26.10.08

Casamento – presente divino


Nesta semana recomeçamos o ciclo anual de leitura da Torá com o primeiro livro, Bereshit. E a Parashá desta semana, Bereshit, ensina-nos sobre a criação do mundo, culminando com a criação do ser humano, o propósito de toda a criação. Mas há nesta Parashá algo que incomoda muitas pessoas. O ser humano sonha em desvendar os segredos da criação do mundo. Milhões de livros e horas de estudo são dedicados a tentar descobrir a origem de tudo. No Mashassusets Institute of Technology (MIT) há mais de 50 mil livros sobre o desenvolvimento do universo (cosmologia, química, termodinâmica, paleontologia, arqueologia e física). Em Harvard há mais de 200 mil livros. Mas a Torá, o nosso "Manual de Instruções da vida" traz apenas 31 versículos! Porque a Torá não se alongou mais em nos contar todos os detalhes da criação do mundo?

A Parashá Bereshit também tem outros pontos que nos despertam perguntas. Por exemplo, conta-nos o Midrash (parte da Torá Oral) que Adam Harishon e Chavá (Adão e Eva) foram criados inicialmente como um único ser, como diz o versículo "... macho e fêmea os criou" (Bereshit 1:27). A primeira criatura humana tinha duas faces, e somente mais tarde foi separada em duas criaturas distintas, homem e mulher. Mas se D'us é perfeito e não comete erros, então porque Ele criou os dois juntos e depois os separou? Arrependeu-se? Havia alguma coisa errada?

Quando compramos um puzle, gostamos do desafio de montar cada peça até que apareça a figura completa. Mas como saber por onde começar e qual a nossa meta? Para nos ajudar, o fabricante do puzle estampa na caixa do brinquedo a figura pronta, para que sirva de modelo. O mesmo fez o Criador do mundo, primeiro Ele criou o homem e a mulher juntos e depois os separou, para que possam saber onde devem chegar e o quanto devem se esforçar para voltar a se unir como estavam no início, como diz o versículo "... e serão uma só carne" (Bereshit 2:24).

Mas o motivo da separação não fica totalmente claro, pois assim a Torá explica a necessidade da separação: "E disse D'us: Não é bom que o ser humano esteja sozinho, farei para ele uma ajuda diante dele" (Bereshit 2:18). Adam Harishon, a primeira criatura, estava no Gan Éden (Paraíso), sendo servido por anjos e em contacto directo com o Criador do mundo. Porque não estava bom? O que Lhe faltava? Porque foi necessário separar o homem e a mulher para depois uni-los de novo, oficializando o primeiro matrimónio da humanidade?

No mundo material, a proximidade entre dois objectos é definida pela distância física entre eles. No mundo espiritual, a proximidade é definida pela semelhança entre duas coisas. Por isso, se queremos conectar-nos com D'us por toda a eternidade, temos de nos comportar como Ele se comporta. Da mesma forma que D'us constantemente faz apenas o bem aos outros, sem esperar nada em troca, assim também devemos de nos afastar do nosso lado animal, egoísta e desenvolver o nosso lado espiritual, que nos impulsiona a fazer o bem ao próximo. E quanto mais fazemos bem aos outros, mais nos conectamos com o Criador.


É por isso que a Torá ressalta que não era bom o homem estar sozinho, pois sozinho o homem não pode chegar ao nível mais elevado, de se preocupar constantemente com o próximo e não apenas em si mesmo. E é essa a essência do casamento criada por D'us, juntar o homem e a mulher, duas criaturas com naturezas muito diferentes, para que eles possam trabalhar, para que possam aprender a ceder, até chegar ao nível de que um possa se preocupar tanto com as necessidades do outro que se tornem como se fossem uma só pessoa.

Mas se a união de um homem e uma mulher através do casamento é um mandamento Divino e é algo tão bom, como explicar o actual nível de divórcios, quase nos 70%? O problema é que as pessoas importam-se mais em saber se há vida em Marte ou Júpiter do que em saber como cuidar da sua esposa ou do seu marido. O mundo investe bilhões para mandar sondas espaciais, para saber mais sobre o Big Bang, mas não se investe quase nada para melhorar os casamentos e os relacionamentos entre as pessoas. Exactamente por isso D'us foi tão sucinto em nos descrever a criação do mundo, deixando-nos uma mensagem eterna: "Preocupem-se com os assuntos que são realmente importantes para si, e deixe que Eu me preocupo com a Criação do mundo e todos os seus segredos". A grande maioria das pessoas actualmente não investe na construção espiritual do casamento, isto é, casam-se apenas para receber e não para doar ao seu cônjuge. Isso não é um casamento, é apenas algo diferente, em que as duas pessoas tentam sugar ao máximo o outro. É uma bomba-relógio programada para, mais cedo ou mais tarde, explodir.

Todos temos um lado animal e egoísta, e podemos superar. O casamento é um presente Divino, é a ferramenta para deixarmos de pensar somente em nós mesmos e começarmos a pensar nos outros. A Torá ensina-nos, que quando marido e mulher se unem com Shalom Bait (paz conjugal), a presença de D'us está entre eles. Pois somente aquele que vence o seu egoísmo e consegue conectar-se de verdade com alguém fora de si mesmo, consegue chegar ao nível de se conectar com D'us. Ame a sua esposa...ame a sua família...ame o seu vizinho. Se em Kipur nos dirigimos primeiro ao outro humano e depois a D’us, então temos de corrigir a nossa atitude humana e aí Hashem está connosco ou entre nós. Comecemos hoje a nossa mudança.