seu apoio nas negociações bilaterais directas entre nós e os palestinos.
Tenho acompanhado com grande apreço, os sérios esforços feitos por estes Estados para conseguir o fim da violência na região, e respeito o seu desejo sincero de criar um novo clima entre nós, a fim de facilitar a busca de uma solução para o conflilto.
As circunstâncias internacionais que foram criadas, especificamente neste momento, permitem que os senhores e nós tomemos um passo corajoso, que envolve a necessidade de fazer compromissos dolorosos e renunciar aos sonhos que foram parte da nossa etnia nacional por tantos anos, e abrir um novo capítulo oferecendo esperança de uma vida melhor para todos nós.
Nós, o Estado de Israel, concordaremos com a evacuação de muitos territórios e comunidades que foram estabelecidas nestes territórios. Isto é extremamente difícil para nós, é de partir o coração, mas nós o faremos, em troca de uma paz verdadeira.
Os senhores devem acabar com o terror, violência e esforços de prejudicar os cidadãos israelitas no sul, centro e norte, reconhecerem o nosso direito de viver em paz e segurança juntos, e abandonar a sua exigência de realização do "Direito de Retorno" (demanda dos palestinos de voltar ao território israelita, ao invés dos territórios palestinos e árabes). É um objectivo real, natural e que pode ser conseguido.
Se os senhores demonstrarem a determinação necessária e disciplina, encontrarão em nós um parceiro pronto a ajudar. O Estado de Israel é um estado poderoso. Não se enganem com as nossas diferenças internas, as nossas rivalidades políticas ou o clima triste que às vezes projectamos.
Numa batalha violenta, nós prevaleceremos, mesmo que a batalha seja longa e tiver muitas vítimas; mesmo se envolver a perda do conforto ou qualidade de vida, o Estado de Israel já mostrou a sua força no passado e está preparado para o mesmo hoje em dia.
Não nos coloquem num outro teste, o qual envolverá muitas perdas de vidas e destruição, e que levará a grandes dificuldades e desespero.
O passado não pode ser mudado, e as vítimas do conflito, em ambos os lados da fronteira, não podem ser devolvidos.
Os ditados são fúteis e as acusações mútuas são nada mais do que jogos de palavras sem sentido. A pontuação histórica não pode ser resolvida, e as cicatrizes não podem ser apagadas.
Tudo o que podemos fazer hoje é evitar que novas tragédias ocorram e deixar às novas gerações um horizonte brilhante e esperança para uma nova vida. Que nós possamos converter a animosidade em reconhecimento mútuo, respeito e diálogo direto.
Deste local, da beira do penhasco que dá para a antiga paisagem do "Córrego Tzin" - o local escolhido por David Ben-Gurion como o último abrigo para ele e sua esposa Paula - o chamamento do Estado de Israel à paz pode ser ouvido claramente e decisivamente. Que este chamado possa ecoar e ser respondido positivamente desta vez.
Que a memória de David e Paula Ben-Gurion seja abençoada.
27 de novembro de 2006".