8.9.06

Porção Semanal da Torá: Ki Tavó



Devarim (Deuteronômio) 26:01 - 29:08

Os tópicos abrangidos por esta porção semanal incluem: A obrigação de trazer ao Templo Sagrado, como oferenda, os primeiros frutos das sete espécies com que a Terra de Israel foi abençoada: figos, uvas, trigo, cevada, romãs, azeitonas e tâmaras; A separação do Dízimo; O Todo-Poderoso designando o Povo de Israel como Seu tesouro (Devarim 26:16-19). A Torá apresenta, então, as bênçãos ao cumprirmos as suas Leis e as maldições por não segui-las, concluindo com o discurso final de Moshe.
O versículo 28:46 conta-nos sobre a importância de servir o Todo-Poderoso com ‘Alegria e Bom Coração’. O último versículo desta semana diz: “Vocês devem cumprir as palavras deste pacto para que tenham sucesso em tudo que fizerem!”

Mesilot HaTorá
Segundo o rabino Shlomó Wahnón
Resumo alargado
A parashá desta semana começa com o anúncio de Moshé sobre as cerimónias a realizarem-se na Terra de Israel, referem-se as primícias (bikurim), os primeiros frutos das sete espécies (minim). Os mesmos deviam ser apresentados perante o sacerdote (cohen). Também recorda as leis do dízimo da colheita (maaser) de cada terceiro ano do ciclo da shemitá, como colocar de lado maaser para os levitas, os órfãos e as viúvas.

Moshé recorda ao Povo de Israel que o cumprimento dos mandamentos do Eterno, sem desviar-se dos Seus caminhos e os Seus mandatos, recompensá-los-ia com a elevação do Povo sobre os demais.

Moshé e os anciãos instruíram o povo no sentido de que quando cruzassem o rio Jordão, deviam colocar grandes pedras no monte Eival, sobre as que as escreveriam todas as palavras da Lei. Também e em segunda instância, deviam construir um altar de pedras e sobre ele sacrificar oferendas. Em terceiro lugar, as doze tribos deviam rectificar a aceitação das Leis do Todo Poderoso, situando-se seis tribos sobre o monte Guezerim representando as bênçãos e as outras seis deviam ascender ao monte Eival representando as maldições. Os Levitas situar-se-iam entre os dois montes e procederiam a advertir quem cometesse pecados como os de idolatria, faltar ao respeito aos pais, deslocando os limites de separação do seu vizinho, colocar obstáculos ao cego, não actuar com justiça com o estrangeiro, o órfão ou à viúva, manter certas relações proibidas, ferir traiçoeiramente o próximo, receber suborno, não cumprir os mandamentos da Torá. Perante cada advertência, o Povo deveria responder “Amén”. Depois procederiam a bendizer, por seguir os caminhos do Eterno.

Moshé enfatizou o que sucederia se o Povo se conduzia observando os caminhos do Eterno e assim obteriam prosperidade nas suas cidades, nos seus campos, seus gados, submetendo-se aos inimigos e estando acima dos demais nações. Pelo contrário, o seu comportamento contrário, trairia como consequências doenças, fome e morte, a terra de Israel seria destruída e dominada por nações violentas e os judeus disseminados e convertidos em escravos.

Por último, Moshé começou a sua última exposição perante o Povo, exortando-o a recordar o Todo Poderoso que os protegeu no Egipto, durante os quarenta anos no deserto e continuaria a proteger no futuro.

Comentário
“E será, quando chegues...” (Devarim 26:1)


“E será, quando chegues à terra... tomarás das primícias de todo o fruto...e dirás: declaro hoje que cheguei à terra que o Eterno prometeu aos meus antepassados...”.

Assim determina a Torá o preceito da oferta das primícias... Arameu perdido era meu pai e descendeu ao Egipto e viveu ali com poucos varões e cresceu...

O motivo da oferta das primícias é o reconhecimento da bênção divina, que, de um povo de poucos membros perseguidos e escravos, Hashem nos fez um povo de gente livre.


O reconhecimento e agradecimento são os princípios básicos da nossa Torá e assim determina a Halachá que o respeito aos pais é comparado com o respeito aos mestres e o respeito aos mestres com o respeito ao Eterno, pois todo o indivíduo que não sabe reconhecer o bem que os seus pais fizeram para com ele, tampouco saberá reconhecer o bem que os seus mestres fizeram e não chegará a reconhecer o bem que o Todo Poderoso fez com todos nós através das gerações.

Após a obrigação de separar as primícias, a Torá recorda-nos a obrigação do segundo dízimo devendo dizer-se:”E dei ao levita, ao estranho, ao órfão e à viúva como em todos os preceitos que me encomendaste, não transgredi as tuas obrigações e não me esqueci”. Que recordatório tão importante o da Torá, que nos obriga a não esquecermos, como princípio básico sobre todos os preceitos, a quem talvez não tenham meios, como o caso do estranho, o órfão e a viúva, todos a par do levita, pelo que a relação não é a que se estabelece entre pedinte e necessitado, senão a de obrigado-beneficiário e na qual eles, tanto o órfão, o estranho e a viúva junto com o levita, são os que nos permitem cumprir com essa obrigação.

