Qual o significado de Lashon haRá?
Dos Meraglim ao Hezbollah: Lashon haRá e Imprensa TendenciosaPor Jane Bichmacher de Glasman*
Os meraglim, espiões enviados por Moisés no deserto, após a saída do Egipto, retornaram falando mal de Israel (Nm 13:27-28: “Fomos à terra a que nos enviaste; e, verdadeiramente, emana leite e mel... Porém, o povo que habita essa terra é poderoso, e as cidades, muito grandes e fortificadas; também vimos ali gigantes”; Nm 14,15) e, mesmo contestados por Josué e Calev, convenceram o povo, o qual se revoltou contra Moisés, preferindo voltar à escravidão do que encarar a terra assim descrita. Por ter optado ouvir a maledicência, não lhes foi concedido entrar na Terra Prometida, só à geração seguinte e vagaram pelo deserto por 40 anos.
A fala dos meraglim (espiões) contém O elemento que estrutura qualquer discurso de Lashon haRá, da má língua, da difamação, da palavra que destrói: a conjunção adversativa! Uma calúnia ou crítica destrutiva “eficiente” começa com uma frase inocente ou até elogiosa como introdução a seu real e cruel teor, iniciado pela dita conjunção, que pode ser: mas, porém, contudo, todavia, entretanto... Serve para qualquer âmbito, do familiar, entre amigos, no trabalho... até países e povos.
Constitui-se assim na base de todos ataques da imprensa tendenciosa opinativa, que nós, judeus e o Estado de Israel sofremos desde sempre. “Israel tem direito de se defender, claro! Mas...“ Esta é a tónica das manchetes diárias mundiais, além dos tradicionais “equívocos de adjectivos”: os soldados de Israel são “os terroristas que chacinam os civis do Hezbolá”. Ora, faça-me o favor...!
O tragicómico é que os judeus, em tradicionais acusações anti-semitas, dominam a imprensa mundial!
Sendo bastante contundente, não tem “mas nem meio mas”: Israel não tem só o direito, mas a obrigação de defender-se! E nós na Diáspora, acrescentamos a obrigação de apoiar!
Não existe guerra justa ou santa: santa é a vida e justo é o direito de se lutar por ela!
Pranteamos todos os mortos, porque o princípio básico da ética judaica é a vida que é sagrada.
Mas chega de ataques de pseudoesquerdistas, pacificegos e marketeiros do judeu bonzinho e do politicamente correcto a qualquer preço! Pelo menos seis milhões de judeus bonzinhos morreram há poucos anos em câmaras de gás que os revisionistas insistem que não existiram. Tudo bem, então faço parte do milagre da “geração espontânea” (com direito a duplo sentido)!
Além disso, como fazer a paz com quem não reconhece o nosso direito à existência? A Paz, como o amor, precisa de dois lados para acontecer...
Conta-se que perguntado sobre qual seria a última guerra de Israel, o primeiro ministro de Israel, o fundador do Estado, David Ben Gurion respondeu: "Vai ser aquela que nós perdermos".
Segundo os nossos sábios, o Templo foi destruído devido ao ódio infundado entre o povo: a inveja, o egoísmo e o espírito litigioso; para nos redimir, devemos cultivar o amor incondicional e desinteressado. Mais que nunca é tempo de encontrar achdut na ichdut, unidade na diversidade. E falando em unidade, para concluir, uma observação sobre o “porém” dos espiões: o termo usado em hebraico, no texto bíblico, foi um incomum אֶפֶס**, efes, que significa zero, nulo.
O lashon há-rá - a calúnia, a maledicência, a imprensa tendenciosa – arrasa vidas, realizações e até países. É um “zero” de derrota, de destruição. E cabe a nós, rodfei shalom (perseguidores da paz) como Aarão, investir todos os esforços possíveis para esclarecer os que são preconceituosos por desinformação (para estes há esperança), combatendo as distorções da imprensa, requerendo o direito de resposta a cada ataque desferido, para que pelo menos nesta guerra de palavras, possamos aproximar o máximo possível o efes do efes – o “mas” ser anulado...
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