6.10.08

Yom Kipur

BOM DIA! Espero que tenha tido um óptimo e significativo Rosh HaShaná. Em Rosh HaShaná somos julgados e inscritos, esperançosamente, no Livro da Vida. Em Yom Kipur este julgamento é selado. Nestes dias intermediários devemos examinar nossos actos e corrigir os erros que tenhamos feito.

Precisamos de nos colocar em caminhos que nos levem a utilizar melhor o nosso tempo, para aperfeiçoar a nós mesmos e ao mundo como um todo!

Yom Kipur começa na próxima quarta-feira ao entardecer, 8 de outubro (Yzkor, a prece em memória dos falecidos, é recitado na quinta-feira, dia 9). Sucót inicia-se na outra segunda-feira, 13 de outubro, ao entardecer, sobre a qual falaremos na edição da semana que vem.

Tem uma alma? A maioria das pessoas responde “Sim!” Agora...tem um corpo? A resposta é obviamente “Sim”. Porém, a resposta correcta seria “eu SOU uma alma e tenho um corpo”. Ao percebermos que a nossa essência é espiritual – e eterna – passamos a viver sob um prisma totalmente diferente. É verdade: Precisamos de nos preocupar com o nosso corpo e a nossa saúde e fazer todos os esforços possíveis para sustentá-lo, mas a parte mais importante é a alma, pois é o nosso verdadeiro eu. Yom Kipur trata sobre a alma.

Durante o decorrer do ano trazemos méritos para a alma ao praticarmos bons actos ou a ‘sujamos’ através de atitudes e comportamentos erróneos. As 613 mitsvót (Mandamentos) da Torá estão aí para nos ajudar a desenvolver as nossas almas e aperfeiçoá-las. Desde o início do mês hebreu de Elul até Yom Kipur nós refletimos, passamos em revista o ano e as nossas interacções com o Todo-Poderoso, bem como com os nossos amigos e familiares. Trabalhamos para reparar aquilo que precisa de conserto e Yom Kipur é a culminação deste processo.

A Torá deu-nos Mandamentos (mitsvót) especiais para Yom Kipur, a fim de nos ajudar a ver mais claramente que somos almas (e não apenas corpos) e para nos ajudar a relacionarmo-nos com a vida num nível mais espiritual. A Torá declara:

“Este é um decreto eterno: No sétimo mês (contado a partir do mês hebreu de Nissán), no décimo dia, vocês devem afligir-se e nenhum tipo de trabalho deve ser realizado. Perante o Todo-Poderoso vocês serão purificados (Levíticus 16:29-30)”

Estas ‘aflições’ são maneiras de minimizarmos o controle do corpo sobre as nossas vidas. E quais são?

Existem cinco ‘aflições’ em Yom Kipur que estarão vigentes. Somos proibidos de:

1) Comer e beber,

2) Usar calçados de couro,

3) Relacionamento conjugal,

4) Passar cosméticos, cremes, desodorantes, etc, no corpo e

5) Banhar-se por prazer.

Ao diminuir os prazeres físicos, damos proeminência à alma. A vida é uma constante batalha entre o Yétser Hatóv (o desejo de fazer as coisas certas, que é identificado com a alma) e o Yétser HaRá (a vontade de seguir os nossos desejos, que corresponde ao corpo). O nosso desafio na vida é ‘sincronizar’ o nosso corpo com o Yétser Hatóv. Uma analogia é feita no Talmud entre um cavalo (o corpo) e um cavaleiro (a alma). É sempre melhor o cavaleiro estar em cima do cavalo!

A tradição Judaica ensina que em Yom Kipur o Yétser HaRá, o desejo de seguir os próprios instintos, está morto. Se, então, seguirmos os nossos desejos ou instintos, será apenas por força do hábito, pela rotina.

