6.12.06

A Tradição Oral


Em muitos aspectos, a Torá Oral é mais importante do que a Torá Escrita.
É um princípio de nossa fé acreditar que D’us deu a Moisés uma explicação oral da Torá junto com o texto escrito.
Agora, esta tradição oral está essencialmente preservada no Talmud e nos Midrashim.
Deste modo, falamos de duas Torás. Há a Torá Escrita (Torá SheBiKetav) e a Torá Oral (Torá SheB 'Al Peh). Ambas são aludidas na declaração de D’us a Moisés, "E disse o Eterno a Moisés: "Sobe a Mim, ao monte, e fica ali; e dar-te-ei as tábuas de pedra, a lei e os mandamentos que escrevi para os ensinar (Êxodo 24:12).
Em muitos casos, a Torá refere-se a detalhes não incluídos no texto escrito, aludindo, deste modo, a uma tradição oral. Assim, a Torá afirma, "...poderás degolar do teu gado e do teu rebanho... como te ordenei" (Deuteronômio 12:21), referindo-se a um mandamento oral relativo a matança ritual (shechitá).
Da mesma forma que mandamentos como tefillin e tzitzit são encontrados na Torá, mas não há nenhum detalhe, então, supostamente, fazem parte da Torá Oral. Embora guardar o Shabat seja um dos Dez Mandamentos, não há detalhes de como deve ser mantido o Shabat, portanto também está na Tora Oral. Deste modo, D’us disse, "Santificai o dia de sábado, como ordenei a vossos pais” (Jeremias 17:22).
Assim como dependemos da tradição para o texto aceito, a vocalização e a tradução da Torá, também dependemos dela para sua interpretação.
Não entendemos a Torá Escrita sem a tradição oral. Consequentemente, a Torá Oral é a mais importante das duas.
Visto que a Torá Escrita mostra-se primariamente incompleta a menos que complementada pela tradição oral, a negação da Torá Oral também leva, necessariamente, a negação da origem divina do texto escrito.
A Torá Oral destinava-se originalmente a ser transmitida de boca em boca. Era transmitida de mestre para aluno de tal forma que se o aluno tivesse alguma dúvida, poderia perguntar, e deste modo evitar a ambiguidade. Um texto escrito, por outro lado, mesmo sendo perfeito está sempre sujeito à interpretação errada.
Além disso, a Torá Oral destinava-se também a compreender a infinidade de casos que surgiriam com o passar do tempo. Portanto, nunca poderia ser inteiramente escrita. Assim, está escrito, "Escuta ainda, filho meu: escrever livros é tarefa sem fim, e muito estudo esgota a carne” (Eclesiastes 12:12). Portanto, D’us deu a Moisés um conjunto de regras nas quais a Torá pode ser aplicada em todos os possíveis casos.
Se a Torá inteira fosse dada escrita, todo mundo interpretaria da maneira que bem quisesse, o que levaria a divisão e discórdia entre as pessoas que seguiriam a Torá de maneiras diferentes. A Torá Oral, por outro lado, requer uma autoridade central para preservá-la, deste modo assegurando a unidade de Israel.
Já que muitos não judeus também aceitam a Bíblia como sagrada, a Torá Oral é o que vai distinguir o Judaísmo e torná-lo único. Por isso, a Torá Oral não poderia ser escrita até que os não judeus adoptassem a sua própria religião baseada na Bíblia. Deste modo, D’us disse, "Se tivesse escrito a maioria de minha Torá, [Israel] seria contado igual a estranhos" (Oseías 8:12).
Por isso, a Torá Oral é a base do pacto de D’us com Israel. É até mais querida para D’us do que a Torá Escrita.
Detalhes das MitzvotA Torá Oral é o meio pelo qual dedicamos nossas vidas para D’us e Seus ensinamentos.
D’us revelou todos os detalhes de como os mandamentos deveriam ser observados enquanto Moisés estava no Monte Sinai. D’us também revelou a Moisés muitas interpretações e leis que não só seriam usadas muito tempo depois. Estas, porém, não foram ensinadas totalmente ao povo.
Há uma tradição que diz que D’us ensinava a Torá Oral durante o dia e a Torá Escrita durante a noite.
Moisés transmitiu a Torá Oral para Aaron, seus filhos e os Anciões, nesta ordem. Desta forma, está escrito, "E foi no oitavo dia que Moisés chamou Aarão e a seus filhos, e aos anciãos de Israel” (Levítico 9:1). As leis foram então transmitidas para todas as pessoas e revisadas, até que cada pessoa tenha examinando-as cuidadosamente quatro vezes.
Antes de morrer, Moisés revisou novamente a Torá Oral e esclareceu quaisquer pontos ambíguos. Assim, está escrito, "Além do Jordão, na terra de Moab, começou Moisés a explicar esta Lei” (Deuteronômio 1:5).
Além de receber muitas explicações e detalhes das leis, Moisés também recebeu regras interpretativas para deduzir e interpretar as leis da Torá. Em muitos casos, ele sabia os casos em que seriam aplicadas estas regras. Embora o estudo delas sejam, originalmente, uma parte central da tradição, seus detalhes foram pouco a pouco esquecidos quando as perseguições destruíram as grandes academias.
As leis e detalhes envolvendo ocorrências diárias comuns foram transmitidas directamente por Moisés. Porém, as leis envolvendo acontecimentos especiais fora do comum foram transmitidas sendo derivadas da escritura pelas regras interpretativas. Caso contrário, existiria o perigo de serem esquecidas.

