24.10.08

Porção Semanal: Bereshit


Bereshit (Genesis)1:1 - 6:8

A Parashat Bereshit, a primeira porção da Torá, começa com a criação do mundo por D'us em seis dias e o Seu "descanso" no sétimo.

Tudo, desde a separação entre trevas e luz no primeiro dia, até á criação das esferas celestiais no quarto, culminando com a criação do homem - Adam (Adão) e da mulher - Chava (Eva) à imagem de D'us e a sua colocação no Jardim do Éden no sexto dia, foi criado e arrumado no seu correcto lugar nesta primeira semana. Os humanos recebem o domínio sobre o mundo inteiro com apenas uma restrição - abster-se de consumir o fruto da Árvore do Conhecimento.

Chava é tentada pela serpente a servir-se do fruto proibido, e oferece-o ao marido também. D'us reage punindo-os pela transgressão, e além disso são banidos do paraíso do Eden.

Após a expulsão, os seus dois primeiros filhos, Cain (Caim) e Hevel (Abel) trazem cada um uma oferenda para o Criador. A oferenda superior de Hevel é aceita por D'us, enquanto que a de Cain, inferior, é rejeitada. Cain invejosamente reage matando o seu irmão, e D'us o envia ao exílio, condenado a vagar pela face da terra. A Torá então fornece uma genealogia das primeiras dez gerações do mundo, começando com Adam, o seu terceiro filho Shet, e chegando até ao nascimento de Nôach (Noé) e os seus três filhos.

Desgostoso com a perversidade do homem, a porção encerra-se com D'us expressando o Seu arrependimento por ter criado o mundo, e a Sua decisão de destruir todos os seres viventes, com excepção do justo Nôach e a sua família.

Mensagem da Parashá

"Cain disse ao seu irmão Hevel, e quando estavam no campo, Cain levantou-se contra o seu irmão Hevel e matou-o".

Ao ler este versículo, surge uma dúvida imediata. A Torá escreve que "Cain disse a Hevel" - então parece haver uma lacuna bem evidente, uma pausa que nos intriga, porque a Torá não informa o que Cain falou.

Toda a congregação está sentada ouvindo atentamente a leitura da Torá, esperando pelo momento do clímax, quando ouvirão o que Cain tem a dizer, e então, como se uma linha inteira tivesse sido apagada, a narrativa salta para nos dizer que ele matou o irmão! Mas o que aconteceu? O que conversaram os dois para que Cain reagisse tão drasticamente?

O Targum Yonatan menciona esta dúvida relatando uma discussão fascinante que ocorreu entre os dois irmãos, a qual levou directamente ao assassinato. Cain reclamou a Hevel que não havia justiça e um juiz supremo neste mundo; não há Mundo Vindouro, e por isso os justos não serão recompensados e os perversos jamais serão castigados. Hevel discordou, e como resultado desta discussão, Cain decide matar o seu irmão.

Entretanto, mesmo após ouvir a explicação desta conversa, a passagem ainda permanece obscura. Se estavam realmente discordando sobre um assunto tão fundamental, não teria sido informativo se a Torá nos relatasse isso de maneira directa?

Foi sugerido que a Torá omitisse qualquer menção explícita do assunto da discussão porque, na verdade, é totalmente insignificante para o desenrolar da história. Cain não tinha o direito de tirar a vida do seu irmão, e ponto final, não importa o quanto ele justificasse as suas acções.

O facto de que ele tivesse uma suposta desculpa para so eu comportamento (tinham opiniões opostas) era irrelevante, porque qualquer que fosse o seu arrazoado, este permaneceu meramente uma racionalização formulada pela mente humana, para se permitir a busca dos seus próprios desejos básicos.

Na verdade, Cain estava com inveja porque a oferenda de Hevel fora aceita por D'us, enquanto que a sua não, por isso desejou matar o irmão. Ele tinha apenas um problema – a sua consciência. Mas não poderia simplesmente destruir a sua própria carne. Precisava de uma desculpa, uma racionalização para sentir-se melhor a respeito daquilo que estava para fazer.

Por esta razão, provocou uma discussão; descobriu que o seu irmão discordara, e usou isto como uma desculpa para o assassinato. Entretanto, como era meramente uma desculpa, a Torá considerou-a irrelevante, e por isso preferiu omiti-la da narrativa.

Quantas vezes inventamos desculpas para justificar as nossas acções - fabricando racionalizações que, se apenas usássemos o tempo para analisá-las, veríamos que são totalmente infundadas? Somos realmente honestos com os nossos amigos, a nossa família, com o Criador, e com nós próprios, ou simplesmente procuramos as melhores desculpas a fim de satisfazer a nossa consciência?

Ao começarmos este novo ano, reforcemos o nosso compromisso de buscar a verdade e estejamos conscientes das perigosas racionalizações que inevitavelmente impedirão a nossa busca por uma vida boa e com moral.

SHABAT SHALOM