5.11.06

As orações

















BOM DIA! Recentemente recebi um e-mail perguntando: “O que há de bom nas orações? Eles rezaram no Holocausto e isto não os ajudou”. Sabem? Eu ‘adoro’ este tipo de declaração genérica que abrange todas as pessoas, em todas as situações, em todas as épocas e que dão um resultado único. Elas me relembram sobre o quão pouco eu realmente sei.
Não pretendo entender o porquê ou como o Todo-Poderoso responde às nossas orações. Minha experiência pessoal em conversar com sobreviventes do Holocausto e em ler biografias de sobreviventes é que eles rezaram e suas preces foram atendidas – ao menos parcialmente. Entretanto, estes são os sobreviventes. E sobre aqueles que não sobreviveram? Provavelmente é justo dizer que também rezaram, mas que não sabemos quais de suas orações foram atendidas.
Creio que o leitor que me fez esta pergunta pensou com a seguinte lógica: (1) ‘Todos’ rezaram, (2) ‘Todos’ não foram salvos, e (3) Por conseguinte: as rezas não funcionam.
Se alguém tem uma definição simplista de que a prece é uma espécie de ‘transação comercial’, onde a pessoa coloca suas requisições e D'us as atende, então esta pessoa está com uma definição equivocada do que é a prece. A essência das orações é a pessoa se aproximar mais do Todo-Poderoso e criar um relacionamento com Ele. E se D'us irá atender aos seus pedidos completamente ou em partes, isto já é determinado por D'us levando em conta como isto irá ajudá-la a crescer neste relacionamento. Sabendo disto, podemos então entender que as preces são sempre atendidas: às vezes com um ‘Sim’, às vezes com um ‘Não’ e às vezes com um ‘Ainda não’.
Nosso propósito no mundo é crescermos como seres humanos, desenvolver nossas almas ao cumprir os mandamentos que o Todo-Poderoso escreveu em sua Torá , trabalharmos para refinar nosso caráter e aperfeiçoar o mundo. A prece é um meio de atingirmos este propósito.
Como já citei antes, as orações são um modo de construirmos um relacionamento com D'us. As preces têm como função que modifiquemos a nós mesmos e reconheçamos que tudo vem do Todo-Poderoso e apenas Dele. Ao fortalecermos este relacionamento, acabaremos nos modificando e isto, por si só, já nos torna merecedores de que D'us atenda aos nossos pedidos.
A prece tem três componentes, parecidos com a forma que uma pessoa pediria a um rei que tem poderes para atender seus desejos ou até para puni-la com a pena de morte: (1) Louvores a D'us (Ele não precisa de nossas orações. Elas vêm apenas nos ajudar a focarmos com Quem estamos falando); (2) Nossos pedidos e (3) Agradecimentos (O mais alto nível de boas maneiras é sermos bem agradecidos).
É lógico: adoraríamos que nossos pedidos fossem atendidos de maneira positiva. Entretanto, nem sempre isto seria o melhor para nós. Podemos entender melhor isto imaginando o relacionamento entre um pai e seu filho: Às vezes a criança implora por coisas que o pai sabe que não lhe será benéfico e talvez seja até perigoso para a criança. Então este pai atencioso e sábio fará a coisa correta e mais difícil, que é dizer ‘não’.
Nós, Judeus, acreditamos que existe um D'us que criou o mundo, Que nos ama e nos proporciona aquilo que é benéfico para nós, Ele fez um pacto conosco (que nos obriga a cumprir seus mandamentos) e Ele lida conosco com justiça e misericórdia.
A vida é complexa e nós somos finitos, mas D'us é infinito. Nós (aqueles que entendem que realmente sabem pouco sobre a vida) não presumimos já conhecer o ‘quadro’ todo. Nós sim sabemos, baseados em nosso entendimento da Torá e a da história, que D'us tem seu próprio plano para o mundo e também sabemos que Ele nunca deixou de cumprir Suas promessas – sejam elas de recompensa ou o contrário. Entendemos também que o Todo-Poderoso age no mundo com propósito, significado e bondade.
Então, o que há de bom nas preces se elas não são atendidas da maneira que desejaríamos ou da maneira que pensamos ser merecedores? As preces nos dão esperança. E você me perguntaria: “E daí?” As preces são um meio de integrarmos em nós que a vida tem um significado e de que não estamos sozinhos. E qual o valor disto? Talvez o quadro abaixo ilustre melhor:

Pedi forças e D'us enviou dificuldades para me fazer forte
Pedi sabedoria e D’us deu-me problemas para resolver
Pedi prosperidade e D’us deu-me músculos e cérebro para trabalhar
Pedi coragem e D’us mandou perigos para superar
Pedi amor e D’us enviou-me pessoas com problemas para ajudar
Pedi favores e D’us deu-me oportunidades

Não recebi nada do que pedi, mas tudo de que realmente precisava
Apesar de mim, minhas preces foram atendidas!
Eu entre todos sou muito abençoado
Somos todos seres abençoados. Só que, às vezes, é difícil enxergarmos a benção. Porém, façamos um esforço. Dificuldades e dores de cabeça são inevitáveis, miséria e depressão são opcionais. É uma questão de escolha e de ter uma real perspectiva de vida.