EU NÃO FIZ NADA!
"Um rico comerciante comprou um maravilhoso candelabro, feito de puro cristal e cravado de pedras preciosas. O candelabro tornou-se o grande orgulho da família, pois todos os convidados se admiravam com o seu esplendor. Como o candelabro era muito pesado, a única forma encontrada para prendê-lo foi amarrá-lo com uma corda e fazer um furo no forro da casa, para que a corda passasse pelo furo e a outra ponta pudesse ser fixada em uma roldana na parede do sótão.
Certo dia um homem muito pobre bateu á porta do rico comerciante. As suas roupas estavam imundas e completamente rasgadas. O dono da casa teve misericórdia daquele pobre homem, recebeu-o docemente e levou-o para o sótão, onde estavam guardadas muitas roupas em bom estado mas que não estavam a ser mais usadas. Deixou o homem à vontade para escolher o que quisesse, e saiu do sótão.
O pedinte escolheu algumas roupas e colocou-as numa sacola. A sacola ficou muito cheia e o pobre procurou um pedaço de corda para fechá-la, mas não a encontrou em nenhum lugar. Foi quando levantou os olhos e viu a corda que estava presa na roldana. Quis pedir permissão do dono da casa para tirar um pedaço, mas pensou "Que mal pode fazer se eu tirar apenas um pedacinho desta imensa corda?". Tirou do bolso o seu canivete e cortou um pedaço da corda.
De repente, ecoou em toda a casa um terrível estrondo, e toda a família correu para o sótão. Quando viram o homem com um pedaço de corda na mão, logo entenderam o que havia acontecido. Ele havia soltado a corda que segurava o candelabro, e este havia se espatifado no chão. O dono da casa, que antes havia sido muito receptivo, gritou com o pedinte:
- Você viu o que você fez, seu ignorante?
- Mas eu não fiz nada! – gritou o pedinte, ofendido – Todo este escândalo só por causa de 10 centímetros de corda? Se for este o problema, eu devolvo!
Vendo que o mendigo realmente era tão ignorante que nem mesmo havia entendido o que aconteceu, o homem acalmou e explicou:
- Sim, a única coisa que você fez foi pegar um pequeno pedaço de corda. Mas o que você não sabia é que um valiosíssimo candelabro de pedras preciosas, no valor de alguns milhares de dólares, estava justamente sendo sustentado pela corda que você cortou. O problema não são os 10 centímetros de corda, e sim o candelabro que, graças ao seu "pequeno" acto de cortar a corda, está agora espatifado no chão da sala, sem nenhuma chance de ser consertado."
Frequentemente cometemos enganos na vida, e muitas vezes consideramos serem apenas "pequenas" falhas, mas que na verdade podem estar a causar catástrofes espirituais. Como ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Uma Mitzvá traz outra Mitzvá, mas uma má acção traz outra má acção", isto é, cada acto que fazemos na vida, por menor que seja, pode causar reacções em cadeia. Qualquer acto, por mais insignificante que possa parecer, pode estar a criar ou a destruir mundos espirituais.
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Na próxima quarta-feira de noite (08 de outubro) começa o Yom Kipur, o Dia do Perdão, dia em que todos os nossos erros podem ser perdoados e apagados. Mas se podemos arrepender-nos dos nossos erros todos os dias, porque D'us fixou o dia de Yom Kipur como o dia do perdão?
Em cada uma das festas judaicas não apenas recordamos, mas também revivemos uma certa influência espiritual que existe naquele momento. Para entender o quanto Yom Kipur é um dia feliz, precisamos saber exactamente qual é a fonte deste dia na Torá. Moshé Rabeinu subiu ao Monte Sinai para receber a Torá no dia 6 do mês judaico de Sivan, e permaneceu lá por 40 dias. Ele desceu, trazendo as tábuas com os 10 mandamentos, no dia 17 do mês de Tamuz, dia fatídico em que o povo judeu cometeu o terrível pecado do bezerro de ouro. Moshé, ao ver o bezerro de ouro, quebrou as tábuas e imediatamente começou a rezar pelo povo judeu, pois D'us queria destruir todo o povo. Ele subiu novamente no Monte Sinai no dia 18 do mês de Tamuz e passou mais quarenta dias rezando e suplicando por misericórdia, e desceu no dia 29 do mês de Av. No dia primeiro do mês de Elul Moshé subiu pela terceira vez no Monte Sinai, levando as Segundas Tábuas já esculpidas para que D'us escrevesse nelas, e passou mais 40 dias a receber novamente a Torá. Finalmente no dia 10 de Tishrei D'us perdoou completamente o povo judeu e permitiu que Moshé descesse com a Torá e a entregasse ao povo judeu. E é essa influência espiritual, de termos pecado, de nos termos arrependido e termos sido completamente perdoados, que se repete todos os anos no dia 10 do mês de Tishrei, Yom Kipur.