Leis provenientes da lógica
As leis que Moisés transmitiu directamente são chamadas de "Leis (transmitidas) por Moisés no Sinai" (halachot le-Moshe MI-Sinai). Estas leis foram preservadas cuidadosamente de geração em geração, e por essa razão, não encontramos nenhuma disputa em relação a elas.
Porém, no caso das leis originárias de regras interpretativas ou lógicas, podem ser encontradas ocasionais disputas. Estas incluem todos os debates no Talmud. Os sábios então tinham a regra, "Se for lei, deve ser aceita. Mas se for interpretativa, pode ser debatida."
As leis recebidas directamente e aquelas originárias de regras interpretativas são equivalentes em âmbito e importância, e são semelhantes também em número.
Ambas as leis recebidas oralmente e as derivadas pelas regras interpretativas têm as mesmas condições que as leis escritas na Torá, e são consideradas como ordens da Torá (mitzvot de-Oraitá). É somente no que se relaciona a juramentos que há certas diferenciações das leis escritas na Torá.
Todas as leis que foram derivadas da escritura ou da lógica foram formalmente aceitas pelo Sanhedrin. Então, se tornaram parte da Torá Oral e foram transmitidas de geração em geração.
Todas as leis recebidas por Moisés foram transmitidas oralmente de geração em geração e não precisavam de nenhuma prova ou derivação da escritura. Em alguns casos, porém, uma base bíblica ou lógica foram providenciadas para tais leis, de forma que sejam lembradas melhor. Isto foi aplicado especialmente no caso de leis que não eram de conhecimento comum.
Muitas leis orais foram incorporadas na Bíblia pelos trabalhos dos profetas.
D’us também deu a Moisés muitas regras com relação a que situações devem-se decretar novas leis. Por isso, os detalhes de leis rabínicas são muitas vezes originários do Sinai.
Todas as leis eventualmente legisladas pelo Sanhedrin se tornaram parte da tradição oral que foi transmitida de geração em geração.

