11.10.08

RÁPIDO DEMAIS

"John, um executivo muito bem sucedido, conduzia um pouco veloz o seu novo Jaguar e ao mesmo tempo pensando em quanto a sua casa de 5 suítes era pequena. De repente, um tijolo espatifou-se na porta lateral do Jaguar. Ele abrandou bruscamente e fez marcha-atras até ao lugar de onde tinha vindo o tijolo. Saltou do carro, agarrou bruscamente uma criança que estava ali parada e gritou:
- Porque fez isso? Este é um carro novo e caro, e o conserto vai me custar muito dinheiro!
- Por favor, senhor, desculpe, eu não sabia mais o que fazer - implorou o pequeno menino - Ninguém estava disposto a parar para me ajudar.
Lágrimas corriam do rosto do garoto, enquanto ele apontava na direcção de uma criança caída no chão.
- É o meu irmão. Ele caiu de sua cadeira de rodas e eu não consigo levantá-lo sozinho.
Soluçando, o menino perguntou ao executivo:
- O senhor poderia ajudar-me a recolocá-lo na sua cadeira de rodas? Ele está magoado, e é muito pesado para mim.
Movido por um profundo sentimento de misericórdia e remorso por quase ter agredido a criança, o jovem motorista correu ao local onde estava a criança caída e colocou-a na sua cadeira de rodas. Tirou o seu lenço, limpou as feridas e arranhões, verificando se tudo estava bem.
- Obrigado, e que D'us possa abençoá-lo - a criança lhe disse.
O homem então viu o menino distanciar-se, empurrando a cadeira de rodas do seu irmão. Foi um longo caminho de volta para o Jaguar. Ele pensava em quantas coisas boas tinha na vida e nunca havia prestado atenção. Pensou naquele pobre garotinho da cadeira de rodas, que não podia nem mesmo se levantar do chão sozinho, e agradeceu a D'us pela sua saúde, pela sua estabilidade financeira, por todas as coisas boas que tinha na vida. Coisas que antes ele nunca tinha pensado em agradecer.
Ele nunca consertou a porta amassada. Deixou-a amassada, para lembrá-lo de não ir tão rápido pela vida, a ponto de que alguém tivesse que atirar um tijolo para fazê-lo parar"
D'us faz-nos bondades 24 horas por dia. Na maioria das vezes estamos ocupados demais para perceber. Em geral, só percebemos o que temos de bom quando perdemos.
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Nesta segunda-feira de noite (13 de outubro) começa a festa de Sucót. Apesar de toda as festas judaicas descritas na Torá serem momentos muito alegres e festivos, apenas Sucót é chamada de "Zman Simchateinu" (o tempo da nossa alegria). Porque Sucót é mais associado com a alegria do que as outras festas? Além disso, o que exactamente revivemos em Sucót? Por exemplo, em Pessach revivemos a saída do Egipto, enquanto em Shavuot revivemos a entrega da Torá, dois grandes eventos que mudaram a história do povo judeu, e dois momentos em que D'us revelou o Seu grande poder e bondade. Mas Sucót não está associada a nenhum grande evento. Sucót está relacionada com o facto do povo judeu ter morado, durante os 40 ano que estiveram no deserto, em cabanas. O que tem de especial nisso?
Para encontrar a resposta destas duas perguntas, antes precisamos refletir um pouco sobre o que significa viver no deserto. O deserto é um lugar extremamente inóspito, com temperaturas que variam de um calor escaldante pela manhã a um frio congelante de noite. O deserto é frequentemente assolado por devastadoras tempestades de vento, sem contar os perigosos animais que ali habitam, como cobras venenosas e escorpiões. Como os judeus puderam viver 40 anos em simples cabanas, sob condições tão extremas?
A resposta é a chave para entender a alegria de Sucót. É óbvio que ninguém pode sobreviver às hostilidades do deserto numa frágil cabana, muito menos por 40 anos. Então como os judeus sobreviveram? Pois era D'us quem os protegia o tempo todo, e a protecção física era uma mera fachada. Estava muito claro para o povo judeu que a sua sobrevivência no deserto estava completamente acima das leis da natureza. É por isso que nós também construímos cabanas em Sucót. A Halachá (lei judaica) exige que a Sucá seja construída de maneira temporária, com um teto frágil, que não nos protege completamente nem mesmo do sol e da chuva. Isso é para nos relembrar de que a segurança que nós desfrutamos durante o ano inteiro, nas nossas casas maciças com telhados fortes, também é apenas uma fachada. Somente D'us pode oferecer proteção verdadeira.
E esta percepção, que estamos constantemente a ser cuidados directamente por D'us, que é a causa da alegria de Sucót. Mas porque sentimos mais alegria do que nas outras festas? Pois existem dois tipos de alegria: a alegria de um evento que ocorre uma vez e a alegria que ocorre de forma contínua. Sucót representa o segundo tipo de alegria, a alegria constante, que nos acompanha durante todos os dias do ano. Pois não há nenhum evento particular associado a Sucót, apenas o entendimento de que D'us manda-nos uma constante e ininterrupta proteção, e esta alegria e tranquilidade podemos levar para o ano todo. Para isso não é necessário nenhum evento externo, e sim um reconhecimento interno de que tudo o que ocorre está sob a supervisão directa de D'us.
Mas o grande ensinamento de Sucót não é apenas sobre as nossas casas, mas sobre as nossas vidas. A chave para a alegria constante é perceber que, independente do que uma pessoa tem, isso é tudo o que ela precisa, como afirma o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Quem é o rico? Aquele que está contente com o que tem". Cada um recebe de D'us uma "porção", que contém exactamente tudo o que ele necessita para a sua situação actual na vida. Esta porção tem a medida exacta para que cada um possa alcançar o seu máximo potencial. Se chegarmos a este reconhecimento, podemos escapar da terrível ameaça de pensar que seremos felizes "quando eu tiver aquele carro, aquela casa ou aquele valor na conta do banco". Pois se D'us não nos deu mais, é por que Ele sabe que é melhor para nós desta maneira.
Sucót é o ensinamento de que D'us está constantemente supervisionando-nos e nos mandando exactamente o que necessitamos para ter sucesso na vida. Se pudermos interioizar este ensinamento, somente então poderemos entender o quanto é maravilhosa a felicidade verdadeira.

Rav Efraim Birbojm