6.11.06

A mulher no Judaísmo (1)

“Pelo mérito das mulheres de fé, o mundo inteiro será redimido da sua escuridão.”

Existe uma Torá exterior – uma história de homens e mulheres, de guerras e maravilhas. E existe uma Torá oculta, segundo antigas tradições, na qual cada palavra revela sabedoria, beleza e luz insondáveis.Por fora, as mulheres da Torá parecem desempenhar apenas um papel coadjuvante num drama dominado pelos homens. Vista de dentro, emerge uma história de homens manipulados por mulheres potentes e criados com valores femininos. Uma história que revela a qualidade interior da feminilidade que transcende a mente do homem.Este é o segredo das palavras da sabedoria de Shelomô HaMelech, Rei Salomão: "Uma mulher de valor é a coroa do seu marido." Assim como a coroa fica acima e além da cabeça, também a luz interior da feminilidade possui uma qualidade essencial, num local que a mente não pode atingir.

1 – Chava (Eva)
"Então Adam chamou sua mulher de Chava, pois ela era a mãe de toda a vida." (Bereshit 3:20)Ela era o outro lado da imagem de D'us. Pois D'us não é apenas uma luz ilimitada, além de todas as coisas. D'us é algo que está aqui agora, dentro de todas as coisas, concedendo-lhes vida, para serem o que quer que sejam. Na sua fonte acima, ela é a "Shechiná" – a Divina Presença que Habita no Interior. Foi isso que levou a terrena Chava a comer o fruto: este anseio de estar dentro, de experimentar o sabor da vida, de estar imersa nela. Com isso ela transgrediu – levou-se do âmbito do Divino a um mundo onde tudo que é real é aqui e agora, onde não há ponto de vantagem a partir do qual discernir o bem do mal, nenhuma luz para distinguir o fruto da sua casca. E ela levou consigo a Shechiná e aprisionou-a também, para que se seguisse a devastação em todo o cosmos. Porém o desejo por detrás da sua transgressão era que o yen sagrado da Shechiná permeasse todas as coisas. E no final, ela conseguirá, e a vida interior também será Divina. Enquanto o drama desse universo permanece incompleto, a Shechiná está silenciosa, não canta. Vemos o mundo que Ela vitaliza, mas não escutamos a sua voz dentro dele. Na mente de todas as pessoas, ela desempenha um papel secundário – pois o seu marido conquista e domina, enquanto ela, dizem, somente fornece vida e nutrição. Esta é a opinião de um mundo imaturo. Há um tempo ainda por vir, quando o segredo da Luz Interior será revelado. Então a Mãe da Vida cantará em voz alta, sem fronteiras.

2 – Sarah
"Tudo que Sarah lhe disser," disse D'us a Avraham, "escute." (Bereshit 21:12)A primeira a curar a ferida feita por Chava foi Sarah. Ela desceu ao covil da cobra, ao palácio do Faraó. Ela resistiu à sedução dele e afastou-se. Enquanto vivia dentro, ela permaneceu ligada ao Alto.Foi Avraham quem possibilitou que Sarah o fizesse. Porém o próprio Avraham não era capaz de tal coisa. Este é o papel de um homem – activar a força que se encontra adormecida numa mulher. Sem uma mulher, um homem não tem vínculo com a Shechiná. Sem um homem, a mulher não pode ser a Shechiná. Uma vez que haja um homem, a mulher torna-se tudo.Sarah é a incorporação do poder cósmico de purificação e cura das almas. Aquilo que Chava confundiu e misturou, Sarah separa e refina; onde Chava entrou nas trevas, Sarah acende a luz. A sua obra continua em cada geração. Enquanto a alma de Avraham atrai almas e as mantém próximas da Infinita Luz, a alma de Sarah discerne as manchas que devem ser limpas e os detritos que devem ser rejeitados. Quando qualquer alma ou centelha de luz é curada e devolvida à sua fonte, você saberá que ali passou o toque de Sarah.

3 – Rivka
"Beba… e eu tirarei água também para seus camelos." (Bereshit 24:17-18)Com essas palavras, Rivka comprometeu-se com Yitzak e tornou-se mãe de duas grandes nações. Não apenas pelo seu acto de dar, mas pela sua prontidão, porque ela buscou toda oportunidade de fazer o bem, buscando-a com alegria e deleite, com toda a sua alma e todo o seu ser.E ela implantou isso dentro de nós, como nosso legado. Precisamos apenas despertá-lo e encontraremos a Rivka interior. Há poucas histórias tão detalhadas na Torá como a narrativa da união de Rivka e Yitzak – ela é contada e recontada três vezes. Pois nessa narrativa está o nascimento do nosso povo e o nosso propósito. Ela encerra o segredo interior para o qual o cosmos foi criado: a fusão dos opostos, o paradoxo e a beleza da vida. Para isso, estamos aqui – para unir o céu e a terra. E na união de Homem e Mulher todas essas se encontram.E quem é o casamenteiro neste drama cósmico? É o humilde servo de Avraham, que fala ao Amo do universo com a sinceridade do seu coração, que está obcecado com a sua missão e com ela se deleita a cada passo. É todo e cada um de nós.