Transmissão
A Torá Oral foi transmitida pela boca de Moisés para Iehoshuá depois para os Anciões, os Profetas, e a Grande Assembléia. A Grande Assembleia era o Sanhedrin, liderados por Ezra, nos tempos do Segundo Templo, que se encarregou de ordenar a legislação que faria o Judaísmo viável na diáspora.
A Grande Assembleia sistematizou muito da Torá Oral de uma forma que possa ser memorizada pelos alunos. Esta sistematização foi conhecida como a Mishná. Uma razão para este nome era porque se destinava a ser revisada (shaná) repetidas vezes até ser memorizada. A palavra também denota que a Mishná foi secundária (sheni) à Torá Escrita.
Era uma exigência que a tradição oral fosse transmitida oralmente, exactamente como foi ensinada. Os sábios que ensinaram esta primeira Mishná foram conhecidos como Tannaim, Tanná no singular. Esta palavra vem da palavra de origem aramaica tanna, equivalente ao hebreu shaná, que significa "repetir."
Embora a Torá Oral tivesse que ser transmitida oralmente, era permitido manter registros pessoais. Então, muitas pessoas escreviam anotações pessoais do que era ensinado nas academias. O que de fato foi verdadeiro para os ensinamentos que não eram revisados frequentemente. Muitos também acrescentavam anotações nas margens dos pergaminhos bíblicos em que costumavam estudar.
Igualmente, os líderes das academias mantinham notas escritas com a finalidade de preservar as tradições com precisão. Porém, já que nenhuma destas anotações foram publicadas, ficaram conhecidas como "pergaminhos escondidos" (megillot setarim).
Durante as gerações seguintes a Grande Assembleia, a Mishná se desenvolveu num programa de estudo para os alunos memorizarem-na. Este foi expandido pela nova legislação e lei. O que foi conhecido como a "primeira Mishná" (Mishná Rishoná).
Quando as controvérsias começaram a surgir, variações nas Mishnás dos variados mestres começaram a surgir também. Ao mesmo tempo, a ordem da Mishná foi melhorada, especialmente pelo Rabi Akiva (1-121 A.C). Certas partes da Mishná foram colocadas em sua forma actual.
Porém, até aquele momento nenhuma parte da Torá Oral tinha sido publicada. As únicas excepções foram alguns trabalhos menores como o Pergaminho dos Jejuns (Megillat Taanit).
A Mishná do Rabino YehudáA redacção final e mais precisa da Mishná foi feita pelo Rabino Yehudá, o Príncipe. É a Mishná que temos hoje em dia, como parte do Talmud. O trabalho foi completado em 3948 (188 Era Comun)
A Mishná consiste de seis sequências, incluindo 63 tratados.
Ao compilar seu trabalho, o Rabino Yehudá usou a Mishná anterior resumindo-a e decidindo entre as variadas questões argumentadas. Os sábios de seu tempo concordaram com suas decisões e ratificaram sua edição. Mesmo as opiniões rejeitadas foram incluídas no texto, para que fossem reconhecidas e não revividas nas gerações posteriores.
Há uma dúvida em relação a quando a Mishná foi escrita. Algumas autoridades mantêm a opinião de que foi o próprio Rabino Yehudá quem a publicou. Já de acordo com outras autoridades, porém, esta foi ainda mantida oralmente pelas gerações seguintes.
Uma tradição diz que se houver algum perigo da Torá Oral ser esquecida, poderá ser escrita. Como está escrito nos Salmos: "É chegado o tempo da intervenção do Eterno, pois eles infringiram Tua lei”(Salmos 119:126). O que significa que se há algum perigo da Torá ser abandonada ou esquecida, está em tempo de trabalhar para D’us e remediar a situação...
Desde que a tradição exige que a Torá Oral fosse escrita sob certas condições, os mandamentos para escrever um pergaminho da Torá hoje incluem a obrigação de escrever ou obter livros da Mishná e do Talmud que contenham a Torá Oral.
Além da Mishná, outros volumes foram compilados pelos alunos do Rabino Yehudá durante este período. Estes incluem a Toseftá que segue a sequência da Mishná, como também o comentário de Mechiltá em Êxodo, a Sifrá em Levítico, e o Sifri em Números e Deuteronômio. Os trabalhos compilados fora da escola do Rabino Yehudá recebem o nome de Baraitá. Pouco tempo depois, o Talmud de Jerusalém (Talmud Yerushalmi) foi compilado pelo Rabino Yochanan.

O Talmud
Antigamente, o costume era, primeiramente, que os alunos memorizassem os fundamentos da Torá Oral, e depois, analisassem cuidadosamente seus estudos. Durante o período precedente ao Rabino Yehudá, as leis memorizadas evoluíram na Mishná, enquanto a análise evoluiu numa segunda disciplina conhecida como Gemará. Depois que a Mishná foi compilada, estas discussões continuaram, tornando-se muito importantes para elucidar a Mishná.
A Gemará progrediu oralmente por uns 300 anos seguindo a redacção da Mishná. Finalmente, quando entrou em perigo de ser esquecida e perdida, o Rav Ashi (352-427 Era Comum), juntamente com sua escola na Babilónia se encarregou de reunir todas estas discussões e colocá-las em ordem. Rav Ashi passou a maior parte de sua vida neste projecto junto com seu colega Ravina. Depois de sua morte, seu filho, Mar bar Rav Ashi (Tavyomi) continuou seu trabalho com Meremar. O Talmud babilónico (Talmud Bavli), como é chamado, foi publicado no ano 4265 (505 Era Comum).
O Talmud babilónico concluiu 37 dos 63 tratos da Mishná. Seu principal propósito era esclarecer a Mishná, estabelecer opiniões que se ligavam, fornecer derivações para as leis, discutir a legislação mais antiga e fornecer sermões e histórias para realçar as discussões.
Havia um total de 40 gerações, compreendendo 1,817 anos, desde Moisés até a redacção final do Talmud.
O Talmud babilónico foi aceito por todo Israel como a autoridade final em todas as questões de religião e lei. Todas as codificações subsequentes da lei da Torá sconectam-se desde de que estejam baseadas no Talmud. Opor-se a qualquer ensinamento do Talmud é se opor a D’us e a Sua Torá