O Talmud comenta-nos que um gentio perguntou a Rabi Akiva: Se o Todo Poderoso ama os seus filhos, como é que pode ser que existam necessitados no mundo que Ele criou? Respondeu Rabi Akiva: Os ricos necessitam mais dos pobres que estes dos ricos! Os pobres necessitam dos ricos apenas a ajuda económica mas os ricos, senão existissem os necessitados como é que poderiam fazer bondade? A bondade é uma necessidade obrigatória para todo o ser, tal como para o necessitado. Olam Chessed Yibané! O mundo constrói a bondade! A bondade é considerada mais importante que a caridade, pois esta apenas se pode cumprir com os pobres, enquanto que a bondade-ajuda pode fazer-se com todos. A caridade pode realizar-se apenas materialmente, enquanto que a bondade pode realizar-se até com palavras.

A Torá preocupou-se em não marginalizar o necessitado, denominado a caridade como justiça, quando equiparou o necessitado ao órfão, estranho ou à viúva com o Levita, que recebe o dízimo como salário e não como caridade, pois assim disse a Torá: “E a tribo de Levi não herdará a terra, pois Eu sou a sua herança, pelo que foram eleitos para o Meu serviço.

Olam Chessed Yibané! O mundo constrói a bondade! Os nossos Sábios não viram avanços tecnológicos nem grandes inventos nem descobrimentos, a razão da existência; não esqueçamos que geração após geração aumentam os nomes de célebres talentos que encontraram maneira de facilitar-nos a vida. Nobel sonhou em acabar com o sofrimento dos mineiros e Einstein encontrar a fonte de energia, a galinha dos ovos de ouro tinha de terminar com na miséria da idade média, o homem já pôs o pé na Lua e talvez consiga obter uma cápsula fora da nossa galáxia. Por acaso somos mais felizes que os nossos avós?

A felicidade pelos vistos não se encontra nem na tecnologia nem nas comodidades, como tão pouco do outro lado do cosmos, senão como disse a Torá: “Não é nos céus nem do outro lado do mar senão dentro de ti e no teu coração que deves fazê-los.”

Num mundo de bondade onde reine a preocupação pelo próximo, onde não se esqueça o levita nem o estranho, nem o órfão, nem a viúva, podendo cantar: “E comeremos com alegria dos Teus Pessachim”.
Shabat Shalom

Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin
A Torá declara: “Você deve regozijar-se com tudo de bom que o Todo-Poderoso lhe deu (Devarim 26:11)”. Por que a Torá nos ordena um mandamento para nos alegrarmos muito, quando deveríamos automaticamente ficarmos felizes ao termos coisas boas?
O Rabino Mordechai Gifter (EUA, 1915-1991), ex-director da Yeshivá de Cleveland, Ohio, esclareceu esta pergunta com a seguinte análise sobre a natureza humana: “A natureza do ser humano é sempre querermos mais do que temos actualmente. ‘Aquele que tem 100 quer 200’. Os nossos momentos de alegria são mesclados com a tristeza pelo que não temos – e isto é destrutivo, tanto física como espiritualmente. Portanto, a Torá ordena-nos a sentir uma alegria completa: a focarmos e nos regozijarmos somente com aquilo que temos!”
Se pensarmos que seremos felizes só quando tivermos mais, então NUNCA seremos felizes. Quando finalmente conseguirmos aquilo que tanto queríamos, logo pensaremos novamente em conseguir mais e novamente ficaremos descontentes. A felicidade depende do nosso estado de espírito. Seremos felizes apenas quando apreciarmos o que temos e o que estamos a fazer agora, no presente.
No livro Pirkei Avót, Ética dos Pais, (capítulo 4, primeiro ensinamento/Mishná) está escrito: “Quem é a pessoa rica? Aquela que é feliz com o seu quinhão”. Independentemente do que tivermos, seremos ricos se tivermos a habilidade de apreciar o que temos (Isto inclui apreciar as nossas crianças também!)
Frequentemente vejo que existem pessoas que são como multimilionárias, mas que não sabem que são ricas. Todo o seu dinheiro está guardado dentro do colchão e elas não sabem que está lá. Ao invés disto, reclamam que estão a dormir num colchão cheio de protuberâncias!
Uma pessoa pode ter olhos, mãos, pés, uma mente para pensar e estar deprimida. Qual a solução? Focar a atenção em sentir prazer das dádivas que tem. Imagine uma pessoa cega que, de repente, receba a dádiva da visão. Ela iria ‘sair de si’ de tanta alegria!
Por que esperar para apreciar o que temos? Façamos uma lista das nossas dádivas e das coisas que recebemos. Sejamos agradecidos por ambas.

É uma boa preparação para Rosh HaShaná!