22.10.08

À espera...

Por Gloria Mound

A descoberta da internet trouxe também a descoberta de marranos, cripto-judeus a terem uma vida secreta como Judeus em áreas de perseguição (ex. Portugal, Espanha e América Latina), seguindo os costumes há muito passados de geração em geração. Por vezes com traumas, mas actualmente com a esperança de um dia poderem reganhar a herança perdida, ou seja, o passado familiar JUDAICO.

Com a imigração e emigração muito usual actualmente, as pessoas acabam por conhecerem outras formas de pensar e estar na vida e...até se confrontarem por vezes com costumes semelhantes (algumas festividades judaicas, não misturarem a carne com leite, etc) e...”mas isso é normal na minha família!!!... afinal tenho também sangue Judeu?...enfim um rol de pensamentos de exclamação, admiração e de alegria os atinge.

Há dois anos, em Londres, duas jovens irmãs cristãs e brasileiras foram convidadas para o Sefer da Páscoa. No final da refeição e para admiração de todos, as duas irmãs cantavam entre eles e participavam da festa em volta da mesa. Elas afirmaram ser tradição familiar e já vinha da avó. Investigações posteriores feitas no Brazil, produziram clara evidência, que a família era Judia, originária de Portugal e em ambos os países (Portugal e Brazil) alguns seus ascendentes tinham pago com a vida pelo zelo na observância religiosa, isto é, eram Judeus.

Actualmente tentam o Certificado de Retorno ou Conversão. Uma delas tem a esperança de casar-se com o filho de um dos convidados daquela noite de Séder. Ele é Cohen e está proibido de casar com uma convertida.

Para a maioria, o problema começa, quando um número cada vez maior de convertidos querem fazer a aliah. Os rabinos em Israel, que lidam com a documentação não têm o conhecimento suficiente sobre os marrano-anusim, quer sobre os costumes centenários e a sua práctica clandestina. Com as novas tecnologias de comunicação, as famílias tentam direccionar os seus filhos para relacionamentos da mesma religião.

Em Israel, a Casa Shalom tem conseguido com sucesso Certificados de Retorno ou Conversão do Rabinato de Israel. Meses atrás, muitos pedidos para frequentarem aulas de conversão foram recusados. Entretanto, os que já se encontram em Israel e que passaram o seu exame, não lhes foram garantido papéis legais afim de os habilitarem na procura de emprego, por um período até dois anos, sem mencionar o período de estudo, que estiveram sem permissão de trabalharem.

Depois dos rabis darem o OK, os papéis passam para o Ministério do Interior, onde levam um tempão, antes de lhes darem a cidadania e a autorização de trabalho. A maioria destes marranos-anusim encontram-se sós, sem família e sem contactos, que lhes possam ajudar nas necessidades mais básicas, como por exemplo, a acomodação, durante esse período. Há membros da Casa Shalom, que tiveram o Certificado em Julho de 2007 e ainda não receberam a documentação principal, nem sabem, quando a vão receber.

As maiores dificuldades encontram-se particularmente nas famílias Sefaraditas vindas não só de Portugal e Espanha, mas agora em maior número da América do Sul e Caraíbas. E isto apesar de se casarem entre eles, manterem as leis da alimentação, as festas, etc.. Quando se apresentam á Corte Rabínica de Israel denotam muito mais responsabilidade sobre a práctica Judaica, do que o secular Israelita.

Com a documentação dos seus anteriores familiares destruída pela inquisição (a partir do sec 15) – nos askenazis só aconteceu no meio do século 19 – muito destes marranos-anusim merecem não só a nossa profunda admiração, como também a sua tenacidade de fé, por séculos de perigo e perseguição. Na análise, que nós fazemos á documentação deles, aqui na Casa Shalom, muito são Judeus pela Halachá. Toda esta situação faz com que estes marranos-anusim procurem as conversões reformistas fora de Israel, porque são aceites pela imigração israelita e uma vez, dentro de Israel, inscrevem-se em aulas ortodoxas. Tudo isto envolve mais tempo em cada local. A lei de Israel diz, o período de tempo entre a conversão e o pedido de aliah, terá de ser um (1) ano.

Este tratamento é um outro exemplo em como nós ignoramos a directiva rabínica de “benvindos convertidos”. O tempo de os ajudar chegou para aqueles, que querem recuperar o modo de vida Judeu e viverem na Terra dos seus antepassados - Israel. Temos de agir agora e já.

Uma vez, que entramos no novo ano (5769), rezemos para que aqueles com o poder da Justiça façam tudo ao seu alcance, em se tornarem mais conhecedores e compreensíveis ácerca da situação dos marranos-anusim, que desde há longa data esperam o seu regresso a Eretz Israel.

Gloria Mound é a directora executiva da Casa Shalom, Instituto para os Estudos MarranoAnusim.