Porção Semanal: Acharê Mot
Bereshit 47:28 - 49:26
Os mandamentos descritos na Parashá Acharê Mot (Vayicrá 16:1-18:30), seguem cronologicamente as mortes trágicas dos dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, sobre as quais lemos na Parashá Shemini há algumas semanas. A porção desta semana começa com uma longa descrição do serviço especial de Yom Kipur, a ser realizado no Mishcan pelo Cohen Gadol. O serviço incluía a confissão do Cohen Gadol em seu próprio nome e em nome de toda a nação; a seleção por sorteio entre duas cabras, uma das quais seria a oferenda pelo pecado nacional, e a outra seria empurrada de um penhasco no deserto, como portadora dos pecados do povo; e as complicadas cerimônias de aspersão de incenso e sangue a serem realizadas no Codesh HaKedoshim (Santo dos Santos). Seguindo a ordem de que Yom Kipur e as suas leis de jejum e abstinência de trabalho seriam observadas eternamente pelo povo judeu como um dia de perdão, a Torá proíbe a oferenda de corbanot fora das instalações do Mishcan. O sangue não pode ser ingerido, e durante o processo da shechitá (abate ritual), uma porção do sangue derramado deve ser coberta. A porção da Torá conclui com uma lista dos relacionamentos sexuais imorais e proibidos, e a ordem de que o povo judeu mantenha e assegure a santidade da terra de Israel.
Mensagem da Parashá
Instinto animal
por Yoel Spotts
Na porção desta semana da Torá encontramos vários mandamentos que aparentemente têm pouco em comum. Começamos com uma listagem das leis e práticas de Yom Kipur e a proibição de comer sangue. Finalmente, a porção conclui com uma discussão dos relacionamentos proibidos. Desprezando a possibilidade de que estes mandamentos em particular estarem ligados ao acaso para formar a porção Acharê Mot da Torá, certamente seremos capazes de descobrir um tema comum, conectando estes vários tópicos. De forma bem interessante, vemos que a Torá proíbe o consumo do sangue de qualquer animal, mesmo aqueles que são casher. Assim, a Torá não apenas exclui a grande maioria das criaturas da nossa dieta, como limita a nossa licença quanto aos permissíveis. Além disso, a Torá exige de nós um dia de total e absoluta abstinência de toda alimentação. As restrições e regras parecem quase esmagadoras. De facto, descobrimos uma estrutura muito similar a respeito dos relacionamentos proibidos. Na porção desta semana, a Torá lista para nós os indivíduos impróprios que não devemos escolher como companhia. Entretanto, isso não é tudo. A Torá regula severamente o relacionamento mesmo com as pessoas que nos são permitidas. Uma união adequada deve ser precedida por kidushin, a santificação do casamento. Um casamento mal sucedido deve ser terminado pela concessão de um documento de divórcio, ou guet. Relacionamentos extra-maritais são vistos com desdém. Dessa forma, vemos que a Torá coloca severas restrições e limitações sobre os alimentos que comemos e sobre os nossos relacionamentos. As semelhanças não param por aqui. A porção desta semana não é o único local em que encontramos estes dois tópicos agrupados juntos. De facto, o Rambam coloca as Leis dos Relacionamentos Proibidos e as Leis dos Alimentos Proibidos na mesma secção no seu código da Lei Judaica. O Rambam denomina esta secção, curiosamente, de kedushá. Embora "kedushá" seja geralmente traduzida como "santidade", muitos comentaristas assinalam que o termo também conota a noção de "separado" ou "distinto". Assim, poderia parecer que o Rambam deseja transmitir-nos, que estas duas áreas da lei nos possibilitam separar e distinguir a nós mesmos. Agora, finalmente as peças encaixam-se nos lugares certos. Quando D’us criou o universo, colocou tanto o homem como o animal neste planeta. À primeira vista, o homem parece não ser diferente de qualquer outra criatura. Afinal, ambos se alimentam, ambos procriam, e ambos praticam as mesmas atividades físicas mundanas. Não somos, então, diferentes dos animais que perambulam pela terra? Os dons da fala, raciocínio e liberdade são todos indicativos de que o homem é na verdade diferente e separado dos animais. Entretanto, quando deixamos que os nossos desejos animalescos reinem livremente, agindo sem quaisquer restrições, estamos na verdade a demonstrar, que não somos melhores que o nosso cachorro ou gato de estimação. Quando continuamos a satisfazer as nossas ânsias gastronómicas e a ser escravos do nosso apetite carnal, reduzimo-nos a um mero ajuntamento de carne e ossos. Por este motivo, a Torá contém tantas proibições na área de ingestão de alimentos e relações sexuais. A Torá prescreve-nos o controle dos nossos desejos básicos a fim de nos "separar" e "distinguir" de todas as outras criaturas. Demonstrando a nossa força de vontade e a nossa disciplina, podemos elevar-nos acima de meros seres físicos. Não admira, que após ter introduzido estas leis na porção da Torá desta semana – o jejum em Yom Kipur, abster-se de ingerir sangue, e evitar os relacionamentos proibidos – a Torá comece a porção da próxima semana com a admoestação "kedoshin te'heyu – serás santo e distinto", pois apenas santificando estes aspectos físicos da nossa vida podemos ter sucesso também na nossa busca espiritual.
SHABAT SHALOM
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