Uma corrida contra o tempo
Sempre, que algum sobrevivente faleça, devemos ter a certeza em manter as suas memórias vivas.
Alon Goldstein
Há algumas semanas eu fui visitar o meu avô á clínica. “Olá avô, disse, e beijei-o como habitualmente o faço, mas ele já não se lembra de mim. Até dificilmente se lembra do seu nome. Sem se aperceber e sempre que o seu braço se movimente, os dedos da mão vão ao encontro da tatuagem com o seu número gravado na pele.
Antes de contrair a doença de Alzheimer, que danificou o seu cérebro, eu sentava-me com ele e escrevia as suas memórias. Onde tinha nascido, o que vestia, quantas macieiras e abrunheiros cresceram no seu quintal traseiro. Escrevi tudo e falei as histórias ás pessoas interessadas em ouvi-las, bem como terminavam.
Como os seus pais e irmãos foram levados, como escapou na sua bicicleta e como foi parar a Auschwitz, tendo como trabalho o esfregar loções químicas em peles moribundas.
Eu não compreendi muito bem, porque estava a fazer isto (escrever as suas memórias e contá-las), mas há dois anos atrás, quando a minha filha mais velha nasceu e eu vi o meu avô a sorrir, através dos olhos da minha filha, então entendi. Eu estou documentando e falando da história para que ela não desapareça.
E de facto, elas estão a desaparecer a uma velocidade impressionante: dúzias todos os dias, milhares por mês. Eles, que foram capazes de continuarem de pé, apesar de tão demoníaco tratamento humano infligido, rendem-se agora, ao tique-taque da hora, do tempo. Em breve, talvez em 10 anos, já não se encontre alguém, que nos fale, com a voz quebrada, acerca da despedida na localidade, acerca do frio, que sentiram no comboio ou do ladrar dos cães.
Em 10 anos, tudo que restará dessas memórias encontrar-se-á em campas de pedra, fotografias amarelas e cerimónias desprovidas de lágrimas.
Devemos salvaguardar cada palavra
Um suspiro de alívio será ouvido em muitas localidades por esse mundo aquando da morte do último sobrevivente. É difícil desmentir o HOLOCAUSTO, quando se enfrenta um trémulo, mas determinado idoso com um número no seu braço e o fogo de 65 anos de memórias nos seus olhos. Ainda, depois de recitarmos o Kaddish pelo ultimo sobrevivente, bispos em Inglaterra se farão um brinde ao esquecimento.
A conferência “contra o racismo” tomará tempo e tempo para nos comparar aos nossos executores, os nazis. Intelectuais Franceses, Espanhóis ou Russos dirão, que SHOAH foi um banal episódio na Guerra, e que os Judeus empolaram a história, exageraram.
Para os enfrentar, temos de reviver o nosso passado a cada hora e dia. Temos de salvaguardar cada palavra, fotocopiar cada fotografia e memorizar cada vestígio da história, enquanto for possível de o fazer. Devemos, para que daqui a alguns anos, quando o último sobrevivente falecer, sermos capazes de projectar essas memórias na cara dessas criaturas odiosas, como por exemplo o primeiro-ministro do Irão.
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