Explicam os nossos sábios que em Rosh Hashaná são abertos 3 livros: Os Tzadikim são imediatamente inscritos para a Vida, os Reshaim (malvados) são imediatamente inscritos para a morte, e os Beinonim (intermediários, cujas boas acções e más acções estão equilibradas) ficam com o julgamento pendente até Yom Kipur. Muitas vezes consideramo-nos Tzadikim, afinal, o que fizemos de mal? Não matamos, não roubamos, na medida do possível tentamos ser boas pessoas. Muitos nem sequer se preocupam com o Yom Kipur, imaginam que tem muito pouco para serem perdoados.
Mas se observarmos o texto do Vidui, a confissão que fazemos diante de D'us em todas as rezas de Yom Kipur, começamos a perceber que talvez os nossos "pequenos erros" não sejam assim tão inocentes quanto pensávamos. Pois assim diz David Hamelech (Rei David) nos Salmos: "afaste-se do mal e faça o bem". Não é suficiente somente não fazer o mal, temos que activamente fazer o bem para os outros para sermos considerados boas pessoas, e infelizmente nas nossas vidas corridas não sobra muito tempo para pensar em mais ninguém fora nós mesmos. Além disso, será que realmente não fazemos mal a ninguém? O Vidui traz alguns exemplos de atitudes negativas que todos nós, com maior ou menor intensidade, cometemos durante o ano inteiro: Fomos mal agradecidos, Influenciamos mal outras pessoas, Não nos preocupamos com os problemas e com os sofrimentos dos outros, Falamos mal do próximo, Causamos sofrimentos, Fomos arrogantes, Explodimos de raiva por motivos banais, etc. Se realmente sentássemos para escrever todas as "pequenas" transgressões que fizemos durante o ano, o tempo terminaria mas a nossa lista não.
Portanto, um das características mais importantes na preparação para Yom Kipur é a conscientização de que nós realmente erramos, que nossos erros têm graves consequências espirituais, e por isso precisamos de nos arrepender do que fizemos. Como a Torá nos ensina: "E se acontecer que alguém ao escutar as palavras desta maldição e se abençoar no seu coração dizendo: 'Terei paz, ainda que eu ande conforme o parecer do meu coração', acrescentando água à sede, este D'us não perdoará..." (Devarim 29:18,19). O pecado do bezerro de ouro ensinou-nos de que, não importa a gravidade dos erros que fizemos durante o ano, todo aquele que se arrepende de verdade é perdoado. Mas aquele que diz "Estou tranquilo, afinal eu não fiz nada", este não tem perdão em Yom Kipur. Pois o pior cego é aquele que não quer ver.
A Teshuvá, isto é, a possibilidade de nós errarmos e, ao nos arrependermos, o nosso erro será apagado como se nunca houvesse existido, é um grande milagre e uma grande bondade. Quando D'us vê que alguém realmente quer fazer Teshuvá e voltar aos caminhos correctos, Ele remove as impurezas do coração da pessoas, dando mais força para o arrependimento dela.. Ele limpa os nossos corações para que possamos aproximar-nos Dele. E por mais que durante todo o ano as portas da Teshuvá nunca se fecham, em Yom Kipur elas estão completamente escancaradas. Portanto, Yom Kipur não é um dia de depressão, é um dia de alegria. É um dia em que podemos dizer a D'us "Sim, erramos, mas queremos e podemos mudar".
Estamos nos "Asseret Iemei Teshuvá", os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, quando cada acto nosso pesa muito mais. Que possamos aproveitar cada instante para nos prepararmos para o presente que é o dia de Yom Kipur, e que possamos ser todos selados para um ano bom e doce.
TZOM KAL (Que o jejum de Yom Kipur seja leve para todos nós).
"SHETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM" (QUE SEJAMOS SELADOS NO LIVRO DA VIDA).
Rav Efraim Birbojm
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