Em Yom Kipur podemos mudar os nossos hábitos! Eis aqui três perguntas a refletirmos em Yom Kipur, para nos ajudar a desenvolver um plano de vida:

1. Estou a comer para viver ou vivo para comer?

2. Se como para viver, então quais são as minhas metas na vida?

3. O que gostaríamos que escrevessem na nossa lápide?

Yom Kipur, o Dia do Perdão, é o aniversário do dia em que Moshe trouxe as segundas Tábuas da Lei do Monte Sinai (as primeiras foram quebradas quando Moshe viu o povo a idolatrar um bezerro de ouro). Isto significou que o Todo-Poderoso havia perdoado o Povo de Israel por terem feito idolatria. Dali em diante, este dia foi decretado como o dia para o perdão dos nossos erros. Entretanto, isto se refere às transgressões entre o homem e D'us. Transgressões entre o homem e o seu semelhante requerem que se corrija o erro e se peça perdão pelo prejuízo acarretado. Somente então é que pedimos desculpas a D’us por ter ofendido o nosso

semelhante.

Durante as orações falamos o Vidúi, uma confissão, e Al Hét, uma lista de transgressões entre o homem e D'us e o homem e o seu semelhante. É interessante notar duas coisas: primeiro, as transgressões estão em ordem alfabética (em Hebraico). Isto torna a lista bastante abrangente, além de permitir a inclusão

de qualquer transgressão que se queira na letra apropriada.

Em segundo, o Vidúi e Al Hét estão no plural. Isto ensina-nos, que somos um povo ‘entrelaçado’, responsáveis uns pelos outros. Mesmo se não cometemos uma determinada ofensa, carregamos certa responsabilidade por aqueles que a fizeram – especialmente se poderíamos ter evitado a tal transgressão.

Em Yom Kipur nós lemos o Livro do Profeta Yoná (Jonas). A sua mensagem é que D'us aceita prontamente o arrependimento de qualquer um que deseje fazer Teshuvá, voltar ao Todo-Poderoso e ao caminho da Torá, da mesma forma que ele o fez com a população de Ninvê, a cidade mencionada no livro.

A propósito, se quiser manter-se focado no facto de que você é uma alma e não apenas um corpo, treine-se a dizer: “Meu corpo está com fome” e não “Eu estou com fome”!

Ao entrarmos em Yom Kipur na sinagoga e olharmos para a quantia de orações, evitemos o caminho cómodo de nos entregar à nossa frustração de não entendermos o que se está a falar.

Algumas idéias para tornar o serviço de Yom Kipur

mais significativo:

1 - Tenhamos satisfação! Já tomamos a importante decisão de comparecer à sinagoga. Não nos arrependamos, então!

2 - Não viemos para nos entreter e sim para conquistar algo a um nível espiritual: aproximarmo-nos do Todo-Poderoso, refletir, colocarmo-nos num caminho melhor na vida.

3 - Não culpe a cerimónia religiosa, o Rabino ou o livro de orações. Se desejar, prepare-se antecipadamente: leia o Mahzór (o livro com as orações especiais de Rosh HaShaná e Yom Kipur) para entender as palavras e as idéias contidas nestas orações. Façamos uma listinhade atitudes ou comportamentos de que nos arrependemos, que gostaríamos de corrigir e que gostaríamos que o Todo- Poderoso perdoasse.

4 – A nossa mente parece ter duas pistas: uma pessoa pode falar e pensar sobre o que quer dizer simultaneamente, ela pode também ler e pensar sobre algo que não tem nada haver com a leitura, etc. Podemos também rezar e pensar num milhão de coisas diferentes. Ao lermos uma prece silenciosa, concentremo-nos naquilo que estamos a ler. Ao ouvir o Hazan (a pessoa que está na condução das orações), fixemos a nossa mente num pensamento espiritual: “Querido Dus, por favor, ajude-me, Todo- Poderoso, perdoe-me, Dus, eu realmente acredito no Senhor. Isto evitará que a nossa mente comece a pensar sobre o resultado do jogo de futebol, as contas a pagar, reparos que precisam ser feitos em casa, etc. A maioria das pessoas não entende a liturgia em Hebraico que se está a cantar. Entretanto, mesmo que as nossas mentes não entendam, o coração e a alma nutrem estas palavras, da melodia e da atmosfera. Relaxe e ouça a essência do que está a ser cantado.

5 - Façamos o melhor uso possível do nosso tempo. Leiamos os comentários ou a tradução das orações.

Procure se sua sinagoga não tem algum material interessante sobre Yom Kipur, numa língua que entenda. E se estiver realmente a sofrer, então apenas peça: “D’us, por favor, aceite o meu sofrimento por estar na sinagoga como reparação por minhas transgressões!”

Aish HaTorah