4 – Rachel e Leah
Uma voz é ouvida lá no alto, lamentando-se, chorando amargamente.Rachel chora por seus filhosEla se recusa a ser consoladaPois eles se foram."Não chora mais," diz D'us a ela. "Refreia as lágrimas dos teus olhos.""Pois a tua obra tem a sua recompensa e os teus filhos voltarão."Yirmiyáhu 31:14)Rachel é a incorporação da Shechiná quando Ela desce para cuidar dos Seus filhos, até viajar a jornada do exílio com eles, e assim ela assegura que eles voltarão.A sua irmã, Leah, também é a nossa mãe, a Shechiná. Porém ela é o mundo transcendente, oculto; aquelas coisas escondidas da mente Divina profunda demais para os homens entenderem. Ela é a esfera da realeza quando se eleva para receber em silente meditação.Rachel é o mundo de palavras e acções reveladas. Ela tinha a beleza que Yaacov podia notar e desejar. Porém Leah foi elevada demais, muito além de todas as coisas, e assim Yaacov não pôde apegar-se a ela da mesma maneira.Porém é de Leah que descendem quase todos da nação judaica.

5 - Serach
Quando os filhos de Yaacov voltaram para casa com as notícias sobre Yossef, temiam que seu pai não acreditasse neles. Então Serach, filha de Asher, tocou a sua harpa e ficou do lado de fora da tenda de Yaacov. Ela compôs uma melodia sobre Yossef e as suas viagens, concluindo cada uma com o coro "… E Yossef ainda vive.""Sim!" exclamou finalmente seu avô, "Yossef ainda vive!"E então os seus filhos puderam falar com ele.Por isso, Yaacov abençoou Serach com vida. Ela ainda estava viva para mostrar a Moshê onde ficava o túmulo de Yossef. Ainda estava viva, uma mulher sábia que salvou a cidade de Abel nos tempos do rei David. E ela ainda vive, pois foi uma das poucas pessoas a entrar viva no Paraíso. Se a Shechiná é um diamante e cada mulher uma faceta diferente, então Serach é a centelha de esperança que reluz em cada uma e emana lá de dentro. A centelha que nunca se afasta, que permanece acima e além mesmo quando a Shechiná que a contém afunda. Uma centelha duradoura que todos os rios do exílio não podem levar embora, e que oceanos de lágrimas não podem extinguir. Serach vive, ela vive no Paraíso, e portanto o paraíso vive dentro de nós.

6 - Miriam
Uma menina fica de pé no meio dos juncos na margem do rio, parada e calma, observando de longe. Ela é a guardiã da promessa, de tudo que o seu povo ansiou, e ela não permitirá que aquela promessa saia da sua visão.Seu nome é Miriam e Miriam significa amarga, pois é a amargura que a impele, toda a amargura nascida do duro destino do seu povo. Somente a sua visão pode mitigar aquela dor ardente, e ela sozinha sustenta o seu pulsar. É uma visão poderosa, que transformará o amargo em doce, as trevas do exílio na reluzente luz da liberdade.No seu mérito, fomos redimidos da escravidão, e pelo mérito das mulheres de fé, hoje, o mundo inteiro será redimido da sua escuridão.

7 - Devorah
"Eles deixaram de morar em cidades sem muralhas em Israel, deixaram até que eu, Devorah, surgisse; surgi como uma mãe em Israel." (Shofetim 5:7)Na pacífica sombra de uma antiga palmeira nas colinas de Efraim, ali você encontrará uma mulher sábia, uma profetisa a quem todos em Israel acorriam em busca de conselho, orientação e esperança.Ela convocou Barak, um poderoso guerreiro, instruindo-o a guerrear contra os opressores do seu povo. Porém Barak insistiu que não iria, a menos que Devorah fosse com ele, e por isso ela zombou dele.Devorah não via grandeza em imitar os atributos da masculinidade – lutar, vencer e conquistar – mas sim em ser uma mãe em Israel, que dá vida, nutrindo o seu povo com bondade e fé.